domingo, setembro 29, 2013

Afinal a Manuela Moura Guedes não fez cirurgias por razões estéticas mas sim porque tinha uma doença no rosto. E, por isso, aqui estou a reparar a minha incorrecção. E, de caminho, falo sobre uma coisa que escrevi no outro dia e que percebi que impressionou uma pessoa que me escreveu. Contra a solidão, a tristeza e as sombras que venha a luz e que cantem os three little birds. Haja alegria, minha gente.


No post abaixo falo do gnomo no jardim, ou seja, falo do artigo assim intitulado da autoria de Clara Ferreira Alves, no Expresso deste sábado, e que incide sobre o último livro de José Rodrigues dos Santos. Um artigo imperdível.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, reparo uma incorrecção minha e reflicto sobre uma coisa que, no outro dia, aqui escrevi.

*


Manuela Moura Guedes no Quem quer ser Milionário


Primeira observação: referi-me no outro dia ao regresso de Manuela Moura Guedes à televisão e às entrevistas que ela anda a dar por tudo o que é órgão de comunicação social. Não é pessoa cujo exercício profissional me agrade. Também me desagrada o tom que usa para falar e as expressões que faz, que me parecem descabidas. O tom de voz e os trejeitos quase anulam o que diz.

Mas referi-me às cirurgias plásticas que tem feito e que não a têm favorecido nada. Ora, em mais uma entrevista, desta vez no Expresso (as agências de comunicação a funcionarem em grande: arranjando publicidade através destas presenças), Manuela Moura Guedes refere que não foram cirurgias voluntárias mas sim fruto de uma maleita que a atormentou e que bastante mossa lhe devem ter feito pois diz que foi nessa altura que começou a tomar anti-depressivos. Diz que lhe apareceram quistos no rosto, que a deixaram deformada e que, na altura, teve que continuar a trabalhar porque as audiências estavam em alta, não podia deixar de aparecer. Imagino o tormento que deve ter sido. Teve que tirar os quistos, fazer infiltrações de corticóides. Acrescenta que só agora, com um médico iraniano, é que está a recuperar as suas feições.


Por isso, justiça seja feita: foi corajosa em ter continuado a expôr-se apesar dessa doença estranha e teve que ser também muito corajosa para suportar as observações desagradáveis referindo as operações plásticas quando, afinal, se tratava de uma doença.

E eu aqui, pela parte que me toca, reparo o meu erro.

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Segunda observação: recebi hoje um mail em que se transcrevia um pequeno excerto de um texto escrito por mim, dizendo que, de facto, é assim mesmo que se passa.

O excerto é este:


As sombras não são boas companheiras, parece que sugam a vida. 

Aos poucos, a vida, destituída de luz, vai procurando mais e mais sombra, a matéria vai ficando rarefeita, apenas o silêncio já parece suportável. 

E depois já não são apenas sombras, já é um negrume que avança como irreversível gangrena.




Li a frase quase como se não tivesse sido escrita por mim. E assustei-me um pouco: tomara que estas minhas palavras não causem mais ansiedade em quem se sinta assim, rodeado por sombras. 

Não era essa a minha intenção. Muito pelo contrário, por eu achar aquilo mesmo que escrevi, é que tantas vezes aqui apelo a que, quem se sinta aflito, sozinho, sem apoio, sem ver saídas para os seus problemas, peça ajuda, não receie pedir ajuda. E saia de casa, abra as janelas e respire ar fresco, e passeie, e vá ao cinema, e ouça música, e qualquer coisa que ajude a trazer para fora da zona em que as sombras mais pesam.

Estar na zona de sombra pode ser bom, pode ser aconchegante, a sombra como uma seda, o silêncio como um bálsamo. Mas a sombra é boa por contraste ao excesso de luz. Quando a luz desaparece e toda a vida é invadida pela sombra, começam a desaparecer as referências, começam a quebrar-se os laços com o que se situa no exterior, a solidão começa a criar raízes que sorvem toda a seiva, que puxam para o vazio aqueles que se encontram mais fragilizados. Há que evitar isso a todo o custo.


Por isso, se alguns dos meus leitores leram as minhas palavras com alguma angústia, peço que as vejam como um apelo para que não se deixem tomar pela desesperança. 

Por muito fracas que sejam as vossas forças, por favor reinventem-se, acreditem em que melhores dias hão-de vir, procurem a luz, a cor, a inocência do riso das crianças, o afecto dos animais - qualquer coisa. 

É certo que estes dias cinzentos não ajudam muito mas não faz mal, respirem o ar molhado, sintam o ar fresco nos vossos rostos, riam, pensem em coisas boas. Não cultivem a solidão, não se habituem à ausência, à falta de afecto e de esperança. Não deixem que se quebrem os laços que vos ligam aos outros.

...

E agora já chega de palavras senão ainda me dizem: falar é bom para quem fala de barriga cheia, para quem tem uma família boa, uma vida sem problemas.

Eu calo-me já mas, primeiro, deixem que vos diga que não sou uma construção ficcional, não sou uma abstração: não, eu sou de carne e osso, tenho problemas, passo por momentos complicados, sou igual a toda a gente. No entanto, não me dou por vencida, vou à luta, vejo o lado bom das coisas, ponho o mau para trás das costas. Mas, enfim, cada um é como é. E isto também não pretende ser conversa azulinha com passarinhos em fundo, daquelas de conversa fiada e de pseudo-auto-ajuda - até porque cada um é que sabe de si e onde mais lhe dói e se as penas de que padece são das que voam ou das que se enterram na carne.

E adiante que para a frente é que é caminho

Mas, de qualquer maneira, se é para ter música celestial, um céu muito azul, passarinhos e borboletas, que seja como deve ser. Portanto, música, por favor: Three Little Birds (aqui não por Bob Marley mas por uma menina com uma bela voz e muita alegria de viver, Connie Talbot). 


Uma alegria vê-la e ouvi-la.




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Nota: Era para ter falado hoje de Os Idiotas do Rui Ângelo Araújo mas, com isto, acabei por me atrasar e amanhã tenho que me levantar cedo pois tenho um dia cheio de afazeres de toda a ordem (entre os quais votar, é claro). A ver se amanhã consigo.
*

Relembro: sobre o gnomo no jardim, isto é sobre o JRS - que a Clara Ferreira Alves demoliu sem dó nem piedade no Expresso deste sábado - é descerem, por favor, um pouco mais.

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E tenham, meus Caros Leitores, um belo domingo.

5 comentários:

Anónimo disse...

quem canta Bob Marley torna-se nele, por isso ele canta sempre, as letras da música dele ficam bem em qualquer voz - https://www.youtube.com/watch?v=koJIscC8sAE

Anónimo disse...

pasme-se com a voz de concorrente - https://www.youtube.com/watch?v=DQ1Oz6K4rOI

JCC disse...

Parabéns pelo blogue. E a sua atitude, assumindo erros e corrigindo-os publicamente revela grandeza de espírito e nobreza de alma.

Maria Eduardo disse...

Olá UJM,

UJM sempre no mesmo registo!... Correcta, elegante nas palavras, justa, conselheira, culta, inteligente, e muito humana! Assume humildemente as suas falhas, quando ocorre alguma, e corrige-as publicamente, na hora, para que a verdade seja reposta de imediato e não cause danos irreparáveis do outro lado. Só um ser humano especial pode ter comportamentos desta natureza e dimensão!
Obrigada, UJM, pelas grandes lições de civismo, cultura e muito mais, que partilha connosco diariamente.
Um beijinho grande e uma boa semana.

Anónimo disse...

Parabéns pelo blogue.Assumir erros publicamente é muito difícil. Mas corrigi-los publicamente também é digno.