terça-feira, fevereiro 01, 2011

'Sophia, uma vida de poeta' - um objecto de estimação que recomendo

Belíssimo o livro Catálogo da exposição "Sophia de Mello Breyner Andresen - uma vida de poeta", Biblioteca Nacional de Portugal, 26 de Janeiro a 30 de Abril de 2011, organização de Paula Morão e Teresa Amado.

Que encanto vermos a sua bela letra - que o Dr. Alberto Vaz da Silva, Mestre Grafólogo tantas vezes usa, nos seus cursos, para exemplificar o que é a caligrafia de uma artista, de uma pessoa apaixonada, vibrante - e as suas fotografias, e as cartas que recebeu, e entrevistas: enfim uma amostra do que é o espólio da sua vida, doado pelos filhos ao Estado Português.

Uma obra imperdível para quem ama as palavras de Sophia, para quem estima esta admirável mulher que para sempre viverá junto de nós (ou dentro de nós) . 

Capa do livro em que Sophia aparece numa fotografia talvez de 1946

Na fotografia de baixo vemos Sophia escrevendo num recanto da sua casa da Travessa das Mónicas, vendo-se o jardim desenhado por Gonçalo Ribeiro Telles. Esta fotografia abre o capítulo Vida que tem como sub-título uma frase de Sophia: "Amei a vida como coisa sagrada" e eu, que amo a vida como coisa sagrada, agradeço-lhe esta frase (como tantas outras) porque ela, uma vez mais, me ensina as palavras para eu saber dizer com exactidão o que sinto.

Sophia fotografada por Eduardo Gageiro em 1969

"Raramente se dá o milagre humano de ser alguém simplesmente poeta. De alguém que diz humildemente o que viu e sentiu quando um dia lhe aconteceu a vida. E que sabe ver em todo o momento e em tudo o que existe, o sinal secreto da beleza, o selo inapagável das origens. Sophia de Melo Breyener Andresen surge assim na Poesia Portuguesa como alguém que não quis fazer versos; mas que precisou de dizer as visões maravilhosas que trazia, o entendimento misterioso do universo que nela cantava num ritmo intenso" - excerto de um texto escrito em Novembro de 1944 pelo marido Francisco Sousa Tavares. Todo o texto está escrito assim, descritivo, mas, sobretudo, deixando antever o amor e compreensão, a ternura que ele tinha pela sua mulher, tão especial, que habitava algures entre um mundo de fantasia e o mundo real, da gestão doméstica, da resistência política, a mãe dos seus filhos, a amiga, a companheira. A mulher que dançava de noite, quando a casa dormia (belíssimo texto do filho Miguel Sousa Tavares: "Dêem-lhe, sim, silêncio e tempo, manhãs como a 'manhã da praça de Lagos' e noites com 'jardins invadidos de luar'. E ela dançará. Ao longo das sílabas dos poemas, como dançava na minha infância.").

Na fotografia abaixo, Sophia aparece em Vale de Lobo tal como o referi num post anterior e, uma vez mais, a relembro luminosa, dançando e correndo na água, mergulhando, rindo, feliz. Será sempre assim que a recordarei, no mar, ao sol, como tanto ela amava.

Sophia no Algarve, Vale de Lobo, 1979


A quem puder, recomendo vivamente este livro.

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