quinta-feira, outubro 02, 2025

Oh... Jane...

 

Uma notícia triste. Quando comecei a ver, por todo o lado, a  fotografia com a data de nascimento de Jane Goodall e a data de hoje, entristeci-me. 

Jane Goodall at Budapest Zoo in 2004 with a newly adopted chimpanzee called Pola.
Photograph: Bela Szandelszky/Rex Features

No Guardian (Jane Goodall, world-renowned primatologist, dies aged 91)

É certo que ninguém cá fica e é também certo que, à medida que a vida se prolonga, mais curto fica o pavio. Mas ela era daquelas pessoas que eu admirava verdadeiramente. Gostaria muito de a ter conhecido pessoalmente. Sei que adoraria estar perto dela, ouvi-la, fazer-lhe perguntas, sentir a doçura do seu olhar e do seu sorriso. E não há muitas pessoas de quem eu consiga dizer isto.

Ainda não há muito, eu tinha partilhado, num outro fórum, um vídeo dela louvando a sua permanente abertura de espírito e a sua serenidade. Era daquelas pessoas que a gente se habitua à ideia de que são eternas.

Mas, enfim, tinha 91 anos e um dia haveria de ser.

Eu própria dou por mim a fazer contas de cabeça. Penso em quantos mais anos 'úteis' ainda me restarão, em que estarei independente, motivada, sem maleitas a travar-me a energia e a mobilidade, com vontade de fazer tachadas de comida e desejando ter a mesa cheia de gente. Faço a minha estimativa e, por vezes, penso que estou a ser optimista. É que não vale a pena pensar que só acontece aos outros. Neste caso, ninguém escapa. Ou seja, nem faz sentido desejar que a morte não nos leve. Claro que levará. O mais que faz sentido querer é que seja como a gente deseja que sejam os partos: uma hora pequenina. Que seja rápido e pouco doloroso. E que seja quando a gente pensar que já viveu tudo o que haveria para viver, que já está bem assim, que já chega.

de André Carrilho

Mas, no caso de Jane Goodall, sempre tão bem, sempre tão jovem, cabeça tão arejada, tão escorreita e bem disposta, sempre tão profundamente honesta, tão bondosa, penso que era legítimo pensar que seria daquelas que chegaria a velhinha, aos cem ou mais que isso, a ainda a sorrir e a mostrar ao mundo que a boa onda e o bom humor são verdadeiras pílulas da longevidade. Afinal, partiu antes do que eu imaginaria. Ainda não a via como 'velhinha'. Como pessoa de alguma idade, sim, mas não daquelas velhinhas que já não dão uma para a caixa.

Segundo leio, ainda a semana passada participou no evento Forbes Sustainability Leaders Summit (partilho o vídeo com a sua intervenção) e num podcast creio que do Washington Post, e ia falar em público depois de amanhã e, para a semana, participaria noutro evento. Ou seja, esteve activa até mesmo ao fim. Acho extraordinário. Provavelmente, algo dentro dela estaria já bastante frágil mas, num daqueles mistérios, talvez insondáveis, em que os mecanismos da vida e da morte são férteis, a sua cabeça, a sua vontade, o seu ânimo estavam ainda bem vivos. 

Não vou agora pôr-me para aqui a desejar que repouse em paz ou outras banalidades do género. Desejo, isso sim, que o seu exemplo perdure, que o amor e compreensão pelos animais seja cada vez mais forte, que o respeito e a veneração pela natureza estejam sempre presentes entre nós.

Li que, naquelas medidas estúpidas e cruéis de Trump, tinha sido cordado financiamento a projectos seus. Imagino como se deve ter sentido revoltada e impotente. Mas estou em crer que terá tentado dar a volta, sem derrotismos. E é o que todos temos que fazer quando a vida nos troca as voltas: resistir, encontrar alternativas, acreditar, seguir em frente.

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Jane Goodall Has Died At 91—Here Is Her Forbes Interview From Last Week

Legendary zoologist Jane Goodall has died at 91; last week, she spoke to Forbes' Maggie McGrath at the Forbes Sustainability Leaders Summit.

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Votos de um dia feliz

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