Por, ultimamente, por motivos diversos, andar a ter que ir daqui para ali e, pelo meio, andarmos com vontade de inserir passeios e passeatas, chego ao fim do dia com o corpo a pedir-me sossego.
Não sei o que nos deu aos dois mas, no meio de várias decisões que temos entre mãos, parece que andamos com vontade de laurear. Acresce que o meu marido agora inventou a novidade de que, a seguir ao jantar, bom, bom, é irmos mais uma vez com o cãobeludo à rua, não apenas para ele fazer as suas necessidades nocturnas como, nós, para fazermos uma caminhada digestiva. Diz que leu que é coisa boa (não sei exactamente para quê). Mas como, volta e meia, peco à grande -- ainda hoje à tarde, na praia, marchou um geladão de chocolate negro e avelã --, na expectativa de que queime umas caloriazitas, alinho.
Por isso, apesar de ir acumulando assuntos durante o dia para sobre eles aqui explanar à noite
(a aventura hippie-romântica que dá pelo nome de la flotilla; o poder, quiçá um poder chantagista, de Israel sobre Trump como as tremendas consequências que isso comporta, umas visíveis, outras ainda não; a degradação crescente de Trump, umas com contornos de comicidade, outras com traços marcadamente fascistas; os palhaços que o rodeiam, palhaços acéfalos e invertebrados; a dupla gen Z que hoje andava a distribuir folhetos à beira da praia, tão fofos; etc),
chego a esta hora e, infelizmente, só me apetece ir dormir.
Ainda por cima, enquanto íamos caminhando agora à noite, já íamos a preencher o dia que aí vem. Resumo: mal me levantar, vou fazer uma máquina de roupa mas antes vou pulverizar as calças e calções brancos com tira nódoas pois quero sempre o branco bem branquinho. Depois pequeno-almoço. Depois ginásio. De volta a casa, estender a roupa. Depois ida à praia, quiçá almoçar por lá. Depois, ao regressarmos, apanhar e arrumar a roupa. Depois ir buscar o cãobeludo à creche. Depois ir passear com ele. Depois chegar a casa e tomar banho. Depois ir escolher a bolsa que irei usar no sábado e transferir o essencial da bolsa corrente para lá (pois já sei que no sábado entre arranjar-me, ver-me ao espelho, e etc, para estar a horas no local onde irei encontrar-me com amigos de longa data, pouco tempo sobrará). Depois irei regar. Depois fazer o jantar. Etc.
Ou seja, nada de especial. Coisinhas próprias de uma vidinha como a minha. Não desembainho espadas contra moinhos de vento, não escalo montanhas, não mergulho em apneia ao fundo dos mares, não desenho graffitis nos viadutos a meio da noite. Nada. Só coisinhas. Mas, como sempre, um programa corrido que me transportará até à hora em que, tardiamente, me sentarei no sofá e me sentirei perdida de sono. Na volta é coisa de gente idosa. Tivesse eu metade da idade e faria tudo isto com uma perna às costas e ainda me sobraria tempo para bordar uma mega carpete de arraiolos, para ir ao cinema à noite e ainda escrever três livros ao mesmo tempo. Mas agora é isto. E é bom.
Para os que também me acompanham no Instagram, saberão que no outro dia comprei uns sininhos de vento, mais tubinhos do que sininhos, em bronze, que, tocados pelo vento, emitem uma música divina. Pendurei-os na cameleira que está junto à janela do quarto. Mas não tem havido vento nem aragem e, por isso, quando deitada, ainda não fui embalada pelo seu canto. Ouvi, isso sim, o gato, ou a gata, que, de vez em quando mia e mia e mia e causa um abalo telúrico entre os cães nas redondezas. Portanto, agora estou à espera não apenas da chuva pois as terras estão sequiosas, mas também do ventinho que não vem.
E hoje voltei a encantar-me com a beleza do mar e da luz. Nasci ao pé da praia, era pequenina e ia passar o dia à praia, toda a minha vida andei perto do mar e dos rios. E, no entanto, é para mim um encantamento sempre inaugural.
Estava com vontade de ir agora agradecer e responder aos comentários mas já não consigo. Tenho ideia que a minha mãe ou as minhas avós, já nem sei, por vezes diziam que, por vezes, o ar do mar era muito forte, deixavam-nos moídos. Não sei se será disso ou será mesmo falta de dormir mais. Mas, seja o que for, vou mas é para a cama. Assim como assim já são duas da manhã.
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Desejo-vos uma feliz sexta-feira
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