Volta e meia trocam-me as voltas. Pensava eu que esta quinta-feira, tirando um compromisso à tarde, teria um dia tranquilo.
Estava eu ainda a digerir os alertas do Leitor a quem muito agradeço e cheia de receio pelos javalis, sapos, cobras e carraças quando constato que o nosso cãobeludo estava a lamber mais freneticamente do que antes uma qualquer coisa no quadril.
No domingo, tinha chegado da rua desencabrestado, como se tivesse que arrancar qualquer coisa ali naquele quadril. Não vi. O meu marido é que viu e pensou que ele tivesse alguma coisa ali presa no pêlo. Nessa manhã já tinha estado a puxar qualquer coisa de uma pata e tanto puxou e repuxou que acabou por tirar uma daquelas espigas maganas, ditas praganas. Pensámos que, fosse o que fosse, ele acabaria por também conseguir tirar. No domingo tivemos a maltinha toda cá em casa, uma animação, grande movimento e alta algazarra -- por isso, não deu para lhe prestar grande atenção.
Na segunda-feira vimos que continuava a lamber-se ali. O meu marido disse que o pelo, naquele sítio, estava seco e duro, que, na volta, era outra vez resina. Esfrega-se em todo o lado e brinca com pinhas e, às vezes, fica com resina no pêlo. Demos-lhe banho. O meu marido disse que, se não saísse com o banho, tentava-se cortar ali o pelo. Mas, quando eu estava a lavá-lo, percebi que não era nada no pêlo. Tinha era um inchaço por debaixo. Ficámos intrigados. Pensámos que teria sido picado mas que, tal como acontece connosco, o inchaço acabaria por passar.
Entretanto, com as picardias com os cães do lado, andou sempre por fora, longe da casa, e admitimos que lhe tinha passado.
Mas começou a comer menos. Nada de especial pois no verão tem sempre menos apetite.
Só que hoje parecia mais murcho, mais por casa, pouco reguila, e sem tocar na comida.
De tarde, no jardim, o meu marido chamou-me para eu ver pois, com o pêlo molhado por continuar a lamber-se ali naquele sítio, dava para perceber que havia ali um inchaço encarnado.
Fui ver e não gostei do (pouco) que vi. Com o pêlo não dava para ver quase nada. Mas aquela pele encarnada e o inchaço causaram-me suspeitas. Fotografei.
Mostrei a fotografia ao ChatGPT e descrevi o que se passava. Respondeu que poderia ser um abcesso, uma infecção, e que, dado que já estava assim há dias, deveríamos ir ao veterinário o quanto antes.
Claro que fomos. Mesmo que o ChatGPT não tivesse dito para irmos, iríamos pois estávamos a estranhar o sossego dele e não era normal aquele inchaço encarnado.
Lá fomos.
É sempre uma tourada. Temos que lhe pôr o açaime e o meu marido tem que o abraçar com toda a força para ele ficar imobilizado quando está na marquesa. Com a máquina, a médica tosquiou aquela parte. Quando vi o que estava por debaixo, fiquei mesmo incomodada. Inchado, já com pus, arroxeado, já com feridas de tanto lamber. Piedermite. Com o pêlo, não se via. Coitadinho. Como não haveria de estar incomodado...? Diz ela que deve ter sido qualquer coisa que o feriu ou picou e que de tanto lamber ali, certamente para se aliviar, a lesão infectou e espalhou a infecção.
Desinfectou e tratou, deu-lhe uma injecção de antibiótico e outra de anti-inflamatório. E colocou o colar isabelino que ele, coitado, odeia. E agora, durante 7 dias, tem que tomar antibiótico e desinfectar e tratar duas vezes por dia.
Um pesadelo. Vira-se, mostra os dentes, rosna, salta. Quando ponho o spray, que é frio (e, se calhar, lhe arde), fica possuído. Mesmo com a trela e com o colar, impõe respeito e dificulta muito o tratamento.
Mas entre idas ao veterinário, à farmácia, tratamentos e outros afazeres, pouco consegui fazer daquilo que tinha pensado. Lá consegui ler o início do 'tijolo' que João Pedro George pariu sobre a vida de Herberto Helder. Provavelmente vai satisfazer alguma da nossa cusquice mas tomara que eu não sinta que estou a violar uma privacidade que o Poeta tanto se esforçou por preservar.
Fiz um vídeo que publiquei numa story lá no Instagram. Só que me distraí e o vídeo tem mais de 1 minuto. Ora ali, só se vê o que 'cabe' em 1 minuto. Por isso, não se ouve a parte em que eu dizia que, no capítulo dos últimos momentos do biografado, achava que o biógrafo inventou para ali umas cenas -- por exemplo, que ele, antes de morrer, olhou para as molduras e pensou nisto ou naquilo, o que, obviamente, é impossível saber -- se calhar para apelar ao sentimento. E isso desagradou-me. Também, no pouco que li, encontro carradas de referências desnecessárias, o que torna a leitura, nesses pontos, enfadonha. Mas estou no princípio. Por isso, não quero já fazer apreciações sobre a qualidade da obra. Até porque, assim como assim, quando acho que tanta conversa sobre a tia, a avó, a bisavó, a casa ou a loja é desnecessária, tenho bom remédio. Sigo adiante.
Mas, com isto, não vi tomada de posse nem coisa nenhuma. E, há pouco, ao ver o Eixo do Mal, deu-me a pancada e apenas fui vendo umas por outras. Por isso, não posso pronunciar-me sobre os temas da actualidade política.
Também não faz mal. Sabe-me bem, de quando em quando, dar-me algumas tréguas. Até porque tourada e da boa, à espanhola, é a que está a passar-se entre dois dos mais malucos de que há memória: Trump e Musk. Há pouco, estava a comentar com o meu marido, interrogando-me sobre como poderá um arranca-rabo destes acabar. Ele disse: 'Fazem as pazes.'. Talvez. Parece que meio mundo anda a voar sobre um ninho de cucos.
_______________________________________
Mais uma vez, as duas fotografias que ali acima coloquei foram feitas apenas com recurso à minha inteligência que de artificial tem muito pouco.
_______________________________________
Uma feliz sexta-feira
3 comentários:
Caríssima UJM
Ainda a propósito de javalis e suas consequências, ontem fiz um post mas não entrou por desnorte meu provavelmente, mas não deixa de ter actualidade no contexto do seu artigo de hoje.
Como já aqui referi fui caçador, logo, tenho alguma experiência de animais selvagens.
O javali é um animal perigoso se, ferido, então é de fugir.Nunca gostei de caça de esperança a não ser evidentemente dos tordos, patos ou pombos porque não tenho asas para os perseguir. Sempre gostei de andar atrás das perdizes , contrariar os seus hábitos levando-para fora do seu habitat para contrariadas puxar o gatilho na volta delas ao seu território, acho injusto a caça de esperança porque é trair cobardemente uma peça de caça não lhe dando defesa.
Mas enfim. Dizia eu que o javali é perigoso, e é de facto, é um animal muito territorial, e daí a sua perigosidade. Quando se deparar com este bicho a primeira coisa é sair do raio de ação dele, suba para uma árvore, ou outra coisa qualquer mas vá para um plano superior ou fuja imediatamente ao ouvir o constante chamamento do grupo feito pelo Alfa no sentido de proteção do grupo o que, se atentos, percebemos a proximidade deles.
Quanto ao cão por perto, evite de terminantemente a sua aproximação ao javali porque um cão para javalis são cães geneticamente diferentes do seu "peludo", o que o torna altamente vulnerável e sujeito a perder a vida. Ainda matei javalis nos matos do Alqueva hoje submersos onde para lá chegar muitas vezes só rastejando na densidade matagal, era de loucos, só gente doida e até irresponsável na juventude lá ia.
Portanto UJM, nada de distração nesta circunstâncias para salvaguardar a sua vida e de quem consigo esteja. Quanto há presença dos "javardos", ou faz um muro de alvenaria á volta da propriedade...o que aparentemente lhe custa uma fortuna, porque aramadas...esqueça, eles rompem, estraçalham tudo na obtenção de comida, e vai ter que conviver com eles porque se agora viu dez, daqui a meses vai ver cinquenta e ao dobrar o tempo...não, não lhe digo mais números para uma "matemática" fica assustada. Melgas ao peludo.
Corrijo:
onde se lê"caça de esperança" é "de espera".
No fim, "melhoras ao peludo" e não "melgas.
Não tem de agradecer os alertas, eu sei o que passei com os meus e o que custa ver o sofrimento deles sem podermos ajudar. O meu de 40 kg um dia entrou-lhe uma pragana para o ouvido, e teve que ser anestesiado para se conseguir tirar, um martírio. Ambos tiveram em alturas diferentes um problema que passo a descrever, e nem foi no campo foi num terraço com vasos. De vez em quando apareciam uns bicharocos pretos do tamanho de uma barata grande mas mais estreitos, que quando nos aproximavamos, levantavam o traseiro com um bico como os escorpiões. Eu chamava-lhes lacraus mas não sei se eram.
Enfim foram ambos picados no focinho, presumo que por um bicharoco desses, e em minutos ficavam, em geral mas principalmente com a cabeça, cheios de bolhas, tipo como quem tira tinta em madeira com maçarico. Aquilo devia dar comichão ou ardor do diabo pois ganiam e esfregavam-se no chão em frenesi. NO vet tinham que levar anti histamicos e mais não sei Q. A de 30 kg, uma vez levou um picada, presumida pois não vi marca nenhuma, mas ela abanava a cabeça de tal maneira que acabou por rebentar vasos sanguineos, e passados uns dia tinha uma orelha que parecia uma beringela e aquilo doía. Teve que ser drenada durante vários dias e cada vez que lhe tiravam o sangue injetavam liquido para secar etc.E aquilo é complicado, pois usam uma agulha mais grossa que um palito. Portanto e como disse o sr. Castanho, cautela e caldos de prudencia. As melhoras.
PS. O ser humano onde mexe dá cabo de tudo, na America toda, sul e norte os javalis são uma praga. No Brasil, onde foram introduzidos espalharam-se por todo o lado e dão cabo das culturas e como são omnivoros poem em perigo as espécies nativas. Tal como na Europa e na Australia lá também fazem batidas e caça com cães com proteçoes á volta do pescoço e troco, mas por por vezes ainda ficam feridos. No youtube há muitos videos onde se pode ver a valentia dos cães e a força dos javalis.
Enviar um comentário