Depois de ouvir o discurso revanchista de Ventura, copiando o estilo ameaçador de Trump, depois de ver a esperada renúncia de Pedro Nuno Santos e ao ver o discurso de Montenegro que falou como se tivesse tido a maioria absoluta, fico com a sensação que o caldinho pode estar seriamente armado. Contudo o País tem que ser posto em primeiro lugar. Há prioridades que devem ser postas em cima da mesa e, uma vez identificadas, ir em frente e agir em conformidade.
1 - O País não pode correr o risco de estarmos sempre dependentes dos ajustes de contas, das ameaças, das provocações do Chega
2 - Ou seja, tudo deve ser feito para que o Ventura não tenha a última palavra. E essa preocupação tem que estar sempre presente.
3 - O País deve ser governado com inteligência, assertividade, com visão estratégica, tendo em conta os riscos internacionais e os riscos internos. Se o governo que vai nascer não conseguir bons resultados, nas próximas eleições o Ventura conseguirá melhores resultados e, se agora foi o PS que levou uma banhada, nas próximas eleições pode ser a AD a levá-la. E aí será o País, no seu todo, que estará nas mãos do Ventura (tal como os Estados Unidos estão nas mãos do Trump). E aí, adeus minhas encomendas.
4 - Há muitas reservas em relação ao 'centrão' e há certamente muita gente do PS que jamais vai querer dar uma 'mão' à AD. Percebo tudo isso. Mas as circunstâncias são o que são. Não vale a pena ir buscar exemplos do passado para provar os danos dos abraços de urso ou os malefícios do pântano dos centrões. Tudo isso pode ser verdade. Melhor, tudo isso foi verdade. Não tenho dúvidas. Mas, neste momento, o circo está a arder e é nesse cenário que devemos situar-nos. Chegámos aqui e é aqui que devemos situar-nos.
5 - Ou seja, face aos riscos e face às circunstâncias, neste momento penso que o mais inteligente será barrar o caminho à influência crescente do Chega. Para isso, penso que o mais racional será o PS estabelecer um entendimento com a AD no sentido de criar condições para entregar à população resultados rápidos, palpáveis, demonstráveis. Têm que ser encontradas soluções rápidas (em gestão, chamamos quick wins, pequenos ganhos que fazem ganhar a adesão das pessoas) nas áreas problemáticas que geram mais descontentamento junto da população e sobre as quais o Chega cavalga. Ainda hoje o meu filho dizia que têm que se encontrar soluções rápidas nas áreas da Saúde, da Educação, da Habitação e da Segurança Social. Concordo. Encontrem-se soluções rápidas, sem dogmas. Se o mais rápido for, aqui e ali, fazer acordos com privados, que se façam. Não se diabolizem os privados. Como se vê pelo resultado das eleições, a maioria da população já não está nem aí. Seja-se pragmático: desde que os contratos sejam regulamentados, não há drama. Encontrem-se soluções: consultas e cirurgias rápidas, mais escolas, mais creches, residências para idosos e clínicas para doentes que precisam de reabilitação ou de cuidados paliativos, casas públicas, financiamento a cooperativas de habitação, etc. Seja-se criativo. Seja-se rápido.
6 - Pode dizer-se que, se o PS der a mão ao Governo AD, isso vai desvirtuar a sua linha ideológica. Talvez, sim. E dar a mão a Montenegro, um fulano que é um chico-esperto, chateia. Pois chateia. A mim chateia-me como nem imaginam. Detesto chico-espertices, habilidades no limiar da legitimidade, manhosices. Detesto. Mas o País tem que estar acima disso. E, de resto, seja como for, o PS tem mesmo que mudar. Por isso, não tem muito a perder em 'vergar-se' para ajudar a AD a governar bem - pelo contrário, o País reconhecerá o sacrifício, se for a bem do País.
7 - Em paralelo, vejo espaço para um grande partido e era bom que esse partido fosse o PS, pois tem uma base matricial na formação da democracia em Portugal e tem grandes democratas no seu historial. Mas, se não for o PS, paciência. Já o disse, faz falta em Portugal um partido que aponte no sentido das democracias do norte da Europa, um partido civilizado, culto, moderno, desenvolvido, inspirador, mobilizador. Se o PSD não fosse um partido que tem enraizada uma matriz de videirinhos, de patos-bravos, de chico-espertos, poderia evoluir para um partido como o que antevejo. Mas a sua matriz não o deixará evoluir. O PSD tem a 'filosofia' dos esquemas, dos interesses, dos jobs for the boys metastizada em toda a sua rede de concelhias e distritais (e, se calhar, o PS também) pelo que duvido que consiga alguma vez desempoeirar-se. Por isso, antevejo que, mais dia menos dia, teremos um novo partido a adquirir pujança e a fazer uma frente eficaz ao populismo. Mas isso leva tempo. Enquanto essa alternativa não nasce e não se impõe, a prioridade -- e volto ao tema das prioridades - tem que ser travar o Chega. Por isso, para concluir, para mim, neste momento, pondo em primeiro lugar o bem do País, acho que tudo (tudo, tudo) deve ser feito para reduzir a base de apoio do Chega -- e, para tal, é preciso entregar bons resultados à população no que é determinante, ou seja, é preciso governar bem.
8 - Há um outro aspecto: qual o papel da Comunicação Social? Vai continuar a querer competir com as redes sociais? Vão continuar a andar com o Ventura ao colo? Vão continuar a alimentar a maledicência, o desgraçadismo, a levar misérias e crimes aos programas generalistas de dia, assim alimentando a ideia da insegurança de que o Chega se alimenta? Marcelo, que é um dos grandes culpados pela situação em que estamos, faria bem em chamar os responsáveis das televisões e apelar ao sentido de responsabilidade no sentido de preservar a democracia do nosso País.
9 - Há ainda o Ministério Público que tem actuado como um contrapoder, deveria também ser chamado à responsabilidade. Andar a queimar políticos, deixando-os a serem derretidos em lume brando ao longo de anos, é do pior para a democracia. O populismo alimenta-se da ideia da corrupção generalizada, o populismo diz que 'isto é uma bandalheira'. E o MP não pode ajudar a essa festa. Marcelo deveria também ter uma acção nesse sentido.
10 - Termino, repetindo-me: penso que é tempo de todos, todos, todos -- todos os que amamos a democracia -- nos unirmos para que o País e a democracia sobrevivam à chaga populista que está a alastrar perigosamente.
6 comentários:
Olá Umjm, como eu tinha dito num post lá atrás, o país não ficaria igual depois destas eleições... Este PS de hoje está minado de radicais de esquerda, estão num partido grande como o PS com ideias do BE. A esquerda tenta passar uma mensagem que, só eles são democratas, sérios, amigos dos trabalhadores e pobres, o problema desta esquerda é que não está ninguém do outro lado para ouvir, o país mudou e muito. O PS vai morrer pelo vírus que contraiu em 2015...Como dizia Passos Coelho :Vem aí o diabo. Ele veio mesmo. Saudações leoninas para os sportinguistas da família
Há uma coisa que tenho certeza absoluta, jamais darei o meu voto a carneiros ou Medinas. Para votar na direita, votava na AD em vez dos carneiros e medinas do PS disfarçados de socialistas.
Já agora. Parabéns a Marcelo pelo seu trabalho de formiga " 🐜 obreira" que levou enganando parvos durante 50 anos. Travestido de centro direita, quando foi, e é, o político mais reacionário nesta pseudo democracia. Aqueles de centro esquerda, que nele votaram, devem morder a língua e pedir desculpa pela imprudência que cometeram.
Retirado do facebook e replicado num blog parecido. Aqui está outra maneira de dizer o que UJM disse.
Ontem à noite, o país sentou-se a ver o circo. Um circo de uma só figura, de um homem só, de um espectáculo monológico onde o palhaço também era domador, director, macaco amestrado, leão faminto e criança perdida que grita da plateia para que olhem para ele, só para ele, sempre para ele. André Ventura falou. Falou como quem cospe. Falou como quem bate. Falou como quem quer ser amado mas só sabe odiar. E parte do país, a parte do país fatigado de esperar por Deus, ouviu. Ouviu como se ouve o padre numa missa a que se vai por obrigação, como se ouve a mulher que já não se ama ou o pai que já não se respeita. Ouviu com raiva, com cansaço, com culpa.
Disse que acabara o bipartidarismo. Disse-o como quem anuncia a queda de Roma, o fim dos tempos, a libertação do povo escolhido. E ali estava ele, o Moisés do populismo, de microfone à frente
e a azia no bolso como quem esconde a vergonha, prometendo terra prometida a quem nunca teve jardim. Disse que a história tinha mudado, que agora o país era outro, um país dele, feito por ele, para ele, com ele ao leme e os outros calados, de joelhos, em silêncio. Ventura quer o país em silêncio. O país de joelhos. O país em medo. Ventura não quer governar. Ventura quer mandar. E o que há de mais grave é que há quem deseje ser mandado. Há quem precise.
O Chega não é um partido. É uma carência. Um sintoma. É o vómito do país que nunca curou a sua tristeza. Que finge que é alegre no São João, no Santo António, nas bifanas do domingo, nos copos do sábado, nas sardinhas do Junho. Mas que sangra por dentro. Que odeia por dentro. Que tem raiva de si, de tudo, de todos. Ventura oferece isso: um inimigo. Um sentido. Um alvo. Se há um culpado, já não sou eu. Já não é o meu fracasso, o meu salário, a minha solidão. É o cigano, o negro, o comunista, o assistente social, o jornalista, o juiz, o reformado, o artista, o pobre, o estranho. Ventura dá um nome à frustração. E isso consola. E isso vicia. E isso mata.
CONTINUA
CONTINUAÇÃO
O seu discurso foi uma lista de cadáveres simbólicos. “Matei o partido de Álvaro Cunhal”, disse, como se estivesse a caçar fantasmas no sótão. “Varreram o Bloco de Esquerda do mapa”, gritou, com o orgulho de quem limpa sangue do chão e chama a isso arrumação. Para Ventura, política é isso: uma limpeza. Uma desinfecção. Uma purga. Como se o país estivesse sujo e só ele, com a sua verdade puríssima, o pudesse lavar. E lavar com quê? Com insultos. Com medo. Com castigos. Com prisões perpétuas. Com castrações químicas. Com multas. Com violência.
E depois, claro, o momento cómico, se a comédia ainda tivesse graça. Atacou as sondagens. Sempre as sondagens. Sempre o mesmo coro: que o queriam calar, que o queriam derrubar, que lhe mentem, que lhe fazem armadilhas. Ventura não percebe que as pessoas viram no seu partido com vergonha de o fazer, de o dizer às sondagens. Ventura é o miúdo que jogava mal à bola e que ninguém quis na equipa e passou o resto da vida a sonhar ser capitão. E agora que lhe deram um apito, anda a expulsar todos os que correram mais depressa do que ele. Ventura não acredita em instituições. Acredita em si. Ventura não acredita em regras. Acredita no seu instinto. Ventura não acredita no país. Acredita no seu espelho.
E depois aquela frase. Aquela frase que soa a taverna com vinho barato e gritaria ao fundo. “A mama vai mesmo acabar.” Disse-o com o orgulho de quem faz justiça, mas com o tom de quem está habituado a mentir e a justificar-se com o cansaço. A mama vai acabar. A mama, quer dizer, o Estado. Os apoios. Os direitos. A solidariedade. Os serviços. A dignidade. Ventura quer um país onde só os fortes sobrevivem. Onde quem não consegue, morre. Onde quem chora, se cala. Onde quem precisa, se esconde. Porque, para ele, a vida é uma luta de cães. E ele é o dono da trela.
Mas Ventura não quer que a mama acabe. Ventura quer ser ele a mamar. Quer o lugar do outro. Quer mandar nos subsídios. Quer mandar na televisão. Quer mandar na escola. Ventura quer mandar. Ventura quer mandar. Ventura quer mandar. E o país, esse país magoado, esse país velho que já não acredita em ninguém, esse país que se esqueceu como é que se luta, esse país votou nele como quem diz: “toma, faz tu melhor.” E ele fará. Mas não será melhor. Será só mais triste. Mais cruel. Mais pequeno.
O que me espanta não é Ventura. Ventura é uma personagem de novela das seis: previsível, mal escrita, exagerada. O que me espanta é o silêncio. O silêncio dos outros. O silêncio dos bons. O silêncio dos sérios. Dos que deviam estar ali, naquele exacto momento, a dizer: basta. Mas estavam calados. Com medo de perder votos. Com medo de serem insultados. Com medo de não parecerem “populares”. E assim se mata uma democracia: não com balas. Com medos. Com cobardias. Com silêncios.
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CONTINUAÇÃO
Este discurso, o de 18 de ontem, não foi um discurso. Foi uma bofetada. Foi uma noite de gritos num quarto fechado. Foi o início de qualquer coisa escura. E se não gritarmos agora, se não dissermos agora, alto e claro, que isto não é normal, que isto não é aceitável, que isto não é o país que queremos, amanhã já não poderemos falar. E depois? Depois virá o silêncio. O grande silêncio. O silêncio dos cemitérios. E Ventura sorrirá. Porque não há nada mais cómodo para quem quer mandar do que um povo sem voz. E nós estamos perigosamente perto disso. Perto de calar. Perto de baixar a cabeça. Perto de desistir.
E quando isso acontecer, será tarde. Será sempre tarde.
Maio 2025
Nuno Morna
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Infelizmente, gente honesta e com capacidade intelectual para poder tentar mudar as coisas, não tem como entrar na politica, seja porque as oligarquias partidárias avençadas não o permitem, seja porque não conseguem meios para formar outro partido, e mesmo que o consigam, a máquina propagandista da corja nossa, não lhes daria o destaque isento de que necessitariam. Assim, resta-lhes a palavra, falada ou escrita, para tentar criar mentes despertas, o que é cada vez mais dificil porque, QUEM ESTÁ ANESTESIADO NÃO ESTREBUCHA. E viva o sl benfica o sporting cp, o fc porto e a seleção nacional A DO MARTINEZ, não a da AR, cheia de gajos mortinhos por marcar golos em fora de jogo, com a mão e na própria baliza. Eu sou adepto do desportivo de FAFE.
Peço desculpa pelo comentário demasiado longo, mas achei que valia a pena divulgar, se preferir pode apresentá-lo como editado por si. M.Linho
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