sexta-feira, março 28, 2025

Sobre lavagens, limpezas, podas. É isto uma etrusca...?

 

Nesta sala em que estou, chamada sala da televisão -- pois é aqui que está a televisão maior e em que geralmente nos juntamos para a ver --, tenho uma sofá muito grande (por acaso, sofá cama), que é de pele azul escura, e tenho um outro, também grande, em cor de pérola. Ora, nem eu queria aqui ver um sofá escuro, como o outro, que é de um tecido sensível e muito claro, ficaria rapidamente sujo se fosse usado tout court todos os dias. E já nem falo no que acontece quando se juntam a ver futeboladas, os rapazes com o entusiasmo põem-lhe os pés em cima ou, à revelia, levam comida e vão petiscando durante os jogos. Portanto, resolvi cobri-los com cobertas de algodão branco. Fica a sala clarinha e facilmente se lavam as cobertas. Só que, de facto, o algodão de que são feitas as cobertas é espesso e, não tendo eu máquina de secar, se as lavo em tempo de chuva, é um caso sério para as secar.

Portanto, com estes dias de solinho, tem sido um fartote de máquinas de roupa. Tinha, claro, o banal como a roupa de cama e as toalhas da casa de banho, tinha a toalha de mesa gigante usada no fim de semana, que é também espessa, e, depois, mais estas cobertas (só posso lavar uma coberta por máquina, tal a dimensão e espessura), e mais as toalhas que usamos no ginásio mais as calças e tshirts e demais roupa. E fiz outra só com tapetes, os da casa de banho e os de pano que tenho junto às portas da rua para que o cãobeludo, nestes dias de chuva, não patinhe a casa toda nem traga lama para dentro de casa. Assim, não é que saiba limpar os pés quando entra, mas, pelo menos, passa por eles e a maior fica neles. Portanto, fiz várias máquinas de roupa de seguida. Uma alegria ter a roupa cheirosa a secar ao sol. E secou tudo que foi uma beleza.a

E hoje estava para lavar as forras das almofadas e algumas das almofadas mas já não consegui pois não esteve calor nenhum e esteve meio nublado. E parece que para a semana volta o tempo incerto pelo que este meu ímpeto lavadeiro tem que abrandar. É que, a seguir, quero que vão as carpetes. É outra coisa que gosto imenso de fazer. Estendo-as em piso plano ou inclinado, molho-as com mangueira, coloco detergente, depois 'esfrego-as' com vassoura rija. O bom e o bonito é tirar-lhes, depois, todo o detergente, deitam espuma que se fartam. Com a mangueira e a vassoura vou lavando, lavando. Tenho que estar descalça, claro. Mas preciso de sol forte para depois as carpetes me secarem senão ficam a cheirar a lã molhada, malcheirosa. Secando rapidamente ficam não apenas limpinhas como cheirosas. 

Tenho dúvida quanto aos cortinados mais espessos que são forrados e 'enformados'. Temo lavá-los eu, e na lavandaria também disseram que não assumiam a responsabilidade. Por isso, têm sido apenas aspirados, sacudidos, postos ao sol. Mas qualquer dia tenho mesmo que levá-los ao banho. O que lavo regularmente são os brancos finos como o desta sala, outro que tenho a separar a despensa da cozinha, e os das duas janelas do meu quarto, um dos quais de renda belga. Estes lavam-se que é uma maravilha, nem precisam de se passar a ferro.

Também tenho duas colchas de renda para lavar mas essas têm que ser levadas à lavandaria pois são um peso bruto e mais ainda quando estão molhadas. Claro que aí há as secadoras mas não quero tratar já disso pois, quando chove e não quer que o limpemos com uma toalha, o nosso cão maluco corre e vai esfregar-se e rebolar em cima da cama do quarto do fundo ou no sofá do primeiro andar que tem uma colcha de renda a servir de coberta. Por isso, enquanto ainda estiver de aguaceiros, não vale a pena.

Também andei com o meu marido a podar as roseiras trepadeiras que estão em volta da árvore maior. Aquilo já estava para ali um arbusto farto. Quando está florido é uma beleza e um perfume do mais inocente e maravilhoso que há. Aquelas rosinhas cor de rosa clarinho têm um perfume que faz recordar a primeira-comunhão e a infância. Mas é a tal coisa de não haver bela sem senão: espinhos e mais espinhos. E, para se conseguir chegar à árvore, para a desbastar, havia que desbastar primeiro os pés de roseira pois não apenas tinham volume a mais como picam por todo o lado. Também desbastámos um pouco a buganvília. E andei a arrancar ervas grandes que nasceram e se desenvolveram à grande tal a profusão de água das chuvas. Depois o meu marido andou com a máquina a cortar a relva. E também ficou um cheirinho bom a relva cortada.

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Bem, hoje estou para temas domésticos. Não faz sentido estar para aqui a escrever isto, pois não...? O que é que isto interessa a alguém...?

Por isso, para sair deste registo (só me faltou dizer que amanhã quero dar banho ao cão, o que não é uma metáfora nem uma gracinha, é mesmo literal), vou antes transcrever um pequeno excerto de 'Etrusca', um livrinho pequeno, que, há muito, muito tempo, aqui escrevi em capítulos, como um folhetim, uma das histórias que muito me divertiu escrever. 

E devo dizer que gosto desta capa, acho que me saiu bem. Custou mas, à enésima versão, quando já desesperava, lá me agradou... Mas, claro, é discutível, haverá quem ache uma pepineira. E eu respeitarei.

Enfim.

Aparentemente ínvios são os caminhos da sedução. As etruscas sabiam bem disso. Eu também.

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(...)

Quando cheguei, já lá estava. Sisudo.

‘Sim, patrão’, apresentei-me ‘já cá estou.’

Não estava para sentidos de humor, foi direito ao assunto. ‘O que tens andado a fazer é estúpido, irracional, descabido. A que propósito andas tu a chapar na internet assuntos que são pessoais e que não te dizem respeito? O que ganhas tu com isso? E achas que percebes tudo o que vês ou que podes fazer juízos de valor baseando-te apenas em metade dos factos?’.

Tinha os punhos fechados em cima da mesa, furioso. E olhava-me nos olhos, como se, com o olhar, me quisesse punir, talvez até agredir.

Nestas ocasiões fico invulgarmente calma. Disse-lhe: ‘Respira fundo. Acalma-te. Olha para fora. Quando estiveres na plena posse das tuas capacidades, recomeça. Mas devagarinho que eu não gosto de ver gente stressada à minha frente.'

Não ligou nenhuma e continuou, desorientado: 'Aí andas, a fazer conjecturas, a falar com a minha mulher, com o amiguinho, até com a advogada, e depois vais para o computador e desatas a escrever tudo. Se te ligo, lá vejo no dia seguinte tudo escarrapachado na internet - e eu gostava de perceber que brincadeira é esta.'

'Oh senhores, mas eu não estou farta de dizer que é ficção? Tudo ficção. Qual daqueles protagonista és tu? Eu, ao olhar agora para ti, diria que és a bicha, uma bicha toda agitada, à beira de um chilique.', brinquei.

'Mau!', continuou ele no mesmo registo 'assim não vamos a lado nenhum!'.

'Não vamos a lado nenhum? Mas onde é que tu queres ir, que eu ainda não percebi...?', sorrindo eu.

'Achas que tenho um caso com a advogada, achas que não estou a dar a mão à minha mulher, achas que sou um neo liberal arrogante. Achas isso tudo, não é? Achas que me atirei à advogada, que ela não quis nada comigo, que eu fiquei em lágrimas. Achas isso tudo, não é?! E se fosse?', e quase espumava.

'Olha, baixa o tom de voz. Não é por mim, é por ti que não há quem não te conheça, já estão a olhar para nós.'.

Então levantou-se, pagou e, seco, disse-me, 'Vamos lá para fora'.

E eu refilando: 'Logo hoje? Há tanto tempo sem chover e logo hoje, que está de chuva, é que queres ir passear...?'

Saímos. Foi buscar o chapéu de chuva ao carro.

E, então, num anoitecer chuvoso, frio, passeámos à beira rio enquanto ele falou tudo o que quis que eu soubesse.

(...) 

in Etrusca, Vera Mulanver, Amazon 

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A todos uma bela sexta-feira

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