domingo, setembro 15, 2024

Há casas e casas...

 

Enquanto escrevo, estou a ver um programa fantástico na RTP 1, 'Em casa de Amália' em Elvas. Muita gente na rua a assistir a contagiantes momentos de partilha com o António Zambujo, o Buba Espinho e o Luís Trigacheiro, apresentado por um José Gonzalez que eu não conhecia mas que é um tipo bem simpático. 

Muito bom. Penso que o país caminha no bom sentido quando se fomentam momentos assim, de comunhão em torno de uma língua comum, em que as pessoas saem à rua para ouvir cantar, quase tudo canções que toda a gente canta, em que há sorrisos no ar. O cante alentejano é maravilhoso. 

Mas não tem que ser o típico cantar alentejano. Canções que muita gente conhece, melodicamente ricas, em que se toda a gente se junta a cantar, são uma riqueza cultural inesgotável.

E estes três jovens cantam lindamente. Estou impressionada. Por exemplo, não conhecia bem o Luís Trigacheiro e tem uma voz e um poder de interpretação extraordinários. Neste momento está a cantar uma que não é muito conhecida (digo-o pois não o acompanham a cantar) mas que é uma canção linda. Estou encantada.

--------------------------------------

Mudando de assunto. Ontem à noite, sem querer, dei com um documentário tocante. Fiquei a ver até ao fim. Foi na RTP 2. Feito pela Charlotte Gainsbourg sobre a mãe, Jane Birkin, mulher de uma inocência e franqueza totais.

Se não viram, sugiro fortemente que ponha a box para trás e o vejam. Partilho o trailer só para se perceber o género. 

Jane by Charlotte - Official Trailer (2022) Charlotte Gainsbourg

Watch the trailer for Jane by Charlotte, a documentary by Charlotte Gainsbourg about her mother, Jane Birkin. It features intimate conversations between parent and child, as well as footage of Birkin performing onstage, and explores the emotional lives of two women as they talk about subject matter that ranges from the delightful to the difficult: aging, dying, insomnia, celebrity, and their differing memories of their shared past, which includes Charlotte's father and Jane's husband, Serge Gainsbourg. 

--------------------------------       ....................      --------------------------------

Como estou com um olho no burro e outro no cigano (e espero não ser censurada pela utilização deste ditado popular), não me dá para me pôr para aqui agora com divagações. Vou já direita ao assunto.

A forma como as pessoas vivem por esse mundo varia de uma maneira que se calhar não julgamos possível. Eu, se fizesse programas educativos, incluía o conhecimento de hábitos, dificuldades, excentricidades e gostos ao longo de todo o planeta. Penso que é bom que tenhamos noção das disparidades, da diversidade. O que aqui podemos observar atesta a criatividade humana quer a nível arquitectónico, quer tecnológico, quer estético ou económico quer a nível da própria sobrevivência.

Pode ser difícil de acreditar, mas as pessoas realmente moram nestas casas


A tod@s desejo um belo dia de domingo

sábado, setembro 14, 2024

Celebridades, poemas reunidos, um diário incontínuo, mulheres e homens corredores

 

Estava na farmácia, deambulando por entre os expositores, tentada por mil promoções -- protectores solares, cremes para prolongar o bronzeado, sprays para hidratar o cabelo, colagénio sob todas as formas -- quando entrou um homem jovem, bonito, de óculos escuros. Olhou para mim, sorriu e cumprimentou-me muito bem.

Disse-lhe boa tarde, disfarcei mas fiquei ali parada, a fazer de conta que estava a ver os produtos e a puxar pela cabeça. De onde é que ele me conhecia para me cumprimentar assim? Conhecê-lo-ia eu também?

Depois chegou a minha vez. Fiquei num balcão. Depois chegou a vez dele e ficou num outro balcão, um pouco afastado. A funcionária foi lá para dentro à procura do que eu tinha pedido e aproveitei para olhar de soslaio para o jovem. Estava a ser atendido por uma técnica que se derretia em sorrisos. Ouvi então a voz dele. E, de súbito, fez-se-me luz: um conhecido, super-super-conhecido cantor! Na volta, cumprimentou-me por achar que eu o tinha reconhecido. 

E, como quase sempre, quando a gente os conhece da televisão, ao vivo constata que têm uns palmos a menos. Não que seja baixo, não é, nem isso interessa para nada, só que não é tão alto como o imaginava. Mas não foi por isso que não o reconheci. Não reconheci simplesmente porque sou despistada. E provavelmente estas pessoas muito conhecidas pensam que toda a gente os reconhece.

Também acontece cruzar-me com uma outra pessoa muito conhecida que passa por aqui a correr. Ao contrário de muitos e muitas corredoras que por aqui passam, cumprimenta sempre com um sorriso. Acho simpático. Mas na primeira vez também só o reconheci já ele devia ir a uns bons quilómetros. Tinha-me parecido que o conhecia e não me lembrava de onde.

Quando para aqui vim morar, estranhava muito que toda a gente se cumprimentasse. Agora também eu já faço o mesmo. 

Claro que isto é exequível quando nos cruzamos com poucas pessoas. 

Por exemplo, hoje almoçámos no centro de Lisboa. Deixámos o carro no parque subterrâneo ali perto e andámos um pouco numa das mais movimentadas avenidas da cidade. E obviamente ninguém cumprimenta ninguém. Aliás, ninguém olha para ninguém. Uma pessoa daria em maluca se cumprimentasse toda a gente com que se cruza num lugar assim.

Depois de uma vida inteira a viver e a trabalhar em lugares hiper movimentados e a ter que andar todos os dias no meio do trânsito, agora isso já nos incomoda. Aliás, temos sempre vontade de fugir a sete pés da confusão urbana quando nos vemos metidos nela...

Por fim, a seguir ao almoço, e já eram três e tal da tarde, como estava um calorão dos diabos, em vez de passearmos por ali, acabei por procurar o fresquinho de uma livraria. 

Comprei os 'Poemas Reunidos' de Pedro Mexia e o 'Diário Incontínuo' do Mário Cláudio. 

De tarde, já estive a ler o poemário do Mexia e agradou-me sobremaneira. É uma poesia muito honesta e, de certa forma, intensa. Hesito na palavra 'intensa'. É que, por vezes, a poesia dele pode até parecer leve. Mas eu leio-a como muito sentida, muito despojada, reduzida ao essencial, por vezes bastante pesada. Muito íntima.

Lembro-me sempre de um meu amigo, grande leitor, que não pegava em poesia e que, para me provar que a poesia é coisa fútil, fazia o exercício de ler um poema como se fosse prosa. E, lida assim, palavras corridas, o melhor poema parecia não mais que um farrapinho de prosa, uma textozinho triste. Ao ler, não fazia as pausas, não deixava que as palavras respirassem, não dava espaço ao silêncio que é essencial para que se sinta a emoção que o poema encerra.

Também já folheei, embora apenas muito pela rama, o diário de Mário Cláudio. Se calhar, também vou gostar de ler. Gosto cada vez mais de ler coisas que a gente sente como muito autênticas. O desfiar dos dias geralmente é assim. Talvez se pareça mesmo com as páginas de um blog (como a Susana o referiu).

E fico-me por aqui. Vou ver se consigo deitar-me mais cedo. Devia mudar o meu ritmo que desafia as ortodoxias circadianas. 

No outro dia, nestas minhas irregularidades do sono, acordei a meio da noite e era de madrugada e continuava sem dormir. E, para meu espanto, por diversas vezes, ouvi passar várias pessoas a correr. Não era várias ao mesmo tempo. Não. Passava um. Passado um bocado eram dois pois ouvia a passada da corrida e percebia que falavam um com o outro. Passado um bocado, outro. Senti-me estupefacta. Ainda nem deviam ser seis da manhã, eu ainda à espera de adormecer, e ali andavam, frescos e enérgicos. 

No outro dia também me surpreendi com outra coisa: fomos passear o cão já a noite estava a cair (o que não é difícil pois os dias estão a mergulhar na noite a um ritmo cada vez mais acelerado) e, às tantas, passou por nós a correr, com calção curtinho, blusinha de alças, um daqueles aparelhos de medições de sinais vitais no antebraço, uma mulher numa velocidade que nos deixou de boca aberta. Às tantas até seria atleta. Eu teria algum receio de andar a passear ao cair da noite sozinha mas aquela mulher não estava nem aí, parecia um carro de corrida.

E, pronto, nada mais tenho a acrescentar. E desculpem se é só isto.

Desejo-vos um bom fim de semana.

sexta-feira, setembro 13, 2024

Coisas ligeiramente despropositadas

 

Gosto bastante de objectos concebidos por (bons) designers. Geralmente a gente olha com algum espanto mas depois conclui: 'Olha, está bem visto, sim senhor...'. Ou ocupam pouco espaço ou são inesperadamente eficientes ou são ergonómicos ou são curiosamente inventivos... e a gente olha e vê que há ali golpe de mestre. Onde encontrei mais e mais interessantes lojas com artigos de design talvez tenha sido Amesterdão. É de uma pessoa se perder. 

Além disso, na presença de objectos com um bom design fica-se com a sensação de que somos intelectual e esteticamente desafiados e isso é muito aliciante. Pelo menos para mim é.

Mas depois há o reverso: a provocação, a gargalhada que se solta... 

Acredito que para muita gente isto que vou mostrar seja um perfeito disparate. E eu não digo que não seja. Mas divirto-me, acho que só alguém com um grande sentido de humor pode fazer coisas assim. Imagino o que a brilhante Katerina Kamprani deve divertir-se a fazer as suas travessuras. E imagino a vontade de rir que deve dar (tentar) usar estes objectos.

Por exemplo...

Cadeira para gente magrinha e flexível



Cadeira para quem tem o rabo metido para dentro



Copo para quem tem uma cabecinha pequena que encaixe bem no copo



Flutes para casalinhos



Garfo para pessoas delicadas



Óculos para quem tem olhinhos ao lado



Regador que rega o regador



Agulha para coser duas costuras ao mesmo tempo


Useless Design – How Some Everyday Items Are Brilliant Inventions!

What do two, intertwined cups, open rubber boots and a twisted watering can have in common?  They show how ingenious some everyday inventions are. Artist Katerina Kamprani shows off some of the designs which she's has created for the project "The Uncomfortable."



Dias felizes

quinta-feira, setembro 12, 2024

Sempre me pareceu que a maior arma contra os narcisistas, em especial os psicopatas, é o humor.
Gozar com eles, tirar-lhes o tapete, pô-los a ridículo, fazer com que exponham a sua prosápia, a sua bazófia, mostrar que são sacos de vento, que dentro deles apenas têm o próprio ego, um ego inflado, desmesurado.
E este Trump mostrou (uma vez mais) que, além disso, é parvo, um estupor, um trapaceiro, um bocas, um aldrabão, um desavergonhado.
Mas nada como gozar com eles, rir deles à cara podre, fazer com que toda a gente perceba que anormais assim não podem ser levados a sério

 

A ver. É um tema que, sob qualquer ponto de vista, tem a ver connosco.

Monólogo AO VIVO: Harris irrita Trump | Comer cães e gatos | O apoio de Taylor Swift a Kamala

Stephen Colbert delivers his LIVE monologue following the first debate between VP Kamala Harris and former president Donald Trump.


Jon Stewart aborda o debate de Harris e Trump e o que isso significa para a eleição 
 | The Daily Show

Jon Stewart goes live after the first presidential debate between Kamala Harris and Donald Trump. Filled with face-offs over abortion access, border control, and for some reason eating cats? Jon breaks down what this all means for the election


quarta-feira, setembro 11, 2024

Quando li em voz alta o título da notícia sobre o que Madame Gago contou na Assembleia da República e em que se diz que "Há 10.553 pessoas sob vigilância telefónica" o meu marido soltou um tonitruante F....-SE

 

E a mim apeteceu-me dizer algo ainda mais veemente, soltar os cachorros, pôr-me à janela a gritar. Mais de 10.000 pessoas estão sob escuta em Portugal???? A sério?!?!?!  Está tudo louco ou quê? 

Notícia no Expresso: Lucília Gago diz que escutas e detenções prolongadas pelo MP são "situações excecionais"; Há 10.553 pessoas sob vigilância telefónica

Este mundo é, sem dúvida, um lugar perigoso.

O Trump é um doido varrido, descontrolado, aldrabão e descompensado e deve andar a comer gatos e cães ao jantar para estar no estado demencial em que está.
Kamala é segura, é decente, é educada, tem uma visão equilibrada do mundo e da vida, fala claro, é estruturada e é directa.
Os entrevistadores estão a ir muito bem.

 

Custa a crer que um maluco como Trump tenha tantos apoiantes. O risco de a humanidade se destruir é real quando há tanta gente tão estúpida, tão burra, tão influenciável que vai na cantiga de um anormal como Trump.

Se Kamala Harris não ganhar as eleições não é apenas um drama para os Estados Unidos, é também um drama para o mundo.


PS:  David Muir, o entrevistador, é certeiro, tem muito estilo e uma presença fantástica. Para além disso, tem uma voz... Caraças, que voz...

Irineu Teixeira, Mário Carneiro, Rosa de Oliveira Pinto -- o que têm em comum?

 

Nunca tive muita paciência para pessoas histriónicas, muito menos para narcisistas. 

Aprecio a contenção, a civilidade, a capacidade de escuta. Aprecio a inteligência e a perspicácia quando usadas com um propósito que não o da auto-exibição.

Muitos dos jornalistas que pululam nos nossos canais pertencem sobretudo ao primeiro grupo: não prestam atenção aos entrevistados, estão ali com ar castigador, parece que querem ajustar contas com os convidados, parece que querem apanhá-los em falso, não os deixam falar, interrompem-nos a torto e a direito. Muitas vezes apresentam-se de má catadura ou, então, com ar irónico, quase mal educados. Cansam. Cansam-me muito.

E quem diz jornalistas, diz também entrevistados: há os que gostam de se armar em espertos, exibindo a cada passo da conversa que bebem do fino, que têm acesso a inside information, que são muito bons.

Depois há uma minoria de jornalistas ou convidados tranquilos, seguros, atentos, bem educados, frequentemente com ar distendido, sereno. Sorriem muitas vezes enquanto falam, inspiram confiança, sabem manter uma conversação calma, apetece ouvi-los. 

Qualquer dos três referidos em epígrafe é assim. 

Depois do pressing das redes sociais e da concorrência entre canais em que os gestores acham que o que 'dá canal' é ser agressivo, tentar 'entalar' os entrevistados, estimular os conflitos entre os comentadores, haverá de chegar ao ponto de equilíbrio em que se perceberá que o que retém os espectadores é proporcionar espaços em que se aprenda alguma coisa, em que se deixem as pessoas falar, em que haja respeito, boa educação, em que se consiga falar de qualquer tema com amabilidade e tempo.

Poderia incluir também o Vítor Gonçalves, que também sabe ouvir e ser cordato. Se calhar há outros mas, assim de repente, não estou bem a ver.

terça-feira, setembro 10, 2024

Time out

 

Tive um dia bastante complicado. Nem me apetece falar no assunto pois, sobre ele, pode falar-se de muitas maneiras mas a que mais me convoca remete para o sentido da vida. Mas como não serei a pessoa mais indicada para conversas que visitam o fundo da noite, acho que mais vale abster-me. 

Prefiro descansar, física e emocionalmente, deixar assentar, distrair-me e, então, com algum distanciamento, falar. De qualquer forma, primária como sou, se calhar bastará um par de dias para me sentir mais estável, mas tranquila.

Além disso, mesmo no meio de cansaços, tormentas e desgastes, tendo a ser optimista e, nessa perspectiva, quero convencer-me que hoje dobrei um cabo das tormentas. Não está totalmente dobrado, e com que esforço o dobrei, talvez até esteja ainda um bocado longe disso, não sei, mas quero acreditar que o pior desta fase foi hoje ultrapassado e que o que falta será menos difícil. Quero acreditar nisso. Conforta-me pensar nisso.

Mas tenho sono, praticamente não dormi, durante a noite não tinha sono, e tive que me levantar muito cedo, e todo o dia me esgotou. Por isso, agora não consigo disfarçar, fingir que estou noutra, esparvoar. Preciso é de descansar, de descontrair, de relativizar, de pôr para trás das costas. Sou boa nisso. Por isso, amanhã talvez até já pareça estar fresca.

Portanto, assim sendo, contando com a vossa compreensão, por hoje fico-me por aqui.

____________________________________________________________

The Parting Glass - Loreena McKennitt

___________________________________________________________

Dias felizes

segunda-feira, setembro 09, 2024

Quando as mulheres divorciadas soltam a franga

 

Se calhar é porque ainda me sinto a modos que na silly season. Não digo que não. Mas são tantas as cenas. Por exemplo, agora acabei de ouvir o Marques Mendes a confessar que aprendeu uma palavra nova no Campus da Liberdade da IL: genuflexório. Pareceu-me que estava a falar a sério. E não sei se foi com vergonha de parecer menos totó que ele mas a Clara de Sousa disse que também não sabia. Eu que não tenho ideia de alguma vez me ter ajoelhado numa igreja claro que conhecia o nome da coisa. Caraças. Mais vale desistir já da ideia de se candidatar. E não é por ser frouxo a nível de vocabulário, é por ser tão parvinho que ainda vem gabar-se disso. 

Mas o tema de hoje não é o défice vocabular do putativo candidato a PR nem a falta de esperteza dos entrevistadores que não são capazes de perguntar aos directores da polícia, ao director dos guardas e aos próprios guardas porque é que não se lembraram de olhar para as imagens das câmaras (agarram-se àquilo de não haver gente nas torres de vigilância e não percebem que seria mais fácil se estivesse alguém com atenção a olhar para os ecrãs onde passam as imagens captadas pelas câmaras): o tema hoje são as mulheres divorciadas que, mal se apanham solteiras, livres e boas raparigas, soltam as amarras que existiam dentro delas.

Veja-se a Catarina Furtado. Desdobra-se em entrevistas, que a culpa também foi dela, que agora já vai ser melhor namorada e mais não sei o quê. E diz que está numa fase toda xpto, mais picante e tal e coisa. E faz sessões fotográficas em que se mostra mais sexy, nomeadamente nua na banheira, com arzinho de atrevidota e coiso.

Catarina Furtado mostra-se nua na banheira

É como a Jennifer Lopez. Desde que se separou do Ben Affleck que se mostra mais poderosa que nunca. Agora apareceu de uma maneira que toda a gente a abençoou. Um vestido que vai lá, vai. Quase que poderia parecer um aventalinho mas está bem, está. Não sei se nas costas tem um letreiro a dizer: 'desfaz-me os lacinhos, se faz favor' ou se 'ora chupa, ó Ben Totó'

Jennifer Lopez em vestido Tamara Ralph na passadeira encarnada do Festival International du Film de Toronto, no dia 6 setembro 2024. SPUS / SPUS/ABACA

E até poderia recuar aos tempos em que a malograda Lady Di usou o chamado 'vestido da vingança' ao aparecer pela primeira vez em público após o marido ter admitido publicamente ter um caso extra-conjugal.

Uma lição sobre o dress code para enfrentar o mundo depois de um marido anunciar que afinal há mesmo outra

Acho muito bem. 

Mais. Que isto nos sirva de ensinamento. Por exemplo, mero exemplo, se um dia virmos a Santa Isabel Jonet, a ilustre Madama Cavaca ou mesmo a Senhora Dona Esposa de Marques Mendes ou qualquer outra senhora do género aparecerem descascadonas, a anunciarem-se picantezonas, já sabemos: o sagrado matrimónio foi à vida.

Tirando isso, pode falar-se de quê? Não sei. 

Só se for sobre o facto do Montenegro ainda não ter capturado, ele próprio em missão, os 5 foragidos. Mas isso não é notícia. Ninguém estaria à espera de tal proeza. Na volta deve andar a ver se angaria, ele mesmo, professores para preencher as vagas nas escolas. E riam-se, riam-se. Julgam que estou a brincar? Olhem que não, olhem que não... Sei de fonte segura que é menino para se ocupar com coisas do género (embora não necessária ou não exclusivamente com professores -- e não me peçam detalhes pois tenho por hábito proteger as minhas fontes). 

__________________________________________________

Uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

domingo, setembro 08, 2024

Luís Montenegro anda por aí num carro-patrulha à procura dos presos em fuga?
Pergunto.
É que quero ficar descansada...

 

Andei ocupada todo o dia e agora tenho os quartos todos ocupados por meninos que, antes de se recolherem aos seus aposentos, perdidos de sono como estavam, desataram a embirrar uns com os outros). 

Ou seja, entre jardinagens em força durante o dia, idas ao supermercado e etc. e, depois, o são convívio com a juventude,  não me deu para acompanhar as notícias. 

Só quando, ao fim da tarde, íamos no carro buscar alguns dos meninos é que ouvimos o sucedido. Um fartote. Câmaras sem funcionar, escadas postas para dentro a partir do exterior, falta de vigilância de cabo a raso agravada por uns estarem de baixa, outros de férias. E à plena luz do dia. E também só deram por isso 2 horas depois. É um clássico deste Governo. Vigilância a instalações que deveriam estar bem seguras, em tempo real, é coisa que não lhes assiste. Sempre umas horas depois para dar tempo aos ladrões para se porem ao fresco à vontade (â vontade e... e à vontadinha). 

Lindo. Isto numa prisão de alta segurança. O que será isto numa prisão normal...? Na volta os guardas andam com os presos ao colo e às cavalitas para onde eles quiserem, de preferência deixando escadas, escadotes e cordas com fartura para se poderem servir à vontade.

Mas uma coisa me deixou descansada. Ouvi que o Montenegro andava a acompanhar de perto a operação. À hora a que escrevo parece que já lá vão para cima de 13 horas e ele ainda não conseguiu deitar-lhes a mão. Deve andar por aí, num carro-patrulha a dar-lhes caça. Conhecido por se emplastrar no meio das operações armado em rambo de pacotilha, só estranho ainda não o ter visto na televisão (mas, se calhar, é porque não tenho visto televisão...). 

Não sei se a ministrinha da AI (note-se: AI de Administração Interna e não de Artificial Intelligence), a rambinha troloró, também não andará com ele, quiçá de algemas penduradas no cinto, quiçá de cassetete em punho e com aquele ar vagamente alucinado. 

Já a da Justiça, Júdice de ascendência, é menina de outro gabarito, menina fina, imagino que não ande por aí armada em saloia, a armar-se ao pingarelho. Valha-nos isso. Mas isto sou eu a supor. Vai que o Montenegro acha que bom, bom mesmo, é ela montar-se também num carro patrulha e andar por aí a fazer operações stop. Nunca se sabe até onde chega a coisa.

Tirando isso, não sei que mais diga. Poderia talvez dizer a receita do jantar pois comeram que se lamberam (um salmão feito de uma maneira de que gostaram bastante) mas, não sei porquê, parece que não ficará aqui lá muito bem enquadrado.

Por isso, vou mas é ficar-me por aqui.

E um bom dia de domingo para todos.

-------------------

PS: O Bugalho estará a precisar de uns trocos adicionais?  Só pode, não é? Já o Expresso, estará a recisar de quê para o ter contratado. Há coisas que não se percebem.

sábado, setembro 07, 2024

Quando as coisas podem ser muito boas e muito más

 

Quantas vezes já aqui falei dos tremendos benefícios da Inteligência Artificial e dos tremendos riscos se não houver um apertado, sérios e muito rigoroso controlo na sua utilização? Muitas, muitas.

Sou assídua utilizadora do ChatGPT, uma das mais extraordinárias ferramentas de uso comum, ou de outros tipos de IA. Na Saúde a IA deve vir a proporcionar incríveis avanços. Mas em todos os ramos do saber se sentirá um incremento exponencial na precisão e na rapidez dos processos de decisão.

Mas os riscos, senhores, os riscos...

Se já estamos a ver os riscos de termos ferramentas de uso tão geral, tão ubíquo, tão intenso (como o X, ex-Twitter, o Facebook, o Instagram, o WhatsApp) nas mãos de gente estranha, auto-centrada, mais amiga de regimes autocráticos do que de regimes democráticos, gente que não respeita a legislação dos países em que opera, gente não por acaso apoiante de Trump, não será difícil antever os riscos de potentes motores de Inteligência Artificial nas mãos de quem se está nas tintas para regulações ou constituições 'locais'.

E uso a expressão 'locais' pois é assim que as grandes empresas tecnológicas que operam em vários países, em vários continentes se referem à legislação desses países. Respeitar as diferentes 'localizações' é daquelas maçadas a que se obrigam se contratualmente a isso estiverem vinculadas. Não o estando, é para o lado em que se deitam melhor.

No Brasil, exigiu-se que houvesse no Brasil alguém que respondesse pelo X. Não há como não há em quase todo o lado. E do Facebook há em Portugal? Ou do Instagram? Ou de tudo isso...? Um dia que se queira reclamar, bate-se a que porta?

A questão é que o Elon Musk se está nas tintas. Proibir  X no Brasil...? Está bem, está? Tecnicamente como é que isso se garante? 

Esta gente é fora-de-lei, é gente que pensa de outra maneira. Não querem saber de danos colaterais, não querem saber de problemas éticos, de questões constitucionais. É gente que está noutra. Um perigo.

A Inteligência Artificial pode ser um precioso auxílio para o desenvolvimento, para a democracia. E para a humanidade. Mas também pode ser totalmente destrutiva.

O vídeo abaixo é muito interessante. 

Yuval Harari fala sobre lançamento de Nexus e inteligência artificial! | 

Conversa com Bial

Yuval Harari, escritor israelense e autor do best-seller internacional Sapiens: Uma breve história da humanidade, se desdobrou no consumo da informação e na comunicação desde a idade da pedra até a inteligência artificial em seu novo livro Nexus: Uma breve história das redes de informação. No #ConversaComBial, o autor debateu sobre os prós e contras da evolução da comunicação atual 


Dias felizes

sexta-feira, setembro 06, 2024

Quando a ciência pula e avança:
ou é o medicamento para o peso em excesso que afinal retarda o envelhecimento e reduz a mortalidade ou é o simples corante alimentar que torna a pele transparente permitindo ver o que se passa dentro dos corpos...
(Quem sabe se não estamos à beira de um salto quântico no prolongamento da vida (saudável)...?

 

Tratamentos assim e assado, testes, experimentações, cenas promissoras que afinal se revelam limitadas no âmbito ou na implementação mas que, de uma forma ou de outra, contribuem para os avanços que têm permitido que a esperança de vida se vá prolongando e que, quando é chegada a hora, muitas vezes a 'passagem' se faça com menos sofrimento. Dito assim, pode parecer pouco. Parecem pequenos passos, um pouco mais do mesmo. 

Engano: isso não é pouco, a vida é assim mesmo. Na maior parte das vezes, um dia pouco difere da véspera. Há recuos, há compassos de espera e há baby steps. 

Estamos onde estamos porque, apesar de tudo, muito de relevante tem acontecido.

Mas. depois, há coisas inesperadas que fazem com que, de onde menos se espera, surja a esperança de descontinuidades virtuosas. Ao longo da história da medicina, há momentos fulcrais que fazem toda a diferença. Aí os avanços não são simples incrementos, são verdadeiros achados que mudam o rumo da história, ou pelo menos, abrem brechas através das quais os cientistas conseguem abrir espaço a uma esperança cheia de luz.

Dois exemplos.

No outro dia era a notícia de que:

"Medicamentos para emagrecer ‘retardam o processo de envelhecimento’, sugerem cientistas. 

A semaglutida – contida no Ozempic e no Wegovy – tem “benefícios de longo alcance”, com taxas de mortalidade mais baixas por todas as causas.

Os medicamentos para a perda de peso estão prestes a revolucionar os cuidados de saúde, ao abrandar o processo de envelhecimento e ao permitir que as pessoas vivam mais tempo e com melhor saúde. Esta é a mensagem dramática dos principais cientistas após a apresentação de estudos na semana passada na Conferência da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Londres.

(...)

[Ler artigo completo no Guardian]

Imagino que várias novas frentes de investigação se abram a partir daqui. E fico esperançosa nos seus bons resultados.

Hoje uma outra notícia me parece empolgante. Neste caso ainda não foi testada nos humanos mas forçosamente se avançará por aí e, creio, muito rapidamente.

Corante alimentar comum torna a pele e os músculos temporariamente transparentes

Investigadores dizem que procedimento ainda não testado em pessoas pode eventualmente ser usado para ajudar a localizar lesões ou tumores.

Os investigadores examinaram os cérebros e os corpos de animais vivos depois de descobrirem que um corante alimentar comum pode tornar a pele, os músculos e os tecidos conjuntivos temporariamente transparentes.

A aplicação do corante na barriga de um rato tornou o fígado, os intestinos e a bexiga claramente visíveis através da pele abdominal, enquanto a aplicação no couro cabeludo do roedor permitiu aos cientistas ver os vasos sanguíneos no cérebro do animal.

A pele tratada recuperou a sua cor normal quando o corante foi removido, de acordo com investigadores da Universidade de Stanford, que acreditam que o procedimento abre uma série de aplicações em humanos, desde a localização de lesões e veias para tirar sangue até à monitorização de distúrbios digestivos e à detecção de tumores.

(...)

[Também aqui, artigo completo no Guardian] 

 Groundbreaking Process Makes Skin Invisible

Researchers at Stanford University have developed a way to make skin and other tissues transparent using a simple food dye, a reversible technique with potential for revolutionizing internal medicine. In this clip, thin slices of chicken breast become transparent on exposure to the dye yellow #5.

Using a common food dye, researchers made mouse skin transparent

What if you could apply a substance on the skin, much like a moisturizing cream, and make it transparent, without harming the tissue? In a study published in Science, Stanford Engineering researchers were able to see, with the naked eye, organs within an animal’s body, by simply applying a common food dye. The process is completely reversible and appears to leave no lasting effects on animal subjects. 

The researchers believe this novel technique is the first harmless, non-invasive approach to achieving visibility of an animal’s living internal organs. Looking forward, this technology could make veins more visible, easing the process of venipuncture. Moreover, this innovation could potentially replace some X-rays and CT scans, assist in the early detection of skin cancer, and make laser-based tattoo removal more straightforward.
_________________________

Dias felizes

quinta-feira, setembro 05, 2024

A teoria do caos em palavras simples, palavras ao alcance de qualquer borboleta

 

O meu marido lesionou-se, anda a fazer fisioterapia. Tanto serra, tanto poda, tanto carrega que o ombro deu de si. Poderia ter paciência para fazer o que qualquer pessoa faz: ficar quieto, pôr gelo. Não tem. Mas de tarde pôs-se a ver um filme qualquer na Netflix e a seguir pôs-se a ler. Pensei que estava a levar a sério a recomendação de alguma contenção.

Entretanto, ao fim da tarde, quase noitinha, fui regar umas zonas não abrangidas pelo sistema de rega bem como vasos. Quando regressei, estava o pátio cheio de ramos e de folhas e andava ele com um serrote com um cabo de uns dois metros a cortar os rebentos ladrões da buganvília, uns ramos gigantes que crescem espetados em direcção ao céu. 

Entretanto anoiteceu, ficámos ali, já de luz acesa, a varrer e a limpar as mesas, as cadeiras, estava tudo cheio de flores e folhas, ele a juntar os ramos. Depois ainda fui regar outros vasos. Gostei de andar por ali nestas andanças já de noite.

O cão mais fofo também estava feliz, andava a brincar em nossa volta.

Tirando isso, posso acrescentar que estive a ler um livro do Paolo Cognetti, 'Sem nunca chegar ao fim'. Foi a minha filha que me empestou. Infelizmente já não foi traduzido pelo Pedro Tamen, que trazia uma sensibilidade poética muito especial aos livros anteriormente publicados em Portugal. Mas, ainda assim, é um livro sereno, um daqueles livros que me trazem prazer. Não há aventuras escaldantes, crimes inexplicáveis, dramas de caixão à cova. Há a descrição de uma caminhada na montanha. E eu acho isso maravilhoso.

Pelo meio, estive a escrever. Tinha uma ideia em mente mas, nestas coisas, as palavras têm vida própria. E estão a levar-me por outros caminhos. Quando acabei fiquei de olhos fechados a pensar: 'Para onde é que estou a ser levada?'. 

Há uma dose grande de imprevisibilidade nisto tudo.

Por exemplo, na minha vida recente aconteceu uma coisa completamente improvável. Aliás, uma sucessão de coisas absolutamente improváveis. Não só improváveis como, até, inexplicáveis. E nem vale a pena eu tentar compreender pois são eventos alheios que escapam totalmente ao meu controlo. O que sei é que, face a isso, estou agora metida em trabalhos em que até há duas semanas nem pensava. O que esteve na origem de tudo não consigo nem imaginar. Se fosse ficção, eu acharia inverosímil. 

É aquilo de que o bater de asas de uma borboleta aqui pode provocar um tufão no outro lado do mundo.

A simple guide to chaos theory - BBC World Service

According to classical physics and the laws of Isaac Newton, it should be easy to predict the behaviour of objects throughout the universe with relative ease.

But in 1961, a meteorologist unwittingly discovered this was not the case – that there was a lot more uncertainty around us. Here's how chaos theory and its butterfly effect, has changed the way we think about our Universe.


Dias felizes

quarta-feira, setembro 04, 2024

O leopardo das neves é forçosamente o mau da fita?

 

Não me pronuncio sobre o caso de um relatório que deu à luz nove anos depois dos factos analisados: la Miss Swaps era ministra das Finanças quando Pinto Luz, actual ministro, era Secretário de Estado e quando lo passista mas passista de todos los passistas, Passos Láparo de seu nome, era primeiro-ministro e quando parece que todos engendraram um esquema para venderem la TAP sendo que los compradores terão comprado la TAP com lo pelo de lo próprio cão e que terão engendrado um esquema de se banquetearem com bonus, quiçá, limpos de taxes ou, pelo menos, más limpos. Não me pronuncio porque está tudo torto nisto a começar nos entortados que levam quase 10 anos a elaborar um relatório sobre um tema tão relevante e a acabar no possível embaraço de ver os impolutos passistas, los más amigos do joker Montenegro, o tal que ri com risinho jocoso como se tivesse uma folgada maioria e pudesse fazer o que muito bem lhe der na mona, todos envolvidos na novela TAP. E eu não me pronuncio pois só me apetece enfiá-los a todos no mesmo saco de gatos e deixá-los a arranharem-se uns aos outros com câmaras de Big Brother lá dentro, a passar na TVI 24 horas por dia com o Goucha, vestido de sorvete a interrogá-los não faço ideia a propósito de quê.

Quanto ao Orçamento de Estado para 2025 o que tenho a dizer é que acho que o PS o deve chumbar se o PSD insistir em incluir a descida do IRC, a descida do IRS jovem (em vez de uma descida generalizada de IRS para toda a gente). E já nem falo na aberração da borla do IMT para jovens. O PS não pode deixar passar aberrações. Se os da AD querem fazer parvoíces que as façam sozinhos. Se sozinhos não conseguirem fazê-las, azarinho, não as façam.

O meu dia não foi fácil e chego a esta hora e só me apetece descansar a cabeça. A sério. 

Mas, por motivos que desconheço, tenho o dog de guarda a ladrar freneticamente, ininterruptamente, parece que em resposta aos do lado que ladram igualmente à força toda. Provavelmente é o gato branco, o tal esfingíco, quase sem pelo, quase assustador, que anda outra vez a desafiar a paciência da bicharada aqui da zona. Já devo ter falado dele. Põe-se a olhar para nós, quase como se nos desafiasse. Sei que é um gato porque não é um coelho nem um esquilo, muito menos um cão ou uma rola, mas é um gato deveras estranhíssimo. Quando o cãobeludo dá por ele, salta, corre e eu grito, chamo por ele, em pânico, com medo que estraçalhe o gato. Nem quero pensar. O que vale é que o gato, que parece hipnotizado a olhar para nós, quando se sente perseguido pelo dog, salta e corre e trepa e consegue salvar-se. Quando o dia dobra, põe-se a gemer aqui no jardim, geme como nem sei bem o quê, talvez como uma velha desdentada e desolada, talvez como um bebé diabólico. Supostamente está a miar mas é mais um choro pungente, prolongado, intenso. A minha filha no outro dia disse que se calhar é uma gata com cio. Não sei, não faço ideia.

No outro dia, estava eu numa cadeira ao sol a ler quando dei por mim a sentir-me observada. Olhei em volta. Pois bem. Em cima do muro, perto de mim, um gato normal, cinzento raiado, olhos claros, lindo, não muito grande. Gostei dele. Mas nunca mais o vi. 

Às tantas, de noite, há orgias felínicas no jardim. O pior é que os cães, que não são de números destes, desatam a ladrar, possessos. No outro dia, de madrugada, era o gato a lamuriar-se alto e bom som e um dos cães dos vizinhos a uivar, outros a ladrarem e o nosso, que deve ter equacionado a que turma se juntar, desatou também a uivar. Acordámos com este concerto.

E é isto. 

O que também é extraordinária é a vida dos animais nos penhascos. Rochedos íngremes, esfarrapados, os animais a terem que andar a ver onde pôr as patas. Não podem ter descanso nem flanar com a cabeça na lua. Qualquer passo em falso pode ser a morte do artista. Ainda por cima com o passaredo rapinoso à espreita e com o belíssimo, belíssimo, leopardo das neves a rondar. Vagaroso, confundindo-se com as sarapintas das rochas, silencioso. E os pobres bebés, coitados, ali tão à mão de semear. E a gente vê e assusta-se, dá-se logo à empatia, coitado do cabritinho. Como se o leopardo não tivesse direito a alimentar-se. Como dizia hoje uma vizinha da rua da minha mãe, 'isto a vida não está fácil é para ninguém'. Ah pois não.

Ah, é verdade, não sei se isto do leopardo das neves é uma metáfora ou se é apenas uma coincidência. Ou nem isso. Não sei.

Baby Goats do Parkour to Escape a Leopard | Animal Babies | BBC Earth

Markhor goats face perilous mountain ranges, fearsome wolves and formidable eagles. However, no opponent is more menacing than the snow leopard. These elusive cats may have evolved to hunt, but the markhor goat kids were built to survive.


Dias felizes

terça-feira, setembro 03, 2024

Como a matemática traz ordem ao nosso Universo

 

Quando de manhã saí de casa, ia, como sempre, meio aluada, a olhar para o céu, a perceber a intensidade e o sentido da ondulação das árvores que já fazia antever a ventania que à tarde se faria sentir. Ia com o telemóvel na mão pois posso sempre receber uma chamada ou uma mensagem ou pode surgir algum motivo para ser fotografado. 

E, então, sem que estivesse para tal preparada, vi um esquilo aqui mesmo ao pé de casa. Estava no caminho. Olhou para mim e deixou-se ficar. Pus-me de roda do telemóvel, à procura da câmara. Quando avancei, num ápice, subiu ao pinheiro mais próximo e ficou ali, ao alto, a observar-me. Pé ante pé, aproximei-me, ainda com a ideia de o fotografar. Mal levantei os olhos do telemóvel já ele tinha desaparecido.

Andei de volta do pinheiro mas já não o vi.

Entretanto, sob os pinheiros, quase por todo o lado, há incontáveis pinhas roídas. Vejo agora também muitas bolotas no chão.

Fui lá para baixo caminhar. Parei para olhar lá para cima, para o pinheiro onde ele tinha estado. Nada. Tinha desaparecido. Quantos mais animais haverá escondidos nas ramagens, nas tocas, atrás de pedras?

Estava nestes pensamentos, absorta, quando olhei em frente. Até me arrepiei. Estava à minha frente. Parado. Claro que não sei se é o mesmo. O meu marido diz que acha que há vários.

Fiquei parada. Ele olhou para mim e depois, de novo num passe mágica, desapareceu.

Qual a amplitude dos saltos, qual a velocidade, qual a função matemática que descreve os seus percursos, isso eu não sei. Mas, tivesse eu uma câmara, certamente lá chegaria.

Se eu dissesse isto que acabei de escrever a alguns dos meus netos para lhes mostrar a abrangência e a beleza da matemática, perguntar-me-ia: 'E para que é que serve saber quais as funções matemáticas que descrevem os saltos, as corridas, os percursos dos esquilos?'. E eu talvez não tivesse na ponta da língua a resposta que inequivocamente demonstraria que é melhor conhecê-las do que desconhecê-las.

É que poucas coisas há no mundo, na natureza, na vida, que não sejam susceptíveis de serem modelizados, analisados (qual o padrão que seguem, como se distribui a frequência de ocorrências, etc) e, a partir daí, efectuar previsões, detectar desvios e o seu significado, etc. 

Claro que nem todas as abordagens à matemática são iguais. Há quem seja super estudioso, quem não dê um passo sem percorrer os cânones, sem ter a certeza da fundamentação de cada raciocínio. Nunca fui assim. Sou muito intuitiva. Sou de me atirar de olhos fechados, frequentemente sem ser capaz (ou, melhor, sem paciência) de explicar como lá cheguei. Quando estudava e os meus conhecimentos eram postos à prova, acontecia-me muito, mesmo sem querer, ver-me colocada em piloto automático, a dar respostas imediatas mesmo a problemas complexos. A sensação que tinha era que atirava ao calhas. Como geralmente acertava, ganhei a fama de inteligente. Ainda hoje quando me encontro com os colegas da altura, referem situações em que 'dei baile' ou coisas do género. Em geral não me lembro de nada disso. Lembro-me, sim, que, na altura, quando mostravam o seu espanto, eu achava que, na volta, eu era um bluff, que dizia a primeira coisa que me vinha à cabeça e que, apenas por mera coincidência, acertava.

Hoje sei que o cérebro tem mecanismos de tipo 'atalhos' em que, a partir de certos indicadores que o cérebro capta, os neurónios estabelecem circuitos super rápidos. Claro que isso é involuntário e independente da nossa vontade. O que eu poderia fazer, voluntariamente, era determinar-me a não dar ouvidos à minha intuição. Mas nunca o fiz. Por preguiça e talvez pelo prazer de correr riscos, sempre tive, sobretudo, a tentação de me deixar ir, às cegas. Claro que hoje, também sem querer, já tendo a ser mais prudente. Mas isso traz-me maior insegurança e maior consciência das minhas limitações.

E se estou com esta conversa é porque estive a ver vídeos sobre a intuição em matemática versus o suposto 'rigor' matemático. Interessantíssimo, interessantíssimo.

Mas porque podem ser um bocado herméticos ou desinteressantes para quem não goste especialmente do tema, tenho aqui um vídeo que me parece de interesse mais geral.

Como a matemática traz ordem ao nosso universo | Talítia Williams

A estatística Talithia Williams sobre como a matemática é o caminho mais claro para a compreensão da nossa existência.

O que tem a matemática a ver com a teologia? De acordo com a Dra. Talithia Williams, professora de matemática e comunicadora de ciências, bastante.

Em pouco menos de três minutos, Williams explica como a matemática liga o mundo natural com ideias mais profundas de ordem e propósito. A matemática, diz ela, ajuda-nos a compreender tudo, desde a migração dos peixes até aos padrões que vemos na natureza, revelando a estrutura do nosso universo.

Williams acredita que a matemática é mais do que apenas números – é uma linguagem universal que oferece insights sobre a nossa existência. Esta interseção entre matemática, natureza e cultura revela algo profundo e profundo sobre as nossas vidas e o propósito por detrás delas.


Desejo-vos um bom dia

segunda-feira, setembro 02, 2024

A fruta do Dragão

 

Chego a esta provecta idade  carregada de ignorâncias. Por exemplo, no outro dia, estávamos no supermercado e o meu marido chamou a minha atenção para um fruto, perguntando: 'Será bom?'. Nem ele nem eu sabíamos de que fruto se tratava. Vi a etiqueta. Pitaia. O nome era conhecido mas o conteúdo não.

Atraiu-me, sobretudo, a sua cor, a sua beleza. Escolhi uma e trouxe. Fotografei-a. Aqui está, numa tacinha cá em casa.

Isto foi a semana passada, estávamos no campo.

Acontece que com isto e aquilo e mais com as barrigadas de figos que tinha apanhado, fui protelando a inauguração do belo fruto.

No último dia, quando íamos já na autoestrada a caminho da cidade, o meu marido lembrou-se que lá o tínhamos deixado. Fiquei preocupada. Não tinha sido especialmente barato, se calhar era frágil e temi que, ao regressarmos, déssemos com ele já mole e estragado.

Por isso, quando cá chegámos fui logo apalpá-lo. Pareceu-me que ainda estava íntegro, em boa forma.

Entretanto, já a papámos. Não posso dizer que tenha um sabor extraordinário. Não tem. Tem um sabor neutro. Come-se bem, não cansa, justamente porque quase não sabe a nada. Mas é fresca, molhada, escorrega bem (obviamente, estou a referir-me à pitaia). 

Esta que trouxemos é a branca. Fui ao meu amigo ChatGPT saber se, pelo menos, tinha virtudes compatíveis com a beleza do exterior. Cá está:

A pitaia, também conhecida como fruta do dragão, é uma fruta tropical originária da América Central e do Sul, mas atualmente é cultivada em diversas partes do mundo, incluindo o Sudeste Asiático. Existem diferentes tipos de pitaia, sendo as mais comuns a pitaia branca (Hylocereus undatus) e a pitaia vermelha (Hylocereus costaricensis).

Os benefícios da pitaia branca incluem:

  1. Rica em Antioxidantes: A pitaia é rica em antioxidantes, como a vitamina C, que ajudam a combater os radicais livres, protegendo as células do corpo contra o envelhecimento e doenças.

  2. Fonte de Fibras: A pitaia é uma excelente fonte de fibras alimentares, que são essenciais para o bom funcionamento do sistema digestivo, ajudando a prevenir a constipação e promovendo a saúde intestinal.

  3. Baixa em Calorias: A pitaia branca é uma fruta de baixa caloria, o que a torna uma excelente opção para quem está tentando perder peso ou manter uma dieta equilibrada.

  4. Hidratação: Com alto teor de água, a pitaia ajuda a manter o corpo hidratado, especialmente em climas quentes ou durante o exercício físico.

  5. Promove a Saúde Cardiovascular: A pitaia pode ajudar a reduzir os níveis de colesterol ruim (LDL) no sangue, devido ao seu conteúdo de ácidos graxos saudáveis e fibras, o que é benéfico para a saúde do coração.

  6. Ação Anti-inflamatória: A pitaia possui propriedades anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir inflamações no corpo, aliviando sintomas de doenças inflamatórias crônicas.

  7. Fortalecimento do Sistema Imunológico: A vitamina C presente na pitaia é importante para fortalecer o sistema imunológico, ajudando o corpo a combater infecções.

  8. Controle dos Níveis de Açúcar no Sangue: Estudos indicam que a pitaia pode ajudar a regular os níveis de açúcar no sangue, sendo benéfica para pessoas com diabetes.

  9. Benefícios para a Pele: O consumo regular de pitaia, devido ao seu conteúdo de antioxidantes e vitamina C, pode ajudar a manter a pele saudável e retardar o envelhecimento cutâneo.

  10. Prevenção da Anemia: A pitaia contém ferro, essencial para a produção de hemoglobina no sangue, o que pode ajudar a prevenir a anemia.

A pitaia branca, além de ser saborosa e refrescante, pode ser consumida de várias formas, incluindo fresca, em smoothies, saladas, ou como parte de sobremesas.

Só virtudes. Portanto, aprovada. 

E, por hoje, nada mais havendo a reportar, dou o expediente por encerrado.

__________________________________________________

Uma boa semana a todos a começar já nesta segunda-feira

domingo, setembro 01, 2024

A consciência das plantas

 

Já contei que muitas das flores, das árvores, das trepadeiras e das sebes deste meu jardim já existiam quando para cá viemos morar, há sensivelmente quatro anos. E, não sei por que artes mágicas, tudo desatou a crescer de forma algo exuberante. Não é apenas a antiga dona da casa que fica espantada quando cá vem, sou também eu que, ao ver fotografias dessa altura, fico admirada. Quase parece outro jardim.

Ela tinha feito cursos de jardinagem e andava em cima do jardineiro para que ele se aplicasse segundo os ensinamentos que ela tinha adquirido e, mesmo sem ele, ela era super cuidadosa. Sabia quando e como podar cada variedade, quando e como adubar flores e árvores.

Nós aqui somos diferentes. Empíricos. Eu, em especial, sou sobretudo intuitiva e, muito acima de tudo, tenho um respeito absoluto pelas plantas. Podo o que acho que é de podar e não toco no que acho que deve ser deixado por si ou que pode ser ajeitado a bem, sem amputar.

Tudo se desenvolve, tudo floresce. O meu marido acha demais. O meu filho, no outro dia, uniu-se ao pai, dizendo que, pelo menos o que está na passagem, deveria ser cortado. Sendo bastante alto, andava com a cabeça a roçar nas folhagens ou tinha que andar às voltas para se desviar. O meu marido sentiu que tinha claque e sentiu-se vitorioso. Acabei por ceder: só o que estava na passagem... Claro que, mal virei costas, o meu marido se esticou e foi mais além. Mas não ficou mal pelo que deixei passar...

Mesmo a árvore borboleteira que há uma meia dúzia de meses recebi de presente, uma coisinha mínima num vasinho, está enorme, florida, preparada para vir a ser um belo exemplar. Vou encaminhando, prendendo a estacas, cortando derivações desnecessárias, olhando, com encantamento, o milagre do crescimento.

No outro dia, uma conhecida, ao ver a suculenta que tenho à porta, disse-me que, há tempos, disse a uma amiga que acha que aquela variedade aprecia é que não lhe liguem muito pois nunca viu nenhuma como a minha e acha que eu não lhe presto atenção. Mas presto. Presto é não querendo mudá-la. E ela desenvolve-se como quer, majestosa, delicada. No outro dia, uma parte dessa planta partiu-se. Tive muita pena mas depois pensei que não ia perder aquela parte da flor. Coloquei-a na terra, num outro vaso. Pegou e desatou a desenvolver-se de forma exuberante. Até tive que passar uma fita por ela para a prender a uma armação de madeira que está ao pé para que, por terra, não se parta também.

O meu marido é o meu oposto: se vir um ramo partido, deita-o fora, não lhe passa pela cabeça espetá-lo na terra a ver se dali algo renasce.

Já falei disso muitas vezes: ele gosta mesmo é de cortar, se possível a eito. Mas já não é como era antes, está ligeiramente mais cuidadoso e, quando acha que a coisa requer tratamento de choque, geralmente já me consulta antes de fazer coisas graves e irreversíveis. Infelizmente nem sempre o faz. Ainda no outro dia, no campo, de roçadora em punho, coisa que me aterroriza, deu cabo de um medronheiro que despontava e cujo crescimento eu observava com carinho. Fiquei para morrer. E o nosso casamento só não acabou pois, in extremis, resolvi dar-lhe mais uma oportunidade.

Hoje andou encavalitado num escadote antigo e periclitante, mas que é muito alto, a cortar os ramos do chorão que estavam em cima do telhado e a podar ramos de glicínia, que cresce a um ritmo vertiginoso e que galga para cima do telhado de forma galopante. Fica lindo, em especial quando se cobre de cachos de florzinhas delicadas e lindas, mas, neste caso, percebo a necessidade dos cortes pois é muito verdade que, à velocidade a que aqui tudo se desenvolve, se não tentamos refrear algumas destas plantas, quando dermos por ela, a casa está tapada por vegetação. E, no caso dos telhados, é tramado pois pode levantar as telhas e depois entra água em casa.

Uma vez li um livro sobre um jardineiro e adorei. Também vi um filme, aliás, dois, e também adorei. É uma profissão que, quando exercida com desvelo e amor, é maravilhosa.

Aprendemos que as plantas não têm cabeça, que não têm tino. Há muito quem ache que a nível de intelecto ou de emoções são abaixo de calhaus.

Como também tenho muito respeito por pedras, não me revejo nesse desdém.

Mas não sei nada de botânica para poder ajuizar se as plantas sabem o que querem, se demonstram o seu querer e o seu bem-estar ou as suas afinidades através da forma como se desenvolvem.

Geralmente, quando aqui partilho vídeos, faço alguma validação, mesmo que ligeira, para perceber se não é tanga, se há fundamentação científica. No caso do vídeo que hoje aqui partilho, confesso a minha ignorância para poder avaliar se tudo o que aqui se diz tem validação científica. Mas, como é tema que me agrada, arrisco.

PLANTS Have CONSCIOUSNESS & Self-Awareness

Do plants speak the secret language of awareness, whispering knowledge and weaving connections to our Earth? Discover the science of superorganisms which are cosmic antennae with their own voice, healing humanity with melodies and music.

Listen to plants, the silent consciousness uniting all life. Flowers, trees, and fields exhibit unique anatomical and communication abilities to express agency and information. Roots, soil, pollen, and weather are all aspects of a supportive ecosystem teaching us about interconnected auditory understanding between species … at the crossroads of modern research and ancient wisdom.


Desejo-vos um belo dia de domingo