Para não sei quantos milhões de contribuintes (sejam eles trabalhadores no activo ou pensionistas) os 'artistas' da AD, afinal, têm apenas trezentos mil euros de alívio fiscal para oferecer.
Contudo, ficámos a semana passada a saber, para um pequeno grupo, os cerca de quatrocentos mil que têm até 35 anos, os totós das Finanças da AD têm, imagine-se!, mil milhões de euros de alívio fiscal.
Coisa mais iníqua e estúpida não pode haver.
Supostamente é para atrair e reter jovens até aos 35 anos.
Mas, pergunto eu, passa pela cabeça de alguém que uma pessoa com trinta e tal anos e a ganhar bem no estrangeiro, muda a sua vida para Portugal, com o transtorno que isso provoca, para, passado um ou dois anos (quando fizer 36 anos), sofrer um agravamento fiscal de 30%? Os totós das Finanças não percebem que os ordenados em Portugal são, em média, mais baixos do que em vários outros países? Portanto, os jovens, segundo os totós das Finanças da AD, vêm para Portugal ganhar menos porque vão ter uma borla fiscal... E quando fizerem 36 anos? É que a borla fiscal nos ordenados da ordem dos 5.000€ (valor que, em certos países da Europa não são nada por aí além), só em IRS, é da ordem dos 30%. Portanto, quando fizerem 36 anos, azarinho, vão ser alvo do mesmo esbulho fiscal que os que têm mais que 36.
É que a medida e toda estúpida, toda. De uma ponta a outra. Os totós das Finanças da AD não percebem que o devem fazer é baixar globalmente todos os impostos?
No Expresso, cingem-se ao absurdo de que a borla, só em IRS (ou seja, não contando com a borla, que também terão, em IMT e Imposto de Selo quando comprarem casa), pode chegar aos 19.000 €/ano (Jovens mais “ricos” podem poupar até 19 mil euros por ano no IRS).
Descontos no IRS não discriminam: salário milionário ou baixo, todos os jovens beneficiam. Quem está no último escalão de IRS enfrenta a taxa marginal máxima de 48% mas beneficia dos descontos nos escalões inferiores. Desportistas, ‘influencers’, consultores fiscais, advogados, engenheiros, jornalistas, pilotos, todos estão são abrangidos pelo alívio proposto pelo Governo aos jovens (...)
É chocante, não é? Já o tinha abordado aqui e aqui (post escritos na sequência deste outro).
Claro que é chocante. Mas é estúpida por mais razões do que apenas essa. É estúpida e iníqua até porque a política fiscal não deve desonerar uns por sobrecarga de outros. Quando há cidadãos a pagar acima de 40% de IRS (podendo chegar aos 48%) e não há 'folga orçamental' para descer para uma percentagem menos onerosa mas há para descer para outros, é porque os primeiros estão a financiar os segundos.
E é estúpida porque não vai resolver o problema do País. Não vai resolver um único problema do País. Para reter jovens ou para atrair jovens qualificados é preciso que os salários subam, é preciso que (todos) os impostos baixem, é preciso que haja mais creches gratuitas ou a baixo custo, é preciso que haja mais médicos de família, é preciso que haja horários mais flexíveis para quem tem filhos pequenos.
Além disso, segundo fiquei hoje a saber o Governo PS já tinha medidas para fixar jovens, uma das quais bastante inteligente.
Será que os totós da AD sabem desta medida? Se calhar não.
Só espero, e espero mesmo veementemente, que a oposição decente se una e em peso não deixe passar esta barracada da borla fiscal.
Enfim, uma desgraça. Depois do totó-mor andar a clamar contra as contas que encontrou, a falar em caos e colapso (mostrando que, das duas uma, ou não percebe nada da área que tutela ou não tem vergonha na cara e mente com quantos dentes tem), agora esqueceu-se disso e adoptou a política da perna-aberta. Quem quiser alguma coisinha, tem dele tudo o que quiser. Ele dá até mais do que pedem. Dá sem fazer contas. Agora parece estar numa de 'quem vier atrás que feche a porta'.
Claro que grande parte da comunicação social e das comentadeiras de serviço (de todos os sexos) ou não tem capacidade para perceber as coisas ou está ali para fazer o frete e não denuncia isto com todas as letras. Portanto, contra toda a racionalidade e lógica, continuo a ouvir elogiar o lindo serviço que este governo tem andado a fazer. Isto quando na prática pouco tem feito e o que tem tentado fazer é mais m... do que outra coisa.
Pardon my french.
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