Depois de talvez um mês de interrupção, eis que consegui voltar à piscina. E que bem me soube. Não foi só a água quentinha, foi o exercício, foi aquela confraternização no balneário, foi a graça da senhora muito obesa, nua, no duche, escandalosamente contorcendo-se para conseguir chegar com a mão às partes pudibundas enquanto na galhofa diz as coisas mais inverosímeis. Hoje uma delas, ao conversarem sobre uma reportagem da véspera sobre o tempo que as crianças levam agarradas aos telemóveis, dizia que tinha lá em casa uma com sessenta anos que era a mesma coisa. E dizia que o ameaçava: 'Não acreditas que tantas horas de roda dessa porcaria vão limpar-te a cabeça por dentro...? Quando estiveres maluco julgas que vou estar aqui para aturar as tuas maluquices? Nem penses! E já lhe disse muitas vezes: quando fores desta para melhor julgas que vou sentir a tua falta? Não. Nada. Já estou habituada a estar sozinha...' e ria enquanto várias outras, todas nuas, besuntando-se com creme, faziam coro com ela.
Eu, no meu canto, toda pudica, a toalha à volta para não me apresentar como vim ao mundo, sorria ao vê-la sempre tão desinibida e brincalhona. Outras vezes diz que vai arranjar um papagaio para ter com quem falar quando está em casa. Ainda gostava de ver o senhor para perceber como funciona aquela dinâmica.
Depois fui ver a minha mãe. Está melhor. Depois de a ter visto praticamente à beira de ir desta para melhor, graças à perícia e persistência da equipa médica, apesar das diversas maleitas graves, está a conseguir dar a volta. Daqui a nada está a ter alta. Melhor, a ser transferida. Alta não pode ter. Vai continuar a ser acompanhada mas fora do hospital. Só espero é que corra bem, que se adapte bem, que goste, que continue a recuperar bem.
Preciso de descansar a cabeça. Acontece-me agora isto: ao fim do dia sinto-me esgotada. Deixo-me dormir no sofá e depois custa-me imenso a acordar. Ou é de toda esta situação ou é o somatório disso com o pós-gripe. Sinto-me mesmo esgotada.
Enfim. Agora que a vejo a melhorar, já só me apetece ir de férias, afastar-me de preocupações, descansar a cabeça.
Hoje também, num bocadinho de manhã, voltei a pegar numa coisa que andava a escrever e da qual me tinha afastado, incapaz de ter ideias ou vontade de puxar por elas. Senti-me bem ao reler o que tinha escrito. Parecia que estava a sentir-me a ressuscitar, quase como se nestas últimas semanas tivesse andado a viver numa realidade paralela, subterrânea, e agora esteja a voltar à superfície.
Poderão pensar que é fragilidade a mais da minha parte ter ficado assim com a crise de saúde da minha mãe. E até pode ser que seja. Tal como referi antes, talvez venha a falar no assunto mais tarde. Agora não. Mas acreditem que foi uma situação atípica, com contornos inesperados, em que me vi virada de pernas para o ar. Uma coisa é o desenrolar normal de uma doença. Outra, muito diferente, é o que tem acontecido com a minha mãe. Mas está melhor e isso é o que importa.
Na segunda-feira, quando vínhamos do campo, como sempre quando estamos no carro a partir das sete da tarde, posicionámo-nos na Antena 3, com o Alvim e a sua impagável Prova Oral. Aí ele disse que esta terça-feira lá teria outro doido, o Paulo Cardoso, a falar nas previsões para 2024. Fiquei com pena de não ouvir pois imaginei um programa completamente louco.
Pois bem. Agora ao abrir o YouTube, aparece-me o vídeo da Prova Oral. Nem fazia ideia que gravam e que se pode ver depois.
Agora fui à procura das previsões para o meu caso. Boas. Fiquei contente.
É coisa louca a gente ligar a isto mas não quero cá saber. A minha mãe disse-me muitas vezes que acha que a minha maneira de ser é um bocado racional de mais. Penso que preferia que eu embarcasse na dela, nas suas emoções, nas suas fobias. Mas cada um é como é e eu não sou assim. A maneira de ser dela tem uma forte componente que é o oposto. Perante os medos dela, tantas vezes irracionais, sempre consegui manter-me serena (pelo menos, exteriormente), não me deixando contagiar e tentando desmontar aqueles medos inibidores de que ultimamente tanto tem sofrido. Mas sou assim em geral (excepto quando há doenças reais, graves, daqueles que me são mais próximos, pois aí, sinto-me impotente e isso desarma-me, apeia-me, tira-me o tapete, o chão). No meu trabalho, quando o stress parecia tomar conta de toda a gente, eu também me mantinha intacta, tranquila, pés na terra, a cabeça a funcionar sem ceder aos arroubos emocionais dos demais.
Ora esta minha racionalidade parece contraditória com esta parvoíce de gostar de ler os horóscopos. Bem sei que sim. Mas é o que é. Além disso, há que deixar espaço para as coisas sem explicação.
Os caranguejos nascidos naquele intervalo de datas que o Paulo Cardoso ali diz parece que têm tudo para virar o jogo, ir à luta e vencer. É o que preciso. Sorte e persistência. Tenho muita vontade de ter uma vida nova. A ver se é desta. A porcaria de 2023 trocou-me as voltas todas, foi chatice atrás de chatice, preocupações permanentes. Ora tenho necessidade de ter projectos e novos objectivos e entusiasmos em vez desta sucessão de preocupações que me minam por dentro, que me esvaziam, que me sugam a energia. Preciso mesmo.
Pode ser que o Paulo Cardoso tenha razão, pode ser que os astros se alinhem para me levar ao colo em 2024. Vou fazer figas. Vou mesmo.
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Para quem queira saber como vai correr-lhe o ano ou o que fazer para se precaver caso as previsões não sejam famosas, aqui está o programa na íntegra.
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