terça-feira, janeiro 24, 2023

A falta que fazem os arquitectos

 

Um dos arquitectos da família, quando era mais novo e quando perante uma casa já construída relativamente à qual lhe pedíamos opinião, punha-se a olhar com ar crítico e, invariavelmente, concluía: deitas esta parede abaixo, aquela ali também, abres aqui uma janela de parede a parede, ali vai também abaixo

Eu até tremia... Uma pessoa a querer uma abordagem construtiva e dali tudo o que saía era destrutivo. Aliás, acho que, por ele, ia tudo abaixo.

Mas, tirando esse pequeno aspecto, tenho a melhor impressão dos arquitectos pois conseguem sempre surpreender-nos e encontrar soluções imaginativas para problemas que parecem insanáveis.

Das boas memórias que guardo, algumas das mais gostosas têm a ver com projectos de arquitectura para as sedes de duas das empresas em que trabalhei. Sempre privilegiámos algum arrojo. 

O prazer começava com o briefing em que era explicado o que, de forma global, se pretendia. Depois havia o programa com o descritivo exacto dos objectivos (quantos postos de recepção, quantos e de que dimensão e localização os espaços de arquivo, zonas de convívio, zonas de open space, gabinetes, etc). Depois as visitas das equipas de arquitectura ao espaço futuro e respectivas envolventes bem como a avaliação às dinâmicas nos espaços antigos. Depois a fase dos esboços, as discussões, o confronto das nossas mentes formatadas com soluções que transportavam modernidade, inovação e desafio; depois, mais tarde, as maquetes e, mais tarde ainda, a escolha dos materiais, e, por fim, o acompanhamento da obra e apoio à decoração (ou mesmo a concepção do mobiliário).  

A utilização de um espaço depende -- e de que maneira -- da qualidade da sua arquietctura. E isto vale para edifícios de habitação, de escritórios, de shop floor, de comércio, de cultura, de desporto, de jardins ou o que for. 

Já aqui falei disto várias vezes: é espantoso como a casa em que agora vivo tem uma arquitectura tal que, ao aqui vir pela primeira vez, me senti imediatamente acolhida. Não há uma coisa que eu fizesse diferente. O único aspecto que, ao princípio, me parecia que poderia ser diferente era a dimensão e morfologia da cozinha. Contudo, ao fim de pouco tempo reconheci que é perfeita na dimensão e na ergonomia. 

Não apenas a arquitecta foi muito feliz no seu trabalho como a dona tem um filho arquitecto que introduziu alguns arranjos que respeitaram a traça e contribuíram para uma melhor funcionalidade como foi o caso de estantaria embutida e adaptada aos recantos em que se insere na sal do piso superior. Quando vi a casa apaixonei-me logo por essas estantes e temi que as levassem. Mas não, estão embutidas. Seria difícil retirá-las e não encaixariam noutro lugar como encaixam aqui.

In heaven é diferente. Há um núcleo antiquíssimo, de pedra, em torno do qual o antigo proprietário construiu a parte principal da casa. Não lhe mexemos, com a excepção de termos transformado as janelas da sala em portas de vidro. Mas não tem uma distribuição de espaços perfeita. Por exemplo, há uma casa de banho que é enorme, maior que um quarto. Não faz sentido. Mas fazer-lhe o quê? Ficou assim. Penso que deve ter sido ele com um engenheiro que desenharam aquele acrescento. Para além das janelas, limitámo-nos a transformar a antiga garagem, que era enorme, num apartamento, ligando as duas casas com um muro e com um telheiro. 

Mas, enfim, estive a fazer a apologia dos arquitectos mas talvez seja de acrescentar 'bons da cabeça' porque se um arquitecto não tem os cinco alqueires bem medidos é mais que certo que sai asneira da grossa.

Canzana style

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Penso que já lá vai o tempo em que as construções e os projectos urbanísticos não tinham que ser obra de arquitectos. Mas quantos atentados à lógica, à funcionalidade ou ao bom gosto não se têm feito...? As imagens que aqui partilho são alguns dos vários exemplos que ilustram a falta que faz um (bom) advogado.






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E queiram descer para ver um vídeo que só visto

3 comentários:

João Lisboa disse...

https://lishbuna.blogspot.com/2015/12/blog-post_43.html

ccastanho disse...

Cara UJM

Como a compreendo.
A minha casa nunca seria o que é, e o conforto que me conforta, se não fosse desenhada por arquiteto. Nos dois pisos, todas as divisões recebem sol, umas do nascente, e outras do poente.

Mais uma gaitada,

https://www.youtube.com/watch?v=0f9PBsnFmmc


Um Jeito Manso disse...

Olá Ccastanho,

É isso. Para os (bons) arquitectos tudo é matéria prima: o espaço, a luz, as sombras... O meu quarto, por exemplo, tem duas janelas. Por uma entra o sol de manhã e por outra entra o sol à tarde.

E muito obrigada pelo Sonho Meu. Que ambiente de festa, que agradável! Gostei imenso. Aliás gosta da Maria Bethânia em qualquer registo. Muito bom.