quinta-feira, dezembro 15, 2022

Perdoai-me, Pai, mas apetece-me pecar

 

No outro dia, quando fui ao chinês (leia-se: ao bazar chinês), ao pagar, o rapaz da caixa ofereceu-me um calendário. Achei graça. Nunca soube o que fazer com eles.

Dantes, nas empresas, a área de Comunicação ou de Marketing começava meses antes a tratar do calendário e das agendas para, pelo Natal, oferecer a trabalhadores, clientes, fornecedores. 

Muitas vezes havia sessões de debate interno para decidir qual deveria ser o tema, contratavam-se fotógrafos, havia provas -- todo um processo. Muitas vezes a tendência era ter tudo a ver com a actividade da empresa. Outras vezes optava-se pela surpresa: nada a ver, apenas belas imagens e belo material e depois, muito sóbrio, o logo da empresa. Outras vezes era temático (virado para a inovação ou virado para a defesa do ambiente -- por exemplo).

Sempre gostei de participar ou opinar sobre os temas ou sobre o produto final mas, verdade seja dita, nunca liguei nem a calendários nem a agendas. Mas a minha mãe gostava sempre de receber um de cada e sempre reservava a contar com ela. Cheguei a levar também para os meus avós.

Atrás da porta da cozinha dos meus pais havia sempre um calendário. E as agendas que ela usava eram sempre as que lhe levava.

Depois os calendários caíram em desuso e as agendas lentamente também foram decaindo.

Mas se não sou de calendários analógicos, a verdade é que gosto de ver, digitalmente falando, calendários que tenham aquele je ne sais quoi que faz a gente querer ver com atenção. Pode ser porque a narrativa tem que se lhe diga, pode ser porque o fotógrafo tem arte e transforma em beleza ou estranheza o que a objectiva capta ou pode ser porque o objecto captado é, em si, uma obra de arte.

Um calendário que não sei se tem um pouco de tudo isso é o Calendário Romano, também conhecido como o Calendário dos Padres Escaldantes. Pode acontecer que alguns padres apareçam repetidos de ano para ano e podem até alguns não ser padres e pode, até, não se perceber bem qual é a mensagem. Mas quem é que liga cá a miudezas?

O importante é que os devotos moços que ali abençoam cada mês estão devidamente cobertos, têm pudor e decência (o que é de bom tom na época natalícia), têm a pose contida de quem segura a Bíblia e isso inspira confiança quanto mais não seja porque transmite a ilusão de que gostam de ler, e, ainda por cima, têm um olhar puro e piedoso, o que é sempre inspirador (e se não for puro também não faz mal nenhum). E a gente, queira ou não queira, pensa logo que aqueles jovens padres (sejam eles de gema ou fake) deve pecar com uma grande pinta. E, se não pecam, dão a quem os olha uma certa vontade de pecar.

E, para que não se pense que estou sozinha na admiração pela objecto (refiro-me ao calendário), sugiro que leiam: ‘Forgive me, Father, for I am in the mood to sin’: how the ‘hot priest calendar’ became a publishing hit da autoria de Morwenna Ferrier.


Aliás, vendo o ar benevolente dos jovens padres, fico até a pensar que se, na paróquia aqui da zona, o padre for do mesmo gabarito que estes, estou capaz de ir repetir a catequese. Refreshment. Quem sabe se desta vez acho alguma graça à matéria. 

Ou os padres não dão a catequese? 

Se não derem, não faz mal: inscrevo-me num daqueles cursos de preparação pré-nupcial. Ou qualquer outra coisa. Ou convido-o para uma sessão fotográfica para fazer um calendário destes, versão lusa. Por exemplo, um Calendário Fatimiano com portuguese hot priests. Um recuerdo que nenhum turista religioso poderia dispensar.

Ámen.

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Um bom dia.

Paz. Alegria. Saúde.

2 comentários:

ccastanho disse...

Para esta conversa de hoje, penso que o Veloso, é o indicado.

https://www.youtube.com/watch?v=CoLHD4UHf3E&list=RDCoLHD4UHf3E&start_radio=1

Um Jeito Manso disse...

Olá Ccastanho,

Obrigada! Há quanto tempo não ouvia esta. Boa. Gostei!

Uma boa sexta-feira.