quarta-feira, abril 20, 2022

A sensualidade delas

 

Devo dizer que na outra noite dormi muito mal. Acordei a meio da noite e só voltei a adormecer quando amanhecia. E logo a seguir tocou-me o telemóvel. A inclemência começou cedo. E o dia foi em contínuo, sempre a bombar. Só comecei a fazer o jantar depois das nove da noite. Acabámos de jantar por volta das dez e meia. 

Como é bom de ver, mal aqui me apanhei sentada, logo me deu o sono. Estava com o computador nas pernas, tentando informar-me sobre os sucedidos do dia. Ouvi o meu marido a avisar-me que o computador ainda ia parar ao chão. Mas não consegui mexer-me. Segundos depois, um barulho. Tinha mesmo ido parar ao chão. Apanhei-o, pousei-o na mesinha aqui ao meu lado e adormeci a sério.

Acordei agora, e passa da meia-noite, enquanto na SIC N o Nuno Rogeiro e o José Milhazes comentam os irreparáveis e imperdoáveis crimes de guerra na Ucrânia. Tudo demasiado tenebroso. O que ali se passa é acima de criminoso. 

Mas, a esta hora, sinto necessidade de desligar. Melhor: de deixar o oxigénio e a música entrarem na minha mente. Tenho sorte: sinto necessidade disso e posso satisfazê-la. Não vivo numa cave, num abrigo, sob escombros. Vivo com conforto e posso fazer o que me apetece. Não passam mísseis sobre mim, não tocam as sirenes, não ouço estrondos. 

Apetece-me música. Mas, em situações assim, gosto de fazer ondas. Música, sim, mas em versão hot. Ao passar os olhos pelos jornais, vi um artigo sobre as vestimentas de algumas pianistas clássicas. E fiquei com vontade de ir buscar essas mulheres que ousam e que transportam a sua exuberante carnalidade para as interpretações.

Khatia Buniatishvili, nascida em 1988, é talvez uma das mais conhecidas neste capítulo. Curvilínea e de carnadura generosa, é intensa, sorridente, extremamente sensual. Os seus vestidos são toda uma festa.

Yuja Wang, 35 anos, compete de perto com Khatia. É irreverente, jovial, desfila como uma gata e, por vezes, ao fazê-lo, tão curtas são as saias que a aparição das cuecas (se é que as usa) é daqueles milagres que todos esperam.

Alice Sara Ott, 33 anos, é de um outro género. Nela não é o decote ou a escassez dos vestidos que ajudam a deixar as audiências ao rubro. Nela são sobretudo as expressões. Há nela qualquer coisa de Teresa de Ávila. Parece estar em estado de êxtase e se não foi Nosso Senhor que passou por ali só pode ser que esteja à beira do orgasmo.

Claro que têm mais qualquer coisa em comum: o talento. E a alegria e o prazer de sentir a música a percorrer cada centímetro da sua pele.


Sobre Yuja, uma brincadeira


Mas, para que não se pense que não há em mim gota de recato, permitam, então, que partilhe a Élégie de Massenet. Aqui Alice Sara Ott está contida e não é a única a captar a atenção. As suas companheiras Camille Thomas e Fatma Said dividem com ela o palco e muito bem.


Saúde. Alegria. Paz.

4 comentários:

João Lisboa disse...

Elas merecem muito mais minutos...

https://lishbuna.blogspot.com/search/label/Khatia%20Buniatishvili

https://lishbuna.blogspot.com/2016/09/blog-post_51.html

Um Jeito Manso disse...

Olá João,

Tem razão, são pianistas de que ninguém se esquece. As suas actuações são arrebatadores. Gostaria de vê-las ao vivo, deve ser impressionante.

Que, nos tempos que correm, nos salve a música.

Obrigada, João.

Corvo Negro disse...

Olá UJM.
Inclua também a Lola Astanova
https://www.youtube.com/embed/mymOtOIuf20
Bom serão.

Um Jeito Manso disse...

Olá Corvo,

Puxa...! A Lola... caraças... a Lola até podia ser uma espanhola caliente... Afinal é russa. Arrasa, ela. O pobre do violista até tem que estar de costas, senão nem atinaria com o arco.

Não conhecia mas já está na lista. Aquela liga de diamantes, então, é demais!

Obrigada, Corvo.

E tenha uma noite descansada.