domingo, novembro 28, 2021

Mas alguém com dois dedos de testa* acreditou que o Rangel tinha alguma hipótese?

 



Que o Rangel não tem perfil (e não me refiro ao físico) nem estatura (e não me refiro à física) nem cabedal (e não me refiro ao físico) nem tino para poder vir a ser primeiro-ministro parece-me óbvio.

Que ele, dada a falta de tino, não tenha percebido isso parece-me natural. 

Agora que tanta gente também o não tenha percebido já me parece mais estranho. Seriam agentes infiltrados ao serviço do Chega? 

E que o Expresso e todos os media da Impresa também não o tenham percebido aí já me parece o carimbo que lhes faltava para que seja público e notório que a malta das respectivas direcções nao têm os alqueires bem medidos.

Andaram a levá-lo ao colo, a dar-lhe colinho de todas as maneiras possíveis e imaginárias... sem perceberem que aquilo ali nem para delegado de turma servia? 

Como podemos levá-los a sério quando falarem do que quer que seja, quando fomos testemunhas da flagrante burrice que cometeram ao alavancar de todas as maneiras possíveis e imaginárias um personagem que poderia figurar num romance do Eça mas jamais na vida política real no século XXI?

Nesta coisa da sua derrota perante o Rui Rio é a única coisa que me ocorre e que me parece digna de merecer a nossa atenção: que confiança podemos ter, doravante, na inteligência dos PSDs que o apoiaram (tantos) e dos jornalistas e comentadores que o apaparicaram -- mesmo perante as mais aparatosas evidências que nem para primeiro-ministro de um país inventado numa qualquer comédia amalucada o Rangel serviria?

O seu discurso de derrota não foi digno coisíssima nenhuma como agora os mentecaptos e lambe-cus vão dizer: foi apenas o discurso de quem quer sair de fininho da porcaria que armou, ainda por cima que armou para sair batido e de rabo entre as pernas. É aquela coisa que caracteriza os estúpidos: fazem porcaria que prejudica os outros e que os prejudica a eles próprios. Disse ele que as eleições foram boas para consagrar o vencedor. Conversa de barata tonta. O partido vai continuar como estava, com o Rio à frente e com ele entretido a dizer balelas. O que ele conseguiu foi fazer o partido gastar dinheiro para nada e pôr metade do partido a dizer mal da outra metade.

Claro que agora vai pôr-se em bicos de pés a fingir que é leal e um santo banhado em dignidade. Santo só se for do pau oco (no pun intended). E leal o tanas: quer é pôr-se a jeito para ser convidado pelo Rio para uma coisa qualquer. Rangel é daqueles que anda sempre à babugem. 

É como o Assis. Catatuas falantes, sempre prontas para darem bicadas nos legítimos para mostrarem à comunicação social, ou seja, à opinião pública, que estão vivas e que são alternativas. Como se a opinião pública quisesse saber delas (delas, catatuas) para alguma coisa. 

Não há pachorra.

Quanto ao Rio o que tenho a dizer é que é um burocrata, um fulano que frequentemente se porta como um totó sem sentido de humor em que, ao fazer de conta que o tem, se sai com palermices que não lembram ao diabo. 

Mas, do que lhe tenho visto, parece-me que, em regra, pensa no país antes de pensar no partido, às vezes pode parecer que é um bocado parvo mas, em geral, estou em crer que não é parvo nenhum, e é de boas contas e, por acaso, até acredito que seja bem formado.

Pode faltar-lhe uma certa falta de noção bem como um certo pendor humanista; e acredito que a nível de sentido estético seja um desastre; e, a nível de cultura, em geral, não faço ideia mas, quando estava no Porto, tenho ideia que diziam que era um calhau. Se calhar é.

Não se coloca a questão de se eu votaria nele ou não pois está à frente do PSD e eu não voto em sacos de gatos, ainda por cima gatos que ou são uns oportunistas ou canibais ou autofágicos. Ou seja, gatos que não se recomendam.

Mas uma coisa eu posso dizer. Se o PS tiver que se coligar com alguém, acho que fica melhor servido a entender-se com um Rui Rio do que com uma populista e uma vendida como a Catarina Martins. Quanto ao Jerónimo prefiro nem me alongar muito. Pode ser digno e respeitável mas já por duas vezes se juntou à direita para agradar aos seus mais retrógrados correligionários. Portanto, como não há duas sem três, é melhor não lhe proporcionar essa terceira oportunidade.

Tirando isso, não sei que mais há a dizer sobre o tema.

O que vale é que é domingo. Se estiver frio como neste sábado a ver se acendemos a lareira. 

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* A testa a que no título me refiro também não é física

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Pode muito bem acontecer que alguns de vocês que, aí desse lado, me acompanham achem que a pintura de Carl Heinrich Bloch (1834 - 1890) e a Humoresque de Dvořák não estão aqui a fazer nada. Pode ser. Mas a minha opinião não é bem essa: se calhar o Rangel é que está a mais. O Rangel, o Assis e mais o que não estão aqui no post mas estão por aí -- o Chicão, o Ventura, o trio Mortáguas & CMartins e toda essa gente que apenas polui o ambiente.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

5 comentários:

amadeu moura disse...

Testa com mais de dois dedos, tem-na o Rangel!
E não lhe serve de nada.

Anónimo disse...

A melhor análise. Quer das personalidades, quer de tudo em volta. Só acho que o Rangel tinha, sim, hipótese de ganhar. Hipótese apenas, que achava que ia perder e perdeu. Mas no PSD... No PSD é assim que sempre se conquistou o poder:de assalto. Aparece um gajo que é uma nulidade de repente e os comentadeiros e carcaças velhas e famosas do regime aparecem todos de uma vez, rápido e forte, a criar o élan de que vem aí salvador. Ele é Sá Carneiro, Ele é Cavaco, Ele é Passos, Ele era agora Rangel. Nunca nada de bom veio.

Alberto

Anónimo disse...

Mais um candidato:
https://www.publico.pt/2021/11/27/politica/entrevista/francisco-assis-ficaria-feliz-presidente-assembleia-republica-1986584

Um Jeito Manso disse...

Olá Caro Amadeu Moura,

A testa a que me referia é uma testa metafórica mas, por via das dúvidas, já a asterisquei e esclareci.

Gracias pela dica!

Um belo domingo.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Adorei ver o David Justino a cascar forte e feio quando o interromperam, na CNN-P, para dar voz ao Ventura.

Continuação de boa segunda-feira.