Já vimos os quatro episódios na nova temporada da Grace & Frankie. Já vi todos os episódios de 'A Directora' (estes só eu é que vi) e voltámos a The Crown.
E voltámos às arrumações, ele à estante da tralha dele na despensa e eu ao apartamento. No meu caso, foi mais limpezas: varri, lavei, afastei móveis e sofás. Há um detergente branco com cheiro a sabão de que gosto bastante e que deixa no ar um perfume a casa lavada.
E fiz uma máquina de roupa que foi estendida como gosto: nas cordas que pusemos entre os pinheiros. Dá-lhe o ventinho e seca num instante, até parece que foi passada a ferro.
E deu-me uma ideia. Era para estofar duas bergères, talvez pintar-lhes as madeiras de branco envelhecido. Como estão, em madeira escura e com veludo cor de tijolo, não apenas têm um aspecto datado como, ali, no actual contexto, ficam com um ar pesado. A sala agora está leve e aquelas bergères destoam. E não seria barato modificá-las. Aliás, ainda não arranjei quem me fizesse sequer o orçamento. Pois, neste meu ímpeto transformador, levei-as para a salinha que fica na base da zona antiga da casa. Estão lá reunidos vários despojos e parece haver alguma unidade e harmonia naquela misturada. Ou seja, ficam bem ali. E a ver se arranjo agora umas mais actuais, mais leves, mais claras e mais confortáveis para colocar perto da lareira.
Quando vejo a minha casa agora tão clara e luminosa com as portas, janelas e rodapés, tudo em branco, e a decoração mais leve, sinto-me tão bem. Parece que a casa traz alma nova a quem nela está. A mim deixa-me feliz.
Vou vendo, de vez em quando, os mails do trabalho. Retirei as notificações no telemóvel. Assim, só vou ver quando me apetece e isso está a trazer-me uma paz de espírito considerável.
O dia esteve incerto e, de tarde, enquanto víamos a sonsa e cumpridora Lilibet a esfriar os ânimos à fogosa irmã e a ir na cantiga do enervante e eficiente Tommy, trovejava. Era aquele trovejar contínuo e distante que faz boa companhia e que faz desejar um chá quentinho e uma tarde à beira da lareira. Apenas choveu ao de leve e foi pena pois uma chuva forte viria a calhar. As terras estão secas.
Uma figueira grande, lá em baixo, morreu. Se calhar é normal. A vida, nas suas diversas formas, é finita. Era tão grande e tão vigorosa e, não sei como, este ano não nasceram as folhas e ficou com o tronco escuro e sem vida. Felizmente tenho muitas fotografias com ela. Assim, a sua existência poderá ser lembrada. O meu marido cortou-a. Se fosse há uns tempos, teria ficado doente de desgosto. Agora já vou aprendendo que, na natureza, é mesmo assim: morrem umas árvores ou umas pessoas e nascem outras. Não haveria espaço neste mundo para novas vidas se as antigas não lhe cedessem espaço e vez.
Por exemplo, vejo pés de pinheiro a despontar por aqui e por ali. Há um viço intrínseco na terra, uma vontade de renovação. Não sei se os arranque ou se deixe ver no que vai dar. Por segurança, devemos obrigá-los a um distanciamento mínimo mas vou deixando andar. Não quero forçar ou condicionar o rumo dos acontecimentos.
Hoje, quando estava a andar, de dentro de um arbusto baixo, ouvi o som de um salto, um roçagar assustado de folhagem, uma corrida precipitada. E, no entanto, não consegui ver nada. Não faço ideia do que teria sido. Grande parte do que acontece é invisível. Tal como nas nossas vidas, parte do que há neste mundo está oculto, apenas percebido por quem se abeira de bem perto e com vagar suficiente para deixar que o mistério, a seu tempo, se materialize.
Reparei também que as três grandes águias voltaram a sobrevoar o terreno lá em baixo, perto dos eucaliptos grandes. Andam lá muito no alto, voam em círculo. Tentei fotografá-las mas não consegui. São rápidas demais. Há vários anos que, de quando em vez, esta coreografia tem lugar. Não sei onde andam quando não andam a voar ali. Podem passar-se dias ou semanas ou meses sem que as veja. Quando as vejo é como se recebesse o atestado de que estou onde pertenço: aqui, in heaven.
Ah, já me esquecia. Estive também a embalar os orégãos deste ano. Há um mês e tal, talvez mais, já nem sei, apanhei braçadas deles. Depois abri um lençol (lavado, bem entendido!) sobre um sofá cama aberto no estúdio e coloquei lá os ramos de orégãos. Há nessa sala uma entrada de luz através de uma fiada de mosaicos de vidro. Portanto, a sala tem sempre luz indirecta, óptima para secar os orégãos.
Hoje trouxe o lençol para cima da mesa aberta da sala de jantar. Com o pano do lençol esfreguei os pequenos ramos uns contra os outros a fim de que as folhinhas se desprendessem. Depois, sempre em cima do lençol, fui limpando pontinhas secas, os pequenos pauzinhos secos que sustinham as flores e as folhinhas. Pensei que é isso que devem fazer os trabalhadores temporários que acondicionam as aromáticas. Um trabalho de paciência e atenção. A sala ficou perfumada de dar gosto, um perfume mediterrânico que tem dentro o sol e o amor pela terra.
Tinha vários frascos que fui guardando ao longo do ano ou de espargos ou de doce ou de mel. Enchi vários, de vários tamanhos. Somos grande consumidores de orégãos. E ofereço alguns com o prazer de quem oferece preciosidades.
No estúdio, em cima da mesa da kitchnette, há um pequeno regador de metal pintado de amarelo onde estavam uns pés de alfazema já seco, quase sem cheiro. Deitei-os fora. Apanhei pés novos, com o perfume ainda bem activo. Juntei uns pequenos rebentos ladrões de laranjeira que têm um forte e fresco odor cítrico que muito me agrada. Juntei ainda um ramo de loureiro. Penso que o bouquet vai trazerr um perfume bom àquele compartimento.
Há tempos li sobre uma forma de fazer um perfume ambiente a partir de produtos naturais. Quero ver se encontro. Sou muito sensível a perfumes. Gosto de aromas frescos, limpos. Se conseguir ter a casa sempre com um perfume agradável a partir das plantas de cá melhor.
Depois passei pela pereira e reparei que tinha umas quantas peras. Uma comi-a logo ali. Doce. Se não fosse pelo açúcar, poderia alimentar-me quase só de fruta. Figos pingo de mel, uvas dulcíssimas, moscatéis, peras macias, boas. A vida simples é uma coisa boa.
As fotografias são algumas das melhores de The 2021 Comedy Wildlife Photography Awards.
Bob Marley interpreta She used to call me Dada
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Desejo-vos um dia feliz
Tudo de bom: saúde, alegria, motivação
2 comentários:
Que belas novas! Quero ver isso tudo em fotos, si vous plait.
Um rico serão!
Olá Francisco,
Já lá estão, algumas fotos de ma maison in heaven. Espero que a serenidade que eu sinto aqui em casa se faça sentir junto de quem vê aas fotografias.
Uma bela sexta-feira.
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