As imagens chamam a atenção: afinal a intimidade e o sexo entre pessoas de idade avançada é ainda um mistério. Se falarmos de pessoas do mesmo sexo e já entradas, então, o assunto vira tabu.
Fui ler. Por entre notícias gastas como as que têm a ver com os proprietários do 25 de Abril, novas dos Oscares em ano em que as salas de cinema estiveram fechadas ou notícias demasiado infelizes como a avalanche de covid na Índia, os meus olhos detiveram-se nos casais in love fotografados por Rankin.
Não será nas ruas das nossas cidades que vamos ter cartazes como os de que no artigo Love in an old climate: posters celebrate the joy of sex in later life se fala:
Relate charity hopes intimate shots by Rankin will shatter taboos about physical intimacy among older people.
It is intended to start a conversation, but a new campaign on the joys of sex and intimacy in later life may also stop the traffic.
Five naked, or nearly naked, couples and a woman have been photographed by Rankin, and his images are accompanied by words that challenge stereotypes of sexual desire and activity in later years. The posters will be displayed on billboards across the country from this week.
The campaign, Let’s Talk the Joy of Later Life Sex, comes from the relationships charity Relate and aims to “tackle the stigma around this unspoken subject”.(...)
Nisto do amor e do sexo o que tenho a dizer é que acho que, em qualquer idade, um não faz muito sentido sem o outro. Não tenho experiência em sexo sem amor mas imagino que seja uma coisa a modo que vazia, ocasional, qualquer coisa a que se recorre quando não se tem a bênção de ter um verdadeiro amor por perto. Mas uma coisa que tenho para mim é que amor, amor, amor a sério -- e refiro-me, aqui, a amor a dois, amor entre casal -- também não existe sem sexo. Pode haver amizade, pode haver outra coisa qualquer, mas amor, amor, amor para a vida, amor de encher o coração, esse requer sexo, requer a intimidade e a cumplicidade profunda que coabita com o sexo. Amor sem sexo não é amor, é uma separação anunciada. Dura apenas até que o verdadeiro amor apareça. Acho eu.
E se falo de amor, mais diria de paixão. Paixão sem sexo é ficção. Sexo é o amor e a paixão do lado de dentro. Podemos ser muito racionais, muito espirituais. Mas somos também animais. É essa a nossa condição. E não há animalidade sem sexo.
E sexo do bom é sexo alegre, sexo feliz, sexo sem idade.
Quando eu era menina e moça imaginava que sexo tinha prazo de validade, coisa para gente com as hormonas aos saltos. Não me passava pela cabeça que os velhos ainda procurassem o prazer do sexo. Se tal me ocorresse, achá-lo-ia estranho, patético.
Quando se sabe pouco da vida, quase tudo nos passa ao lado. Com grandes certezas, proferimos coisas que apenas revelam ignorância de largo espectro. Com o tempo, fui constatando que nisto do sexo é quase tudo ao contrário do que imaginava. Melhora com a idade. Não sei porquê mas é verdade. Não sei se é a mente que se vai abrindo, se é o corpo que se vai tornando mais permissivo, se é a convivência em intimidade que vai trazendo novas camadas de tolerância e generosidade, se é a velha e católica liaison entre prazer e pecado que se vai desfazendo. Não sei. Sei é que sexo é uma necessidade que não se satisfaz e cujos contornos se vão alargando, colorindo e enriquecendo à medida que o casal se vai conhecendo, que os pudores vão caindo, que a proximidade se vai estreitando.
Seja homem e mulher, duas mulheres, dois homens, sejam novos, assim-assim ou velhos -- sexo é sexo é sexo.
E é isto que estes casais confirmam. Dá gosto ver.
1 comentário:
Viva mesmo!
Muito belo este trabalho.
Uma rica semana.
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