quarta-feira, abril 21, 2021

Para além de cool, virou pintor.
Para surpresa da mulher que diz que nunca antes o viu admirar qualquer forma de arte, agora pinta imigrantes.

 

Este fez muita porcaria, alguma da qual dificilmente explicável ou desculpável. A história dos presidentes não lhe guardará lugar de enaltecimento.

Ainda me lembro da discussão que tive com um colega por causa dele. O outro defendia-o, acreditava nele, não percebia como poderia eu duvidar, como era eu capaz de pôr em causa as boas intenções e a boa informação de um presidente da nação supostamente melhor informada do mundo. Eu achava que ele era um burro a quem os grandes interesses do petróleo e do armamento manietavam. Encalorada discussão a que tivemos. Estávamos numa belíssima moradia no Restelo e, em vez de aproveitar o dia, não fiz outra coisa senão discutir perande a enormidade do que estava a acontecer.

Contudo, o tempo tem vindo a revelar que o dito alvo da minha fúria, com a idade, está cada vez mais cool.

O seu bom humor era conhecido mas não tinha ideia que ele fosse tão cool. 

Acredito que as pessoas mudam. Acredito que algumas podem vir a arrepender-se de erros que cometeram. E genuinamente acho que, embora alguns arrependimentos, em termos práticos e objectivos, valham menos que uma casca de caracol furado, deveremos conceder o benefício da dúvida a quem, humildemente, mostre que mudou.

Eu sei que há os cínicos, os cépticos, os que não acreditam na regeneração -- que acham que se uma pessoa caiu parvamente numa esparrela e, com os seus actos, impensadamente provocou a perda de muitas vidas humanas, deve ser punida para todo o sempre. Percebo-os. Há um lado meu que também tende, por vezes, a ser implacável, a não absolver os insensatos, os cobardes, os irresponsáveis. Mas, no fundo, no fundo, acho que a vida é uma passagem, um tempo curto, ocasional, o instante que dura entre o nada inicial e o nada final. E, se, de permeio, a pessoa agora mostra ser outra, reduzida ao seu humilde  e inofensivo lugar de vulgar cidadão comum, se mostra que gostaria de poder reparar algumas lacunas da sua vida anterior, então quem sou eu para me armar em justiceira, para os renegar...?

As obras a que agora George W. Bush se dedica não se pode dizer que sejam extraordinárias. Mas penso que não é isso que está em causa. 

E a forma desprendida como a mulher encara tudo isto é também todo um programa. Gostei de ver, é o que posso dizer.

George W. Bush on painting a new vision of immigrants

The former president's latest passion is celebrating the contributions of America's immigrants on canvas (as seen in the new book "Out of Many, One: Portraits of America's Immigrants") with the hope, he tells "CBS Evening News" anchor Norah O'Donnell, that a more respectful attitude to those who come to our country will help lead to reform of the immigration system


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