quinta-feira, abril 29, 2021

Abaixo os soutiens, abaixo os saltos altos! E que vivam os rabos-de-cavalo

 



Já aqui aflorei: o confinamento alterou alguns dos meus hábitos. Hoje de manhã, quando estava a tomar o pequeno almoço, já vestida e pronta para sair a seguir, dei-me conta de que me tinha esquecido do soutien. Foi coisa que me caiu em desuso durante o confinamento. E, no entanto, os que uso são confortáveis.

Agora são confortáveis.

Contudo, durante anos usei soutiens que não me eram confortáveis. Usava o número que achava que era o meu, recusando-me à racionalidade. Como sempre, privilegiava a estética e nem me ocorria que deveria dar atenção ao conforto. Já o contei: ia a Madrid uma meia dúzia de vezes por ano e, sempre que ia, não passava sem ir à Calle Serrano, nomeadamente a um belíssima loja de lingerie. Perdia-me com belos balconies, soutien.gorges e por aí vai. Rendas elegantíssimas, cores suavíssimas ou estonteantíssimas. Escolhia tendo por único critério a beleza.

Quando chegava ao fim do dia, ao despir-me, frequentemente tinha um vinco à volta. O meu marido dizia que não sabia como é que eu aguentava e eu dizia que nem sentia. E era verdade. Mas um dia, estando a passear à noite no Algarve, uma vez mais deixei-me tentar pela lingerie. O meu marido disse: porque não experimentas um número maior? Achei que não ia ficar bem mas resolvi pedir à simpática empregada se me podia ajudar a encontrar o tamanho ideal. Ela mediu-me em várias dimensões e em várias frentes de batalha. No fim, disse qual o tamanho em número e letra para se ajustar à largura de costas e à dimensão do seio, ou seja, à copa ideal. Tudo diferente do que eu costumava usar. Aliás, nem nunca me teria ocorrido aquela combinação. Foi buscar-me um modelo com aquelas características e, ao provar, foi uma epifania. Vi-me ao espelho e estava ajustado na perfeição. E um conforto total. Foi como se mil anjos me rodeassem, tal o bem estar. Saí do provador como se me tivessem libertado de cilícios que, de tão habituada, já nem me dava conta de que poderia viver sem eles.

Desde aí, são desse tamanho de costas e copa que uso. Olho para os anteriores modelos, belíssimos, como peças de museu. Os que agora uso são também bonitos mas, como não voltei à loja da Serrano, daquelas obras de arte nunca mais voltei a encontrar. Mas isto para dizer que os que agora uso já não me causam incómodo.

Mas, durante o confinamento, desabituei-me. Parece que são peças inúteis. A vantagem dos soutiens parece-me hoje, sobretudo, a de poderem ser uma protecção contra episódios não controlados como a gente ter frio e estar a usar uma blusa fina. Tirando isso, só se for também a questão da blusa ter alguma transparência.

Mas, portanto, lá tive que ir ao quarto despir-me para colocar o soutien,

Outra são os ténis. Cada vez me apetece mais andar de ténis. Ao ver que, mesmo em cerimónias de tapete encarnado já há quem os use, ainda mais vontade tenho de um dia destes aparecer a preceito e com ténis. Ponho-me a pensar nos inconvenientes e, para dizer a verdade, parecem-me suportáveis. Qual o pior que me pode acontecer? Olharem com espanto? Cortarem nas costas? Bah, quero lá saber. Não sei é se os que tenho fazem toilette. Tenho uns em verde-seco-azeitona que farão pendant com os verde-seco que tantas vezes uso. Mas os azuis são práticos demais. Os azuis escuros estão velhos demais. Os turquesas, demasiado informais. A minha mãe diz que gosta de ver os vídeos de uma brasileira que faz aconselhamento de looks e que ela diz que ténis em sociedade só se forem brancos. Por acaso, gosto de ténis brancos mas tenho ideia que só num look mais casual. Tenho que experimentar. Agora nem tenho nenhuns brancos. Tinha uns com um vivo cor-de-rosa mas eram mesmo de verão e já estavam tão gastos que os deitei fora.

E, nesta de mudança de hábitos por via do confinamento, há outra coisa em que já comecei a ousar mas, por enquanto apenas em videoconferências: estar de rabo-de-cavalo. Gosto imenso de estar com o cabelo apanhado mas, para o trabalho ou em situações menos informais, sempre usei o cabelo caído. Quanto muito, parcialmente apanhado. Agora mesmo rabo de cavalo, não. Pois bem. Agora, volta e meia, quero lá saber. Usei e senti-me bem.

Resta saber é se, levantando-se isto do teletrabalho obrigatório e voltando-se à rotina diária de casa-trabalho-casa, vou voltar não apenas a conseguir estar o dia inteiro num gabinete numa torre de vidro como a estar de soutien, saltos altos e cabelo caído.

Com tanto abaixo-assinado completamente estúpido e fútil, porque será que ainda ninguém se lembrou de lançar uma petição a proibir a existência de qualquer femme fatale ou outras personagens da era pré-covid?

Eu assinava já por baixo.

#Free the lusitano nipple. 

#Free the feet. 

#Free the ponytail

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A Kate Moss está aqui apenas porque há imagens dela para ilustrar qualquer situação e a Femme Fatale da Carla Bruni está porque a sua voz de veludo condiz com algum pensamento subjacente por parte de quem, aí desse lado, está a ler esta conversa.

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E um dia feliz

Saúde. Alegria. Liberdade aos mamilos.


4 comentários:

Anónimo disse...

#Free the ponytail

Acho bem ! Para parecerem menos burras...

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo/a

Acha que as mulheres parecem burras? A sério? Acha isso? E todas ou só algumas? Qual seria o seu mundo ideal? Só homens, é isso? Conte-me tudo.

Anónimo disse...

Ui ! Ui !
Não digo mais nada .

Um Jeito Manso disse...

Ficou com medo...? Não me diga... Não é caso para isso. Não sabe que as mulheres são uns seres a caminho da santidade? Não fazemos mal nenhum. Tranquilo...