sexta-feira, novembro 15, 2019

Um não-post





Hoje é daqueles dias em que mesmo que tenham chovido cães e gatos ou que um meteoro tenha passado a rasar a terra ou que o nosso ubíquo Marcelo tenha sido avistado, com escassos minutos de intervalo, a nadar estilos livros na Praça de S. Marcos em Veneza e a entrevistar um sem-abrigo em Sta Apolónia eu de nada me teria dado conta.

Em dias assim, acreditem, nem sei se chove, se faz vento, se a Isabel Moreira fez uma intervenção a gaguejar forte e feio em solidariedade com a Joacine, se obrigaram o André Ventura a usar coleira anti-pulgas ou se o Montenegro já se apresentou em público maquilhado de Joker. Não sei de nada. Estou numa bolha, longe do mundo. 

Por isso, sobre o que se passou por aí nada posso dizer. E do que se passou por aqui muito menos.

E não é que, do que hoje vivi, não pudesse fazer cinquenta posts. Podia. E muita consideração para tecer. E muita surpresa para manifestar. E um queixo caído até ao chão para arrastar ao longo de cem linhas de prosa. 

E não é que não me apetecesse confessar que, por vezes, penso que, sem que eu tenha dado por isso, o mundo começou a virar-se ao contrário, a rodar ao contrário, tudo ao contrário, quiçá até no sentido certo. Mas, se isso é verdade, não sei como é que aconteceu. Ou em que momento é que aconteceu. Ou se sou eu que, de repente, num daqueles fenómenos psicológicos em que a pessoa, de repente, desata a falar noutra língua, agora estou a ver e interpretar tudo ao contrário do que é na realidade.


Mas isso era se eu pudesse falar. E não posso. E não posso porque não posso estar a viver situações privadas, digamos assim e, depois, vir para aqui pôr a boca no trombone. Nunca o fiz, nunca o farei.

E, portanto, talvez daqui por algum tempo, tudo devidamente assimilado e reprocessado, a propósito de uma qualquer outra coisa, en passant, fale de alguma coisa de forma meio abstracta. E isso é se.

Ou seja, resumindo, isto é um não-post. E acredito que seja, até, um bocado enervante ler uma coisa que é coisa nenhuma. Mas é o que é.

Li os comentários todos, todinhos, mas não dá para responder. Daqui a nada toca a despertar. A alvorada nestes dias é uma arrelia, madruga-se a doer. Nunca se consegue ter um minuto livre ou desfrutar das belíssimas condições em que imagino que esteja. Muitas vezes nem falo nisto pois, se não posso falar e nem tenho tempo para usufruir, para quê escrever sobre tal? Mas hoje, em total ausência de referências do mundo exterior e nesta minha pancada de escrever sempre qualquer coisa antes de apagar a luz, estou nisto, nesta conversa mole, em que não danço nem saio da pista. Uma seca para vocês, bem sei.


Agora uma coisa tenho eu que festejar: aprendi duas palavras. Uma é uma buzzword meio escusadas pelo que nem vou aqui fazer-me eco dela e uma outra cuja ignorância dela, na volta, revela que a ignorância não é só dela, deve ser é generalizada. Cisgénero. Nunca tinha ouvido falar. Se calhar toda a gente conhece e usa amiúde. Eu nunca. E parece fazer sentido. Portanto, por ter ficado a sabê-la, sinto-me agradecida.

Também fiquei contente por saber que aí desse lado está alguém que gosta de um certo varzinense que apesar de andar por outras paragens descreveu como poucos a essência dos genes portugueses (ia dizer dos genes tugas mas estaria a ser parcial e injusta). Também gosto muito dele.

E também gostei de saber que isto de serem escolhidos como umas brasas uns homens por quem as mulheres não ficam a arder até não é mau de todo já que funciona como um boost na auto-confiança dos homens normais, coisa com a qual as mulheres só têm a ganhar.

Portanto, tudo boas notícias. Um dia com balanço francamente positivo.

........................

E, pronto, assim sendo e nada mais havendo a declarar, dou por encerrado o expediente. E daqui a nada estamos no Natal, essa é que é essa. Jingle bell, jingle bell, bora lá que é quase Nöel .

----------------------------------------------------------------------------------

As fotografias (lindas, não são?) foram obtidas no The Guardian e, transcrevendo a legenda, são respectivamente Cuejdel My Lake by Gheorghe Popa (Romania), Happiness Grows in Trees by Simone Baumeister (Germany) e Survivor by David Frutos Egea (Spain). A música, também com a legenda transcrita, é Bobby McFerrin & The Bulgarian Voices Angelite: Tapan Bie. Como vêem, estou sem tempo sequer para traduzir minimamente estas coisas. As minhas desculpas. 

-----------------------------------------------------------------------------

Uma bela sexta-feira e o que eu estimo é o que eu desejo.

5 comentários:

El Mucho Bad disse...

Obrigado.

"[...] Mal daqueles que, por humor sombrio ou por desalento muito expansivo, se cobrem de cinza diante do mundo porque o mundo imediatamente, por cima da cinza, os cobre de lama."
Eça de Queiroz, in Cartas de Paris, p. 298, edição Livros do Brasil

Bom fim-de-semana.

Maria disse...

Deixe lá que o Pacheco Pereira só agora descobriu que é um branco caucasiano.
Um bom dia, ujm
GG

Anónimo disse...

Grande grande citação! Gracias, Senhor Muito Mau!
Abraço,
JV

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Isto o vocabulário de género é o pão nosso da cada dia, há uns meses na "Monitor of Psychology" (a revista mensal da Associação Psicológica Americana) vinha num artigo um glossário de termos.

Essa dos "homens normais" vs. "Sexiest Man Alive" que eu aventei , a brincar, a brincar nunca se sabe se não é como diz a UJM 😄😄

Um abraço!

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

"Monitor on Psychology", enganei-me...