Na quarta-feira deitei-me tarde demais e levantei-me cedo, como sempre. Hoje estou, como é bom de ver, cansada e com muito sono. Estive a ler os comentários, com muita vontade de reagir. Um por um. Mas estou incapacitada. Adormeço a cada minuto. Acresce que esta semana o trânsito tem estado péssimo. Isso e a minha agenda sobrecarregada, pois acumularam-se compromissos à espera do meu regresso de férias. E esta conjugação é suficiente para, em mim, a acumulação de contrariedades se transformar em impaciência. Acresce ainda que, zen como estive nas férias, afeiçoada à calmaria, agora toda a macacada, desorbitagem, injustiça ou quadradice me deixa em pulgas. Portanto, neste curto espaço de tempo já coleccionei quatro conversas complicadas e tensas (mas tensas para quem teve que me aturar porque eu, felizmente, mantive-me tranquila, segura das minhas razões).
E não vem ao caso mas é uma constatação que acho que devo partilhar convosco. Já o contei: os testes à minha personalidade dão que sou absolutamente assertiva, quase 100%. Nada passiva, quase nada manipuladora e, de vez em quando, pontualmente e em situações bem identificadas, um pouco agressiva. Mas, de forma quase limite, sou assertiva em toda a linha. Portanto, não é com esforço ou por encenação que defendo as minhas convicções com confiança. Ou seja, é natural em mim chegar-me à frente e defender acerrimamente o que penso. E nunca me dei mal com isso. Mas uma coisa é propor novas soluções ou criticar decisões tomadas e outra, diferente, é dizer a uma pessoa ao meu nível ou superior, cara a cara, que é ela que não está a dar conta do recado ou que está a prejudicar as empresas, ou seja, que a solução para os problemas não passará por ela.
Isso ou uma outra em que estou a tornar-me exímia: quererem que eu me responsabilize por uma 'cena' daquelas a que, numa empresa, se sabe que o não é inadmissível -- pois implicará uma auto-demissão ou, se não, um vexante encostanço -- e, ainda assim, perante seja quem for, dizer: não estou disponível. Ou dizer: Não me sento à mesma mesa que esse fulano porque esse fulano é um ordinário. E, apesar de ver o ar estarrecido do meu interlocutor, incapaz de reagir, certamente sem saber como lidar com uma situação destas, manter-me segura e determinada. É que, nos meios que frequento, coisas destas não se dizem, muito menos se fazem. E, no entanto, eu faço e ninguém me bate. E penso que é importante partilhar isto: digo o que tenho a dizer, faço o que acho que devo fazer e ninguém me bate.
Contudo, de uma coisa estou certa: tudo isto é treta. Questiúnculas. Toda a gente tem que lidar com elas. Lidar com gente insensível, quadrada, de vistas e mente curta é uma chatice mas não deve haver quem nunca tenha sido sujeito a isso. Portanto, mais ou menos vitória, destas pequenas vitórias, tanto faz. Banal. Irrelevante. Podem não ser irrelevantes para as pessoas que são directa ou indirectamente beneficiadas ou prejudicadas mas, para o mundo, a relevância é zero.
E depois há as decisões mais macro, as que afectam grupos de pessoas: os que ganham mais, os que ganham menos, os desempregados, os proprietários, os empresários, os profissionais liberais, etc, etc. E aí entram as orientações políticas: umas pessoas acham que se devem penalizar os trabalhadores, outras que se devem esmifrar é as empresas, outras que se deve é apostar na investigação científica. Etc.
Mas depois há -- ou devia haver -- aqueles temas que não são individuais ou grupais, que não devem ter a ver com sensibilidades pessoas ou orientações políticas. Questões supra-partidárias. E, até, questões supra-nacionais.
Podia falar de várias -- garantir a total igual oportunidade de oportunidades e de tratamento entre homens e mulheres, garantir o máximo de escolaridade a toda a população, regular a utilização das poderosas plataformas tecnológicas, das redes sociais ou da utilização de inteligência artificial, etc, etc, etc, muitas, muitas -- mas vou falar das alterações climáticas, da escassez de água (actual em algumas zonas do mundo e futura em muitas outras).
Faz muitos anos, certamente mais de mil, um amigo meu foi a Marrocos. Era a primeira vez que eu falava com alguém que tinha passado umas semanas em Marrocos. Encalorada como sou, o que mais me impressionou foi o calor. Dizia ele: Uns quarenta graus. Não imagina. Tínhamos que andar sempre a beber água. Ar seco, seco. Eu nem conseguia imaginar.
E, no entanto, já aí estamos. Quarentas e tais já cá os temos. Terras a serem abastecidas de água por cisterna também.
E isto se, provincianamente, pensarmos apenas no nosso pequeno rectângulo. Mas, se pensarmos a uma escala europeia e percebermos que o aumento das temperatura, o degelo, a desertificação de algumas terras e a escassez de água já afecta partes significativas de vários países, percebemos que, o que haja a fazer, mais vale que o seja, de forma articulada, a nível europeu.
E, depois, subindo um pouco mais o patamar de observação, temos o mundo, com zonas a serem devoradas pelas águas, outras a escaldar, a terra gretada, os animais a morrer, as pessoas a lutarem por uma gota de água.
Estamos a falar de um tema muito sério. Não é tema que, na ligeirinha, se possa usar sobretudo para fazer slogans, para fazer títulos de notícias, para querelas partidárias, para medidas absurdas de tão pacóvias. É tema sério. Tem que envolver cientistas de muitas ciências, tem que envolver gente séria, ponderada. É tema para mentes brilhantes e não para espertezas saloias. É tema transversal, a ser tratado com elevação, com os pés na terra e com a cabeça no espaço (e, um dia destes explico a que propósito vem agora esta do espaço).
Há quem embirre com a jovem Greta, achando que há ali vedetismo, quem ache que há oportunismo nos pais. Eu não acho isso. Foco-me na mensagem mais do que no mensageiro. E a mensagem é certa. E é bom que, graças a Greta, tenha vindo para a agenda mundial. Pense-se, por exemplo, em Al Gore. Há quantos anos anda ele a tentar vender a ideia? Nem sei. Há quantos anos, por exemplo, estive eu num almoço com ele no Estoril? Nem sei. E alguma das suas conferências, entrevistas ou livros conseguiu o impacto global com carácter de urgência que Greta Thunberg conseguiu em tão pouco tempo? Não, nem pensar. Foi o percursor, tem sido incansável, não o nego. Mas não conseguiu incendiar o mundo com a centelha de urgência que ela conseguiu. Portanto, não se lhe desvalorize o mérito. Preocupemo-nos antes em fazer tudo o que está ao nosso alcance. Façamo-lo.
Mas depois há -- ou devia haver -- aqueles temas que não são individuais ou grupais, que não devem ter a ver com sensibilidades pessoas ou orientações políticas. Questões supra-partidárias. E, até, questões supra-nacionais.
Podia falar de várias -- garantir a total igual oportunidade de oportunidades e de tratamento entre homens e mulheres, garantir o máximo de escolaridade a toda a população, regular a utilização das poderosas plataformas tecnológicas, das redes sociais ou da utilização de inteligência artificial, etc, etc, etc, muitas, muitas -- mas vou falar das alterações climáticas, da escassez de água (actual em algumas zonas do mundo e futura em muitas outras).
Faz muitos anos, certamente mais de mil, um amigo meu foi a Marrocos. Era a primeira vez que eu falava com alguém que tinha passado umas semanas em Marrocos. Encalorada como sou, o que mais me impressionou foi o calor. Dizia ele: Uns quarenta graus. Não imagina. Tínhamos que andar sempre a beber água. Ar seco, seco. Eu nem conseguia imaginar.
E, no entanto, já aí estamos. Quarentas e tais já cá os temos. Terras a serem abastecidas de água por cisterna também.
E isto se, provincianamente, pensarmos apenas no nosso pequeno rectângulo. Mas, se pensarmos a uma escala europeia e percebermos que o aumento das temperatura, o degelo, a desertificação de algumas terras e a escassez de água já afecta partes significativas de vários países, percebemos que, o que haja a fazer, mais vale que o seja, de forma articulada, a nível europeu.
E, depois, subindo um pouco mais o patamar de observação, temos o mundo, com zonas a serem devoradas pelas águas, outras a escaldar, a terra gretada, os animais a morrer, as pessoas a lutarem por uma gota de água.
Estamos a falar de um tema muito sério. Não é tema que, na ligeirinha, se possa usar sobretudo para fazer slogans, para fazer títulos de notícias, para querelas partidárias, para medidas absurdas de tão pacóvias. É tema sério. Tem que envolver cientistas de muitas ciências, tem que envolver gente séria, ponderada. É tema para mentes brilhantes e não para espertezas saloias. É tema transversal, a ser tratado com elevação, com os pés na terra e com a cabeça no espaço (e, um dia destes explico a que propósito vem agora esta do espaço).
Há quem embirre com a jovem Greta, achando que há ali vedetismo, quem ache que há oportunismo nos pais. Eu não acho isso. Foco-me na mensagem mais do que no mensageiro. E a mensagem é certa. E é bom que, graças a Greta, tenha vindo para a agenda mundial. Pense-se, por exemplo, em Al Gore. Há quantos anos anda ele a tentar vender a ideia? Nem sei. Há quantos anos, por exemplo, estive eu num almoço com ele no Estoril? Nem sei. E alguma das suas conferências, entrevistas ou livros conseguiu o impacto global com carácter de urgência que Greta Thunberg conseguiu em tão pouco tempo? Não, nem pensar. Foi o percursor, tem sido incansável, não o nego. Mas não conseguiu incendiar o mundo com a centelha de urgência que ela conseguiu. Portanto, não se lhe desvalorize o mérito. Preocupemo-nos antes em fazer tudo o que está ao nosso alcance. Façamo-lo.
Estas belíssimas mulheres vieram de 50 Stunning Photos Of Women From Across The Globe In The Finals Of The Agora Photo Competition 2019 e, tal como o Kodi Lee, não devem ter muito a ver com o tema. Mas gosto e isso, a mim, chega-me.
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A vossa atenção para os vídeos abaixo:
A vossa atenção para os vídeos abaixo:
E tenham uma bela friday.
6 comentários:
Olá Ujm, sabe quem também é assertiva? A Greta. E é essa a razão da força da mensagem. Bjs
Sem querer desfazer (ou fazer) a Greta, mas o Al Gore não teve impacto? Quem falava de aquecimento global antes do livro e, sobretudo, do documentário? (Daqui alguém que não acha piada nenhuma ao Al Gore!)
Abraço,
JV
As minhas reservas face ao fenómeno Greta foram expostas nos comentários de um post passado, agora parece-me que Al Gore teve bastante impacto no alerta em torno das alterações climáticas, mas não podemos comparar com a era dos fenómenos virais que se começou a entroncar pelo final da década passada.
A rica UJM defende muito bem o seu ponto de vista e tem uma criatividade argumentativa fantástica. Claro está, cheira parvos pretensiosos à légua e quando lhes dá nas lonas reagem de tal forma que desmascaram a infantilidade que subjaz ao pretensiosismo.
Um belo fim-de-semana (o Outono aí está!).
Olá Anónimo/a,
Tem razão. A assertividade daquela miúda é desarmante. Sejam congressistas gozões, jornalistas indiscretos ou manifestantes animados demais, ela mantém aquele registo dela de quem está ali para defender a sua causa e para a defender até ter conseguido levar a dela avante e que nada ou ninguém a demoverá -- e parece que consegue manter-se sempre focada e tranquila.
É isso mesmo.
Olá JV,
Eu não disse que o Al Gore não teve impacto. Ele foi o precursor. Ele falou quando ainda ninguém falava, pelo menos a uma escala global.
O que eu digo é que não conseguiu despertar aquela emoção que é condimento para que uma causa se torne querida. Lembro-me dele. Assisti, ao vivo, a uma conferência dele. Parecia quase mecanizado, um profissional das conferências, competente mas sem conseguir a empatia e o entusiasmo na mobilização que Greta Thunberg conseguiu.
Claro que o Francisco tem razão: os tempos são outros, a propagação das notícias faz-se a uma velocidade diferente.
Abraço, JV!Tenha um belo domingo!
Olá Francisco,
Como disse na resposta acima à JV, dou-lhe razão. Com as redes sociais, com os vídeos no YouTube, com a cobertura instantânea e galáctica que hoje se consegue, a Greta Thunberg teve a vida facilitada em relação ao Al Gore.
Mas há outras diferenças. Al Gore dirigia-se a um público adulto e informado. As suas apresentações eram feitas com base na racionalidade. Greta Thunberg dirige-se aos jovens e apela ao futuro a que tem direito. É objectiva e pragmática mas conseguiu estabelecer um vínculo emocional com os jovens de todo o mundo. E, quando os adultos viram o impacto que ela estava a conseguir, por medo ou porque aderiram mesmo, juntaram-me à causa.
Mas, enfim, o que interessa mesmo é que se leve o assunto a sério e se tracem objectivos sérios.
E por aqui também choveu. Muito bom. E ainda não me cheirou a Outono mas amanhã tentarei de novo ver se sinto o perfume que, nas primeiras chuvas, costuma levantar-se da terra.
Um abraço, Francisco. Um belo domingo!
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