terça-feira, setembro 10, 2019

Onde estará o meu amor?
[Há equações que ajudam a encontrar o par ideal?]






Ia falar no que fiz ao longo do dia mas tenho que me interromper: não fiz nada que valha a pena registar. Coisas simples num dia descansado. Também tinha em mente falar numas pessoas um bocado estranhas que estavam em mesas perto da nossa, ao almoço, quando saímos para fazer umas compras para uns arranjos. Mas também não vou falar. Pelo menos, hoje.

Também tinha pensado falar num livro e talvez transcrever um bocadinho. Comecei a ler a Menina a Caminho e gostei e até o fotografei não tanto por ele mas pela cadeira em que eu estava, ao sol brando e fresco da tarde. Mas também não vou falar hoje disso. 


Vou antes falar de casais e amores. Ou não isso mas qualquer coisa à volta disso. Tinha aqui as fotografias dos casais que fiz no Algarve enquanto, invisível, observava os casais que passeavam rente à água. Só fotografei os que eram casais a sério, de coração -- e é muito evidente quando o são. No entanto, creio que apenas casais de verdade (ou perto disso) passeiam na areia, rente à água. Casais que não são de verdade não se dão ao trabalho de andar de pés na areia ou na água, ao sol, conversando, partilhando o momento -- acharão que é desconfortável ou que têm mais que fazer.

Claro que também apenas mostro aqueles que consegui apanhar sem que os rostos sejam visíveis. E escolho, de entre os muitos que captei, aqueles cujo afecto perdura apesar dos anos que passam. E é com muita ternura que o faço. Gosto de ver amores fortes, verdadeiros, em que o afecto é a cola que une os interesses que convergem, o reforço das afinidades que são evidentes.


Já publico posts destes há algum tempo pois gosto de registar as afinidades que são notórias entre casais de facto: é a forma como se vestem (ou despem), é a forma como andam, é o que visivelmente os une. Há ali uma convergência que é notória. E é essa convergência que mantém as relações. Não há relações de verdade -- relações que tragam felicidade aos membros dos casais, que sejam sustentáveis -- se não houver afinidades de gostos. Se um gosta de ler e o outro não, se um gosta de passear e o outro não, se um gosta de praia e outro não, etc, etc, dificilmente a relação pode ser gratificante, pelo menos se um deles for abdicando do que gosta para tentar colar-se aos gostos do outro ou se, para fazer o que gosta, tiver que o fazer sem o outro. 


E vem isto também a propósito de um artigo do The Guardian que, só pelo título, me fez logo tocar todas as campainhas. All you need is maths? The man using equations to find love. 

Se gostam de matemática, equações ou algoritmos, vejam como um matemático que ainda não encontrou o amor da sua vida resolveu pôr o seu conhecimento ao serviço de um desígnio muito meritório. Foi programando as suas condições de eleição de modo a ir eliminando opções, restringindo possibilidades, reduzindo o vasto leque de potencias namoradas de modo a passar de um número infinito para um número comportável. 


E, até se chegar a um certo ponto, a coisa é fácil. Por exemplo, se fosse eu a fazer, poderia ser assim:
Sendo hetero, a população 'alvo' seriam homens e aí eliminava logo um pouco mais de metade da população. Depois, já agora, se era para um romance a sério, que fossem homens livres (que para trapalhadas mais vale estar sossegada). Depois, preferencialmente, os que vivem ou trabalham nas minhas redondezas (que para amores à distância não valia a pena tanto trabalho). Depois, poderia acrescentar que, a nível de idade, poderiam ser até vinte a tal anos anos mais novos que eu e ir até dois anos mais velhos. Depois, excluiria algumas ocupações que são incompatíveis comigo e até poderia definir algumas preferenciais (porque pessoas que se trabalham em certas áreas serão pessoas que naturalmente terão, à partida, mais afinidades comigo, e haver afinidade de interesses é vital). Depois, poderia ir refinando a escolha: a nível de altura, deveriam ser altos, seguramente bem mais altos que eu, talvez entre vinte a trinta centímetros mais. E note-se que tudo isto são dados objectivos. Poderia ainda juntar alguns condimentos: que tivessem alguns hobbies que acho interessantes. Mais: que lessem mais do que x livros por ano e que nem tocassem em livros do tipo x, y e z.  Mais: que fossem morenos.
Até aqui, tudo critérios objectivos, de caras para tratar matematicamente. E, ultrapassados os filtos destes critérios simples, já estaria com um número razoável, limitado, de possíveis 'candidatos' que me poderiam interessar.

Claro que, não sendo legalmente possível cruzar dados das bases de dados dos cartões de cidadão, do recenseamento, das diversas redes sociais, etc (que isso, aí, seria canja), se teria que passar para a obtenção directa destes dados através de um questionário disponibilizado por uma aplicação. Ai a base de partida nunca seria  'toda a gente' mas, apenas, os que se inscrevessem. De resto, penso que seja este o algoritmo do Tinder ou outras plataformas de acasalamento. 

Uma vez tendo posto de parte a grande maioria e obtido um leque restrito e razoável de candidatos, o passo seguinte teria que ser presencial. Entrevistas. Uma conversa tête a tête é fundamental. Não sei se é a isso que se chama a prova do algodão mas é seguramente a prova dos sentidos: a audição, a visão, o olfacto. Não falo em tacto e sabor porque, enfim, numa primeira entrevista não se pede tanto. O sexto sentido também é fundamental. A intuição deve ser levada muito em linha de conta. A primeira impressão é determinante. Se a primeira impressão não é grande coisa, então, é para esquecer.


Mas, então, no meu caso seria assim:
Homens que falassem pelos cotovelos e, pior, que falassem sobretudo deles próprios, seriam banidos de imediato, sem apelo nem agravo. Vermelho directo. São potenciais narcisistas. Distância. Depois os que pretendessem mostrar a sua sapiência e que revelassem muitas certezas: vermelho directo. São uns chatos de primeira. Não se aguentam. Depois os que não tivessem maneiras, que começassem a comer antes de mim, ou que não soubessem falar ou que falassem com presunção do que não sabem, dizendo disparates sem ponta por onde se pegue, ou que revelassem ser muito limitados, não conseguindo aguentar-se na conversa com um tema fora da sua zona de conforto: vermelho. Não é possível. Não se pode viver bem com alguém que nos cause vergonha alheia ou não consiga acompanhar-nos. Depois os que revelassem não ter sentido de humor, que não me desconcertassem com malícia inteligente ou com insólita e inesperada irreverência: vermelho. A vida é curta demais para ser desperdiçada para quem não alegra a nossa existência. Depois os que viessem a cheirar muito a perfume, ainda por cima a perfume vulgar: vermelho. Impossível estar com alguém que impõe o seu cheiro ou que nos corta a vontade de lhe tocar pois tememos que nos deixe a tresandar ao seu perfume, especialmente se vulgar. Detestável.

E, aí, presumo que, no fim, a lista de possíveis candidatos estaria restringida a uns dois ou três. 

Claro que, a partir de então, para a selecção final, a coisa fiaria mais fino. No meu caso, para começar, o eleito teria forçosamente que saber dizer alguns poemas by heart.
E o resto não digo aqui senão qualquer dia ainda me aparece algum jeitoso à porta a dizer, todo lampeiro, que passou por todos os crivos e que vem apresentar-se ao serviço. E isto não é assim, sou eu que escolho, ora essa. De resto, até ver, a escolha está feita.

[Claro que se algum dos que aqui aparece, incluindo as gaivotas, se reconhecer e não quiser cá estar, bastará que mo diga que eu logo retirarei a fotografia]

E a si que aí está desse lado desejo um dia feliz. 

E desejo também que tenha a sorte de ter ao seu lado aquele ou aquela que, de facto, faz a sua verdadeira felicidade. E se não tiver mas gostava de ter, então, não desista e siga mas é o conselho da mãe de Drake (citado no artigo acima referido) que on seeing his formula, she told him he was being ridiculous, and “to go out and meet people”. Nem mais.

8 comentários:

Gina disse...

Nunca tinha pensado nisso de os casais de longa data, e do coração, serem os que passeiam junto à água e os outros não, por terem mais que fazer. A sério que não havia reparado nisdo, e logo calhou de eu há para aí cinco dias que me mantenho ocupada dessa maneira. Eu e o Luís. E pois que sim, tenho essa sorte, a do amor.

Beijos

Belinha Fernandes disse...

É a primeira vez que visito este blogue mas adorei ver as fotos e ler o texto que entremeou!Só dois anos mais velhos? E 20 mais novos? Fiquei a pensar nisso. No meu caso, preferia ao contrário, bastante mais velhos do que eu, tão mais novos, às tantas não. Mas sou daquelas que não pensa muito na idade das pessoas. Também preferia pessoas de áreas diferentes da(s) minha(s). Má experiência: a maioria dos meus conhecidos eram todos muito aborrecidos. Por isso nunca tive nenhum relacionamento sério com advogados ou gente das leis. Será mesmo que foi por isso? O diálogo que conseguem estabelecer é realmente importante. E sou terrível com as maneiras à mesa...Cansei-me de homens altos: fazem-me dores no pescoço e desde que abandonei o uso de saltos então é que passei a preferir alguém apenas um pouco mais alto do que eu!!Também nunca me senti atraída por louros mas não colocaria essa condição. Estou consigo na intuição, no tal sexto sentido- comigo é decisivo em muita coisa!O sentido de humor é para mim importante por imensas razões - não vou elaborar nisso.Embora goste imenso de poesia e tenha até uma boa biblioteca de poetas, eu não sei poemas de cor. Contentar-me-ia se gostassem de ler poesia, é tão raro. Enfim, o seu texto até me fez pensar. Julgo que alguma afinidade tem de existir mas nem sempre como um espelho, ou seja, ele gostar de praia como eu gosto de praia.Pode gostar menos, mas aceitar que eu goste e até acompanhar-me um dia ou outro, deixar-me ir só ou com outras pessoas. Deve sobretudo respeitar o meu gosto de forma a que se possa encontrar um meio termo, algo que ainda possa servir os dois. Mas, olhe, não sou especialista no assunto pois os meus relacionamentos não são muito duráveis! Voltarei mais vezes ao seu blogue!

Um Jeito Manso disse...

Olá Gina,

Pois não é? A gente vai andando, pés enterrando-se na areia ou não, molhando os pés ou não, conversando ou não, mas vai andando ao lado um do outro, acompanhando-se, vivendo lado a lado. Isso é o que faz a coisa funcionar. Esse companheirismo, esse estarmos um para o outro, esteja sol, vento ou chuva.

Eu não passo sem.

E boas férias aí rodeada de branco e de outras coisas nesse seu segundo turno de férias.

Muitas felicidades, Gina. Para si e para o seu Luís. E para os os seus ricos filhos, claro está, que a gente parece que só sabe ser feliz quando os sente a todos também felizes, não é?

Beijinhos.

Um Jeito Manso disse...

Olá Belinha,

Ainda bem que não tem os mesmos gostos que eu, senão escondia já o meu marido... :)

Eu estava a exemplificar como a matemática, as equações, a programação podem ajudar a descartar 'candidatos'. Já escrevi uma (ou várias) 'receitas de homem' e os meus principais critérios não eram os que ontem enunciei e que escolhi por serem objectivos (sexo masculino, idade, altura, formação, ocupação, residência, local de trabalho)

http://umjeitomanso.blogspot.com/2012/01/nova-receita-de-homem-ou-aquilo-que-as.html

http://umjeitomanso.blogspot.com/2015/06/receita-de-homem-para-que-os-senhores.html

E tem razão e se calhar expliquei-me mal: não quero e acho que não funciona bem isso das almas gémeas. Nem pensar. Deve ser uma seca. Mas tem que haver afinidades, convergências, tem que haver um chão comum.

Se não há, não há intersecção, não há caminho para andar. Andar em linhas paralelas é aquilo que é sabido: as paralelas nunca se tocam.

E isso da poesia é cá uma coisa minha. Acho que um homem que sabe dizer um ou outro poema tem muito charme. Nada de pinga-amor, nada de coisas óbvias. Mas um poema inesperado é coisa que cai muito bem. Mas isso, lá está, é já o aspecto refinado para desempatar...

E quanto a isso da idade é coisa de agora, se calhar porque também já não sou uma menina. Quando era mais nova achava que homens mais velhos poderiam ter muita pinta. Agora já não me apeteceria que, daqui por algum tempo, eu para as curvas e, ao meu lado, um velho jarreta. Agora um homem mais novo, para me desafiar e para eu o desafiar a ele, a isso já acharia graça.

Isto se eu andasse à procura.

(Se o meu marido lê isto deve achar que cada vez estou pior. Os meus filhos, habituados que estão às sinceridades da mãe jã não ligam). Aliás são testemunhas de como, apesar de eu e o meu marido sermos tão diferentes nalgumas coisas, somos, na verdade inseparáveis. E já lá vão uns cem mil anos.

E agora sou eu que vou ver se descubro o seu blog.

Espero que vá gostando das maluqueiras que, por aqui, vou escrevendo. Não se admire porque, volta e meia, há coisa mesmo a sério, maluquice da grossa.

Abraço.

CCF disse...

Minha cara, estes algoritmos raramente resultam e a lista de critérios também, somos criaturas mais complexas e com inúmeros factores subjectivos que por vezes nem conseguimos explicitar. Mas tem piada, como exercício:)
~CC~

Um Jeito Manso disse...

Olá ~CC~

Dou-lhe razão. Por isso terminei o post referindo o que a mãe do autor de uma daquelas fórmula lhe disse que se deixasse de algoritmos e fosse mas é para a rua conviver com pessoas.

É que a questão é que os critérios de escolha muitas vezes (ou sempre?) não são sequenciais, são conjugados. E não são só esses, são muitos outros. Por exemplo: os temas de que fala, as palavras que emprega e a forma como olha enquanto fala, a tranquilidade do corpo e do rosto ou o desenho e o movimento das mãos, o sorriso inocente ou malicioso com que nos olha, a forma como anda, etc, etc, etc. Coisas assim que o nosso cérebro processa pelo conjunto. E eu que o diga que sou de amores à primeira vista. Que conjunto de factores o meu cérebro processou naqueles instantes? E que validações fez na primeira vez que falei com ele? Não sei inumerar. Certamente tudo aquilo de que falei e muitas mais. O certo é que, no meu caso, a fórmula foi mágica...

E também acho piada a estes exercícios, fazem-nos passar em revista alguns dos critérios que para nós são importantes.

Um dia feliz para si, ~CC~

Paulo Batista disse...

Não percebo lá muito do assunto, nem sequer a nível matemático, mas... aqui fica partilhado um link para alimentar corações "calculistas":

https://www.ted.com/talks/hannah_fry_the_mathematics_of_love?language=pt

Abraço!

Paulo Batista disse...

Ah! E mesmo não percebendo lá muito do assunto, parece-me que a fórmula Serge and Birkini é das mais certeiras: https://www.youtube.com/watch?v=k3Fa4lOQfbA