sexta-feira, setembro 06, 2019

Gabrielle. Chanel. E outros



Desde que me conheço que sou muito sensível a perfumes. Sempre os usei. Os cheiros produzem em mim um efeito que não sei descrever. Efeito abrangente, talvez. Uns trazem-me memórias, outros transportam-me para outros mundos. Não sou capaz de sair de casa sem me perfumar. Aliás, até sou. Mas só em férias ou ao fim de semana, e isto se não tenho nenhum programa social. Mas, nesses casos, compenso com cremes corporais com bom cheirinho. 

Durante muito tempo fui experimentando. Uma vez, conheci uma amiga da minha filha, uma miúda gira, moderna, muito alegre. Cheirava mesmo bem e tinha um toque de irreverência. Não descansei enquanto a minha filha não lhe perguntou o que era. Era o Light Blue que ainda mal se conhecia. Usei-o durante algum tempo. Outra vez conheci o One do Calvin Klein. Gostei. Era bom, leve, quase neutro, coisa para o dia a dia.

Até que descobri o Chance da Chanel. Usei-o quase em exclusivo durante anos. Pareceia-me indissociável da minha existência. Mas não sou dada a fidelidades gratuitas, especialmente quando a diversidade é tanta, tão boa, tão apelativa. Ia sarabandeando com outros, mas, obviamente, mantendo a base Chance.

Até que ousei o Nº 5. E aí foi o coup de foudre. Não há outro como o Nº 5. É verdadeiramente intemporal. E o aroma não se adultera ao longo do dia. Há muitos perfumes que, ao fim do dia, já viraram adocicados, outros vulgarizam-se com o contacto com a pele, com a transpiração natural. O Nº 5 não. Altera-se, sim, mas levemente e para melhor, torna-se mais íntimo, mais feminino, diria que mais sensual. Haverá peles onde o Nº 5 se adultere mas na minha não. Do que sei de perfumes, cada pele absorve e transforma o perfume de uma maneira muito própria. Em mim, o Nº 5 é assimilado de forma muito pessoal, muito minha, muito boa. Pelo menos, é assim que o sinto e, naturalmente, falando de sensações, tenho que falar das minhas que são as únicas que conheço na primeira pessoa.

Nos últimos anos, contudo, tenho-me aberto totalmente a novas experiências: há Hermès maravilhosos, há outros Chanel também bons (Nº 19, Allure, Cristalle, CoCo, por exemplo), há um de que gosto muito, Loewe, o que é bergamota, um aroma cítrico que se mantém perfeito ao longo do dia, fresco, elegante. Gosto. Ou o Daisy de Marc Jacobs que tem um toque a violeta. E outros. Experimento. Têm que ser florais, frescos, nada adocicados, nada quentes. Por exemplo, os Armani acabam sempre por se tornar um bocado intensos, intrusivos. Talvez a Acqua di Gioia seja a excepção, porque é, de facto, agradável.

Enquanto escrevo, seguindo o oportuno conselho do Paulo, estou a ver o documentário sobre o Nº 5. ouço que é abstracto. E é isso mesmo. Acho que nenhuma outra característica se lhe aplica tão bem: é abstracto. Aldeído, jasmim. Seja. Mil outras faíscas, também. Mas é a combinação elegante que faz a diferença.

Sou também muito sensível ao lado estético. Os frascos dos perfumes são fundamentais. É como a encadernação, a gramagem do papel, a paginação num livro. Uma coisa deve vestir bem a outra. O corpo certo para encadernar a alma. O frasco do Nº 5 é o certo. É lindo. Sóbrio, elegante, equilibrado.

Quando saíu o Gabrielle fui logo ver, cheia de curiosidade. A Casa Chanel é cheia de novidades, gente arejada das ideias, gente com bom gosto. Mas não me atraíu. É bom, claro. Todos os perfumes Chanel são bons. Mas parece-me um bocado incaracterístico, nada que me apeteça muito ter a cobrir as zonas do corpo onde gosto que me beijem (o que, caso não saibam, é o conselho de aplicação para o Nº 5). Falta-lhe carisma, falta-lhe lampejo, falta-lhe corpo, falta-lhe a inspiração que, quando envolvendo a transpiração, vira arte.

Saíu agora o novo vídeo publicitário e como todos os vídeos Chanel é um encanto. Refere-se ao lançamento do novo Gabrielle: Essence. Realização de Nick Knight, 'uma ode à luz e à liberdade',  com a graciosa Margot Robbie a encarnar a mulher Chanel, uma mulher que, segundo dizem, se caracteriza pela sua graça e carisma. Leio que o filme pretende corresponder à la fragrance aux notes de jasmin, de tubéreuse de Grasse, d’ylang-ylang des Comores et de fleur d’oranger de Tunisie. Um filme muito bonito.



------------------

E aproveito o post para aqui deixar uma fotografia de Diane Kruger feita pelo talentoso Peter Lindberg (falecido ontem) para a Chanel


E até já.

5 comentários:

Isabel Pires disse...

UJM, gosto de alguns aqui mencionados e já usei o nº. 5 durante algum tempo, por ser forte, intenso. Aprecio essas características num perfume, quer seja Verão ou Inverno.

Light Blue nem pensar.

Também uso perfume todos os dias.

Isabel disse...

Nunca saio de casa sem pôr um pouco de perfume, venha a casa as vezes que vier.
Também gosto muito do Nº5 da Chanel, do J'Adore e no Verão gosto dum do Boticário, o Acqua Fresca. Há muitos de que gosto, mas do que conheço, se tivesse que escolher, creio que escolhia estes três. Ultimamente descobri uns na farmácia que se identificam por números e dizem que cada número corresponde ao original. São baratinhos, e são mais ligeiros que os originais (claro!), mas eu gosto. E há um de que gosto para o Verão, é o número 8, que corresponde ao Eau de Rochas. Nunca comprei o verdadeiro, mas gosto deste da farmácia.

A minha irmã mais velha compra perfumes que cheiram maravilhosamente e às vezes experimento, mas em mim não cheiram igual. Temos gostos muito diferentes e também é a pele que não absorve da mesma maneira as fragrâncias.

Há tanto perfume bom, que uma pessoa entra numa perfumaria e baralha-se toda.

Beijinhos e bom domingo com a pequenada:))


Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel Pires,

Acho piada ao que diz pois, de facto, muitas pessoas falam do Nº5 como forte e intenso. Ou porque o uso de forma minimalista, um esguinchinho aqui, outro ali, ou porque a minha pele não absorve tudo ou não processa como deve, a verdade é que, em mim (ou a mim?) me parece fresco, leve, subtil.

O Light Blue, quando mal se conhecia, pareceu-me uma novidade, uma alegria. Depois banalizou-se. É daquelas coisas que volta e meia passa alguém e a gente pensa de imediato: Light Blue. Com os outros, há que pensar um bocadinho. O Light Blue é muito óbvio. E isso banaliza-o. Aliás, o que é óbvio facilmente se banaliza.

Fiquei foi muito curiosa sobre que outros perfumes usa. Requintada mas com alma subversiva -- como a imagino -- gostava de saber. É perguntar muito, se calhar. Ou responder uma data de dias depois, na volta, já nem vai ler o que escrevi. Bem feita para mim, nesse caso.

Abraço, Isabel.

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

No outro dia, numa farmácia, vi esses perfumes por números e, claro, fiquei logo com vontade de experimentar. Mas chegou a minha vez e já não deu. Mas fiquei curiosa.

Este ano, nos saldos, comprei o Eau de Rochas. Bom.

E fiquei com curiosidade nesse do Boticário.

Sou maluca por perfumes. Desde que não cheirem a baunilha, a adocicado ou a melaço (que, ao fim de algum tempo põem as pessoas a cheirar à mesma coisa ou a gente mal lavada, nem sei dizer) ou que não tenham aqueles cheiros intensos a madeira que, ao fim de umas horas, deixam as mulheres a cheirar a after save de antigamente ou a mofo, geralmente eu gosto. Cítricos, florais -- para mim é o que resulta melhor. Ou o aldeído... (no caso do Nº5).

Dias felizes para si, perfumada Chabeli!

Isabel disse...

Nunca comprei o Eau de Rochas verdadeiro, mas hei-de comprar. Já gosto imenso do "falso", imagino que o verdadeiro deve ser muito bom:))

Beijinhos e boa semana:))