sábado, setembro 14, 2019

As afinidades explícitas entre os casais.
No Minho tal como no Algarve.





Já no outro dia, depois de ter estado em Lagos e ao falar das afinidades entre os elementos dos casais felizes, que resistem ao tempo, mostrei um conjunto de casais que, caminhando à beira-mar, revelam como o seu andar e a sua atitude corporal involuntariamente traduzem a convergência que habita o seu afecto.

Agora, não a Sul mas o mais a Norte possível, volto a deixar registo daquilo que, ao longo de anos, venho constatando. 

Este é o mesmo casal da primeira fotografia. Aqui, aparentemente, o jovem preparava a cana com a ajuda dela.
Lá em cima, bem mais tarde, era ela que segurava a cana, ambos esperando um peixe ao entardecer

Nesse mesmo post uma Leitora dizia-me, num comentário, que achava não ser forçoso que os membros de um casal sejam almas gémeas, gostem das mesmas coisas. É um facto. Concordo. Almas gémeas num casal acho que só pode correr mal. Só um narcisista quereria ter uma relação com alguém igual a si já que, assim como assim, ficava dispensado do trabalho de se ver ao espelho. Mas uma coisa é uma alma gémea e outra, muito diferente, é existir o conjunto de afinidades básicas que constitui o chão comum do relacionamento. Claro que se um não gosta de praia ou de uma tarde na piscina, o outro pode ir sozinho. Ok, vai sozinho. Ou se um não gosta de picnics no campo e o outro gosta. Ok, vai sozinho. E, quem diz sozinho, diz com amigos (mas não com ele). Ou se um não gosta de ler e o outro gosta. Ok, lê. Mas falar sobre livros não é coisa que possa fazer com ele. E quem diz isso diz muitas outras coisas. E, associado a isso, haverá as conversas desconfortáveis em que um quer, o outro não, um gosta e o outro não -- e em que o clima entre ambos vai secando, esfriando. E o que acontece é que essas divergências, cada uma pouco grave quando vista de per se, se vão acumulando ao longo do tempo gerando uma pesada solidão e um cavado fosso entre os dois. E, portanto, é quase inevitável que o relacionamento não tenha pernas para andar. Não há frutos que daí possam nascer porque não há o chão comum mínimo. Até que, um dia, um dos dois vai inevitavelmente dizer: 'Se é para isto, então, mais vale cada um ir à sua vida -- e amigos como dantes, quartel general em abrantes. Adeusinho e bye-bye'


Em contrapartida, há os que andam lado a lado, partilham gostos, ajustam-se, há cedências mútuas, espontâneas, e olham na mesma direcção, trazem estabilidade emocional e alegria um ao outro, caminham na direcção de um futuro que não é baseado em ficção mas numa realidade prazerosa. 

A jovem aqui acima está grávida, linda e feliz, tal como é bonito e animado o seu companheiro. Até nas cores há coerência. Andando sintonizados, a bom passo, nitidamente com o futuro pela frente, ali iam na maior esperançosa alegria.

Tal como, frequentando já o futuro, o casal abaixo caminha lado a lado, ajudando-se mutuamente, preparados ambos para as mesmas circunstâncias, sempre um para o outro, parceiros de longa viagem.


O casal abaixo, ambos muito elegantes, caminha na direcção da Praia do Moledo que é contígua à de Caminha. 
Ah, a propósito. Respondo-lhe aqui, Lucilia: o lugar maravilhoso é Caminha. Espanha em frente. Banhada pelo rio cuja foz separa a praia de rio da praia de mar. Conhecíamos Moledo: ainda há muito pouco tempo lá tínhamos estado, uma vez mais. De Caminha guardávamos a ideia do que era a Vila há uns anos, coisa apagada, achávamos que nem valia a pena lá dar um salto. Pois bem. O que era nada tem a ver com o que é hoje. Alindou-se, deixou à vista os seus encantos que são múltiplos. Está outra, está um dos lugares mais lindos em que já estive. 
Atravessamos a rua, chegamos à foz, vamos por um passadiço, atravessamos as dunas, entramos na praia e vamos caminhando. Uma imensidão de costa. Praia quase deserta. Linda, linda, linda.

O percurso que o casal abaixo fez, estávamos também nós a fazer. Em Modelo já há mais gente que na praia de Caminha e há surf e kite surf. No entanto, este 'mais gente' é relativo porque, na verdade, como se vê, é pouca.


Dentro do pinhal, nas dunas, há um pequeno parque de campismo que não se vê, nem da estrada nem da praia.  Não sei se o casal aqui abaixo ia para lá. Mas, uma vez mais, iam coordenados, alinhados.
Nunca fui dada a campismo. Já contei aqui que fizemos uma única tentativa. Comprámos duas tendas, uma para os meus filhos, outra para nós. Fomos com amigos que faziam campismo com frequência, descobrindo sempre espaços naturais, com pouca gente, bem cuidados. Daquela vez quisemos fazer a vontade aos nossos filhos. 
Eram tendas redondas, acho que de bom tamanho. Acontece que, de noite, o meu marido não conseguia encontrar posição. Não cabia lá dentro. Não conseguia estar com as pernas encolhidas. Às tantas, abriu o fecho da portinhola e pôs-se com as pernas de fora. A noite toda a entrar dentro da tenda. Eu a tentar que ele parasse quieto mas qual quê, punha-se de lado, esticava as pernas, revirava-se. Mas eu própria não estava confortável. Incomodava-me especialmente a perspectiva de, se precisasse de ir à casa de banho, ter que ir pelo campo, às escuras. De madrugada, ele desistiu e foi para o carro, tentando dormir lá, e eu lá consegui descansar alguma coisa. Quando viemos de lá, convergimos: não era para nós. Até hoje.
Contudo, em bungallow ou cabana ou coisa do género, não vejo por que não. Seja como for, não sei se este casal ia para o cmpismo mas que iam bem coordenados iam.


Quando a maré está vazia, como é o caso da fotografia abaixo, há uma linha, a toda a volta, em que há um declive. Aliás, quando está cheia, também, só que não se vê.  Entrei na água, toda afoita, e tentei avançar mas senti que mais uns passos e mudava de piso, caía. Faz alguma impressão. Afunda. 

Há zonas sob vigilância mas, ainda assim, para quem, como eu, não está habituada a um mar assim, o banho fica-se pela entrada até meio corpo, andar dentro de água... e pouco mais. Na zona de rio é diferente, a água é tranquila, tudo na boa (e também com nadador-salvador).

Ao fazer a fotografia abaixo, eu ia a andar dentro de água e o casal, lá em cima, como que em linha de fuga. Gostei de ver. No fim, já eram um pontinho. Único.

Lá em cima seguia também o meu marido, que também fotografei, andando a bom ritmo enquanto eu ia curtindo a beleza envolvente.


E há a Ínsua de Caminha com a sua fortificação. Se fosse outro o piso, talvez as pessoas se abalançassem a ir a nado. Assim, o que vejo a ir para lá são barquinhos. E as pessoas saem, passeiam naquele lugarzinho no meio do mar. É muito bonito a qualquer hora do dia. 

O casal abaixo, de mão dada, conversando, também já dentro do futuro, um futuro que certamente foram construindo a dois, pareceu-me muito bonito, envolto pela luz doce de um entardecer quase outonal de tão sereno.


E termino com o jovem casal da fotografia abaixo. Eu estava sentada, no piso de cima do areal, a observá-los. Iam, lá em baixo, pela orla do mar, e riam, brincavam, depois simplesmente conversavam para, logo de seguida, ele lhe passar o braço pelos ombros, para depois o deixar deslizar até à cintura dela e ela fingir que fugia -- pareciam querer perseguir-se embora não se afastando. E riam e brincavam, na maior felicidade. É a ternura dos apaixonados. Claro que o abraço tinha que acontecer. Há momentos em que a imensidão do mar e o perfume da maresia tornam urgente o estreitamento entre corpos, os beijos e as palavras de amor.


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A todo o tempo dizemos que só é pena Caminha ser tão longe. De manhã, à tarde, ou mesmo, quando saímos a passear à noite pela beira do rio, dizemos que temos que voltar, pena é ser tão longe. Claro que em Portugal qualquer longe é um longe relativo. Mas, ainda assim, não é escapada que se possa dar numa de escapadinha, um fim de semana de ir e vir. Mas se, para quem mora a meio do País, Caminha é um bocado longe, já para quem mora in between é perto -- e o que vos digo é que é daqueles lugares que qualquer pessoa, podendo, deve conhecer. Um lugar de sonho.

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Tenho aqui tanta coisa para mostrar. As freirinhas, as capelinhas, as sereias, etc. Mas não sei se ainda consigo habilitar-me a começar novo post. 

Portanto, até já ou até amanhã, quiçá durante o dia.

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