sexta-feira, maio 03, 2019

O que escondem os pesadelos?
Não sei. Nem disso nem do Intagram.
Melhor que eu até o Sugriva, o inventor do Chimpstagram




Comecei a ler um artigo sobre o que dizem os nossos sonhos. O tema é velho e a maluquice em torno dele também. Aliás, nem era sobre sonhos mas, sim, em particular, sobre pesadelos. Mas tinha muita coisa e nada que me soasse a novidade, tudo muito déjà-vu. Claro que poderia seguir as pistas e ir aprofundar, nadar nas águas sábias da Nature ou da Science mas, a esta hora, estou capaz é de ir surfar os lençóis branquinhos da minha alegre caminha.

Portanto, fiquei-me com banalidades como, por exemplo, aquilo de que um pesadelo é um reprocessamento de um medo que temos, uma maneira que a cabeça arranja de tornar a realidade mais suportável. Coisas assim, um bocado óbvias, que não trazem grande luz ao escuro em que, de noite, navego.


O que eu queria ver era a explicaçãozinha bem dada -- e que eu gostasse de ler, ou seja, que me agradasse -- sobre o que é isto de passar a vida a sonhar com uma casa a que chego e que é enorme e na qual se passa de umas divisões para outras, e que tem mobílias que me deixam espantada e que dá para um jardim e que tem uma porta que dá para outra rua e que, na verdade, noutra rua, tem outra entrada, a outro nível, e que, entre-se por onde se entrar, a casa é imensa, parece que nunca dou com as mesmas divisões, e eu ando admiradíssima com o tamanho da casa, a pensar que funções dar a tanta sala e quarto e que destino dar a mobílias tão boas.
(Não sei explicar isto mas talvez tenha a ver com eu gostar tanto de casas, de as decorar, de lá estar, de me sentir bem em casa -- sei lá).

E há outro sonho: tenho horas para estar num sítio que é longe e para onde tenho que ir a conduzir só que não encontro o carro e ando de rua em rua e não o encontro, nem conheço bem aquela terra, nem faço já ideia de como era a rua onde o deixei. E o tempo passa e eu naquilo, já preocupada, à pressa, e, na verdade, a procurar à toa. Felizmente, nesta altura acordo, vou à casa de banho, bebo água e, quando me deito, já passou.
(Bem, na realidade, cenas deste género já passei por várias... e de cada vez apanho um susto...)

E outro que é parecido: estou numa cidade no estrangeiro, fui passear e fazer compras e tenho uma hora combinada para estar no hotel para, de seguida, ir para o aeroporto. E não dou com o hotel. Não me lembro do seu nome, não me lembro da rua, não faço ideia de se é para a esquerda, se é para a direita. E procuro na carteira e não encontro nada que me dê uma pista. E a aflição começa a tomar conta de mim. E penso que é capaz de ser para o outro lado e lá vou e, quando dou por mim, vou dar a lugares que desconheço completamente e tento voltar ao ponto de partida mas volto a enganar-me e já não tenho a mínima ideia de onde estou. Geralmente, nesta altura, acordo. Felizmente.

(Já vivi uma cena relativamente parecida em Londres, numa altura em que não havia telemóveis. Fui às compras sozinha e combinei ir pôr as coisas no hotel e, a seguir, ir ter com dois colegas a Westminster. E, quando saí do metro que me pareceu ser próximo e perguntei onde era, perguntaram-me se era a Abbey ou a Cathedral. E ia-me dando uma coisa pois apenas tínhamos combinado em Westminster. E o tempo estava mais do que contado pois eu tinha-me alargado nas compras, já era tarde para burro. E não tinha como contactá-los. Portanto, acredito que o susto que apanhei, com medo de não dar com eles, de fazer toda a gente perder o voo, deve ter deixado marcas.)

E um que volta e meia também tenho: vou a um congresso e passo por uma sala onde há um verdadeiro banquete e eu, vendo aquelas mesas, fico cheia de vontade de ir provar umas coisas. Mas ainda não são horas e, então, embora cheia de pena e de tentação, vou para onde decorre o congresso. Mas perco-me, aquilo é uma espécie de hotel labiríntico e, quando dou por mim, estou num salão onde há outro banquete, também cheio de petiscos, salmão arranjado de uma maneira que parece uma rosa, caviar de todas as cores, outras bolinhas coloridas e apetitosas, bolinhos nem se sabe de quê mas muito artísticos -- e eu não resisto e meto algumas coisas na boca, à socapa, na maior gula. 

Mas não está lá ninguém, ainda não são horas e, portanto, envergonhada, desando e parto em busca da sala do congresso. E as horas passam, daqui a nada acaba aquilo e eu não descubro onde é, só escadas e corredores e recantos vazios. E quando, finalmente, lá chego, vem toda a gente a sair e eu fico chateada porque não assisti a nada. E vou à casa de banho. E, quando saio, já não vejo ninguém, já foram todos. E eu vou ver se descubro para onde foram mas não consigo e volto a andar por corredores, elevadores, escadas. E quando, passado não sei quanto tempo e eu já deserta de fome, chego ao salão do banquete já desapareceu tudo, nem bolinhos, nem pastelinhos, nem petisquinhos -- só pratos vazios. E eu, infeliz, infeliz da vida,  cheia de fome.
(Isto presumo que aconteça nos dias em que, decidida a fazer dieta, vou para a cama com fome.)
E, para dizer a verdade também não sei se são pesadelos ou, simplesmente, sonhos malucos.

E antes sonhava muito que voava, sentia o ar na cara, sentia-me mesmo a voar e era tão bom que eu, em pleno sonho, tinha medo de acordar. Mas há algum tempo que não sonho isto -- e nem sei se é pesadelo ou uma maravilhosa rêverie.

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E, portanto, não encontrando eu explicação científica para nada disto e não tendo eu paciência para ir estudar coisa de gente séria (para além de que hoje estou mesmo cheia de sono), passo à frente e faço a agulha. 

Mas agora, neste tópico, vai ser na base da simples rapidinha (e eu a dar nos diminutivos). 

Como tenho apregoado aos sete ventos, não me arregimentei no Facebook, no Instagram, no Twitter, nem sequer no WhatsApp. 

Quem por aqui me acompanha sabe que o digo desde sempre, mesmo antes dos escândalos que, desgraçadamente, mostram que tenho razão: tudo aquilo me parece propício à devassa, mas a uma devassa descontrolada, desregulada, desprotegida, um monstro impossível de segurar (a menos que tudo aquilo seja fechado, tout court). 

Portanto, em termos dessas redes sociais, sou auto-infoexcluída. Tenho o blog mas isto, para mim, é um jornal numa parede, uns papéis que, com um prego, espeto numas árvores, palavras que solto na noite escura. Nada mais que isso. E no dia em que me aperceba que não é bem assim, adeusinho, bye bye por aqui me desbaldo. 

Mas se eu sou info, já o meu primo Sugriva é pro. Agarrou num smartphone com o Instagram e, na maior naturalidade, pôs-se por ali a navegar, na maior, scroll por ali abaixo, clic para ver algum vídeo em particular, limpinho. Todo lampeiro. 

Isto de os chimpanzés serem espertos e lidarem bem com informtáticas, com jogos, com puzzles e com ferramentas já era sabido. Mas ver o Sugriva com os seus dedinhos a fazer deslizar as imagens dá que pensar. Ah dá, dá. Dá muito. Mas, dado que o post vai longo e que já vou a meio do segundo sonho, fico-me pelas imagens.

Chimpstagram: video of ape browsing app goes viral – but what is going on?

The internet has been captivated by Sugriva and her use of Instagram, but some animal experts haven’t been so impressed.
Chimpanzees are known to use at least 22 types of tools in the wild but in captivity a less rudimentary device now appears to be within ape capabilities – Instagram.
Last week, a video showing a chimpanzee casually swiping through Instagram on a smartphone was posted on the photo-sharing application by Kody Antle, son of Mahamayavi Bhagavan “Doc” Antle, who is founder of Myrtle Beach Safari, a 50-acre wildlife reserve in South Carolina. (...)

1 comentário:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Interpretar sonhos sem conhecer minimamente detalhes da vida e da personalidade do sonhador é sempre um totoloto.
Os sonhos comunicam alguma coisa sobre o imenso mundo inconsciente, mas fenomenal pode ser o caráter antecipatório que podem ter, isso é que transcende as explicações racionais.

Uma bela 6f.