segunda-feira, abril 29, 2019

Este corpo





Isto para dizer que, tendo eu decidido firmemente fazer dieta, no outro dia, quando fomos lanchar, toda a gente a pedir tostas, sandes, torradas, e vou eu, sentindo-me tão doente, achei que deveria ser compensada com uma doce excepção e, vai daí, para mim pedi uma tarte de limão merengada e, para curar a doença e para fazer pendant com o boloum carioca de limão. O meu filho admirou-se: 'Mas não estavas a fazer dieta?'. Claro que estava.


Entretanto, depois de uns dias em cura de sono e a viver como que numa twilight zone, à vinda, o meu marido foi simpático e percebeu que eu estava carente de algo. Ou seja, perguntou: 'Queres ir comer um gelado?'. Respondi que, estando eu em rigorosa dieta, só ia abrir excepção por ele estar a insistir tanto. Ele ainda me tentou: 'Vê lá, se preferires, não vamos' mas eu não mordi o isco. Claro que fomos. Ou melhor, fui eu que ele não quis. Quando ia a entrar na gelataria pensei que ia ser só uma bola mas, quando pedi, o que me saíu foi: 'Cone de duas bolas'. Mas logo caí em mim. E, portanto, acrescentei: 'Cone sem açúcar' e, por caridade, abstive-me de me achar ridícula. 


Mas depois, enquanto me lambia com ele, ia pensando que, a partir de agora, é que ia ser. E vai. Macacos me mordam se não vai. Saladinhas, hidratos de carbono = bola, açúcar nem vê-lo, nem pintado, nem disfarçado de frutose.
Claro que isto do peso é uma quimera. Tenho colegas que fazem de tudo para engordar: comem papas, iogurtes gordos e açucarados, pão com marmelada e, para inveja global de todas as outras, mantêm-se elegantes de dar gosto. Mas elas não gostam: gostavam de ter chichinha, um pneuzinho que lhes enfeitasse o abdómen, umas maminhas mais salientes. A minha mãe, por exemplo, também pode comer de tudo que não muda de peso. Eu, desde que entrei na menopausa, é o contrário. Só de me apetecer um belo risotto já o meu cérebro interpreta que vêm aí calorias a mais e, por avanço, já começa a processá-las e a alojar gordurinhas a mais um pouco por todo o lado. E não que esteja muito gorda. Há quem ache que estou bem. Mas isto cada um compara-se com quem quer e eu comparo-me com o que era antes. Pode ser um disparate, pode ser que não se consiga nem faça sentido. Mas não quero saber. Tenho para mim que é uma questão de disciplina, de aritmética: não ingerir mais calorias do que as que consumo. E até atingir o ponto de equilíbrio, ingerir menos do que as que consumo. 

E estou a escrever isto e a pensar que não devo é estar boa da cabeça para, em noite de eleições em Espanha e com o galã do Vox, um cavaleiro vindo dos tempos de antanho, a marcar pontos, estar aqui nesta conversa da treta em vez de me dedicar a temas a sério. Por exemplo, talvez pudesse dizer que se calhar era oportuno perceber se há alguma consanguinidade entre o dito Abascal e o calinas do Melo (que parece que nunca fez ponta de coiso enquanto anda a fazer de conta que é deputado europeu e que agora quer ir a cavalinho na onda de populismo do outro) ou se aquilo é mesmo apenas afinidade ideológica. E também podia dizer que os senhores jornalistas deveriam perguntar à Madame Cristas da Coxa Grossa se perfilha a opinião do seu colaborador.


No entanto, agora que estou a sair da toca constipal em que, graças à ceterizina, estive hibernada, dormindo dias a fio, estou ainda desligada da realidade.
(Nem sei como consegui aparentar trabalhar durante a semana que passou. A sério: é um mistério.)
Ou seja, não consigo estar à altura dos temas pertinentes do mundo real nem sequer responder a mails nem a comentários -- e só de pensar que se avizinham mais uns dias normais de trabalho já me apetece voltar a hibernar. 


Portanto, voltando ao tema que aqui me traz: o das curvas.

Uma vez que os votantes, um pouco por todo o mundo, andam a dar mostras de estar fartos de políticos de faz de conta e, de carrinho, enfiam tudo no mesmo saco, e fartam-se também dos políticos de verdade, começam a vingar os palhaços, os comediantes, os apresentadores de reality shows, os parvalhões encartados. E eu, pensando nisso, e já que em Portugal somos mais comedidos, acho que poderíamos inovar e ter candidatos temáticos: os candidatos que são a favor da comida vegan, os candidatos que defendem o direito das mulheres a quererem casar com um agricultor, os candidatos que defendem o direito das pessoas a tatuarem-se de alto a baixo e... os que defendem o direito das mulheres a terem à sua disposição espelhos que emagreçam (ou que engordem -- conforme o caso).


E esta conversa toda porque.

Em França, o movimento The All Sizes Catwalk já aí está. E para provarem que não têm medo de nada e que vieram para ficar, desfilaram este domingo em Paris, no Trocadéro, bem em frentezinha da Torre Eiffel. Em lingerie. O que é bom é para se ver.

E quem não acreditar que faça o favor de conferir, que eu não estou aqui para enganar ninguém.

E desfilaram novas, velhas, magras, gordas, com celulite, sem celulite, mamalhudas ou nem por isso. Do 34 ao 52. Uma alegria de diversidade que assim é que é bonito.

[E fiquei a saber que, para que se saiba, o número mais comum em França é o 42. Boa.]

E, para terminar, un petit cadeau. 

Ou melhor, qual presente qual carapuça: um statement -- This Body


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E uma boa semana para todos a começar já por esta segunda-feira.

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4 comentários:

Isabel disse...

Ah!Ah!Ah! Isto das dietas é tramado! Eu não consigo, sou fraca. Para mim, emagrecer tem que ser na base do exercício, caminhadas...

Foi quase reconfortante ver este post, porque quase me senti a magrinha que era...ao pé destas gordinhas...há por ali uma ou duas parecidas comigo, mas faz de conta que não vi. Só vi as mais gordinhas!
Desejo-lhe as melhoras e força, muita força para continuar a dieta! 😊

Beijinhos:))

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

É muito mais interessante ler as suas aventuras dietéticas do que falar de fascistas pé-de-chinelo que andam muito contentes com os seus ídolos, mas em breve essas tais figuras bestiais passarão a bestas.

Continuação das melhoras e boas contas nas dietas.

Abraço.

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

O meu marido hoje, referindo-se ao post, riu-se e disse: 'Desforraste-te... gordas e mais gordas' e eu também me ri, como se tivesse escolhido as fotografias para me sentir magrinha. Mas não.

Acho mesmo que todas as mulheres, se se sentirem bem consigo próprias, estão bem. No meu caso eu é que, pela forma como gosto de me vestir, acho que devo perder uns três ou quatro quilos. Se calhar, se fossem uns cinco, ficaria melhor mas isso já acho que não vale a pena querer que o tempo volte para trás: não volta. Vestir 36, não ter uma ruga, não ter um cabelo branco... já era.

Mas maneirar nos hidratos, nos açúcares, nas gorduras e dar uma caminhada boa isso já me parece bem. Custa é praticar todos os dias mas, enfim, hei-de conseguir. Havemos de conseguir, Isabel!

Beijinhos.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Hoje já me sinto praticamente bem. A garganta ligeiramente seca e por vezes a ameaçar querer doer mas boto-lhe água para cima e fica bem. Gracias pelo seu cuidado e pela sua amabilidade.

E bora mas é a gente divertir-se, não é? Ando um bocado sem grande pachorra para temas secantes :)

Abraço e dias felizes.