terça-feira, abril 23, 2019

Como uma miúda com Sindrome de Asperger está a agitar o mundo



Devo dizer que não engraço especialmente com miúdos com conversas de adultos, muito espevitados, muito sabichões. Também não acho grande piada à mediatização de talentos infantis. Por isso, quando comecei a ouvir falar na pequena Greta, não me interessei muito.


Até olhar mais atentamente e perceber que não existe ali vedetismo, não existe pose, não existe narcisismo. Greta não se arranja de uma forma apelativa, não se esforça para ser uma influencer ao estilo fashionist youtuber, apesar de muito solicitada não faz vida de selfies e likes, não se mostra deslumbrada com o palco que lhe dão nem com a adesão por parte de jovens um pouco por toda a parte do mundo dito desenvolvido.

Ouço-a e não há ali cedências ao facilitismo, não desloca a sua preocupação nem um milímetro da sua causa para si própria. Ela preocupa-se genuinamente com o que os adultos estão a fazer ao planeta. É uma lutadora implacável.

Frágil, uma menina. E, no entanto, a força da sua convicção está a agitar consciências e a despertar o mundo para a urgência na conservação do planeta.

É, na actualidade, um dos líderes mais carismáticos do mundo. 

Peço que vejam o vídeo abaixo. Nele Greta diz, com desarmante naturalidade que convive com o síndrome de Asperger e que talvez seja por isso que se entrega de uma forma tão intensa à causa do clima e do ambiente em geral.
A síndrome de Asperger é uma perturbação do desenvolvimento que afeta as capacidades de comunicação e relacionamento.

As crianças com esta síndrome exibem dificuldades no relacionamento com terceiros e interessam-se de um modo intenso por matérias muito específicas.
Quantas vezes se encara o futuro das crianças com Asperger com ansiedade, como se fossem incapazes de socializar ou de virem a afirmar-se por si próprias. Basta pôr os olhos em Greta para se perceber que não é bem assim.

Mas, independentemente dessa sua condição, há que pensar no que Greta diz. Poluição de qualquer tipo, falta de cuidado com os rios, com a qualidade do ar, falta de atenção à sustentabilidade dos recursos --- de tudo isto se fez o desenvolvimento industrial e o crescimento económico de muitos países. E tudo isto ainda acontece em muitos países, nomeadamente nos maiores, sem qualquer consciência, sem qualquer cuidado pelas gerações vindouras.

Por isso, muito gostaria que os jovens de todo o mundo obrigassem os adultos a reflectir e a mudar as suas más práticas, Com carácter de urgência. Como se a casa estivesse a arder.

How a 16-Year-Old Is Leading a Global Climate Movement

For hundreds of thousands of young people around the world, Greta Thunberg is an icon. In August 2018, dismayed by adults’ lack of action on the global climate crisis, the teenager sat herself down in front of the Swedish Parliament, pledging to strike from school every Friday until Sweden aligned its policies with the Paris Agreement. Greta’s actions have earned her a Nobel Peace Prize nomination and speaking engagements at the World Economic Forum and COP24—but most importantly, they’ve encouraged students from all over the globe to stand up for Earth and their futures.


E agora vejam, por favor, o emotivo e potente discurso de Greta aos líderes da União Europeia

Greta Thunberg's emotional speech to EU leaders

A sometimes tearful Greta Thunberg criticised EU leaders in Strasbourg for not taking the threat posed by climate change seriously enough. The 16-year-old activist said: 'If our house was falling apart our leaders wouldn’t go on like we do today ... if our house was falling apart you wouldn’t hold three emergency Brexit summits and no emergency summit regarding the breakdown of the climate and the environment.'


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2 comentários:

Anónimo disse...

Um dos nossos filhos teve, aqui há uns anos, uma namorada com a síndrome de Asperger. Era uma rapariga normalíssima e que veio a ser uma profissional excelente. E uma lutadora nos seus empregos. Nunca notámos que fosse diferente das outras pessoas. Encantadora! E bonita. Um dia, separaram-se, visto cada um ir seguir vidas diferentes em países igualmente diferentes. Um dia, aqui há tempos, ela, já com a vida refeita, foi mãe, mas aquela relação acabou, aparentemente, devido a atitudes dele, o novo companheiro. Ele francês. A viverem em França. Pois, o safado veio a utilizar esse “argumento”, de que ela tinha essa síndrome, com vista a ficar com a criança, com pouco mais de 2 anos, tendo o tribunal francês aceitado, embora impondo-lhe algumas limitações. A rapariga, boa mãe, normalíssima, ficou quase destruída e recupera mal. Curiosamente, só veio a perceber ou a saber que era possuidora dessa síndrome nessa ocasião, durante a separação! Nunca notámos, antes, qualquer diferença nela. Actualmente, procuramos seguir a situação, à distância, com imensa pena dela e muito carinho. Isto para dizer que essa síndrome é algo menor, pelo menos no caso que conhecemos e que não traz alterações de maior na pessoa que a carrega. Na Net pode pesquisar-se no que consiste. Como temos médicos na família, a conclusão a que chegámos é de que só mesmo por maldade é que alguém alega isso para ficar com a guarda de um bebé e retirá-lo da mãe. E mal fica a Justiça francesa ao decidir como decidiu (embora – aparentemente – de forma provisória…?).
UJM, você tem actualmente um Leitor excelente, no Paulo Baptista. Li com interesse o que publicou.
Parto por aí…voltarei um dia destes, brevemente.
P.Rufino
(PS: esse “recurso” para salvar o menu pascal foi delicioso. Por cá, como a Páscoa coincidiu com o aniversário de um dos filhos, privilegiámos essa data e mandámos à fava a dita Páscoa. Um bom peixe, num restaurante à beira mar substitui o borrego tradicional (que, regado com um bom Cognac, mais azeite, salsa, banha de porco preto, etc e tal, fica um pitéu!).

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Uma prima do meu pai foi toda a vida tida por retardada. Ouvia as conversas, ria como se estivesse a acompanhar mas sem que percebessemos o que pensava. Nunca dizia nada. Passava a vida calada. Nós só a víamos no verão pois, de todos os primos do meu pai, ela e a irmã foram as únicas que ficaram. Aliás, uma tinha vivido fora e regressou para 'tomar conta' da irmã quando a mãe morreu. Ela trabalhava bem. A irmã dizia que ela era uma mulher de trabalho, que sabia tomar conta de uma casa. Mas como não falava nem reagia a nada, ninguém arriscava,

Já mulher de meia idade, teve cancro no peito. A minha mãe, volta e meia, ia vê-la ao IPO. E, para grande surpresa da minha mãe, ela conversava. Não conversava muito, mas conversava. Era inteligente e parecia normal, dizia a minha mãe que vinha de lá sempre com muita pena dela.

E a minha mãe concluíu que ela deveria era ser autista ou alguma variante do autismo.

Tomara que essa jovem não se veja afastada da criança. Há sofrimentos que ninguém merece, muito menos uma mãe.

Boas férias, P.Rufino!

PS: Tem razão, o Paulo Batista é uma pessoa especial. É culto, interessado e atento.