Poderia falar de como é bom, em dia luminoso, o calorzinho pré primaveril na bela cidade. E como são lindas, tão suaves, as cores que andam no ar. E como dá vontade de embarcar nos grandes navios deslizando no rio. Ou nos veleiros brancos e silenciosos. E como é bom que nos deixemos estar, embarcando neles apenas o nosso olhar.
Poderia falar de como, apesar da pressão turística, ainda há enormes prédios abandonados nas melhores avenidas. E como são tristes os prédios grandes abandonados. Poderiam transformar-se em residência de artistas, em casas para jovens, em residências universitárias, em residências assistidas para idosos de fracas e médias posses. Mas, se calhar, vão ser hotéis.
Ou poderia falar de como começam a aparecer, nas empresas, movimentos reivindicativos atípicos, orgânicos, com os quais as estruturas tradicionais não sabem bem como lidar. E do medo que causam. Sem rosto, sem contornos. Um medo difuso.
Poderia falar também da casa de Salazar que vi na TVI. Abandonada, as coisas do ditador, do atávico campónio que arrastou o país para o coitadismo, para o remediadismo, para as galinhas no quintal para mostrar como é bom ser poupadinho. Poderia falar de que de nada lhe serviram os pides a guardar a rua, a prender e torturar os outros. Poderia falar do relógio na parede, parado, para sempre parado, e dos livros a desfazerem-se. O ditador que caíu da cadeira e acabou sem saber que já não era nada. De nada lhe serviu tudo o que fez. Agora ninguém quer saber de lhe preservar a casa, as malditas memórias. Poderia dizer que ele deveria voltar por um instante para ver que ninguém lhe sente a falta e que todos lamentam os anos de desenvolvimento e abertura ao mundo que roubou ao país. Poderia dizer que os piores são sempre os apertadinhos, como apertadinho era o Salazar, bem governadinho pela zelosa D. Maria.
[Nota: Desagradável, contudo, a imitação da voz do ditador na leitura da carta e do poema; banaliza-o. E vultos nefastos não devem ser banalizados]
[Nota: Desagradável, contudo, a imitação da voz do ditador na leitura da carta e do poema; banaliza-o. E vultos nefastos não devem ser banalizados]
Ou poderia falar de Neto de Moura, mais um dos juízes que parece ter saído das cavernas. Poderia falar em como é perigoso estar a justiça nas mãos de parvos encartados. Poderia falar que é assustador pensar que há mulheres que são vítimas de estafermos destes. Ou poderia falar de como é assustador pensar que há mais juízes como este. Ou como estarão desprotegidas as mulheres que caiam nas malhas de justiceiros destes a quem, pelo que se vê, não há quem tenha poder para os mandar de volta para as cavernas.
Mas falta-me a verve na conta e medida requeridas. Vou antes pregar para outra freguesia ou, melhor, tirar a minha viola do saco e tocar música para algum incauto que por mim ainda se deixe embalar.
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E tenho dito. Abaixo há vestidos para despir e há um momento de química aplicada.
5 comentários:
Os prédios abandonados, que impressão me fazem, poderiam estar lindos e arranjadinhos e serem úteis.
Aqui nas Caldas os célebres silos da EPAC e da Ceres, ao fim de tantos anos, uma oportuna parceria com a ESADcr deu-lhes utilidade tendo sido recuperados para ateliers e atividades ligadas às artes.
Um abraço.
Olá Francisco,
Não sabia. Que boa ideia. tenho que ir um dia destes passear por lá. É uma bela cidade.
Abraço!
Poderia falar do aumento da Taxa de Mortalidade Infantil, das maiores fraudes efetuadas ao país, das famosas obras nas escolas, do famoso "Magalhães", dos concursos efetuados pelas camaras, do aumento da corrupção sempre que o Seu partido está no poder, no Serviço Nacional de Saúde, dos maçónicos do Seu partido e, já agora, porque não falar da Opus Dei….Enfim todos os outros é que são maus e corruptos e só desses é que vale a pena falar e escrever!!! Porque será?
Um admirador dos nossos tudologos.
Vitor Gaspar
Vítor Gaspar, olá.
Poderia explicar-lhe que aumentou a mortalidade porque a número de nascimentos também aumentou e que, portanto, a taxa não aumentou porque, justamente, a taxa é um rácio e há que olhar para o numerador e para o denominador. Poderia falar, sim, das obras nas escolas que melhoraram edifícios que foram reabilitados e que fizeram movimentar a economia local através de investimento público. Ou do magalhães, sim, um passo importante para trazer as tecnologias para o ensino. Quanto aos maçónicos e aos da opus dei isso não sei, não faço ideia. Fazem mal ao mundo? prejudicam alguém? há mais num partido do que noutro? não faço ideia. E, portanto, não poderia falar do que não conheço. Quer ser mais explícito?
E, já agora, se quer fazer-me feliz, diga-me que é o célebre Gaspar que se enganou do princípio ao fim enquanto esteve ministro de um governo sinistro, recheado de incompetentes que iam desgraçando o País, que venderam das mais importantes empresas do país a empresas estrangeiras, nomeadamente a empresas estatais chinesas, que correram com os jovens, que ameaçaram e intimidaram e empobreceram os portugueses. Make my day, vá lá...
Caro Vítor,
Que nem de propósito, vi nas estatísticas do UJM que há um post antigo que hoje está a ser visto por imensa gente. Quer dar uma vista de olhos?
http://umjeitomanso.blogspot.com/2014/09/blog-post.html
Consegue defender esses tempos nefastos? Make my day.
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