terça-feira, fevereiro 12, 2019

Conversa de gaja


Alexander McQueen - 1 990 euros


Vivendo eu num meio maioritariamente masculino e até em casa, agora, com uma família predominantemente masculina (e focando-me apenas no núcleo mais restrito: por exemplo, dos cinco pimentinhas, quatro são rapazes), a verdade é que, desde que me lembro, sempre me dei melhor com rapazes do que com raparigas.

Michael Kors, 1 390 euros
Os meus melhores amigos sempre foram do sexo masculino e se há momentos que me são desconfortáveis é quando há encontros de casais (por exemplo, em contexto profissional mas, na realidade, não só) e sentindo-me, espontaneamente, com mais vontade de me juntar ao grupo dos homens, não tenho outro remédio senão engrupar-me com as mulheres. Acontece que todas as que conheço -- e são muitas -- não fazem ideia do que eu faço (de onde depreendo que também não fazem bem ideia do que os maridos fazem) nem mostram qualquer interesse por isso. E ainda bem. Mas, mal se encontram, entabulam, de súbito, aquele tipo de conversa fluida, onde, en passant, se fala de tudo com aquela ligeireza em que, quando uma pessoa pensa que a coisa vai aprofundar, já se saltou para outra: de empregadas, das suas peripécias na escola (muitas são professoras), de saldos, de lojas fantásticas, de outras.

Não posso dizer que não gosto disso mas, durante muito tempo, cansa-me. Se for uma tarde inteira ou se for pela noite dentro, esgoto-me. 

Gucci, 3 500 euros
Estou agora a lembrar-me de um dia, não há muito tempo, passado em casa de um colega, uma casa muito bonita, com um largo alpendre--  onde almoçámos vagarosamente um belo peixe grelhado que foi a única coisa normal numa refeição onde fomos surpreendidos com uma série de imprevistos acepipes -- e com um grande relvado com árvores frondosas. A seguir ao almoço, já a tarde ia a meio, cada homem pegou num copo e numa cadeira e foram sentar-se em círculo, na relva, e ali ficaram conversando até a noite cair. Nessa altura, acharam estava uma noite boa demais para ser interrrompida. Dois foram comprar carne e carvão e mais bebidas e trataram de organizar um cheiroso barbecue. Saímos de lá às quinhentas e eu vinha exausta. Até que nos voltássemos a sentar todos à mesma mesa, eu estive no grupo das mulheres. Dá-se a coincidência de duas falarem ininterruptamente, divertidas, interessantes, mas umas verdadeiras gralhas, de uma outra ser meio aluada e ser capaz de estar uma tarde inteira a dizer coisas ao lado, de uma outra ser a atirar para o coquette e ser capaz de estar uma tarde inteira a encontrar oportunidades para se armar ao pingarelho e apenas uma outra ser mais ou menos como eu, mais contida. Nem sei quantas vezes tive vontade de pegar na cadeira e ir sentar-me no grupo dos homens.

Christian Dior, 2 500 euros
No entanto, não se pense que sou do tipo maria-rapaz. Não. Nunca fui, nunca serei. Tenho, de resto, algumas coisas tipicamente femininas, daquelas coisas mesmo de gajas. Por exemplo: carteiras. Gosto imenso de carteiras (ou malas, como queiram). Tenho algumas que são tão lindas que as tenho apenas por serem lindas, não porque tencione dar-lhes uso. Tenho até uma que está ali na estante, como se fosse um bibelot. Tenho outra em forma de borboleta, toda coberta de pedrinhas. Um dia que organize o meu closet a la Kondo, hei-de ter uma secção só para as minhas malinhas, saquinhos, envelopes, clutches. Tenho amarelinha, azulinha, rosa choque, rosa velho, beige e azul, preto, branco, cortiça, pele mesmo, restinhos de tecido, patchwork em veludo, veludo bordado. Lindonas a dar com cada coisa. Mas depois ando temporadas com a mesma porque ficam tão cheias de tanta coisa miúda e avulsa que o melhor é não mexer, não mudar, deixar estar.
Uma vez, o telemóvel estava a tocar dentro da minha carteira que estava afastada de mim. Entretanto, eu estava com uma chamada no fixo. Um colega perguntou se queria que eu o tirasse da carteira para mo dar mas outro, malandreco, desaconselhou-o, que ele não se arriscasse, que nunca se sabe o que poderia lá estar, que meter a mão dentro da mala de uma senhora era um risco. O prestimoso assustou-se e desistiu de querer ser simpático.
Chanel, preço sob consulta
Em tempos que já lá vão, as malinhas eram um balúrdio: eram de pele genuína, feitas à mão, peças de arte.

Agora a beleza proletarizou-se e há carteiras e sacolinhas elegantes, bonitíssimas, a bom preço. De perder a cabeça. Preciosidades e belezuras a preços demasiado tentadores.

Aqui meio a dormir, que estes meus dias não me dão grande folga, pus-me a ver as modas na Vogue. E fui dar com umas bem bonitinhas, outras meio amalucadas. Mas, caraças, que preços mais despudorados. Escolhi aqui umas quatro para verem a maluqueira de valores.

Mas aquela que me tirou do sério, não pela cor nem pelo modelo mas pela excepcional ideia -- uma sacola dupla que me resolveria os quotidianos problemas de falta de espaço e arrumação -- foi a Chanel. Um jeitaço.

E isto que nem de propósito. Eu a falar do meu lado feminino e ele aí. Vinha para falar no bunda velha que é o Santana Lopes, todo prosa, conversa mole e da treta, populismo oco, verbo fácil e inflado para disfarçar a vacuidade. E queria dizer que foi uma graça ver o Miguel Sousa Tavares na TVI a desmascarar a vazieza do bunda velha, a fazer-lhe perguntas concretas e a gozar o pratinho do outro a patinar em seco, o PSL a disfarçar o populismo oco com um tom comicieiro. Mas, aqui chegada, toda eu bem intencionada, desafinei, desviei-me, deixei que o espírito santanete descesse em mim. Deu-me para isto, para falar de valisettes.

E, acreditem, já estou é completamente a dormir, agarrada ao computador e aparentemente acordada mas, believe me, a dormir. Tenho que deixar que os olhos descansem.


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E como ando numa de Charlot, é com ele que me despeço. Não tem nada a ver com nada do que aqui antes se passou, nem com malinhas e maletas nem com santanas e santanetes. Mas quem disse que os posts têm que ser coerentes? (Eu não fui)



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A Glenn Close está pronta para entrar em cena: é só descerem um pouco mais.

5 comentários:

Anónimo disse...

a verdade é que, desde que me lembro, sempre me dei melhor com rapazes do que com raparigas.


Claro que sempre se dá melhor com rapazes.

As mulheres são umas jararacas.

Isabel disse...

As mulheres não são umas jararacas, as mulheres são iguais aos homens. Há muitas mulheres extraordinárias e eu felizmente conheço muitas. E são mulheres anónimas, com histórias e percursos de vida que só mulheres muito fortes seriam capazes de ter. Também há homens extraordinários. Mas também há homens que são umas bestas e mulheres que não prestam. Resumindo: não se pode generalizar!

Não sei se as conversas dos homens serão assim tão mais interessantes que as das mulheres...por acaso não concordo. E pela minha parte sou uma sortuda, porque tenho quase só amigas mulheres e divertimo-nos muito, a falar dos filhos, das casas, dos maridos, de livros, de cinema, de coisas triviais, da infância, do trabalho...há sempre muito assunto e muita risota. Com as minhas irmãs e cunhada é a mesma coisa. Não acho que as conversas de mulheres sejam menos interessantes. Mais uma vez, não se pode generalizar. Haverá grupos aborrecidos e grupos interessantes.

Beijinhos e continuação de boa semana:))

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Imagino a UJM no meio da dondoquice...
Quanto à faísca entre mulheres, dá-se quando se está aquém de mínimos de maturidade emocional e se sobrepõe a invejice, com os homens passa-se exatamente o mesmo, o que muda são as especificidades.

O Santanolas, não dá, é um "fail" completo, o MST a por-lhe a vacuidade a descoberto foi um petisco do melhor. O tipo se quer dar uma de "'tou com a pica toda" comece a bater-se nas festas de Psy-Trance, com um trajezinho todo hippie, que faz mais sucesso que na politica.

Um Jeito Manso disse...

A Todos,

Dado que me alonguei nos posts, já não consigo agradecer a cada um e com cada um trocar dois leros de conversa.

Sorry.

PS:

Anónimo/anónima: Não concordo, as mulheres não são sempre umas jararacas. Só algumas e só às vezes. Tome devida nota do que lhe digo, que será mais feliz se o perceber... :)

Isabel: Tem razão, não se pode generalizar e às vezes é bom. Mas muito tempo de seguida com várias é muito intenso, cansa-me um bocado.As conversas dos homens metem mais parvoíce pelo meio, cansam menos.

Francisco, há momentos em que, na volta, sou também uma dondoca. Tenho que assumir as minhas fails...

Abraço!

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Pois, eu sei, por isso é que a UJM é o máximo!

Um abraço caturra.