sábado, outubro 20, 2018

Não sei se vale a pena lerem




Nem ouso contar o meu dia. Direi apenas que madruguei e que cheguei a casa depois das onze da noite. Entre despir-me, lavar-me, arrumar algumas coisas e etc, passou uma meia hora. Cheguei, outra vez, aqui ao meu paradeiro já por volta da meia-noite.

Ao jantar, contei ao meu marido o que fiz durante o dia, em especial depois de almoço. Ficou escandalizado. Contei-lhe que, de tarde, vi as pessoas todas divertidas e que isso não é despiciente. Mas não percebe como fui capaz. E não foi pelas notícias, foi pelo que foi. Mas há coisas que não são racionais.
De facto, ao fim da manhã, recebi, por sms, uma notícia muito triste, muito, muito triste. Mas, para que ninguém soubesse e para que ninguém desconfiasse, não disse nada. Nem deixei transparecer nada. E, de tarde, diverti-me também. Estava a divertir-me e a pensar: como consigo eu divertir-me quando estou triste? Mas fechei a tristeza num canto e diverti-me. E, ao mesmo tempo, ia pensando: será que sou normal? Consigo, ao mesmo tempo, ser duas e isso, às vezes, parece-me coisa impossível, anormalidade.

Depois regressei tarde e, em cima, muito quilómetro de autoestrada. Parei numa estação de serviço para comprar água. Sentia-me desidratada.

Depois, face ao que vai ser o fim de semana, achei que o melhor era ir logo aos meus pais. Ao fim de tanto tempo, a minha mãe ainda se admira com esta minha vida, com eu andar de um lado para o outro, de andar por aí até tão tarde. Não gosta. Quando veio à porta despedir-se, disse que me enviaria uma sms a ver se eu tinha chegado bem a casa; e enviou. Se o meu pai desse por eu lá ter estado hoje (e deu, mas acho que de uma forma digamos que flutuante) e ainda conseguisse falar bem, haveria de ficar todo preocupado. Sempre detestou que eu conduzisse de noite, sozinha, e ainda pior se estivesse a chover. Agora mal consegue que se perceba o que diz e já mal percebe se é de dia ou de noite. 

E, no regresso, chuva, chuva. Uma coisa... parecia uma tromba de água. Tive que vir a pisar ovos, mal se via a estrada. E cheia de sede. E de sono. E cansada, quase exaurida. 

Até pensei: se calhar é hoje que não vou sequer abrir o blog. Mas abri. Há bocado, depois de jantar, quando já não era eu que estava a conduzir, vi os comentários. Animados, completos, interessantes. Pensei: vou ter que re-comentar ou, pelo menos, agradecer. Contudo, pelo caminho que isto vai, só a adormecer entre palavras, quase aposto que não consigo. Isto hoje está mesmo complicado. E amanhã, apesar de ser sábado, não vou poder pôr o sono em dia. Bolas para isto.


Se eu pudesse contar o que faço durante o dia em contexto profissional, hoje teria tanto para contar. E durante o almoço, a conversa interessante com a companhia do lado direito, pessoa que, imagine-se, também pinta. Aguarelas fantásticas. Quem poderia tal imaginar? Mostrou-me, no telemóvel, algumas que fotografou. Boas. E também gosta de pintar com as telas no chão, e em silêncio, e à noite. Curioso. E, espantosamente,  contou-me que gosta de dançar, danças latino-americanas, que, quando eu for à sua cidade, gostava de me convidar para a discoteca onde, ao sábado, vai dançar. Diz que é um lugar lindo, uma elegância ondulante, uma harmonia maravilhosa. Ao ouvir, pensei: deve ser bom de fotografar. Fiquei com vontade. A vida mostra-nos laços. Suspensos na surpresa dos instantes, lá está.

Agora fui dar uma espreitadela. Faz-me impressão um dia inteiro sem notícias, sem poder ver mails. Mas as notícias também nada acrescentam. As pequenas notícias não saem nos jornais e as grandes notícias, geralmente, só interessam às pequenas gentes.

Tirando os blogues, e quase que o que há de bom para ler está nos blogues, o que vi com piada foi notícia de um espectáculo. The great tamer, uma coreografia do grande Dimitris Papaioannou para Dance Umbrella. Pena não me ficar em caminho. Pena também não poder resolver ir lá no fim de semana. Dantes podia. Era bom e não me apercebia que era bom. Tempos despreocupados, esses.

Partilho convosco.

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Não levem a mal que não responda aos comentários nem aos mails (e hoje recebi um mail que me surpreendeu, pelo sítio de onde é escrito segundo me conta o seu autor; tão sensibilizada que fico e tão sem energia para lá ir agradecer). Já passa da uma e meia da manhã. Não que seja mais tarde que outros dias mas parece que acumulei canseira a mais e que agora fiquei esgotada. Já micro-adormeci várias vezes. E continuo cheia de sede. Acho que não comi nada salgado. Deve ter sido das actividades da tarde: desidratei-me. 

Vinha no carro a recordar as noites em que me sentava no cadeirão pequenino a fazer carpetes de Arraiolos. Tão bom. Mas como conseguir tempo para isso? Só se desistisse do blog e isso também me custa, gosto muito de escrever. 

Pronto. Vou dormir. Estou a andar em círculos com a conversa. Acho que já não estou a dizer coisa com coisa e o pior é que não consigo rever e arranjar a bagunça que para aqui deve estar.

A minha mãe deu-me dois vasinhos, um com umas flores brancas e outro com flores amarelas, os dois muito bonitos mas como não consigo energia para ir fotografá-los, despeço-me com uma fotografia com uma rosa encarnada. E aproveito para vos desejar um sábado em beleza.


[Pensando melhor. Não sei se esta é verdadeira. Gostava de ter aqui uma rosa a condizer com o vestido das dançantes lá de cima mas quero-a viva, viçosa, a palpitar de vitalidade. Se esta não for macia, viva e perfumada, não quero. Digam-me vocês: sentem-lhe o perfume? Dou-lhe uma trinca para experimentar a que sabe? Ou vou-me mas é deitar e deixo-vos em paz?]

6 comentários:

Janita disse...

É justamente isso que ando a pensar fazer, UJM...deixar de a ler.
É que já começo a ficar traumatizada!! Toda essa agitação na sua vida profissional, com viagens e bailaricos pelo meio, chega a casa morta de cansaço (?) e ainda tem capacidade para escrever estes roteiros que me deixam, sem fôlego?!
Ah, não! Isso não é coisa para uma pessoa só, começo a pensar que deve ter uma ou duas assistentes nesta cruzada blogueira.

Uma pessoa com uma voz que me sugere alguém de corpo franzino, frágil e sem muita resistência física, embora dona de uma vontade férrea - mais ou menos como a Mia Farrow - não aguentava este ritmo. Nem pensar! E quem vai ficando sem ânimo nem força, sou eu...

Anyway, um beijinho e bom fim-de-semana. :)

Um Jeito Manso disse...

Olá Janita,

Na volta sou prima do hiperactivo e noctívago Marcelo. Estou bem é em actividade e pela noite dentro.

E acha que tenho corpo franzino... Frio, frio como a água do rio. Frágil? Sem resistência física...? Frio, frio como a água do rio.

Ainda ontem me vi em fotografias e fiquei a pensar que tenho outra vez que pôr travão a fundo. Cá para mim já recuperei uns três ou quatro quilos dos seis que tinha perdido. Hoje não toquei em nada doce mas há bocado deu-me a fome e fui comer um dióspiro. O dito não devi apesar mais que uns cento e tal gramas, vá lá duzentos. Pois aposto que vai fazer-me engordar mais de um quilo.

E assistentes? Ah, isso sim: três clones. Uma atilada, uma maluca, uma dada à política, outra às poesias. Olha, afinal são quatro.

Mas hoje vou abrandar a ver se a Janita não se cansa. Está bem assim?

Abraço!

Janita disse...

Não pude deixar de vir parabenizá-la, cara UJM, pela subtil ironia - ou talvez não tão subtil que eu a não entenda - da resposta que me deu e, obviamente, mereci!

Claro que a continuarei a ler, pois se já antes de a ter na minha lista e de a comentar, já o fazia...

Claro também que nem sempre comentarei, pela minha incapacidade de lhe acompanhar o passo e porque nem sempre concordo com a sua opinião. E, diga a UJM o que disser, que não se importa de ser contestada, etc e tal, já vi que fica irritada, pois claro... Quem não ficaria?

Um abraço, bom resto deste dia de descanso.

Anónimo disse...

I wish a voice to sing all day
and night to me of love, and a dark tree,
an oak with spreading boughs, to still my sleep
with the green rustle of its leaves.
(Lermontov, 1841. Trad. Robert Chandler)

Abraço,
JV

Um Jeito Manso disse...

Olá Janita,

Na boa, a sério. Gosto de ser contestada no sentido em que me dá pica para ser respondona, para contestar, para dizer de minha justiça. Porque já deu para perceber que não sou mosquinha morta, não deu? É aquilo de quem não se sente não é filha de boa gente. Sabe quais os amigos que prefiro? Os que dão luta.

Por isso, pode mandar vir à vontade que até acho graça. Só espero é que, depois, não leve a mal que eu dê o troco. E sabe uma coisa? Quando a coisa me sai mais aguerrida geralmente, enquanto escrevo, estou a rir. Dá-me gozo picar mas é mesmo só na brincadeira, não por mal, não por estar zangada.

Abraço, Janita! E vai daqui um big smile.



Um Jeito Manso disse...

Fogo, JV, que lindo isso que escreveu. É mesmo isso, menina, é mesmo isso. Que lindas palavras.

Muito obrigada, JV.

E uma bela semana para si, JV! Have fun.