quinta-feira, setembro 13, 2018

Era uma vez um castelo que dizem amaldiçoado


A rainha, ao ser atirada escarpa abaixo, rogou a a maldição eterna que dizem que dura até aos dias de hoje:

Cercada de muita murta,
E terra de muita puta,
Não terás mulheres honradas,
nem cavalos regalados,
nem padres coroados

Já lá vão mais de mil e trezentos anos. À sua volta a paisagem é desoladora, tudo ardido. 


Ergue-se no topo e de lá a paisagem é estonteante. Mas, quando os amores são fortes, não há arvoredos, rios serpenteando por entre rochedos, não há azul das águas ou dos céus ou gritos dos grifos que aquietem os apelos do coração. 

Um rei mouro de pele tisnada e sangue quente desafiou o domínio de outro rei, escavou a rocha, abriu túneis sob o leito do rio, construíu labirintos onde dar largas à sua paixão. A rainha não conseguiu resistir a tanta bravura e tentação.

Ora os ciúmes nunca foram bons conselheiros. O rei despeitado rapidamente pôs fim a tanto amor. 

A tragédia acabou com a paixão proibida.


E a maldição ficou inscrita no lugar. O ano passado o fogo voltou a destruir o arvoredo e, se bem que já teime em despontar de novo, é ainda um castelo triste e solitário que se eleva acima das cinzas. Reza a lenda que, por onde o corpo rolou, nunca mais cresceu mato.


Lá em baixo o rio corre -- tranquilo e indiferente como são sempre as coisas e as pessoas muito belas.


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