No outro dia, antes de me ir sentar na sala com o portátil, calhou pôr um creme novo nas mãos, por sinal bem cheiroso, ultra hidratante e, por acaso, a modos que escorregadio. E, como agora que aconteceu já é fácil deduzir -- mas, no momento, nem me ocorreu -- o portátil escorregou-me das mãos. Eu estava de pé e, para o dito não se estatelar no chão, como sou de reflexos rápidos, atalhei a queda com o pé que, na hora, estava descalço. O computador aterrou de bico no peito do pé. A dor foi grande e pouco tempo depois um grande hematoma cresceu, arroxeou, inchou. Como nos dias que se seguiram a batatona ficava de fora do sapatinho de salto alto, tudo certo. Doía mas não estorvava. Só que, agora, o chinelinho lindo que tenho para a praia, que é de tira larga, roça no hematoma e já o esfolou. Portanto, tive que arranjar solução.
Ou seja, agora à noite, vi-me na contingência de entrar numa loja que me atrai que só visto, a Ale-Hop, para ver se lá me governava. E governei. Descobri -- e por 4€ -- as havaianas mais lindas que alguma vez suporia ter: às risquinhas preto e branco e, ao meio, um flamingo em pinkésimo. Quando as calço não se vê o flamingo, só as riscas em preto e branco. E a tirinha de enfiar no dedo é também em rosa pink refulgente. O máximo. A minha menininha mais linda vai ficar roída de inveja: por sapato, de qualquer espécie, é como eu: vidrada.
Estou mesmo contente com a minha aquisição. Agora não estou com paciência para ir fazer uma sessão fotográfica com os flamingos mas, amanhã, se não me esquecer, fotografo-os para vos mostrar.
Mas, para o texto não ficar desenfeitado, mostro um outro flamingo com uma flaminguette a cavalo.
Mas, para o texto não ficar desenfeitado, mostro um outro flamingo com uma flaminguette a cavalo.
Aproveitei o facto de ter sido forçada pelas circunstâncias a entrar naquela loja para trazer presentes para quase todos: uma caneta para cada menino-rapaz -- umas canetas de uns seres estranhos que, quando mexem os braços, acendem umas luzes encarnadas nos olhos. Para o bebé, uma rãzinha de corda para brincar na banheira. Para a minha mãe uma ventoinha portátil, em que basta carregar numa patilha para aquilo fazer fresquinho. Para a minha sweet girl já não foi lá, foi noutra loja, um chapelinho, tipo capeline (à escala, claro) de crochet, em rosa, beige, amarelinho, com umas fitinhas e umas florzinhas. Fiquei logo a pensar que, tivesse eu mais tempo livre e poderia dedicar-me a fazer chapéus assim, multicores, cheios de graça e, quiçá, alguma loucura.
Para além disso, também dancei. Naquele largo junto aos repuxinhos luminosos, estavam uns jovens tocando uma música boa, africana. Em volta, algumas mulheres começaram a dançar. Eu também. Musiquinha boa numa noite quente. Dancei, pois então, ia lá eu fazer-me rogada a um pezinho de dança...? Tentei que o meu marido dançasse comigo. Respondeu: 'Não exageres...' Pé de chumbo.
Depois perguntei-lhe como se chamava aquilo. Estava com a palavra debaixo da língua. Ele disse em tom de pergunta, gozando: 'Moamba...?' Ri-me e disse: 'Não. Cachupa'. Uns passos à frente, ele quase se lembrou: 'Mizomba...?'. Aí lembrei-me: 'Kizomba'.
Mais à frente, uma rapariga fazia um número que não consegui perceber o que era.
Logo a seguir um homem jovem, em tronco nu, estava estendido directamente sobre a calçada, no meio do largo. Tinha as mãos cruzadas sobre o peito. Junto a si, os seus sapatos. Tinha-se descalçado para dormir.
As pessoas passavam em volta e olhavam, mas seguiam. Parámos a tentar perceber que cena era aquela da rapariga que tinha em volta muita gente, certamente todos igualmente intrigados. Como aquilo não desenvolvia, seguimos. Reparámos, então, que um casal tinha levantado as costas do outro do chão e, com esforço, tentava mantê-lo sentado. O homem, estremunhadíssimo, mal conseguia abrir os olhos, enquanto os outros se esforçavam por acordá-lo. O meu marido disse: 'Coitado. Estava ele ali tão bem, a dormir tão sossegado, e vêm estes interromper-lhe o sono'
Logo a seguir um homem jovem, em tronco nu, estava estendido directamente sobre a calçada, no meio do largo. Tinha as mãos cruzadas sobre o peito. Junto a si, os seus sapatos. Tinha-se descalçado para dormir.
[Mostro-o em ponto pequeno e desfocado, por razões óbvias] |
As pessoas passavam em volta e olhavam, mas seguiam. Parámos a tentar perceber que cena era aquela da rapariga que tinha em volta muita gente, certamente todos igualmente intrigados. Como aquilo não desenvolvia, seguimos. Reparámos, então, que um casal tinha levantado as costas do outro do chão e, com esforço, tentava mantê-lo sentado. O homem, estremunhadíssimo, mal conseguia abrir os olhos, enquanto os outros se esforçavam por acordá-lo. O meu marido disse: 'Coitado. Estava ele ali tão bem, a dormir tão sossegado, e vêm estes interromper-lhe o sono'
De resto, jantámos um belo jantarinho que culminou com um salame de alfarroba que sabia também a aguardente de medronho. Bem bom. O restaurante, tal como todos os outros em volta, completamente cheio. Mas o peixinho impec como sempre ae o serviço igualmente bom. Portanto, so far so good.
Quando saímos e fomos dar uma voltinha, o senhor do acordeão tocava enquanto uma senhora dançava à sua frente. O sorriso do senhor era rasgado e a animação da senhora também. No fim da canção fizeram uma festa e o senhor, tendo-lhe perguntado de onde era ela e tendo-lhe ela respondido que british, disse, todo sedutor, wait. one special for you, wait. Todo ele resplandecia de felicidade. Ela esperou e ele tocou uma música romântica para ela. Pensei que ele iria tocar uma canção inglesa.Mas não: italiana. Ela fez um gesto de que estava a amar e, de novo, dançou só para ele.
Resumindo: tá-se bem. E agora vou ler um pouco porque aqui a alvorada é cedo. O meu marido não consegue ficar na cama quieto. Habituado a madrugar, é incapaz de acordar e ficar sossegado. Podia pôr-se a ler ou até, simplesmente, de olhos fechados ou, mesmo, de olhos abertos a olhar para o tecto. Mas não: levanta-se, toma banho, circula e, claro, acorda-me.
Já contei que o pequeno-almoço aqui é mesmo bom? Até tem papas de aveia, coisa que nunca tinha apanhado noutro hotel. E eu que gosto tanto de papas de aveia. O que vale são os quilómetros que faço durante o dia, senão ia daqui uma baleia.
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E, antes de me despedir, respondo, aqui mesmo, aos comentários:
- Descanso, sim, hoje até dormi a sesta. E não dou descanso, não senhora, à máquina fotográfica, não consigo, mesmo que quisesse, é mais forte que eu. Por isso, descanse vizinha Marieta, que aqui vou dando conta do que vou reportando.
- É como com o blog. Poder eu podia passar sem escrever, Bea,... mas não seria a mesma coisa. Habituei-me a isto, ir registando aqui o que vou vivendo, e parece que o dia não acaba se eu não vier aqui escrever estas insignificâncias.
- E sim, Chevy, as nossas crianças, que são presente e futuro, transportam a promessa de um mundo melhor. Tomara que assim seja, não é? E é avô? A sério? Fazia-o um adulto a modos que rebelde, muito longe disso de ser um avôzinho com netinhos... E também se baba todo com as gracinhas deles...? Conte-me tudo.
- E senhora JV, perdoe-me lá aquilo do El Greco, aquele pintador de gente mal encarada, um dia vou vê-lo com outros olhos para ver se também passo a engraçar com ele. E está a ler o mesmo livro? Boa. Les beaux esprits tralala-tralala. E olhe, já agora, deixe-me que lhe diga que não a fazia tão gira (vi no convite do LinkedIn). Faz-me lembrar uma prima minha quando era da sua idade. Toda bonitona, senhora dona JV!
Um dia feliz para todos.
Até mais logo.
4 comentários:
No post a que chamou 'A Sul', fiquei com a impressão que ia fazer um intervalo também no blogue, mas ainda bem que não, que eu gosto de vir cá vê-la.
Então boas férias!
Ah, UJM, achava-me uma mastodôncia, cabeça virada para os livros à falta de carinha laroca, hã? Era o que me faltava! :)
JV
Olá Srª Dona G. Geia,
Sabe lá, é mais forte do que eu. Aliás acho que sabe do que falo. O meu problema é que, mesmo aqui de férias, só arranjo maneira de pegar nisto às tantas da noite. E o pior é que aqui o meu marido protesta, manda-me apagar a luz. Em casa fico na sala e não incomodo. Portanto, por muito que me apeteça escrever ainda tenho maior difculdade do que em tempos normais.
Mas, enfim, lá vou arranjando um bocadinho.
Beijinhos1
Olá JV!
Não, nada disso, qual mastronça. Mas não sei... Culta, sábia, esperta como é, toda vivaça, toda despachada, sem papas na língua... sei lá... acho que a fazia mais arrapazada, menos cuidada. Nem sei. Fiquei mesmo surpreendida. Já viu o que é isto do preconceito? Como se uma mulher giraça e bem arranjada não pudesse ser tudo o que acima escrevi.
Mil sucessos, menina, é o que lhe desejo e antevejo. Depois de a ver ainda a acho mais temível. Uma mulher bonita e inteligente é uma mulher perigosa. Sabe disso, não sabe?
Um abração, JV!
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