domingo, maio 06, 2018

Condição de mãe




Conheço mulheres que quiseram ser mães e tentaram e tentaram e tentaram, lutando incansavelmente até serem forçadas a desistir. Conheço outras que gostavam muito de ter sido mães mas a vida foi passando sem que a oportunidade tivesse surgido. Também conheço algumas que nunca sentiram o apelo da maternidade. Nenhuma deixa, por isso, de ser mulher por inteiro.

E conheço as que foram mães depois de muito esforço, umas lutadoras, e outras que o foram sem esforço. E conheço algumas que muito trabalham e muito lutam para conseguirem dar uma vida boa aos seus filhos e outras que conseguem ser mães a tempo inteiro. E conheço mães a quem o infortúnio levou um filho, sofrendo na carne no espírito a dor mais triste e dilacerante de todas as dores. Todas mães de corpo e alma.

Todas nasceram de uma mãe. Umas têm uma relação próxima com a sua mãe, outras assim-assim e outras já não a têm consigo. Mas, para todas, a mãe será, sempre, uma presença.

Se falar apenas por mim, posso dizer que desde que me conheço que senti vontade de ser mãe e que, casada ainda quase menina e moça, logo que senti que a nossa vida estava estável, curso acabado e trabalho garantido, logo partimos para cumprir esse meu sonho (melhor: nosso sonho). Fui mãe aos vinte e poucos e apenas porque não tinha apoios familiares perto de nós e porque conciliar a vida profissional e familiar não era fácil nos ficámos pelos dois filhos. Outras tivessem sido as circunstâncias e vontade de ir aos quatro ou cinco ou mais não me teria faltado.

Sou muito, mas mesmo muito, chegada aos meus filhos, os meus muito queridos e amados filhos, e não há dia que passe que não sinta necessidade de ouvir a sua voz e semana que passe que não tenha vontade de estar com eles. Quando penso em mim, penso logo na minha condição de mãe. Ser mãe é uma parte muito funda e íntima de mim.

E sou também muito próxima da minha mãe. Sempre fui. Não sei se alguma vez a magoei. Creio que não mas, se o fiz, foi involuntariamente e, do mais fundo do meu coração, espero que logo mo tenha perdoado. Todos os dias falo com ela e, nestes últimos anos, duas vezes por dia. Preciso de saber que, quer ela quer o meu pai, estão bem. 

A minha maneira de ser não é muito parecida com a da minha mãe, excepto no sentido de humor, no sentido prático e no gosto pelo riso. Não sei se teria a coragem, a força e o sentido de abnegação que a minha mãe tem. Nem sei se chegarei à idade dela e, muito menos, se chegarei como ela aqui chegou: jovial, sempre sorridente, bem disposta, cheia de energia e planos. Tem oitenta e cinco anos e está muito longe de ser velha, quer de corpo, quer de alma.


Hoje, in heaven, apanhei um ramo de flores do campo e, ao fim do dia, fui lá a casa e levei-lho. Tem aquele perfume de que ela tanto gosta e imagino que lhe traga a memória dos seus tempos de meninice, quando corria pelos campos, loura e inocente, longe de saber os anos de dureza que um dia haveria de ter pela frente.

Não sou de festejar os Dias de. Parece-me coisa mais virada para estimular o comércio do que para incentivar afectos transviados. Mas o que posso acrescentar, a propósito deste domingo ter sido o Dia da Mãe, é que o que desejo a todos quantos por aqui me acompanham é que vivam em paz e harmonia com as mães, os filhos ou a sua memória.