sexta-feira, abril 20, 2018

Qual a verdadeira idade do meu cérebro...?
22
[Por isso, jovenzinha assim, imagine-se se ia perder tempo a dar troco a um eremícola que por aí anda armado ao pingarelho]


Ah, que boas notícias. 22 anos. A minha idade mental é vinte e dois anos. Arremato e não se fala mais nisso.

Com 22 anos estava eu casada há dois. Era bem esguiazinha, usava cabelo bem curtinho, quase rapadinho. Muita gente me dizia que eu parecia francesa. Às vezes usava umas blusinhas às risquinhas, muito navy. Ainda não tinham nascido os meus filhos. Era professora e estava a acabar o meu curso. Vivia a vida com leveza e alegria.

Passaram muitos anos mas, dentro de mim, ainda sou a mesma. O tempo não erodiu a minha capacidade de me encantar e a minha vontade de descobrir o tudo que não sei.

Isto a propósito de que, enquanto aqui estava com um olho no burro e outro no cigano (sem desprimor para os eremitas ou para os ciganos, claro), ou seja, a ver O outro lado do paraíso e, ao mesmo tempo, a cirandar pelos testes, fiz um outro: What Age Is Your Brain Really?

E o resultado foi:
Your brain age is 22! You're always up to learn new things and your brain runs at lighting speed!
Tenho esta coisa de achar que a idade não me faz mossa. Melhor: tal como não ando a pensar que tenho duas mãos, que tenho um umbigo, que tenho dentes e outras verdades incontornáveis que fazem parte da minha realidade, também não me ocorre pensar na idade que tenho.

Uma vez, anos atrás, um conhecido meu dizia com ar convicto: 'Se alguém com mais de quarenta disser que o corpo não começa a pesar-lhe, mente'. E eu fiquei um bocado aparvalhada. Não queria passar por mentirosa mas o corpo, até então, nunca me tinha maçado.

Depois disso, de facto, já me incomodou algumas vezes mas, na verdade, vendo em as coisas, so far so good

Mas isso a nível físico. Tanto esforço fiz a carregar pedras para fazer muros e murinhos, tanto colo dei a tanta criança, tantas longas caminhadas fiz que um joelho deu de si. Volta e meia doía-me. Num certo gelado inverno, em Paris, voltei a andar dias seguidos a pé. Com o frio, doeu-me o outro joelho. Quando falei nisso ao ortopedista, ele achou que o que me doía mais devia ser espreitado por dentro e que, já que se ia anestesiar, mais valia ver os dois. Fui na cantiga. O pós-operatório, com os dois joelhos furados, foi um castigo. Mais tarde, outros médicos, vendo os exames anteriores às artroscopias, disseram que eu não tinha nada que tivesse justificado as intervenções. Um médico que gostava de operar e eu, uma pata que embarca neste tipo de coisas sem pestanejar e que nem se lembrou de procurar outra opinião médica ou de pensar que mexer nos dois joelhos ao mesmo tempo era uma estupidez sem explicação. Mas mesmo essas coisas acho que a responsabilidade foi minha e não o corpo a dar de si.

E a nível mental não me sinto travada. Não me ocorre pensar que já não tenho idade para dizer isto ou fazer aquilo. Claro que não faço exactamente tudo o que fazia quando tinha vinte e dois anos. Mas isso mais a nível da roupa que visto. 

Por exemplo, lembro-me de um vestido preto sem mangas, de um tecido fininho, ligeiramente acima do joelhos. Ficava-me colado ao corpo. Tinha atrás um decote em bico que me ia até ao fundo das costas. Para não descair tinha em cima e a meio do decote uma tirinha do mesmo tecido. Claro que não podia usar soutien senão via-se a parte de trás. Usava o vestido, portanto, assim. Apenas com umas pequenas cuecas finas, sem costuras, para não se dar por elas. Por vezes punha um cinto largo em pele macia num carmim profundo e, para condizer, usava uns sapatos altos da mesma cor. E ia trabalhar assim, na maior. Nessa altura já tinha os meus filhos, lembro-me bem. 

Hoje, bem entendido, já não sou assim. Uso o cabelo mais comprido e já não me visto dessa maneira. Se calhasse ver aquele vestidinho à venda, sem dúvida que ainda teria vontade de o ter mas seria impedida pela noção de que já não tenho idade para me vestir assim. Há que ter a noção do ridículo. Mas tirando casos extremos deste género, não há cá impedimentos. Sempre a abrir.

E se escrevo isto agora não é por narcisismo, é mesmo só por falta de assunto. Depois de dias como os que tenho tido, a esta hora já não dá para conversa com maior alcance. Poderia tentar pôr-me a desmontar os raciocínios fajutas de seres curiosos que pululam pela blogosfera, nomeadamente de um certo moçoilo que há algum tempo enfiou um barrete que eu aqui deixado à disposição de quem o quisesse enfiar e, com ele enfiado até ao nariz, infantilmente se pôs a pedir que eu fizesse links para o seu blog mas, sinceramente, não tenho pachorra. Vita brevis. Se estivesse com pouco que fazer, já que ele quer festa ainda poderia dar-me para brincar com ele. Mas, assim, lamento, terá que ficar a brincar sozinho já que não tenho tempo para lhe atirar senão este simples ossinho. Agora uma confissão: gostava mesmo é que ele se esforçasse um bocadinho mais para merecer que eu lhe pusesse aqui um link para o seu eremitério. Assim, ainda não é desta.

Bem. Agora vou daqui a voar para a caminha.

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E daqui a nada é um novo dia 

-- e que venha o anjo da manhã


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