Só para dizer. Depois de uma jornada de trabalho rural e de um descanso sarapintado de leituras internéticas, chego a esta hora com a cabeça descansada e as mãos secas, a pele dando mostras de um trabalho que teria requerido luvas e eu, feita bicho selvagem, sempre com a pele em contacto com heras, silvas, tojo, ramagens cruzadas, espinhos, asperezas -- e serrote na mão, abrindo caminho a golpe de lâmina. Longe dos gabinetes higienizados e brancos, aqui estou olhando as mãos que escrevem, pensando no que tenho estado a ler.
Lamentos. Muitos lamentos. Sobretudo as mulheres. Falam de abandono, da tristeza como uma segunda pele, sente-se a solidão colada aos dedos. As palavras falam de mágoas, lamentam o amor que partiu deixando-as com o seu cheiro na memória, no ar que respiram.
Estive também a ler o post do Fernando Ribeiro sobre o frio. Poderia fazer minhas todas as suas palavras. Em tudo. Assim eu, também. E aquilo de pensar: não vou sentir frio. E deixar de sentir. No outro dia, cheguei a horas de caminhada. Um gelo. E eu despreparada. O meu marido: está frio, não dá para ires assim. Fui. Quis ir andar para a beira do rio. E ele: para o rio, não, não se deve aguentar, vais constipar-te. E se estava frio. Tanto. Mas pensei: não vou sentir. Não senti. Ou melhor. Senti que ele estava lá mas não deixei que me importunasse.
Não sei se isto meu é esse tal de mindfulness, coisa que está muito na moda mas que não sei o que é. Um dia deu-me a curiosidade, googlei e fiquei com a impressão que era isto de a gente se concentrar na coisa e se entregar por inteiro a ela. Mas eu não é bem isso, é mais o de não querer saber da coisa e me alhear dela. Não fiz nada para aprender isto. Se calhar é coisa a que se chega com meditação mas eu também não pratico. A única vez que fui, descansei de tal maneira que adormeci. Aliás, mal me deito descansada, adormeço logo. Já contei: na fisioterapia, mal me põem o calor húmido no ombro ou nas cervicais é logo. Por isso, não sei bem o que é isso de meditar nem se isso de mandar pastar aquilo que não quero sentir é coisa na base da meditação. Para mim é mais o 'não estou nem aí'. E pronto, já era. Artes mágicas de perlimpimpim. Butterflies all over e bola para a frente.
Mas isto para dizer que se as minhas palavras pudessem ser úteis para quem me lê num momento menos bom da sua vida, o que eu gostava é que tentassem relativizar a situação e seguir adiante. Imagino que, quando se esteja aflito de solidão e dor, não seja fácil encontrar a energia para mandar a pouca sorte e a tristeza irem dar uma grande volta. Mas há que tentar. E sair, passear, ir para o jardim, ir para a beira rio, ler, rir, não querer saber de censuras alheias, usar roupa alegre, ser irreverente. E acreditar que se consegue. Persistir. Querer ficar bem. Querer voltar a sentir expectativas boas e borboletas na barriga. Na barriga ou no peito? Agora não me lembro mas a ideia é esta: voltar a sentir esperança e alegria e vontade de descobrir mais momentos bons.
Uma coisa assim como esta do macaco que tanto fez que conseguiu levar a dele avante. Não desfazendo, uma lição de vida. E onde se vê um par de tigres veja-se solidão, tristeza, saudade demais, vontade de desistir. Reparem bem no que o macaco faz para espantar o que lhe é indesejado. Ora vejam.
Mas isto para dizer que se as minhas palavras pudessem ser úteis para quem me lê num momento menos bom da sua vida, o que eu gostava é que tentassem relativizar a situação e seguir adiante. Imagino que, quando se esteja aflito de solidão e dor, não seja fácil encontrar a energia para mandar a pouca sorte e a tristeza irem dar uma grande volta. Mas há que tentar. E sair, passear, ir para o jardim, ir para a beira rio, ler, rir, não querer saber de censuras alheias, usar roupa alegre, ser irreverente. E acreditar que se consegue. Persistir. Querer ficar bem. Querer voltar a sentir expectativas boas e borboletas na barriga. Na barriga ou no peito? Agora não me lembro mas a ideia é esta: voltar a sentir esperança e alegria e vontade de descobrir mais momentos bons.
Uma coisa assim como esta do macaco que tanto fez que conseguiu levar a dele avante. Não desfazendo, uma lição de vida. E onde se vê um par de tigres veja-se solidão, tristeza, saudade demais, vontade de desistir. Reparem bem no que o macaco faz para espantar o que lhe é indesejado. Ora vejam.
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As fotografias que aqui usei são de Tim Walker
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