sexta-feira, agosto 11, 2017

Vários cisnes e nenhum o é


Passo pelos cartazes autárquicos e interrogo-me sobre a eficácia dos meios usados nas campanhas eleitorais.

Por exemplo, vejo a Cristas da Coxa Grossa em grandes cartazes mas em todos eles não é ela, a conhecida peixeira das arruaças e dos papéis coloridos com bonecos levados à Assembleia para ilustrarem ideias imaturas; quem ali está é uma figura em versão Nossa Senhora da Assunção, toda ela photoshopada, uma verdadeira santinha, sem rugas, expressão beatificada. 


Depois é a Teresa Leal ao Coelho com dizeres fúteis, infantins, certamente inventados por marketeers saídos da escola. 


E fico a pensar que esta gente acha que pode ser o que lhe dá na bolha mesmo que não tenha vocação ou preparação para issoou mesmo que ninguém as queira para tal. Retoques nas fotografias e slogans a la minute e aí estão elas e eles, geralmente gente do aparelho, sorrisos plastificados em caras pespegadas em cartazes de beira de estrada.

Depois, em cima disto, há as guerras figadais entre candidaturas: gente que parece odiar-se como se isto fosse uma guerra de seitas e não uma coisa limpa entre gente que, com nobreza de carácter, quer servir as populações. 

Não sei qual a utilidade de cartazes, não sei qual a utilidade das tretas das campanhas nem sei se tudo isto das lutas autárquicas não devia ser limpo à mangueirada. 

Claro que há executivos de grande competência e claro que há gente que está ali para pugnar pela sua terra. Não é isso. Aquilo de que falo é do clima tribal, é da falta de senso na forma como encaram as campanhas eleitorais, é do espírito caciquista que parece estar frequentemente presente nas gentes por esse país fora, como se um lugar numa Junta de Freguesia fosse caso de vida ou de morte, é do vale tudo para fazer uma lista e para tentar tornar credíveis candidaturas que não valem um caracol.

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Olha, a propósito: tantos patinhos.

Ah, não, não são patinhos, são cisnes.

Ah não, espera lá, cisnes não devem ser porque têm pescoço curto... Serão patos marrecos?

(Olha, e um pombinho...)

de Jeff J Mitchell em Edinburgh, UK, in the Guardian
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Olha, aqui abaixo quatro patinhos saltitões. Tão lindos. Tão fofinhos.

Ah, não. Espera lá... São quatro meninas disfarçadas de cisnes.

Ups... Não... São quatro calmeirões disfarçados de bailarinas.

[Les Ballets Trockadero de Monte Carlo no Lago dos Cisnes]

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Olha, os patinhos agora transformaram-se em príncipes. 
Ah não, espera... transformaram-se foi em sapos... 
E olha como eles dançam bem... Ah não, também não são sapinhos, são homens.
Caraças.

(Mas nada é o que parece, caraças...?)

[Guangzhou Military Performance Group - Os cisnes transformam-se em sapos]¨

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Olha... outro cisninho...!

Mas este é um cisninho-gordinho. E tem uma franja loura. Que lindo.

Não... espera... não... não é um cisninho. Nem sequer um patinho...

É uma galinha. É a galinha Donald.

E aterrou ao pé da Casa Branca...
(E logo agora que o pato Trump está a trabalhar no campo de golfe e, para se desenfastiar, a ver se arranja um sarilho nuclear).


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Eu e as pessoas que conheço, sem excepção, sabemos em quem vamos votar desde sempre. Para quê estas campanhas, feitas nestes moldes? Alguém me diz...? E aquelas duas, as pafiasas Cristas e Leal ao Coelho, estão nisto para quê? Para ver se conseguem um lugar de vereadoras? Para salvar a honra do convento e terem candidato? Senão é para quê? Para irem armar peixeirada para a Câmara?

Haja paciência.

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E assim estou, como aqui me vêem, cheia de dúvidas existenciais. Assuntos profundos que me tiram do sério, é o que é.

Portanto, permitam que me mantenha no mesmo registo e termine com alguém que, bem mais do que eu -- oh, bem mais -- sabe tecer reflexões verdadeiramente filosóficas.

E é, até, caso para dizer: ena, Jorge, tanto patinho...!

(Ah, não, perdão, também não é bem isso, é mais: Ena, Jorge, tanto patinho...!)


[João César Monteiro em Vai e Vem -- Diálogo entre pai e filho]

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma feliz sexta-feira.

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