segunda-feira, julho 10, 2017

Uma mulher difícil





Não quero saber de ti. Não mesmo. Não te compreendo. Não sei o que queres. Talvez queiras amor de verdade. Talvez saibas soletrar o amor em todas as línguas, talvez saibas o seu significado na perspectiva histórica, na filosófica, na física, na química, talvez não queiras saber nada sobre a psicológica mas na literária também hás-de saber, talvez queiras que eu invente uma forma diferente de entender o amor para se ajustar a ti, talvez me queiras à medida dos teus sonhos, das tuas ninfas, das tuas heroínas, das tuas deusas, talvez queiras que eu te receba em amor venhas tu como vieres, faminto, inquieto, sofredor, fora de ti, carente, rendido, talvez queiras que eu te acolha nos meus braços, no meu colo, no meu coração, no meu ventre, talvez queiras que eu derrame lágrimas agradecidas por te ter a meus pés, talvez me queiras no teu colo, docemente encostada na curva do teu ombro, deitada sobre o teu peito que achas que foi feito para me acolher, talvez queiras sentir a minha ternura que é tão palpável, talvez me queiras guerreira, pronta para mil guerras e nenhuma contigo, talvez me queiras sem palavras, sem queixas, sem revoltas, talvez me queiras para sempre, para todos os dias, ou só para quando estiveres afim, talvez queiras tomar as minhas mãos e beijá-las, talvez queiras saber dos meus segredos, ouvir todas as palavras que guardei para ti, talvez queiras mergulhar no líquido que alaga o meu olhar quando penso em ti, talvez queiras cheirar o meu cabelo, a minha nuca, o que se esconde por dentro da blusa que gostas de espreitar, talvez queiras que a aragem levante a minha saia e que eu deixe estar para que, malicioso, espreites a ver o que descobres, talvez queiras que eu ouça as tuas preces, talvez queiras que eu escute os teus lamentos, talvez queiras que eu passe as minhas mãos pelos teus braços, que eu intercale os meus dedos nos teus, talvez queiras que eu pouse os meus lábios nas tuas pálpebras que pedirei que feches, depois que sussurre indecências ao teu ouvido até sentir que um arrepio percorre todo o teu corpo, e que desça até à nuca, que passe a língua, que morda ao de leve, que procure os teus lábios, a tua língua, que me abrace a ti, que deixe que me abraces, com força, e diga não com tanta força, não, não queiras entrar em mim pelo corpo todo, talvez queiras que eu te queira imoderado, insolente, que eu te aceite assim, em amor, com amor, talvez queiras que eu cave um abismo para nele me deixar tombar contigo, que ateie uma fogueira para nela ardermos em paixão, talvez queiras que eu me deixe levar por ti por labirintos infinitos, que, por ti, entre em jardins proibidos ou em atraentes grutas onde poderemos ser só nós no mundo, que suba todas as montanhas até que o ar se rarefaça para poder gritar o teu nome, que desça ao fundo de todos os mares para deles trazer o tesouro mais precioso para te provar que o meu amor é louco e sem limites, que me perca a procurar por ti em desconhecidas cidades, que me deixe ir a voar por sobre os mares só para poder chorar sem que ninguém o veja, talvez queiras que eu me deixe envolver em silêncio para que possas ouvir como o meu coração chama por ti, talvez queiras que eu me entregue sem condições, talvez queiras ter-me na tua cama, de noite, de manhã, todos os dias da tua vida. Talvez. Que sei eu...?


Mas não me terás. Estou aqui apenas para me divertir. Dirás, talvez, que adivinhas em mim alguma tristeza. Hesitarás. Acrescentarás, talvez, saudade. Dir-me-ás: não digas que não sentes saudade e tristeza, não digas. Dirás. E eu rir-me-ei. Balançarei o corpo, dançarei, sorrirei. Tentar-te-ei. E não saberás nunca o que guardo só para mim. Saberás só que estou aqui apenas para me divertir.




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Texto inspirado por este vídeo já aqui acima, Woman of Constant Sorrow, na interpretação de Rhiannon Giddens -- vídeo que o YouTube fez o favor de me sugerir depois de eu ter ouvido o Wayfaring Stranger, lá em cima, fazendo-me, então, desviar dos bons caminhos pelos quais me preparava para seguir, já que o Stranger ia inspirar-me um texto diametralmente oposto ao que acabou por sair, a pingar santidade, em vez deste que transpira nem sei o quê.

As fotografias foram feitas este domingo in heaven

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Caso estas rêveries não sejam bem a vossa praia, permito-me recomendar a sensaboria dos bilhetes da Galp e a saída dos Secretários de Estado e outras pepineiras do género, como corrupção a sério e coisas assim. Gostos não se discutem, ora essa.

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