Ouvir (ou ler) gente inteligente é um bálsamo. Desde pequena que gosto de ouvir falar aqueles com quem aprendo ou que me deixam a pensar. Muitas vezes são uns trastes -- não digo que não. Acontece dizerem pessimamente de alguém e eu ter desvalorizado completamente a maneira de ser, apenas porque me deixo enlevar pela inteligência ou pela elegância na expressão.
Trabalhei com uma pessoa que era de uma inteligência rara que o levava, por exemplo, a tentar não evidenciar a sua vasta cultura e era de um sentido de humor que me maravilhavam. Ele também simpatizava comigo e, portanto, quase todos os dias me procurava para conversarmos. Tornei-me sua confidente e o que ele me contava e a confiança incondicional que depositava em mim deixavam-me estupefacta. Nunca consegui retribuir da mesma forma porque nunca consegui confiar assim em ninguém. Eu sabia coisas que podiam liquidá-lo profissionalmente ou que, se fossem conhecidas, lhe causariam danos irreparáveis na reputação. E, no entanto, eu não as divulgava nem, sequer, deixava de o admirar. Aprendi imenso com ele a todos os níveis. Foi das pessoas que, até hoje, mais me influenciou e a quem mais admirei. Mesmo quando era um sacana maquiavélico e me contava o que fazia ou tencionava fazer e mesmo quando eu discordava dele, eu o admirava. Havia uma elegância extraordinária em todos os seus gestos, mesmo quando sacrificava sem piedade aqueles que tinham ousado fazer-lhe frente de forma desleal. No entanto, quem ouça falar sobre ele aqueles que com ele conviveram ao mesmo tempo que eu ficarão surpreendidos. Dirão dele cobras e lagartos. Parecerá que estamos a falar de pessoas diferentes.
E não é caso único: em geral tendo a desculpar a parvoíce, a arrogância, o desconchavo a alguém a quem reconheça inteligência, uma faculdade invulgar de expressão, graça na forma exprime opiniões.
Claro que se pisarem o risco da elegância, revelarem alguma falha grave de carácter ou provarem que são desagradáveis para quem nunca lhes fez mal, aí a cruz em cima será inapelável.
Mas resumindo: ouvir falar uma pessoa inteligente é uma bênção. Se, além disso, mostrar ter um coração generoso, uma fluência elegante e um sentido de humor bem doseado, então terá em mim uma devota.
Neil de Grasse Tyson é uma dessas pessoas. E, no entanto, mal o conheço. Conheci-o num programa do Stephen Colbert e, desde aí, volta e meia, ponho-me a ver vídeos com ele. Há nele uma linha de raciocínio na qual me revejo. Não gostando eu de gente que fala de cátedra ou que rodeia as ideias com celofane filosófico, natural é que aprecie o desenrolar bem estruturado das suas ideias. Não encontro estes vídeos legendados em português. Contudo, ele tem uma boa dicção e fala devagar. Acho que se percebe bem.
Aqui abaixo responde à questão:
é ateu ou agnóstico?
[E as respostas que ele dá são as que eu daria: agnóstica e, se faz favor, sem grandes explicações. Não há paciência para grandes divagações sobre o tema]
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O que acontece depois da vida? Ou melhor, depois da morte?
Há vida depois da vida?
Neil deGrasse Tyson contrapõe: e antes da vida? havia vida antes da vida?
E tem graça que, sobre a cremação, penso exactamente como ele, embora seja tema em que raramente pense e, quando o faço, é coisa tipo vol d'oiseau (ou seja, sem pormenores, já agora)
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Os desenhos que intercalei no texto são da autoria de Patrick Antounian que tem apenas 18 anos e é auto-didacta.
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