sábado, julho 22, 2017

Nada de mais





No carro, à noite, dormi. Aqui chegada, enquanto tentava perceber quais as novas, adormeci de novo. Sei que é verão mas, apesar de ver uns a partir e outros já a chegar, bronzeados, e eu estar a precisar tanto de férias e descanso, por uma qualquer convergência astral que os horóscopos têm vindo a revelar com a devida antecedência, o trabalho tomba-me em cima. Também por uma qualquer curiosa coincidência, é o tipo de trabalho de que gosto. Para onde me vire, mais trabalho e trabalho do bom. Também por uma inexplicável coincidência aparecem-me oportunidades para arranjar facilmente quem venha trabalhar comigo. Hoje, chegada a um dos locais, numa mesa, três talentosas meninas que comigo trabalham numa das áreas. Contei-lhes: vai vir mais uma pessoa. A oportunidade existe, aprovada. Só tenho que encontrar de quem eu goste. Se conhecerem alguém... Elas admiradas: mas não tinha dito nada... Pois não. Nem eu sabia. 

Por vezes, tempos a correrem sem nada de novo, uma sensaboria, chega-se ao fim do dia e parece que foi apenas mais do mesmo. E eu sou de coisas novas, desafios malucos. A rotina maça-me. Outras vezes, quero alguém para trabalhar comigo e é um calvário, as empresas em contenção total, nada de admissões. Outras vezes, nem é isso, é não se encontrar alguém com quem eu perceba que se vai encaixar no meu registo. Se é para ser alguém que não me convence, prefiro nem.

Daquelas três meninas, uma trabalha comigo há uns nove anos. Uma autonomia completa, competente. As outras há meses. Impecáveis as duas. A 'crescerem' a cada dia que passa. Dou liberdade de movimentos. Não tenho tempo nem paciência para andar em cima. Peço é que façam mesmo aquilo que pensam que não sabem fazer. Quando está pronto, quero validar. Empurro-as para a frente. Exponho-as mesmo quando sentem insegurança. Eu estarei lá para as amparar se alguma coisa correr mal. 

Não controlo os horários que fazem. Têm que chegar mais tarde ou sair mais cedo ou ficar a trabalhar em casa pois que fiquem. Mas o trabalho tem que aparecer feito a tempo e horas. E aparece. Parecem outras agora. Há uns meses não sabiam aquilo de que seriam capazes tão pouco tempo decorrido. 

Tenho tido mais sorte com mulheres do que com homens. 

Tenho lá um também há pouco tempo. Não ousa, não arrisca como elas. Peço que não seja tão tímido, que fale, que proponha, que se mexa. Sorri, ar apanhado. Chamo-o, peço que me esclareça sobre aquilo que ele não sabe. Digo-lhe que tem que se informar, que não quero que me diga que não sabe como se isso fosse um ponto final no assunto. Procure, informe-se. Sorri, tímido. Não sei se vou conseguir que dê a volta. As outras pessoas dizem-me que sim, que ele se faz, que está mais desinibido e que tem uma boa atitude. A ver vamos.

Mas elas são outra coisa. Lutadoras, resistentes. E divertidas, bem dispostas, simples. 

(Estou a divagar. Isto vinha já nem sei bem a que propósito porque o que eu estava a dizer é que o pior é este volume tão grande de trabalho, numa altura em que estou a precisar tanto de férias. Chego à noite e adormeço, vencida pelo cansaço. Estou a escrever quase a dormir. Só não vou para a cama porque parece que o dia fica coxo se não tiver este bocadinho para mim)

Adiante.


Hoje, quando ia no carro à hora de almoço, ligou-me, de novo, um ex-colega, aquele que tem uma doença degenerativa. Mal se percebe o que diz. Estava num lugar com muito ruído, não sei se seria no hospital. Pedia-me que eu o ajudasse numa certa situação. Mas eu mal percebi o que disse, só percebi a ansiedade. E tive uma tarde de tal forma sobrecarregada que não consegui tempo para pesquisar na internet para tentar localizar ou perceber aquilo que me pareceu que ele disse, para, então, tentar fazer o que me pediu. Estava com receio que me ligasse à noite a ver se tinha conseguido pois, quando está aflito, fica de cabeça perdida e não consegue esperar que eu lhe ligue, liga-me ele consecutivamente. Até tremo quando vejo o nome dele no telemóvel. Precisava era de estar num lugar, acompanhado, bem tratado. Mas não. Quer estar em casa e diz que vai lá uma senhora ajudá-lo. Não sei, naquele estado, como é tal possível e, por isso, compreendo bem o desespero em que fica quando está pior. Gostava de poder ajudá-lo mais mas não sei como. No outro dia estive para aí uma meia hora a falar com ele ao telefone, eu sem perceber mais de metade do que ele dizia mas sem querer dar a entender que não percebia. Quando acabei de falar, estava estourada.

Enfim, situações de doença e solidão.

Voltando ao trabalho.

Ao fim da tarde, vi passar no corredor um homem muito grande, um corpanzil andante. Percebi que ia atrás de alguém mas não vi de quem. Desconhecido, ele. Pensei: mas, a uma hora destas, de onde é que apareceu este urso da montanha? 

Antes de me ir embora, fui ao gabinete de uma outra jovem mulher que também trabalha comigo. Sabia que ela ia de férias, fui despedir-me, saber se o trabalho estava todo em ordem, os pendentes passados aos colegas, desejar-lhe um bom descanso. Estava junto à porta e ela na secretária dela. Depois ela aproximou-se e eu também, para ela me mostrar um papel. Reparei, então, que o big bear estava sentado na secretária em frente dela. Diz-me ela: o meu marido. O urso grande sorriu, acenou com a cabeça, mas não se levantou. Ela sorriu e notei que havia algum embevecimento no seu olhar. Penso que gostou que eu conhecesse o seu homenzarrão. E eu também gostei. Conhece-se melhor uma pessoa quando se conhece de quem ela gosta. Vai de férias quatro semanas e nem ela sabe a falta que me vai fazer. Mas bem merece férias, coitada, que é outra guerreira que ali está.

E, portanto, é isto. Consegui almoçar num lugar agradável mas não tive tempo para passear por lá. E jantei ao pé da praia mas também não houve tempo para passeios à beira-mar. A ver se este sábado consigo tempo para dormir, para caminhar, para fotografar, para jardinar. Mas ao fim do dia já tenho um compromisso e domingo é dia cheio como um ovo. Portanto, restam-me os interstícios. Mas a mim cada minuto de fruição sabe como um dia de spa e, portanto, tudo bem.


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E, com isto tudo, como é bom de ver, a verdade é que nada tenho a declarar e, portanto, tendo estado para aqui a escrever sobre nada de mais, tento salvar o post com uma série de fotografias que acho extraordinárias. São de Lissa Rivera, integram a série Beautiful Boy que explora de forma fantasista ou nostálgica, nem sei bem dizer, questões ligadas à identidade e ao género, e venceram o prémio Magnum na Série de Retratos  


E também aqui tenho comigo Natalie Merchant a interpretar Ophelia -- porque Natalie Merchant é sempre uma boa companhia.

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Desejo-vos a todos, meus Caros Leitores, um sábado muito bom.

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