Passo a vida a falar de mim mas não é que eu seja narcisista. Não sou, acreditem. Isto é mesmo falta de interesse em puxar pela cabeça. Puxasse-a eu e, de certeza, haveria de sair daqui exemplo alheio. Mas não sou de me esforçar muito. Contenção de energia. Uma coisa como as mensagens que recebo no telemóvel para economizar a energia da bateria, que parece que me põem em inactividade as apps que não uso. Como sou muito à frente, faço o mesmo: o que não é indispensável, pode ficar posto no seu sossego.
Portanto uso o que os poucos neurónios de serviço me servem de bandeja: eu.
O tema é recorrente aqui neste santuário do imoralismo e das más maneiras: a minha dificuldade em conter o riso quando pressinto que não é de bom tom desatar a rir gargalhadamente.
Desde sempre.
A minha mãe, que padece do mesmo problema, queixa-se que era eu pequena e, se calhávamos cruzar-nos na rua com alguém que me caía no goto, desatava numa gargalheira que a contagiava. Umas pequeninas muito senhorinhas, por exemplo. A minha mãe, senhora professora, queria manter-se aprimorada para falar às pequenas madamas mas era de tal forma o meu riso que ela tinha que sofrer muito para não rir na cara das beatinhas trolorós.
E nas aulas de Canto Coral? A professora fofa, anafada no seu proeminente papinho de rola, bem queria que eu fizesse os (como é que se chama aquilo? vocalises?) mas, de cada vez que tentava bem colocar a goela, em vez de me sair o dó, desatava num riso solto, dobrando-me a rir, as lágrimas a correr. Já toda a sala se ria, já ela me ameaçava de expulsão da sala... mas qual quê? E quando encasquetou de nos pôr a cantar cânticos de natal em alemão...? Mal ela se esganiçava para exemplificar e já eu estava destroçada, incapaz de me conter, rindo a bom rir. Nunca consegui soltar o O Tannenbaum. Aquilo tocava-me numa qualquer corda solta, vá lá eu saber porquê, fazia com que me desconjuntasse a rir, rainha da total inconveniência.
Ou já mais recentemente, numa reunião da equipa de gestão. Ao meu lado um colega que tinha um ar saudável e rural. Do outro lado um compincha que, sem se desmanchar, dizia, entredentes, coisas que me faziam ir às lágrimas. 'O cabelo está a fugir-lhe da cabeça para as orelhas, já viste?' e eu a ver um tufo a saltar das orelhas ao colega saudável, por acaso já meio careca. Eu a querer conter-me e, cada vez mais, a rir, a transpirar de tanto me conter, as lágrimas a correr. Os outros a levantarem as sobrancelhas querendo saber o que se passava e eu incapaz de concretizar, já esfarrapada, querendo disfarçar.
Ou numa pós-graduação, aí numa dessas maravilhosas executive business schools. Tudo, como o próprio nome indica, executivos, gente baita importante. O professor figura de proa, sabichão. E, ao segundo dia, esquecido do que se passara na véspera, desata a dizer a mesma coisa. Ipsis verbis. Os mesmos àpartes, as mesmas graçolas, tudo tal e qual. Tal e qual, juro. Depois do espanto, começa a dar-me vontade de rir, e cada vez mais. De cada vez que a coisa era mais caricata, mais eu me descontrolava. Os outros, vendo-me a rir assim, também já não se continham. O prof a perceber que alguma coisa se passava, a olhar intrigado e eu, as mãos à frente da cara, as lágrimas a corrererm, toda sacudida de riso. Depois a ter que sair quase a correr da sala não fosse desatar a rir em altas gargalhadas, perdendo de vez o decoro.
E nem conto outra vez aquela do gago mexicano. Ia morrendo de vergonha por não ser capaz de me controlar. O homem tomava balanço para falar, tomava, tomava... e não lhe saía nada e, quando saia, era num espanhol cerrado, todo ele com ar de índio a quem, à força, tivessem aperaltado para estar ali no meio de citadinos. Não conto. Mas acreditem: foi uma aflição. Ainda hoje me parto a rir só de me lembrar. E é que não se calava, o sacana do gago.
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E isto porque, depois da cegada da orgia cabeluda com o Cardeal Cocco e outros padres gays e mais uma rapaziada dada ao forrobodó, gente da alta hierarquia do Vaticano, pensei que, agora, tinha que me portar bem. Sou senhora de bom comportamento, estrelinha na caderneta, quadro de honra, penta avozinha. Não posso passar a ideia de que este meu espaço de liberdade é aproveitado para a desbunda. E, portanto, a ver se me redimia, puxei a conversinha dos risinhos inocentes.
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Bem. Não foi. Não foi nada disso. Confesso: o parágrafo antes deste é uma mentirinha. Quero lá eu saber que me achem uma maluca da pior espécie. Sou mesmo. Apenas nos intervalos é que tento disfarçar. Vim com isto da alta galhofa porque vi um vídeo que me fez desatar a rir. O Princípe Orelhas de Burro e a sua bela Duquesa Equídea viram uns cantares indígenas e desataram numa gargalhice descontrolada. Estavam numa cena oficial no Canadá e não resistiram. Que casal mais bacana, este.
Charles e Camilla não aguentam o despropósito do inspirador cantar Inuit
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E esta encantadora forma de cantar até me fez lembrar aquela outra simpática que foi cantar lá no concurso deixando boquiabertos os membros do júri
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E pronto. Agora trinta avé-marias, cinquenta pai-nossos e, se forem saber da orgia gay lá do Vaticano, aquela de que falo já aqui abaixo, fazem favor de se calçar, de cobrir ombros, véu na cebeça (seja V. mulher, homem efeminado ou simples transgénero), rosário de contas luminosas entre mãos, velinha psicadélica de pilhas do chinês em equilíbrio na mão que resta e, sobretudo, muita batida no peito mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa. Com as orientações sexuais dos cardeais e dos monsenhores não se brinca. Cabecinha baixa, portanto. Depois, fazem favor de vir aqui à vossa Sta UJM que quero ouvir os vossos pecados. Estou danadinha para vos passar uma punição a preceito. Nisto, fiquem a saber, sou pior que fiscal da Emel.
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