Dia de calor, descanso, indolência.
De manhã, praia -- mas praia para caminhada à beira de água e não praia de estar estendida ao sol. E que bem se estava. E a água do mar, apesar de batida, bem temperada.
E, ao fim do dia, pela fresca, ida ao Parque. Por muito que esperneie, é certo e sabido que é peregrinação inevitável.
Esta hora é boa. Pouca gente, pouco barulho, uma aragem que convida ao passeio.
Ia open minded. Tinha um único livro que queria, de certeza, trazer. O resto seria o que viesse à rede.
Mas a verdade é que longe vai o tempo em que tudo o que vinha à rede era peixe e ambos não tínhamos mãos que chegassem para tanto saco. Agora já não. Barracas e barracas de fancaria. editoras de que nunca ouvi falar, autores de que nunca ouvi falar, títulos, aos montes, de que nem quero ouvir falar. Claro que posso cometer injustiças com o meu radicalismo. Se, ao passar, vejo capas espampanantes, livros que, logo na forma como se apresentam, são ruído e mais ruído, sigo sem me deter.
Claro que, com esta disposição, na maior parte não páro nem abrando e a visita acabou por ser até mais breve do que se poderia supor.
Finalmente lá consegui descobrir o livro que justificava a ida. E, tirando esse, apenas trouxe mais seis e todos nos saldos. E isto é o mais estranho: para além desse tal que custou o preço dele, treze euros, salvo erro, os únicos livros que me deram vontade de os ter estavam a preço de saldo. Cinco deles a cinco euros cada e outro a quaro ponto nove. Por que razão o editor os desvalorizou, enfiando-os em caixas de livros baratos, não percebo. Foram dos poucos a que reconheci qualidade.
Para além disso, estou na dúvida se já não tenho um deles. Mas, se tenho, não o descubro. Tenho que fazer uma busca mais sistematizada. Aliás, tenho que reorganizar os montes de livros para que, numa situação destas, saiba a que pilha me dirigir. Mas também não é grave, se o descobrir, dou a um dos meus filhos.
Mas vim de lá intrigada. Com tanto stand como é possível que não tenha tido vontade de trazer mais livros? Será que, de facto, a grande maioria do que se publica é lixo? Ou sou eu que estou cada vez mais niquenta? Ou será que estou é a ficar demodée, desalinhada face às novas tendências?
Olha, se for, azarinho e que se lixem as novas tendências. Caraças.
O mercado editorial, que desconheço, deve é ser um mundo cão. Neste mundo que privilegia o mainstream, livros de qualidade devem ser coisa vintage, para nichos comercialmente desinteressantes.
Para além desses stands borbulhantes, repletos de livros da treta, há, na Feira, aquilo de que nem vou falar porque me constrange imenso: ver escritores desolados, numa mesinha, a lerem para disfarçar o incómodo e a mais que certa sensação de abandono, sem que ninguém se lhes dirija.
Lá vi a Hélia Correia que estava bem acompanhada e na conversa com os seus colegas de mesa, e o Rodrigo Guedes de Carvalho com duas ou três pessoas (mas quem é conhecido da televisão tem sempre alguns fãs). Mas, de resto, os poucos que ainda lá estavam, estavam desconsoladamente sós.
Bonito mesmo está o Pavilhão Carlos Lopes, todo arranjado, muito bem ligado ao Parque. Não sei se já está a ser usado mas tomara que sim pois tem uma localização privilegiada.
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Tirando isto, só dizer que não comi nem prego, nem cachorro nem batata frita nem churros. Continuo firmemente de dieta. Acho que, com o rigor com que tenho levado isto, já devia estar escanzelada e estou apenas ligeiramente mais magra mas, ainda assim, quando me meto numa coisa, é para a levar a sério e, portanto, só páro quando estiver mais elegante que a Elle Macpherson aka The Body. Portanto, limitei-me a um Olá Solero de frutos vermelhos, só água e fruta, sem açúcar e completamente deslavado. Para desforrar, acabei a jantar caracóis mas, enfim, caracóis é bicho do mais enxuto que há pelo que não é por aí.
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