Já o contei: nem sei onde morreu o meu bisavô, pai do meu avô paterno. Penso que na Venezuela, mas não estou certa. Pode ter sido na Argentina. A ver se não me esqueço de perguntar à minha mãe.
Ninguém na família quis saber dele. Perdeu casas, 'propriedades', cavalos e gado, dinheiro. Era um jogador, é a ideia que tenho do pouco que diziam. Desfez o morgadio e fugiu, deixando para trás, e no desamparo, mulher e três filhos. De uma 'casa' abastada passaram para uma situação complicada. Sobraram ainda alguns terrenos e a casa onde viviam. Mais tarde, o meu avô, já adolescente, espírito aventureiro, pôs-se a caminho, andou por Espanha e por França antes de, com vinte e poucos anos, conhecer uma rapariga sete mais jovem e com ela se casar. Quando sobre mim diziam que era muito nova para me casar, a minha avó uma dessas pessoas, o meu avô disse de forma a que ela o ouvisse, 'Não ligues. Com dezoito anos teve ela o teu pai'.
Ninguém na família quis saber dele. Perdeu casas, 'propriedades', cavalos e gado, dinheiro. Era um jogador, é a ideia que tenho do pouco que diziam. Desfez o morgadio e fugiu, deixando para trás, e no desamparo, mulher e três filhos. De uma 'casa' abastada passaram para uma situação complicada. Sobraram ainda alguns terrenos e a casa onde viviam. Mais tarde, o meu avô, já adolescente, espírito aventureiro, pôs-se a caminho, andou por Espanha e por França antes de, com vinte e poucos anos, conhecer uma rapariga sete mais jovem e com ela se casar. Quando sobre mim diziam que era muito nova para me casar, a minha avó uma dessas pessoas, o meu avô disse de forma a que ela o ouvisse, 'Não ligues. Com dezoito anos teve ela o teu pai'.
Mas, então, o meu bisavô era visto pela família como um cobarde. A minha mãe, tenho ideia que achava que não era isso, que era um aventureiro. Do meu pai nunca ouvi uma palavra sobre o avô. Do meu avô também nunca ouvi uma palavra sobre o pai.
Nunca mais ele quis saber da mulher e dos filhos, e eles pagaram-lhe da mesma moeda: caíu sobre ele um desinteresse total. Pelo menos em público era isso que manifestavam.
A minha mãe contou, creio que depois dos meus avós terem morrido, que achava que ele quis reaproximar-se ou regressar e que de cá teve apenas silêncio e desprezo. Tenho ideia que a minha mãe viu uma carta dele, escondida.
Talvez, por lá, por onde andou, tenha tido outra família, mais filhos, talvez por lá andem agora outros bisnetos. Não faço ideia. Nunca ninguém quis saber. Por vezes penso e nisso e faz-me impressão. Talvez devesse ter tentado esclarecer algumas coisas. Contudo, creio que já é tarde para isso. O meu avô está morto e o meu pai já vive num outro comprimento de onda. O meu tio, irmão do meu pai, está bem mas também nunca manifestou qualquer interesse no assunto. Também já o contei: ainda há um terreno no Algarve, um terreno bom, num sítio bom. Calhou, em partilhas, ao meu avô. Provavelmente já alguém lhe chamou um figo. Ninguém, da família, mexeu, até hoje, uma palha para o passar para o nosso nome (presumo que esteja ainda em nome desse desconhecido bisavô).
Mas não é por isso, até porque não estou certa do destino que, há talvez cem anos, esse desconhecido tomou -- mas a Venezuela para mim é um país longínquo, geografica e emocionalmente.
Politicamente também. Nem o Chávez me entusiasmava: tudo distante, tudo a milhas da minha lógica, dos meus afectos, dos meus gostos.
Este agora que por lá anda parece que não sabe (nem nunca soube) o que é ser presidente de um país. Nada contra os motoristas de autocarro, nem contra os motoristas que se fazem sindicalistas. Mas faz-me alguma espécie que daí se passe a ministro e, daí, a presidente de um país. Nicolás Maduro desagrada-me como presidente. Não sei se é populista, se excessivamente nacionalista, se é apenas impreparado para a função.
O que se passa agora na Venezuela é outra desgraça. Maduro mantém-se em funções com a rua descontrolada, com as lojas vazias, as fábricas paradas, a loucura à solta.
No entanto, eis que no meio da maior tensão e violência, entre gente que se apedreja, caminha um jovem tocando violino.
Se no post abaixo mostro como a palavra se elevou para aglutinar as emoções e as catapultar sob a forma de coragem contra o terror anónimo, aqui, agora, é a música.
Chama-se Wuilly Arteaga, tem 23 anos, gosta de se vestir com as cores do país e tem uma coragem que impressiona. Para ele, a música simboliza a paz e a coragem e, por isso, como que protegido por um invisível escudo, ele caminha pela rua, tocando violino.
Infelizmente, a sorte abandonou-o: esta quarta-feira, a polícia motorizada avançou sobre ele, magoou-o e partiu-lhe o violino. É em lágrimas que ele nos aparece, com o violino -- que ele diz ser a sua ferramente a favor da paz -- sem cordas.
Entretanto, já há um grupo a mobilizar-se para arranjar dinheiro para lhe comprarem outro violino.
O vídeo abaixo, publicado esta quinta-feira, mostra-o nas ruas, antes disso, tocando.
E eu vendo isto, volto a uma pergunta semelhante à que, no post abaixo, formulei: para que serve a música? Para que serve a arte?
E admito também que a vida, tal como a vamos aceitand.o merece alguma reflexão. Por exemplo: quem são os verdadeiros novos heróis deste estúpido mundo?
Entretanto, já há um grupo a mobilizar-se para arranjar dinheiro para lhe comprarem outro violino.
O vídeo abaixo, publicado esta quinta-feira, mostra-o nas ruas, antes disso, tocando.
E eu vendo isto, volto a uma pergunta semelhante à que, no post abaixo, formulei: para que serve a música? Para que serve a arte?
Pode a arte ser uma arma mais poderosa do que as armas tradicionais?Não sei responder com certezas absolutas mas admito que sim.
Quem dela se mune para a luta não tem mais coragem do que os que se escondem atrás de escudos para agredir sem ser agredido?
E admito também que a vida, tal como a vamos aceitand.o merece alguma reflexão. Por exemplo: quem são os verdadeiros novos heróis deste estúpido mundo?
_____________________
E queiram, por favor, descer para ouvirem Tony Walsh a dizer um poema durante a vigília em memória das vítimas de Manchester.
_________________
2 comentários:
Quem vai para a luta armada munido de um violino é de certeza mais corajoso. E jovem, duvido que alguém mais velho o fizesse. Penso é que são armas muito desiguais que perseguem fins também diversos. Os poemas e a música ou qualquer outro tipo de arte, nunca venceram uma guerra, não protegem contra as balas ou os mísseis ou os drones ou o diabo a sete que cada vez inventam mais material bélico e de matar por junto.
Nicolás Maduro está muito verde em governança. Ou será muito palerma. Não me parece que queira o bem do povo que tão mal governa. Pobre gente.
Quanto ao seu antepassado...acho muito bem. Saiu porque quis e sem pensar em quem ficava; logo, quem ficou e teve de se virar sem ele, usou a sua liberdade para lhe negar regressos. Parece-me razoável.
A música e a poesia desencadeiam em nós sensações, emoções e sentimentos: tocam o coração.
Daí a sua força.
São o caminho mais suave, mais nobre para chegar às pessoas.
Por isso, há tanta necessidade de neutralizar ou utilizar músicos, autores e poetas.
Por vezes, podem fazer isso com alguns, mas não com todos felizmente.
Vi, em comentários anteriores, que se sente cansada.
Espero que se sinta melhor e mais descansada.
Gostamos dos seus posts, apesar de não apreciarmos a linguagem algo rude que utiliza por vezes. Não leve a mal esta pequena critica, só estamos a ser sinceros.
As melhoras.
Uma noite descansada para si.
PS:
E agora vou ler o post de hoje, que publicou entretanto. Sou ave noturna.
Enviar um comentário