segunda-feira, abril 25, 2016

25 de Abril 2016
Festa na rua, um mar de gente a cantar, a festejar a Liberdade
E um grande concerto dos UHF


Viver em liberdade é também isto: podermos encher as praças, ouvirmos música, cantarmos, dançarmos na rua. Nesta noite de primavera, há música na rua, há gente, muita gente, um mar de gente. As ruas estão cheias e convergem, como braços de rios, para a grande praça que se enche -- toda a praça e largos e escadarias em volta.

Estava quase a ser 25 de Abril e toda a gente vinha feliz para o receber. Há razões para festejar. Há um certo sentimento de esperança no ar. O País tem esta coisa de, volta e meia, patinar em seco, deixar-se ficar na cauda, tem esta fraqueza de, volta e meia, eleger umas fracas figuras que fazem fracas e fortes gentes. Mas agora que saímos de um período negro de quatro anos, queremos acreditar que estes quatro que aí vêm serão melhores e os que se lhe seguirem também. Queremos sentir confiança, e de confiança se faz a construção do futuro.

E o País tem, sobretudo, a felicidade de viver em liberdade
-- e pode até ser que a liberdade, volta e meia, seja a modos que condicionada, pode até ser que a comunicação social, a soldo de quem lhe paga, manipule a opinião pública, mas também é verdade que toda a gente pode opinar (como eu estou aqui a fazê-lo, e não tenho medo que me venham prender, nem, quando estou na rua a festejar, tenho medo que haja agentes no meio da multidão prontos a denunciar-me ou a quem se manifeste contra isto ou aquilo) -- 
e a conquista da liberdade é das mais valiosas conquistas que um povo, antes espezinhado e maltratado, pode ter alcançado. E isso devemo-lo ao 25 de Abril de 1974 e só isso é razão mais que suficiente para o festejar.

E, então, com a praça cheia de gente. 
a música rebentou no palco 
e a energia foi imensa, 
contagiante.

UHF - 25 de Abril de 2016 - Almada


Como me limitei a fazer fotografias, socorro-me de vídeos disponíveis no youtube colocando aqui os que se referem a músicas que os UHF interpretaram.

Vejam bem 

- UHF a cantarem Zeca Afonso

E se houver 
uma praça de gente madura 
e uma estátua 
e uma estátua de de febre a arder



Reparem nos pequenos rectângulos de luz:
em tempos as pessoas acendiam isqueiros para ondular ao som da música -- agora filmam com os telemóveis.
De forma instantânea, certamente muitos vídeos do concerto foram parar às redes sociais


Se há coisa de que gosto é de concertos de rua em datas especiais em que se juntam novos e velhos, ricos e pobres, gente de todas as raças e cores, em que a despreocupação é total e a espontaneidade impera, onde meio mundo canta e dança, de forma genuína, onde se junta a alegria do momento com a energia da música. 

Os UHF estavam em casa e o António Ribeiro não disfarçou a emoção por estar a festejar o 25 de Abril numa praça repleta com a gente da sua terra, milhares de pessoas. 


Pela minha parte, para além de festejar, dançar e tirar fotografias, tive uma missão que me auto-atribuí: não perder nenhuma criança. Tenho um certo pavor em meter-me com a criançada no meio de tanta gente mas é bom que eles sintam esta intensa vibração e saibam como é bom festejar colectivamente a alegria da liberdade. Portanto, para além dos demais adultos estarem, obviamente, também in control, eu não desgrudei deles nem parei de os contar de segundo a segundo. 

Para além disso, já antes de irem, estavam a falar nos churros e waffles e, portanto, a meio do concerto, lá fomos em cortejo, agarrados uns aos outros, pelo meio da multidão, milhares e milhares de pessoas, uma coisa impressionante, até a uma das caravana dos comes e bebes e, depois, em sentido inverso, para nos posicionarmos de novo de onde conseguíssemos ver o palco. Uma aventura.

UHF - Nesta imagem, pai e filho, em noite de festa em Almada


Estávamos nós estrategicamente posicionados quando ouvi alguém a pedir licença. Olhei e era um homem jovem numa cadeira de rodas eléctricas, um jovem que me pareceu não ter pernas. Logo a seguir uma outra cadeira de rodas: uma jovem também com o que me pareceu acentuada deficiência. Toda a gente abriu alas para que eles tivessem bom ângulo de visão para o palco. Eles sorriam, encostavam os rostos, beijavam-se, felizes. Os miúdos olhavam muito admirados. Eu não queria que eles se pusessem a olhar insistentemente mas depois pensei que é bom que vejam que todas as pessoas têm os mesmos direitos, que ninguém é menos que ninguém lá porque nasceu sem pernas ou se teve algum acidente e perdeu a mobilidade ou se teve paralisia cerebral ou qualquer outro problema e não consegue quase movimentar-se.

Depois de satisfazerem a sua curiosidade, não ligaram mais e voltaram a estar com atenção à música, a cantar e a dançar. E, claro, foram ao rubro com os Cavalos de Corrida, música que adoram e cuja letra sabem de cor.


A seguir, à meia-noite, como não podia deixar de ser, cantou-se o Grândola Vila Morena e só quem não ame a liberdade é que pode desvalorizar a importância desta data; só quem não ame a liberdade é que pode desprezar os que se juntam para, colectivamente, na rua, a festejarem. 

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade


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E depois, já dentro do dia 25 de Abril, rebentou o fogo de artifício. Espectacular, os meninos em delírio, uma emoção, o ribombar que se desfaz em luz, as cores que explodem em mil estrelas voadoras, o cheiro forte, a fantasia feita realidade, os riscos que se imaginam, a coragem que se sente, a sorte que se teve por escapar a tantos riscos, a felicidade, e todos juntos, em liberdade.


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Que a Liberdade e a Democracia nunca nos faltem.
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Um bom 25 de Abril para todos vós, meus Caros Leitores.
Que seja um dia muito feliz, este e todos os que se lhe seguirem.
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1 comentário:

P. disse...

UJM,
Gostei especialmente deste seu Post. Hoje em dia há uma certa tendência para se esquecer o significado do 25 de Abril. Da parte de muitos que tendem a ignorá-la, ou se esquecem da sua importância para as vidas deles/as hoje, designadamente no que respeita à Liberdade, a mesma que lhes permite dizer e escrever, por exemplo, o que querem, sem serem incomodados, ou presos. Gostei igualmente de ver que continua a haver gente, em número bastante razoável, que sai para as ruas para comemorar esta data – tão importante para a nossa Democracia. Gente essa composta por várias gerações, como os noticiários nos mostraram. Que há pais que levam os filhos a estes “passeios comemorativos de Abril”, por exemplo. Gostei de ver, foi comovente diria até, a neta de Salgueiro Maia a falar sobre o avô, esse Grande Senhor de Abril, que nada pediu da Revolução e que a Direita procurou sempre votar ao esquecimento, como foi o caso –lamentável - de Cavaco Silva. Direita essa que nada aprendeu do que mudou desde então e se apresenta rancorosa, como foi o patético discurso de Paula Teixeira da Cruz, hoje na A.R, em contraste com o do novo PR (o mesmo que tem uma atitude diferente da do seu triste antecessor, para com o capitão de Abril Salgueiro Maia). É curioso como se pode hoje, ver e ler, quer em Blogues, quer no Facebook, quer em E-Mails estados de alma de apoio a Salazar, condenando e desprezando o 25 de Abril, esquecendo, por exemplo, que o mesmo Salazar lhes proibia a Liberdade (que hoje podem usar contra Abril), criara e mantinha uma Polícia Política (a Pide) para perseguir e prender os oponentes ao seu regime totalitário, para quem a Democracia era um estigma, que sustentou uma estúpida guerra colonial, sem sentido e que, e isto é ainda mais importante sublinhar e recordar – foi o único chefe de governo europeu a ordenar a bandeira a meia-haste, em sinal de luto (, por ocasião da morte de Adolfo Hitler! O mesmo Salazar que censurou a existência dos campos de concentração e do Holocausto e que depois da Guerra terminada, ter desvalorizado esse horror, essa monstruosidade!
Para Direita de hoje, em Abril de 2016, o importante são os Mercados, o BCE (dirigido por um antigo vice-presidente da Goldman Sachs), o Euro-grupo (presidido por alguém a quem não choca a fuga ao fisco nos seus países de empresas estrangeiras), o FMI, etc. As questões/problemas sociais ignoram-nas. Como dizia uma humilde mulher, outro dia num programa de Rádio, quando a foram ouvir: “há gente que não sabe o que é a austeridade, porque nunca a sentiu na pele. Somos nós que a pagamos!” Nem mais!
Daí que, quando alguém como a UJM dá relevo a esta data, sobretudo na forma como o fez, só tenho de lhe agradecer e regozijar-me.
Acredito que um dia as novas gerações, a dos nossos netos e bisnetos serão capazes de recordar esta data com mais respeito do que alguns actualmente. O respeito que nos deve merecer sempre. E para sempre.
P.Rufino