Depois de nos três posts abaixo ter relatado, em tempo real, os anúncios de Marques Maya Mendes que, inclusivamente, divulgou o que ele diz ser a provável lista dos próximos ministros do governo português, um governo que terá António Costa como Primeiro-Ministro e uma série de ilustres competentes nas diferentes pastas, e de me ter interrogado sobre quem serão os inúmeras gargantas-fundas que alimentam a sua tão afamada pre-vidência, aqui, agora, parto para outra.
Não vou alongar-me pois é tempo para reflectirmos sobre o que se está a passar mais do que para nos deixarmos envolver no novelo ensarilhado das opiniões que enxameiam tudo o que é sítio, em especial, os órgãos de comunicação social.
Aliás, se há matéria que deveria merecer, junto de quem manda nos jornais, rádios e televisões, uma séria reflexão, ela refere-se, em minha opinião, ao nefasto papel que a comunicação social, nos últimos anos, tem vindo a desempenhar junto da opinião pública.
Mais do que espaços onde os jornalistas pratiquem jornalismo, onde se divulguem os melhores pensadores, os melhores políticos, escritores, artistas, músicos, investigadores, etc, e se dê espaço às suas obras e à discussão em torno delas, ou programas de entretenimento de qualidade, ou a reportagens sobre as mais diversas realidades, os meios de comunicação social passaram a entregar-se a fúteis exercícios de onanismo em que uns quantos artolas se entretêm a ouvir-se a si próprios, bolsando opiniões a metro sobre tudo e sobre nada, tantas vezes sem fundamentarem o que dizem e limitando-se a repetirem argumentos que se propagam entre eles, como um eco num espaço vazio.
Mais do que espaços onde os jornalistas pratiquem jornalismo, onde se divulguem os melhores pensadores, os melhores políticos, escritores, artistas, músicos, investigadores, etc, e se dê espaço às suas obras e à discussão em torno delas, ou programas de entretenimento de qualidade, ou a reportagens sobre as mais diversas realidades, os meios de comunicação social passaram a entregar-se a fúteis exercícios de onanismo em que uns quantos artolas se entretêm a ouvir-se a si próprios, bolsando opiniões a metro sobre tudo e sobre nada, tantas vezes sem fundamentarem o que dizem e limitando-se a repetirem argumentos que se propagam entre eles, como um eco num espaço vazio.
Esta gente, mais do que ajudar a perceber a realidade, iluminando o obscuro ou trazendo a experiência de outras paragens, não: limita-se a patinhar em cima da terra revolvida pelos próprios pés.
Pensavam, talvez, os donos dos meios de comunicação que, encharcando com esta gente todos os lugares onde pairem microfones e holofotes, condicionariam a opinião pública e, assim, condicionariam o rumo da história. TINA, TINA. There Is No Alternative.
Pois bem. enganaram-se. Enganaram-se redondamente. Há alternativa.
Num ímpeto de sobrevivência e/ou num rasgo visionário, eis que na noite de umas eleições que retiraram a maioria absoluta ao PSD e aos CDS mas não colocaram o PS à frente das votações, António Costa -- dando corpo à vontade de convergência à esquerda que vinha anunciando desde que o fez na Câmara de Lisboa e, depois, quando foi escolhido para liderar o PS e, mais recentemente, na campanha eleitoral -- se mostrou descontraído, com a segurança de quem sabia que o seu verdadeiro caminho estava a começar a desenhar-se naquele momento.
Catarina Martins e Jerónimo de Sousa teriam o seu eleitorado dividido e desiludido se resolvessem deixar governar, por mais 4 anos, o PSD e o CDS. Por muito fiéis que sejam os seus correlegionários, no mais íntimo da sua consciência, ainda lhes deve pesar na consciência a ajuda que deram a Passos Coelho e a Paulo Portas ao apoiarem-nos no derrube de Sócrates. Perceberam que teriam que agir de forma clara. E agiram.
Fazendo perceber na carne dos Pàfs vitoriosos o que é um vitória de Pirro, o PCP e o BE fizeram saber ao PSD e ao CDS que a sua vitória tinha sido efémera e vã pois iriam viabilizar um governo guiado pelo PS.
A partir daí foi ver o desnorte nesta direita portuguesa pouco evoluída, pouco escolada e reaccionária. De um ressabiado Cavaco até a uns pouco inteligentes Passos Coelho, Marco António e quejandos, passando por comentadores aos molhos, todos peroraram contra um acordo que previram nunca vir a acontecer, contra uma solução de governação que acusaram de ilegítima, contra a lealdade do PCP, sobre os riscos de se ter um governo apoiado por comunistas e sei lá que mais.
António Costa resguardou-se, deixou-os pousar. Estratega inteligente e hábil negociador, Costa assegurou que os passos fossem dados com segurança e recato. Foi, pois, um mês de negociação que decorreu com reserva e seriedade - e, certamente, com a alegria de quem sabe que está a fazer história.
Catarina Martins, com aquela raça e graça que nos estamos a habituar a admirar, apresentou-se decidida: está pronta para a luta, não vergará.
Jerónimo de Sousa, qual velho guerreiro ou velho chefe de tribo, apresentou-se magro e digno. Tocante a sua figura cansada com o rosto profundamente sulcado, dizendo, em palavras abertas e claras, que o futuro contará com os comunistas para viabilizar de forma sustentada uma alternativa às políticas de direita que têm atrofiado o país. Homem honrado que é, estou certa que saberá manter a sua palavra. Olha-se para ele e não se duvida.
António Costa estava, finalmente, em condições de anunciar que o governo de Passos Coelho e Paulo Portas vai cair e que ele está em condições de avançar com uma alternativa.
Esta semana, qual touro que entra em praça sabendo que vai ajoelhar e cair, Passos Coelho irá ao Parlamento apresentar o seu governo fantasma. Sairá sem honra. A história se encarregará de o apagar.
Cavaco Silva sabe que vai acabar os seus desprestigiados anos na Presidência da República dando posse a um governo que detesta e teme.
E os portugueses sentem que, afinal, a voz dos eleitores conta e que, dos pântanos insalubres e da mais cinzenta das névoas, pode, afinal, sair uma nova forma de vida.
Voltou a discutir-se política em Portugal, os portugueses voltaram a defender os seus interesses e voltou a sentir-se aquela energia positiva que prenuncia uma mudança de rumo na vida das pessoas.
Muitos anos decorridos após o 25 de Abril, Portugal mostra que é um país onde a democracia está viva e atingiu a idade adulta.
A música é a Gnossienne No1 de Satie sobre a qual Sergei Polunin e Kristina Shapran improvisaram uma coreografia.
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Permitam que vos recorde que, continuando a descer, passarão pelos restantes três posts que escrevi hoje e que, inclusivamente, relatam a informação ou previsão de Marques Mendes, esse zandinga que semanalmente informa os portugueses sobre as cenas dos próximos capítulos, desta vez sobre quais os ministros que integrarão o governo de António Costa. Nem mais. Pasta a pasta, quem vai ser quem. Aquele ali merece todo o dinheirinho que ganha: sabe tudo, tudo, tudo, mesmo aquilo com que os próprios ainda nem sonham.
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5 comentários:
Como sempre um belíssimo post seu sobre a actualidade política.
Subscrevo-o totalmente.
Agora é esperar pela decisão de Cavaco. E que no dia da tomada
de posse do Governo C.S. não lhe dê um ataque cardíaco...
Estou ansiosa por ver a sua expressão nesse dia.
Bjs.
Irene Alves
Um governo 'maioritário' mas algo coxo?
Com o suporte total de deputados do PS,um governo de ministérios socialistas.
Sem dois ministérios do BE, que levaria o nº de deputados de suporte ao XXII GC a outro patamar, deixando a oposição colaborante à Esqº a cargo do PCP.
Cuidado com os idos de Março - evolução das contas públicas.
Uma análise e um comentário excelente este seu Post, que subscrevo por inteiro! Volto cá mais tarde.
P.Rufino
António Costa tem vindo a surpreender-me. E pela positiva. A decisão que tomou, que é histórica no universo político português, de romper com o tal “arco da governação”, tão caro à Direita actual, é absolutamente espantosa! Requer coragem, visão e vontade de mudar as coisas. É certo que, de algum modo, o facto de a Direita hoje ser radical, ou melhor dizendo, de um neo-liberalismo de extrema-direita (dada a sua atitude profundamente anti-social) “, ajudou”, empurrando o PS do Centro-Esquerda para a Esquerda. Ou seja, de encontro a quem se sente politicamente mais próximo, hoje – o BE e a CDU. Costa, ao virar a página, rompendo com esse tal “arco da governabilidade”, mostrou uma capacidade de liderança que se lhe desconhecia, pelo menos desta dimensão e, atrever-me-ia a dizer, de estadista. Em vez de sucumbir, como teria feito Assis e os que estão do seu lado (como Maria de Belém, etc, Sérgio Sousa Pinto, etc, que preferem ajoelhar perante a Direita e os Mercados), aos apelos da Direita para lhe servir de muleta e viabilizar-lhes mais uns 4 anos de empobrecimento e injustiça social, preferiu cortar com essa “tradição” e iniciar outra, voltando-se para a Esquerda. Tivesse muito eleitor percebido essa sua vontade, durante o processo eleitoral, provavelmente o PS e A.Costa teriam obtido mais votos e hoje as coisas seriam diferentes e mais complicadadas para a Direita. Quanto ao que se viu hoje na A.R, foi vergonhoso, mas revelador do estado de espírito da Direita (de raiva incontida de saber que amanhã será apeada), ao ver e ouvir os seus representantes, sobretudo os líderes parlamentares do PSD e CDS. L.Montenegro resvalou mesmo para um nível que só o rebaixa (ou melhor, que o torna repugnante, utilizando a sua linguagem). A Direita vive momentos de desespero, de agonia, de choque e é incapaz de compreender o que se está a passar. No fundo, uma coisa simples, que uma criança é capaz de discernir num segundo: que, tendo-se ficado por uma maioria relativa e mantendo uma postura radical política-económica e social, não consegue, nesse sentido, acordos à sua esquerda e deste modo terá de ser oposição, passando a actual Oposição a governo, ao conseguir o que a Direita não consegue, um consenso político de governabilidade (por obra e graça da acção espantosa de António Costa, sublinhe-se uma vez mais). Passos, ao contrário do que acusa a Direita a Costa, quer, a todo o custo, manter-se no poder, continuar PM. Não vai consegui-lo. Para bem da maioria dos eleitores. Durante o debate de hoje, o Governo e depois os comentadores de Direita, não tiveram, por um momento sequer, uma preocupação de carácter social, sobre as desigualdades, etc. Coube à Oposição (e em breve governo, para bem da maioria dos portugueses) essa tarefa. Ao denunciar casos, atitudes, políticas, negócios sujos, traficâncias, injustiças, etc. Para a dupla Passos/Portas (com o apoio de Cavaco) não existem pessoas neste desgraçado país, mas apenas números. As suas preocupações são os Mercados, não são os contribuintes, os mais fragilizados socialmente, os desempregados e outras vítimas da política insensível e miserável que praticou. Nada disso importa. E ainda se deram ao trabalho de rir, perante aquelas acusações. Em resumo, este governo não passa de um bando de trastes, que merce ser corrido, e já, amanhã. Graças à iniciativa corajosa e histórica de António Costa.
P.Rufino
Cara Jeitinho,
Parabens por mais este post.
Há muito que esgotei a paciencia para ouvir as previsões de marques mendes. Actualizo-me aqui, que é bem mais lucido e divertido. Contudo lamento não ter ouvido e feito coro numa boa gargalhada quando na convicta antecipação o vidente anunciou que "assim entra um(ministro, a não ser que lhe tenha dado uma de Bordalo Pinheiro) e ficam dois de fora".
Vamos lá ver se a partir daqui estes fdp(fanáticos desta politica-leia-se) se atinam.
Beijinho
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