sábado, outubro 31, 2015

Traz de novo, meu amor, a transparência da água - dá ocupação à minha ternura vadia


Enquanto escrevo ouço a chuva a bater com força na minha janela. A noite está densa, um manto escuro cobre o rio, quase cobre a grande cidade. Ouço a música, ouça a chuva. De vez em quando o som torna-se mais pesado, parece que se abate um dilúvio, uma queda constante e torrencial. Depois abranda, fica a chuva mais mansa e as gotas que caem no parapeito são ritmadas. Ouço também o vento. Penso nos que estão longe dos que amam, dos que sentem o frio da saudade. O tempo assim traz tristeza.




Magoa-me a saudade 
do sobressalto dos corpos 
ferindo-se de ternura 
dói-me a distante lembrança 
do teu vestido 
caindo aos nossos pés 
Magoa-me a saudade 
do tempo em que te habitava 
como o sal ocupa o mar 
como a luz recolhendo-se 
nas pupilas desatentas 




Seja eu de novo tua sombra, teu desejo 
tua noite sem remédio 
tua virtude, tua carência 
eu 
que longe de ti sou fraco 
eu 
que já fui água, seiva vegetal 
sou agora gota trémula, raiz exposta 


Traz 
de novo, meu amor, 
a transparência da água 
dá ocupação à minha ternura vadia 
mergulha os teus dedos 
no feitiço do meu peito 
e espanta na gruta funda de mim 
os animais que atormentam o meu sono 



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 George East fotografou as Skeleton Flower.  
Joni Niemelä fotografou as gotas de água.
Mia Couta escreveu Saudade.
Polina Semionova e Roberto Bolle dançam Dancing in the Rain que Marco Pelle coreografou

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom sábado.

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2 comentários:

THOT disse...

A pureza nas emoções e intenções é um dos maiores prazeres da vida e o que há de mais sagrado nesta viagem de descoberta, que é viver, que toca o coração como uma pluma e deixa um sussurro como perfume na memória.
Não só o belo poema (este homem, do pouco que li dele, tem uma alma do tamanho do tempo) como a seu post, falam desse espaço de reflexão, cada vez mais raro, que nos deixa contente com o mundo.
Por isso e por todas as suas contribuições diárias, que nos fazem sorrir, gargalhar(?) ou reflectir.
Obrigada e um bom domingo para si.
M

Rosa Pinto disse...

- O senhor não se importa de chegar o cão para si? resmungava uma senhora para o passageiro que viajava à sua frente. - Já sinto uma pulga no sapato. - Anca cá, Belo. - respondeu o homem. - esta senhora tem pulgas.

Por pulgas. Também estou em pulgas para saber o que o Sr Putin vai fazer.