segunda-feira, junho 29, 2015

As ameixas já eram e as amoras ainda não estão boas mas, vá lá, os orégãos já estão bons para a salada. E o alfazema está perfumado de dar gosto. E um ventinho de leste a erguer a minha saia.


Hoje tinha uns mil assuntos para aqui partilhar convosco, nem sei por onde começar. Tenho estado para aqui a fazer cálculos mentais, a ver para o que é que tenho tempo e que outros posso deixar para outro dia. 

Mas, para começar, o mais importante.

Já no outro dia me tinha aqui lamentado por causa das filhas-da-mãe das ameixas. Saborosas e doces que só visto e raramente lhes consigo ferrar o dente. Os sacanas dos pássaros levam-me sempre a melhor. Se eu estivesse in heaven a tempo inteiro, conseguiria antecipar-me mas, assim, um dia vejo-as ainda mal começando a ganhar cor e, quando lá volto, já as encontro comidas, debicadas, e outras no chão, no meio do mato.




Para ver se compensava -- estava mesmo a apetecer-me a doçura dos frutos vermelhos -- fui-me às silvas. Carregadas, carregadas de amoras mas, ora bolas, ainda não estão no ponto. Já com uma corzinha razoável mas longe de estalarem em sumo rubro na boca. Limitei-me a fotografá-las: não come a boca, deleitam-se os olhos.




Fui então passeando, observando os figos ainda miúdos, as flores, as árvores que dançam ao de leve com a aragem quente, sentindo a caruma seca ou a cama de folhas miúdas e estaladiças das azinheiras sob os pés. Depois atentei nos orégãos. Já bem floridos. Daqui a uma ou duas semanas apanharei umas belas braçadas para que a minha mãe os seque e distribua por frascos para toda a família.

Mas, ainda assim, já apanhei uns quantos pés. Mesmo frescas, as flores dos orégãos são boas, perfumam as saladas, e dão um toque de sabor campestre aos assados no forno.

Quando estava a apanhá-los, o vento estava a dar na minha saia e, ao tentar controlá-la, devo ter disparado sem querer a máquina. Agora ao passar as fotografias para o computador, cá estava a imagem do momento.




Até me fez lembrar um poema a que sempre achei uma graça especial, do Daniel Filipe.

Um amor como este
não pede mar ou praia:
somente o vento leste
erguendo a tua saia.

O resto é o futuro
além, à nossa espreita:
doce fruto maduro
na hora da colheita

E depois apanhei também alecrim, fica-me a cozinha cheirosa e os assados ainda mais saborosos; e também umas pontas de alfazema que dão um perfume fresco e lavado à casa.




Já estava de regresso à frescura da casa (que calorão que estava cá fora, que calorão... Só se estava bem dentro de portas), quando vi as pinhas já prontas para atear a lareira ou a salamandra nos próximos frios. Fotografei-as, acho-as bonitas no seu ton sur ton.




A natureza é uma fonte de beleza, de prazer e de vida. Para mim, é na perfeição que encontro na natureza, em toda ela, que reside o grande milagre da existência e da vida. Não quero saber se, na génese de tudo, houve um grande arquitecto, o génio da lâmpada, um deus único ou mil deuses. Basta-me observar e respeitar o que vejo e o que adivinho sob a superfície das coisas e dos seres.

......

De entre as oferendas recebidas hoje por mail, que agradeço, aproveito para divulgar aqui um vídeo com imagens que são também uma beleza. Alguns dos lugares que aqui se vêem já os conheço, outros terei que conhecer. Portugal é um país muito bonito.


Aldeias de Portugal


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2 comentários:

Rosa Pinto disse...

Ai desgraça, que para mal da minha silhueta gosto disso tudo.
Aconselho uma boa açorda alentejana de bacalhau e ovos escalfados, com coentros, é claro, acompanhada por uns bons figos e umas uvas. De comer, pedir mais e chorar depois quando o material adiposo se instalar. Claro que temos sempre a caminhada ao longo da berma do Tejo que ajuda na digestãoe na libertação e endorfinas. Tudo regado com um tinto esporão. Para finalizar, umas farófias.
Tenho outras sugestões caso estejam interessados.

Anónimo disse...

Essa Açorda, que Rosa Pinto sugere, é uma delícia! Completava o repasto com um bom Serpa! Que queijo! Este próximo fim de semana estrei no Alentejo, com amigos. Já estou a aguçar o dente e a ensaiar o palato! Fruta, gosto de quase toda, visto ser avesso a sobremesas, raramente lhes toco.
P.Rufino