No post a seguir a este poderão ler o que penso sobre a TSU das viúvas e sobre os velhacos que se lembraram de uma ideia tão canalha. Só não me insurjo mais porque tenho a certeza de que não irá avante. Há limites mesmo para os descarados que não conhecem limites. A bem ou a mal os cortes nas pensões de sobrevivência não passarão.
A seguir a esse post, há um vídeo muito esclarecedor que explica bem para onde tem estado a ir o nosso suor e o nosso sangue.
Mas isso é a seguir. Como já o disse muitas vezes não gosto nada de me ir deitar aborrecida. Por isso, aqui, agora, a conversa é outra.
*
O sol de outono regressou. A terra estava húmida das chuvas que caíram durante a semana. As folhas estão douradas, cheias de luz. Aprisionam a luz para depois partirem. A glicínia, que na primavera se enche de cachos de flores lilases, está agora requintadamente envolta em ouro. O portão está assim como aqui o vêem, envolto em rendas suaves, filigranas delicadas.
Aproveito a terra húmida do início do outono para plantar algumas árvores e arbustos.
No meio das pedras apareceu um pequeno rebento de pinheiro. Ali não poderia medrar. Transplantar pinheirinhos não costuma resultar bem. Com muito cuidado tento trazer o pequeno rebento à superfície sem que a raiz se parta. Os pinheiros deitam raízes fundas. Mesmo este pequeno rebento tem uma raíz bem maior que ele. Num lugar de terra mais farta abri uma cova e, com muito cuidado, plantei-o. Depois aconcheguei bem a terra à sua volta.
Vamos ver se vinga, tomara que sim. Que vingue para vingar o grande pinheiro que tombou com o vendaval de inverno.
À sua volta coloquei umas pedras para delimitar o seu espaço pois, quando vier a primavera, a erva vai rebentar e cercá-lo e, assim, quando se for roçar o mato, as pedras farão alguma barreira, não vá a máquina feri-lo de morte.
À sua volta coloquei umas pedras para delimitar o seu espaço pois, quando vier a primavera, a erva vai rebentar e cercá-lo e, assim, quando se for roçar o mato, as pedras farão alguma barreira, não vá a máquina feri-lo de morte.
Plantei também um pequeno cedro. Gosto muito de cedros. Quando grandes são frescos, densos e perfumados.
Plantei também loendros e callunas. São resistentes, floridos e perfumados, é o género de arbustos que se dá muito bem por aqui.
Não uso luvas, não me dá jeito. Na cozinha também não uso. No campo gosto de sentir a terra, a terra molhada. Ajeito as plantas à mão, é quase como se estivesse a ajeitar a roupa na cama a um bebé. E como usar luvas e não sentir a pele dos bebés?
Claro que por estas e por outras é que não consigo ter unhas compridas. Nails é coisa que não se dá comigo. Vejo as unhas das raparigas do escritório, artísticas, em dois tons ou com estrelinhas, unhas enormes. É coisa que não consigo: entre as unhas compridas e o gosto de sentir a terra nas mãos, opto, sem dúvida, pela segunda alternativa. A pele também se ressente, fica seca mas, enfim, depois tento compensar com um creme.
As uvas estão doces, muito doces, alguns bagos já estão comidos pelos pássaros - e como eu os compreendo - outros são quase passas. São uvas moscatel. Mel. Um mel líquido. Andei a apanhá-las mas, enquanto as apanho, vou comendo. E logo as uvas que, tal como os figos, engordam tanto. Paciência. Logo faço dieta ou logo faço caminhadas mais longas para compensar.
Na sexta feira tinha descoberto uma pequena livraria que vende livros dos fundos. Uma maravilha. Qualquer dia só encontro livros que me interessem nos fundos. Comprei logo uns quantos. Baratos. Só um custou 7€, os outros foram a 3.
No sábado li A Arte de Caminhar de Henry David Thoreau um livrinho cuja leitura me encheu de prazer. Sou caminhante de curtas caminhadas mas sei bem o prazer que é caminhar, ir para onde os passos nos levam, e o prazer imenso de percorrer os caminhos limpos da natureza, viver dentro dela, ser apenas um dos muitos pequenos seres que a habitam.
No domingo, de tarde, deitada ao sol, estive a ler 'A terra que um homem precisa' de Tolstoi (ou Tolstoy). Conta a história de um homem chamado Pahóm que nunca estava contente com o que tinha. Podia ser feliz, era bem sucedido, mas comparava-se com quem tinha mais e ficava impaciente enquanto não conseguia ter também. Ia sucessivamente largando o que tinha para ter mais e mais. Por fim, soube de um sítio de terras férteis a preço baixo. Partiu para lá, com o criado, para comprar terras, muitas terras, num lugar longe do sítio onde vivia com a mulher e os filhos. Nessa terra vivia um povo, os Baskirs. Os Bashkirs vendiam por um preço baixo toda a terra que ele pudesse percorrer e marcar num único dia desde que voltasse ao sítio de onde tinha partido antes do sol se pôr. Pahóm correu, correu para marcar mais e mais terra, correu, exausto, correu para conseguir chegar ao ponto de partida. Quando conseguiu, de tal forma estava exausto, caíu morto.
Os Baskirs davam estalos com a língua, para mostrar a pena que sentiam. O criado pegou na pá, fez uma cova em que coubesse Pahóm e meteu-o dentro; sete palmos de terra: não precisava de mais.
Assim termina a história.
A música acima é Serenade de Schubert interpretada por Horowitz. As pinturas que se vêem no vídeo são de Ivan Aivazovsky (1817-1898).
Hoje no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, Mia Couto traz as suas palavras simples como a terra e as minhas juntam-se às dele quase como se rezassem a um deus que anda desaparecido. A seguir há duas grandes vozes, Kate Aldrich e Daniela Dessi, interpretando a Norma de Bellini. Muito gostaria de vos ter por lá.
Relembro: se quiserem testemunhar a minha revolta e náusea por causa da TSU das viúvas, por favor desçam até ao post abaixo.
Não uso luvas, não me dá jeito. Na cozinha também não uso. No campo gosto de sentir a terra, a terra molhada. Ajeito as plantas à mão, é quase como se estivesse a ajeitar a roupa na cama a um bebé. E como usar luvas e não sentir a pele dos bebés?
Claro que por estas e por outras é que não consigo ter unhas compridas. Nails é coisa que não se dá comigo. Vejo as unhas das raparigas do escritório, artísticas, em dois tons ou com estrelinhas, unhas enormes. É coisa que não consigo: entre as unhas compridas e o gosto de sentir a terra nas mãos, opto, sem dúvida, pela segunda alternativa. A pele também se ressente, fica seca mas, enfim, depois tento compensar com um creme.
As uvas estão doces, muito doces, alguns bagos já estão comidos pelos pássaros - e como eu os compreendo - outros são quase passas. São uvas moscatel. Mel. Um mel líquido. Andei a apanhá-las mas, enquanto as apanho, vou comendo. E logo as uvas que, tal como os figos, engordam tanto. Paciência. Logo faço dieta ou logo faço caminhadas mais longas para compensar.
Na sexta feira tinha descoberto uma pequena livraria que vende livros dos fundos. Uma maravilha. Qualquer dia só encontro livros que me interessem nos fundos. Comprei logo uns quantos. Baratos. Só um custou 7€, os outros foram a 3.
No sábado li A Arte de Caminhar de Henry David Thoreau um livrinho cuja leitura me encheu de prazer. Sou caminhante de curtas caminhadas mas sei bem o prazer que é caminhar, ir para onde os passos nos levam, e o prazer imenso de percorrer os caminhos limpos da natureza, viver dentro dela, ser apenas um dos muitos pequenos seres que a habitam.
No domingo, de tarde, deitada ao sol, estive a ler 'A terra que um homem precisa' de Tolstoi (ou Tolstoy). Conta a história de um homem chamado Pahóm que nunca estava contente com o que tinha. Podia ser feliz, era bem sucedido, mas comparava-se com quem tinha mais e ficava impaciente enquanto não conseguia ter também. Ia sucessivamente largando o que tinha para ter mais e mais. Por fim, soube de um sítio de terras férteis a preço baixo. Partiu para lá, com o criado, para comprar terras, muitas terras, num lugar longe do sítio onde vivia com a mulher e os filhos. Nessa terra vivia um povo, os Baskirs. Os Bashkirs vendiam por um preço baixo toda a terra que ele pudesse percorrer e marcar num único dia desde que voltasse ao sítio de onde tinha partido antes do sol se pôr. Pahóm correu, correu para marcar mais e mais terra, correu, exausto, correu para conseguir chegar ao ponto de partida. Quando conseguiu, de tal forma estava exausto, caíu morto.
Os Baskirs davam estalos com a língua, para mostrar a pena que sentiam. O criado pegou na pá, fez uma cova em que coubesse Pahóm e meteu-o dentro; sete palmos de terra: não precisava de mais.
Assim termina a história.
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A música acima é Serenade de Schubert interpretada por Horowitz. As pinturas que se vêem no vídeo são de Ivan Aivazovsky (1817-1898).
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Hoje no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, Mia Couto traz as suas palavras simples como a terra e as minhas juntam-se às dele quase como se rezassem a um deus que anda desaparecido. A seguir há duas grandes vozes, Kate Aldrich e Daniela Dessi, interpretando a Norma de Bellini. Muito gostaria de vos ter por lá.
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Relembro: se quiserem testemunhar a minha revolta e náusea por causa da TSU das viúvas, por favor desçam até ao post abaixo.
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Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana.
Que as patifarias do desGoverno não vos tirem a vontade de ser felizes.
Que as patifarias do desGoverno não vos tirem a vontade de ser felizes.
5 comentários:
in heaven (outros locais) - https://www.youtube.com/watch?v=r6qi393Z7L8
Cara Jeitinho,
Procuro muitas vezes esta sua casa, por nela me sentir acompanhada.Partilho das mesmas angustias, revoltas e impotencias perante as injustiças a que todos os dias nos sugeitam.
Por vezes penso que Deus(perciso acreditar que ele existe), anda de tal modo sobrecarregado que se esquece de algumas almas.
Mas não se diz que o seu poder é infinito?
Vamos inventando fé e esperança, para isso nada melhor que viver o lado bom da Mãe Natureza.
Obrigada por mais esta visita ao seu Paraíso.
Acompanho a sua indignação. Repare como, provavelmente, pela primeira vez em democracia, se nos impõe como natural um critério moral na avaliação deste governo. Ora isso significa que estamos a atingir um limite perigoso em democracia. De facto, este governo e a parelha que o dirige suscitam uma espécie de repulsa moral mesmo a quem quer cingir-se à análise política.Este governo é um caso patológico e paradigmático das consequências nefastas do utilitarismo em política, a velha ideia de que os fins justificam os meios.Atingimos aquele ponto em que o silêncio é um acto de cumplicidade com a indignidade. Por isso a cumprimento por não silenciar a sua indignação.
jar
pena os estômagos vazios
a cor é boa para ler
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