domingo, março 24, 2013

Miguel Veiga fala destes tempos desalmados entregues a políticos de aviário; João Silvestre explica como uma austeridade para além do acordado com a troika fez desparecer 17,2 mil milhões de euros da economia; Daniel Bessa preocupa-se com a dívida pública que não pára de crescer, sem que os responsáveis políticos se preocupem com isso; e João Duque ironiza: que 'siga o enterro' com tudo a derrapar tão perigosamente... E, para a coisa não acabar mal, 'a pele que há em mim', cantada pela Márcia; e Rui Pires Cabral desfia um nocturno com aviões.



Miguel Veiga


Qual o motivo para rejeitar o candidato do seu partido?

Por ser um candidato do aparelho que só pode vingar, num partido como o PSD, que é livre e aberto, porque o aparelho o impôs, tal como impôs Passos Coelho. Quem fez Passos Coelho, primeiro-ministro?

Quem foi?

Uns tipos do piorio, que existem em Portugal. Um é Miguel Relvas, o outro é Marco António. Andaram durante um ano e meio a bater as distritais para angariar votos, a realidade é esta.

Quem está no poder, o PSD ou o aparelho?

O aparelho, quanto a isso não há dúvida. Encontram algum social-democrata no Governo? Nem um. Estes tipos não têm convicções. Simplesmente não têm uma ideia de convicções e, portanto, não têm uma ética da responsabilidade. Querem o poder pelo poder. Estão centralizados, incrustados e vivem num regime de sucessão eterna, quase dinástico, que se torna opressivo e do mais fechado que há. O regime é autofágico. Vão-se reproduzindo e é como um panzer. Levam tudo à frente. Este é um tempo crepuscular.


(Excerto da entrevista de Ana Soromenho e Valdemar Cruz a Miguel Veiga, advogado portuense, que ajudou a fundar o PPD e que, aos 77 anos, não desiste de uma rebeldia que o leva a ver o actual PSD como um partido de 'políticos de aviário' - Na Revista do Expresso deste sábado)


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Impacto das medidas de austeridade na economia dez 'desaparecer' 17,2 mil milhões de euros.

Governo aplica medidas de 23,8 mil milhões de euros entre 2011 e 2013 mas só consegue baixar o défice em 6,6 mil milhões de euros.

Governo foi além da troika mas nem assim impediu que metas tivessem de ser revistas duas vezes


(Tópicos do interessante artigo de João Silvestre no Expresso - Economia)


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Daniel Bessa


Alguns líderes políticos valorizam o défice público - para o que formulam diferentes trajectórias desejáveis. Outros valorizam a taxa de juro paga pela dívida pública, tanto na emissão como em mercado secundário.

Em minha opinião, sem querer desmerecer a importância destes objectivos, há, neste momento, um outro mais importante: o peso da dívida pública no PIB, que se aproxima dos 130%, para um limite aceitável da ordem dos 60%.

Pode o défice público estar a descer (menos que o desejável, em minha opinião). Pode até a taxa de juro da dívida pública estar momentaneamente controlada (muito por força da acção do BCE, em minha opinião).

A prazo um pouco mais longo, a solvabilidade do Estado português dependerá sempre do peso da sua dívida no PIB. E esta não pára de crescer, por várias razões, que se acumulam (défice público, inflação reduzida, decréscimo do PIB).

Preocupa-me sobremaneira que uma boa parte dos responsáveis políticos do meu país não se preocupem com esta questão - mostrando-se satisfeitos, por exemplo, sempre que alguém lhes autoriza um aumento do défice público.


(Excertos do artigo de Daniel Bessa no Expresso - Economia [e permito-me eu resmungar: é pena é que esteja a acordar para a realidade tão tarde; não viu que ia dar nisto enquanto andou a apoiar estes incompetentes?])


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João Duque


Vejamos um resumo de objectivos e resultados para a política orçamental e para o produto.

Para o défice orçamental previa-se 5,9% para 2011 e obteve-se um défice de 6,2%; Previa-se um défice de 4,5% para 2012 e observou 6,6%; (...)

Para o PIB, o memorando tinha implícita uma queda de -0,4% para 2012, observou-se uma queda de -3,2%; em 2011 previa-se um crescimento de 2,5% para 2013, agora estima-se uma quebra de -2,3% (...)

Sucesso?


(Excerto do artigo semanal de João Duque no Expresso - Economia [e resmungo eu de novo: e, sendo tão douto, presidente de uma das mais conceituadas Faculdades de Economia do País, porque é que só deu por isto tão tarde? Tão apoiante que era de Passos Coelho há uns tempos atrás...])


*

Temas desconsoladores? De desânimo? De desesperança? Pois são. As coisas estão mesmo muito preocupantes. A devastação está a atingir proporções das quais dificilmente escaparemos incólumes. Se isto não é travado o quanto antes, não sei o que vai ser deste País. O que vai ser de nós? Dos nossos filhos? Dos filhos dos nossos filhos?

Temos que impedir que isto continue. Não sei bem como mas o caminho que isto leva é de acelerada destruição em múltiplos quadrantes e razias desta monta têm que ser travadas, seja como for.

*

Para isto não acabar assim, neste tom desmoralizado, vou deixar-vos com uma canção de que gosto bastante, A pele que há em mim de Márcia






                                                                        para o Miguel Martins


Não estejas só. Tu também és
o que já foste e o que esperaste
vir a ser. A manhã que se aproxima

há-de passar, não importa. Para já,
os diligentes aviões de madrugada
sobrevoam o desenho das colinas

de Lisboa - e cá dentro, muito fundo,
numa redoma de música, os amigos
ainda bebem para esquecer

o futuro, que outro remédio
não têm, se a hora não se repete
e a vida é só esta espuma.


['Nocturno com aviões' de Rui Pires Cabral in Resumo, a poesia em 2011]

*

Este post saíu-me enorme (coisa que já não vos deve admirar, sabido que sou de muitas palavras) mas, ainda assim, muito gostaria que me visitassem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje há uma novidade muito especial, Adília Lopes. Sendo ela como é, desestabilizou-me por completo e, por isso, não se admirem com o que lá vão encontrar. Na música, temos a despedida de um grande intérprete, Nelson Freire interpretando Granados.
.
*

E quero ainda desejar-vos um belo domingo. Domingo é dia de passear. Mesmo que chova, vamos para a rua ver o que há de belo à nossa volta, está bem?

6 comentários:

Histórias de Nós disse...

esta versão é ainda mais maravilhosa, linda, simples, perfeita..! Ora (ou)vê
http://www.youtube.com/watch?v=LrNz37uc7kc

Anónimo disse...

Pouco paciente para comentadores, prefiro a leitura, e exegese, do D.R;,a 2.ª série, então, de absoluta e imperdível aprendizagem sobre quem é o quê.

[meros exemplos: despachos 4109 e 4110 de 20 de março de 2013]

AdeSá

jrd disse...

Miguel Veiga é um "Ás" clássico que sempre marcou posição no baralho do PSD. Já o Duque não passa disso mesmo, um "duque", não vale nada...
Boa semana

Anónimo disse...

Já lá vai o tempo em que o PSD, ou PPD, apesar de tudo não deixava de ter preocupações de ordem social. Onde havia gente que tinha um critério diferente dos dias de hoje, no que à postura política respeitava.
Hoje, de há uns anos a esta parte, tudo mudou.
Mas, atenção, mudou também no PS.
Em tempos, ser do PS, do PSD/PPD, ou CDS, tinha a ver, de facto, com opções de carácter político-económico, que se traduziam em mais ou menos regalias sociais, entre outras coisas, mantendo-se sempre, apesar de tudo, um limite, um certo respeito pelos mais desfavorecidos, com, talvez, a excepção do CDS, que era um Partido muito menos preocupado com essas questões e claramente mais reaccionário, sem, todavia, deixar de ser democrático, naturalmente.
Hoje, o CDS, sem ter mudado uma vírgula do que sempre foi, um Partido de Direita – agora ridiculamente travestido de Popular, uma invenção do “artista” Paulo Portas – está, a meu ver, “à esquerda” deste PSD irreconhecível, face ao seu passado, um PSD que através deste seu neo-liberalismo radical (e politicamente obsceno), poderá, sem exagero, ser considerado quase de extrema-direita (como MST, um dia, o designou).
Gostei de “rever” Miguel Veiga. Se Passos, Gaspar, Moedas, Borges – e até Portas – o ouvissem, um pouco que fosse, talvez aprendessem alguma coisa.
E, quanto à Oposição, lá temos o Seguro e a sua “Moção de Desconfiança”.
Ponho-me aqui a pensar, olhando o mar ao fundo, porque diabo, ao fim destes anos todos, tenho à frente da gestão Política, Económica, Financeira, Social – e Cultural, deste extraordinário País, que é o nosso, gentinha do tipo do Passos e companhia (incluo aqui Portas), Seguro e por aí fora!
Mas não há ninguém melhor que queira avançar – que existe? Deitando para o caixote do lixo esta malta miserável?
Que tristeza!
P.Rufino
PS: a leitura do D.R tem-nos revelado umas tantas porcarias, desta cambada do PSD/CDS, sobretudo ao nível das nomeações diversas. Um nojo!

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM!

um sinal claro da desagregação do Governo e da sua estratégia e prática política é ver os Duques desta terra (não só o coitado do João,um dos grandes apoiantes do Passos que chegou a ser apontado como um possível Ministro da Finanças) virem AGORA, e só agora, a descobrir que esta política está errada o que muitos paisanos e ignorantes como eu já tinham descoberto há muito tempo!
Eu devo mesmo ser um Génio!!!

um abraço

Pôr do Sol disse...

Mas não choveu, Jeitinho!

Esteve um dia lindo de Sol e muitos fomos à procura da beleza que a nosssa cidade tem, para nos fazer esquecer a porca da politica pelo menos ao Domingo.

Entrei no CCB e... havia poesia!
Poesia escrita, falada, dita.

Muita gente conhecida, mas não a reconheci entre tantos. Fica para a proxima.

A propósito, os livros continuam caros demais.

Uma boa semana para si e todos os seus. Um beijinho.