Os chineses afinal não são apenas replicadores de tecnologias, modas e costumes: conseguem também ser inovadores.
在办公室约会 |
Li uma notícia em que se diz que: “Muitas empresas consideram as relações amorosas entre trabalhadores uma potencial fonte de complicações no trabalho, mas uma empresa de tecnologia chinesa vê a questão de uma perspectiva bem diferente: dá bónus a quem namorar com colega. A compensação foi criada porque muitos funcionários pareciam deprimidos. Caso o namoro não resulte, os trabalhadores podem tirar dois dias de folga para se recomporem”.
Acho fantástico. Nunca me passaria tal pela cabeça.
No entanto, concordo que nada como alguém andar apaixonado para sentir um pico de adrenalina que é óptimo para o desempenho profissional.
De resto, é muito normal nos empregos haver casos entre colegas. Sempre ouvi dizer que o melhor ambiente para isso são os hospitais. Uma amiga minha que é médica num dos grandes hospitais de Lisboa conta-me histórias do além. Geralmente conclui: 'Sabes...? Há lá muita cama....'
Por razões óbvias, não vou falar do presente mas, apenas, do passado. Assim já passou, já não interessa.
Aqui há uns anos, na empresa onde eu estava, numa altura de grande efervescência profissional e em que a média de idades se situava entre os trinta e tal e os quarenta e tal anos, eram poucas as pessoas que não acasalavam por lá em regime de não exclusividade (ou seja, tudo gente casada, bons pais e mães de família).
Um colega, grande amigo meu, acasalou com a minha secretária; a secretária de outro director acasalou com outro director; uma jovem recém admitida, pouco dotada intelectualmente mas inversamente dotada do ponto de vista físico acasalou com outro director (e, aliás, convidou-o para o casamento, ao qual ele gostosamente compareceu, obviamente acompanhado pela mulher - coisa que na altura me fez um bocado de impressão; hoje já não me faria, já vi de tudo); um outro acasalou com a respectiva secretária e veio, mesmo, a casar com ela; um funcionário administrativo do mais apagado que havia acasalou com uma administrativa de outro serviço, igualmente apagada; uma outra administrativa daquelas com um corpo de tipo viola, que o Vilhena tanto parodiava, acasalou com um motorista franzino; uma colaboradora minha, tímida e recatada acasalou com um de outro serviço; e por aí fora.
O presidente, homem fresco, também ele, já que vivia com uma directora de uma empresa na qual antes tinha sido administrador (sendo, na altura, casado com a mãe dos filhos), fartava-se de rir. No meio daquilo tudo, o que achava mal era o tal que andava com a jovem (que já namorava com o que viria a ser seu marido) e que 'dava muita bandeira'. Saíam juntos de carro ao meio dia e picos e apareciam às 3 e tal ou 4 da tarde, todos risonhos, andavam aos segredinhos pelos corredores, depois ela zangava-se, fazia cenas, depois faziam as pazes: um filme... Dizia-lhe o presidente, se fosse preciso ao pé de nós, outros colegas dele, 'Ela é muito gira mas é completamente burra, parece que você anda a aproveita-se da burrice da rapariga. Não lhe fica bem isso, pá'. E concluía, dirigindo-se ao meu amigo que namorava com a minha secretária, 'Não é o caso deste que se vê que é mesmo amor, é um caso de bigamia'. E fartavam-se de rir, todos no meio da maior alegria. Eu ficava ainda um bocado chocada com tanto desplante, mas nada por aí além já que isso acontecia para onde quer que eu me virasse.
Quando foi aquilo do casamento, o meu colega contou-me e eu achei mal que ele fosse e levasse a mulher. E perguntava-lhe eu 'E se a tua mulher descobre, já viste? É péssimo o que estás a fazer. E ela, de facto, é mesmo maluca, estar a convidar-vos...' Ele ria-se 'Que mal é que tem... Lá estás tu. Quadradona. E como é que a minha mulher is saber?. Eu encolhia os ombros, 'Sei lá, imagina que alguém lhe conta'. Mas ele ria-se, 'claro que não, iam contar porquê?'
Algum tempo depois, na minha casa, estava eu sentada à cabeceira da mesa, a mulher dele à minha esquerda e ele na cadeira a seguir. A mulher, muito habilidosa, contava-me que tinha feito um chapéu muito giro com o mesmo tecido do vestido que tinha levado ao casamento da outra e descrevia-me o vestido e o chapéu. E perguntava-me, intrigada, porque é que a jovem não me tinha convidado nem a mais ninguém, só ao marido, que até era de outro serviço. E ele ouvia a conversa, com o braço por cima dos ombros da mulher, carinhoso, enquanto se ria, gozão, sem ela ver. E quando eu inventei uma desculpa qualquer para a jovem só ter convidado o marido, ele, o safado, piscou-me o olho, mesmo como quem diz 'Estás a ver que ninguém lhe diz, nem ela desconfia de nada?' e dava-lhe um beijinho carinhoso. Mas, a verdade, é que gostava mesmo, mesmo da mulher, disso nunca tive dúvidas.
Mas o caso que mais me surpreendeu foi o de um colaborador meu que, na altura já andava perto dos sessenta anos, pai de família, avô. Começou a desenvolver estreita amizade com a secretária do presidente, senhora divorciada, também avó, senhora essa que tinha um namorado de idade, um engenheiro (como se comentava à boca pequena) que, inclusivamente, lhe ofereceu uma operação plástica no Brasil.
Um santo dia, estando eu em casa, já noite, recebo uma chamada de uma senhora que se identificou como mulher desse meu colaborador. Muito nervosa, pedindo-me mil desculpas por me estar a incomodar, voz trémula, queria que eu confirmasse se tinha enviado o marido em serviço para uma cidade do norte do país. Apanhada de surpresa, fiquei sem resposta. Claro que não o tinha mandado, o que é que ele iria lá fazer? Por um lado, achava que não devia desmascará-lo mas, por outro, não fosse acontecer alguma coisa, não queria que a mulher viesse a dizer que eu o tinha enviado para algum lado, quando não o tinha enviado para lado nenhum. Acho que devo ter ficado calada o tempo suficiente para ela perceber e me dizer, 'Deixe estar, não diga nada, já percebi tudo'. E desatou a chorar e a contar-me as mentiras em que o andava constantemente a apanhar e acrescentava sempre, 'um homem daquela idade, já com netos, uma vergonha, anda de cabeça perdida'. O que ele aprontou até se reformar, não vos passa pela cabeça.
Podia estar aqui o resto da noite a contar-vos histórias. A mais picante de todas seria a que envolveu durante anos a pessoa mais poderosa da empresa, pessoa conhecidíssima a nível de opinião pública. Não o farei, claro. Aliás foi um segredo muito bem guardado.
E, no entanto, enquanto a vida amorosa andava ao rubro, a vida profissional era uma agitação, todos motivadíssimos, uma alegria no trabalho que não vos digo nada. Tenho ideia que nunca como nessa altura prodigiosa a produtividade foi tão intensa.
Por isso, sou capaz de achar bem a ideia da tal empresa chinesa. Oferecendo bónus, é mesmo capaz de motivar o pessoal e não há nada melhor para a produtividade do que a motivação.
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Hesitei em escrever isto depois de ter evocado a memória de Joaquim Benite no post abaixo. Mas depois achei que não faria sentido sentido já que, como sempre, por imensa e dolorosa que seja a perda, a vida continua.
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Desejo ainda convidar-vos a visitarem o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje as minhas palavras olham e fingem que não vêem um belo corpo de homem num convés. Fazem companhia às palavras de Daniel Filipe. A música hoje é linda, uma sonata para piano de Haydn. Uma maravilha.
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Aos que estão afastados destes meios em que há muitas mulheres e muitos homens, peço que não fiquem apreensivos com coisas como as que referi. Nem sempre acontece, claro. Há pessoas imunes a este tipo de tentações. Além disso, geralmente são coisas sem importância, mais vale nem pensar nisso. O que não se sabe, não existe.
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E, por hoje, nada mais.
Desejo-vos um belo dia! Saúde e alegria!
8 comentários:
Este poste estava mesmo a pedir a famosa "história do estagiário" mas, manda o bom senso que se mantenha a devida reserva.
;)
jrd,
Pois. Percebo. Também me ocorreu uma passagem de um dos livros de Philip Roth, uma em que ele descreve com pormenor alguns episódios no escritório. Lembro-me de me ter fartado de rir com as acrobacias e os riscos que ele descrevia.
Mas optei por não ir à procura do livro para transcrever umas passagens para que o Google não passe a enviar-me gente que faça perguntas escabrosas.
Haja boa disposição nestes tempos tão assustadores é o que é preciso, que não percamos a capacidade e a vontade de rir e de viver.
Um abraço, jrd!
Mas o que é isto?! Estou abismada. Esta é que é a vida nas empresas? È bem divertida, e eu que pensava que imperava a luta pela progressão na carreira...
Pelos vistos é o que faz falta nos estabelecimentos de ensino: nem progressão, nem paixão, nem fugas ao meio-dia. Uma chatice.
(Já me ri hoje com esta sua descrição. Obrigada!)
Um beijinho
Os Chineses talvez tenham razão, pois se o trabalhador estiver motivado, produz mais, e é o que eles querem.. gente feliz com muito trabalho e pouco dinheiro!...
Também tive ocasião de presenciar muitos casos amorosos nas empresas por onde andei, é tal e qual como descreveu e até me surpreendi pelas coincidências. Obrigada por este relato tão interessante!
Um beijinho
“Naquele final de dia, como habitualmente, ele arrumava a documentação na sua secretária, por forma a não perder tempo na manhã seguinte e poder reler o dossier, antes da reunião que se lhe seguiria.
A porta do gabinete estava entreaberta e aquela que passara a ser a sua nova Secretária entrou de mansinho e com um sorriso perguntou: “ainda vai precisar de mim?” Era uma mulher interessante, indiscutivelmente. E que, já tinha dado para perceber, gostava de se insinuar, mas com descrição q.b.
Respondeu-lhe “que não, que podia ir. Obrigado e até amanhã!”, e retribuindo-lhe o sorriso, de forma educada. Não era a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez, que a Secretária se mostrava assim tão disponível, ao fim do dia. Já tinha dado para ele ter reparado. Aliás, a Secretária, eficiente, era sempre de uma grande amababilidade para com ele, durante o dia de trabalho. Nunca se esquecia, por exemplo, de lhe trazer “o cafézinho” ao escritório, á hora do costume, a meio da manhã.
Naquele dia mostrou-se, digamos, um pouco mais “disponível”: “Dr, veja lá se de facto não vai precisar de mim. Como não tenho compromissos pessoais, se quiser posso ficar aqui, ou vir aqui ter depois de jantar, se assim desejar. A sério, Dr, comigo esteja à vontade. O trabalho fora de horas não me assusta”.
Estava dado o mote. Parou de remexar na papelada, olhou-a devagar (era uma mulher atraente) e, pesando as palavras, disse-lhe: “agradeço-lhe. Mas, hoje não vou precisar de si. Aproveite para descansar, tem trabalhado muito. Até amanhã! “
Mas a Secretária era uma mulher persistente e enquanto simulava estar de saída do escritório, ainda gemeu: “Ah, mas está chover tanto! Vou-me molhar toda. Que maçada!”
Ele, enquanto vestia o sobretudo, olhou-a e respondeu: “bom, ok, dou-lhe uma boleia. Assim chega enxuta a casa!”
P.Rufino
Olá Leitora,
Dos muitos anos que levo de trabalhar em empresas não tenho ideia nenhuma dessas coisas de progressão da carreira e coisas assim. Para começar não há carreiras. Nem sei o que isso é. As pessoas evoluem de acordo com o que demonstram e de acordo com as oportunidades que surgem.
Acho que algumas meninas mais novinhas, com a cabecinha educada pelas telenovelas, acham que terão vida melhor se seduzirem algum director ou administrador. Um ou outro 'caso' nasce daí. Mas a maior parte a que tenho assistido resulta de atracção pura e simples. As pessoas estão ali a trabalhar, cruzam-se, dizem piadas, etc, e, às tantas surge uma empatia especial.
Mas que não se pense que é um regabofe desatinado. Nada disso. Sempre se trabalhou bem a sério. Estas coisas raramente prejudicam o desempenho profissional e há muitos 'casos' que nem se vêem à vista desarmada. Acabam por acabar com o tempo, sem problemas nenhuns. Outros, menos, acabam em coisa a sério. Aquela minha secretária vive agora com o meu colega, por exemplo.
Um dia ainda me ponho a fazer histórias em que cada história é um caso a que assisti. Há casos engraçadíssimos.
Eu sei que ao estar a escrever isto e desta forma, devo escandalizar meio mundo. Mas é o que é. Não emito juízos de valor.
No ensino deve também haver histórias. Porque não haveria de haver? Há sempre que há homens e mulheres. Já fui professora lembro-me que o ambiente não era excepção. E, aliás, com o tipo de horário que têm ainda deve ser mais fácil. Claro: nada que se compare com quem fica de banco (médicos e enfermeiras, ou médicas e enfermeiros, ou médicos e médicas, ou enfermeiros e enfermeiros). No outro dia contaram-me uma história linda mas foi coisa que se passou há tão pouco tempo que não me arrisco a contar aqui.
E só espero é que os médicos que me lêem e que são 'certinhos' não fiquem muito zangados comigo...
Um beijinho, Leitora... e divirta-se!
Olá Maria Eduardo,
Ainda hoje o meu marido, que lê o que aqui escrevo, me perguntava quem era a pessoa muito conhecida a que eu me tinha referido. Sempre lhe fui contanto as peripécias, até porque ele sempre conheceu muitos dos intervenientes. quanto aos outros que referi, ele identificou-os a todos.
E ao longo dos tempos sempre assisti ao mesmo tipo de histórias. E os meus amigos que trabalham noutras empresas, idem. São histórias que, a maior parte, acabam como começaram. Sem dramas.
Mas houve também casos de cartas anónimas para as mulheres dos envolvidos, crises, coisas aborrecidas.
Mas, enfim, quase tudo passa.
E quantas vezes quem anda a viver um romance anda feliz, bem disposto, produtivo?
Um beijinho, Maria Eduardo.
Oh la la, P. Rufino,
Temos uma das suas histórias...? Daquelas que escreve e que ficam na gaveta?
Olhe que, de facto, como tenho dito, a sua escrita prende.
Gostei do doutor bem comportado, resistente, inabalável e gostei do final em aberto. Que ele reuniu argumentos para se desculpabilizar caso alguma culpa lhe viesse a ser assacada, lá isso é verdade.
Que a Secretária mostrou ser uma profissional dedicada também é verdade.
Que um cavalheiro não deixa uma senhora à chuva, de noite, também.
Agora a imaginação de cada um que complete a 'cena', não é?
Muito obrigada pela história. Diverti-me.
Boa noite, P. Rufino!
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