domingo, dezembro 02, 2012

Folha do meu diário: registo de um dia frio, luminoso. Dos gatos e das gaivotas do Ginjal até ao aconchego à lareira in heaven - o tempo passando com vagar e doçura





O frio que estava de manhã... Este vento frio leva-me para junto do rio. Como se descreve o frio em palavras? O frio que enregela as mãos, o frio que entra pelo pescoço, que arrepia as águas, que arrasta canas e árvores para as correntes que levam o rio para o mar? Não sei, faltam-me as palavras.

Lá fui. Pouca gente. Quando o tempo está assim, o Ginjal fica entregue ao tempo. Dois ou três pescadores nos cais, dois ou três no jardim. 

A meio, reparo que um dos armazéns está aberto e, para meu espanto, vejo o ganso do outro dia a dirigir-se para lá. Vou atrás dele, espreito, e ele também. É um espaço amplo, com caixotes, redes, alguidares. O ganso afoita-se, entra. Eu não, fico à porta. O ganso olha, então, para mim mas desinteressa-se logo de seguida, está mais interessado em descobrir o que por lá há. 




Vê então uma alface num caixote que está em cima de uma televisão e atira-se logo a ela. Não sei de onde vem este ganso, se é companhia de algum pescador, se vive por ali, não sei. Mas é engraçado. O Ginjal é um lugar mágico, habitado por seres misteriosos.

Num dos cais, o cão que por vezes vejo por ali lá estava ao sol. O vento frio agitava-lhe o pêlo mas talvez esse seja assim que ele se sente bem pois, tranquilo, olhava quem passava, olhava o rio, os barcos, indiferente ao arrepio que me percorria a pele.





Penso que olhava o ganso indiscreto que espreitava cada recanto do armazém em frente; mas há neste cão uma sabedoria, um saber feito de vida, que o torna indiferente em relação a minudências irrelevantes.

Prossegui o meu passeio, as mãos geladas enquanto segurava a máquina, os olhos lacrimosos pelo frio, os olhos agradecidos por uma beleza tão límpida.

Um pouco mais à frente, entre o gradeamento da beira do cais e o rio, mesmo à beira, como se hesitasse entre voar ou estar ali, prolongando o prazer do momento que antecede o voo, uma gaivota. 

Linda, olhar inteligente. Olhava para mim, depois desviava o olhar dourado, olhava o rio, e, depois, olhava-se de novo, muito tranquila. Eu mesmo junto dela, leva-me contigo, leva-me contigo, e ela serena, sereníssima.




Inclinava a cabeça para me ver bem, talvez para me mostrar a sua compreensão. Fotografei-a de frente, de lado, aproximei-me o mais possível. Não se afastou nem um pouco, talvez tivesse deixado que eu lhe tocasse. Mas num ser belo e livre assim não se mexe, apenas se olha. Talvez um dia eu me deite a voar com ela. Mas não já. Só um dia em que possa não voltar se assim o desejar.

Continuei. Fui até ao jardim. Subi aquelas escadas que não levam a lado nenhum e que têm nuvens pintadas. De lá vê-se Lisboa inteira, o rio inteiro, as margens, as duas pontes, os navios que entram a barra, o céu, a imensidão de um espaço abençoado. Tanto frio, um frio tão limpo, tão azul.

Reparo então numa mensagem amorosa que alguém  lá deixou no princípio do ano, palavras escritas sobre uma nuvem azul, uma nuvem a que o tempo vai acrescentando novas tonalidades.



Amo-te Shochiinhas
:$


Fui à procura do significado de :$ e vi que significa que, quem escreve, está envergonhado. 

Enterneço-me. Vergonha? Vergonha de confessar um amor? 

Alguém confessou o seu amor escavando as palavras numa nuvem azul e isso é de uma enternecedora bravura.

Tomara que o tempo não desgaste este amor envergonhado, antes o enriqueça com as texturas que a vida acrescenta aos sentimentos entre pessoas que se querem bem. 

Depois desci e continuei. Ninguém. Nem gatos. Tinham-se abrigado do vento frio, certamente. 

Já me sentia desolada, quando, mais à frente, o meu amigo negro de olhos verdes atravessou uma parede e, com um miar amoroso, veio ter comigo, veio encostar-se às minhas pernas, seguiu-me miando, olhando-me com ar cúmplice.




Não sei o que fazer com este gato. Fico encantada. É lindo, vadio, terno. Eu fico parada a olhar para ele, tento perceber o que espera de mim e ele senta-se, paciente, olha para mim, espera. Fotografo-o uma e outra e outra vez, e ele espera. Depois afasto-me e ele segue-me, chamando-me, miando, um miar arrastado, quase silencioso. Hesitante prossigo, olhando para para trás, olhando para ele que me segue, desculpo-me, oh gatinho, mas que queres tu que eu faça...? Bsshhhh, bsshhhh, bsshhhhhh. E ele olha-me, tolerante, espera que eu um dia compreenda.

Mais à frente, reparo que sob uns arbustos que se agitam com o vento, uns olhos me olham. Espreito. Abrigado da maresia gelada, um gatinho colorido defende-se do frio.




Lindo, lindo, os olhos quase tão verdes quanto a verdura que o aconchega, olha-me, a princípio com alguma suspeição. Não sabe se há-de esgueirar-se para mais longe, se se deixe fotografar. Treme um pouco, é ainda novinho. Depois acaba por confiar em mim.

Semicerra os olhos percebendo tudo muito bem, reconhecendo o seu homem amigo e considera vagamente sobre a manhã, a tarde e a noite que há-de vir.

O gato, a gata, os gatos, as gatas. O animal que Rómulo ama e admira e observa como se nele visse uma entidade fabulosa, o mais veemente deus, a espécie perfeita!

Como este gato tem sorte! Não tem que procurar comida, nem água, nem sítio onde dormir, e é amado, é um gato amado.

Lá isso é verdade!

Isto seria se Rómulo tivesse tido um gato...

Na sua idade adulta, nunca houve nenhum gato. Só escrito com as letras no papel.


Quase assim eu. Nenhum gato meu. Mas estes maravilhosos gatos vadios de beira de rio que me olham com olhares profundos, meigos, compreensivos, meus irmãos, são bem mais do que isso, são exemplos de independência e liberdade. Alguma vez se pode possuir um gato para se poder dizer 'o meu gato'? 

Depois regressei, estava muito vento, muito frio. Como vos poderei dizer em palavras o frio azul, o vento carregado de limpidez e maresia?

Passou um casal. Fotografei. O meu marido puxa por mim, chama-me,  impacienta-se, já chega, anda, vamo-nos embora, e o que tem aquela mulher para que tu a fotografes...?

Explico, tem o cabelo no ar.




E, assim, já que não sei que palavras usar para vos dizer do vento e do frio, mostro-vos esta imagem, ambos encolhidos, ela sem mão nos cabelos.

Depois, escusava até de vos dizer, depois vim até cá, abriguei-me junto ao calor da lareira, o aconchego habitual aqui in heaven, o meu ninho, o ninho da gaivota vadia, da gata de beira de rio. Mas, antes de me aninhar junto ao fogo amigo, fui até lá fora, estava a apetecer-me uma coisa madura, doce, uma carne tenra e macia com sabor a flores. 




O medronheiro está carregado de pequenas flores e, também, de belos frutos vermelhos, doces, bons.

Fotografei este medronho, macio, envolto em cor e luz. Depois comi-o.


*

A música é 'Mar Estranho' do álbum 'A Montanha Mágica' de Rodrigo Leão.

O trecho em itálico é um excerto do livro 'Rómulo de Carvalho/António Gedeão - Príncipe Perfeito' de Cristina Carvalho, a filha.

*

Dizer-vos mais o quê? 

Que muito sinceramente vos desejo que este domingo seja um dia feliz.

E que desejo que, para o ano e nos seguintes, o 1º de Dezembro continue a ser Dia de Feriado. 
Temos que saber honrar a memória de Portugal.


19 comentários:

Anónimo disse...

Que belo passeio dei consigo logo pela manhã...

Admiro muito essa sensibilidade para descrever, fotografar, sentir tudo à volta como se caminhasse ao seu lado.

Obrigada pela partilha.
Desejo-lhe um bom domingo gelado no aconchego da lareira.
Abraço Lia

Tété disse...

Olá miguinha, que belos passeios logo pela manhã. Não sei se alguma vez explicou o porquê do Ginjal. Mas noto que é para si um lugar de eleição.
Não trouxe o gatinho pequenino? Que feliz ele seria junto de si.

O frio está cá, mas quando o sol brilha aquece-nos até às entranhas.
Bom domingo, muita saúde e felicidade.
Beijinho

JOAQUIM CASTILHO disse...

A Vida "enche-se" com pequenos nada que olhamos e vemos, sentimos e guardamos , pequenas emoções, um quase nada aqui outro ali. A riqueza do que vai acontecendo à nossa volta que nos vai aquecendo por dentro e torna um dia frio, banal, "sem nada de verdadeiramente importante" num dia com muitas pequenas coisas importantes porque são Vida que que se derrama em nós!

Obrigada UJM pelo seu exemplo!

Um abraço

ERA UMA VEZ disse...

Aos 5 anos cheguei a Azeitão. O meu irmão devia ter dois anos e meio e a minha saudosa irmã ainda residia na barriga da minha mãe.
O meu pai tinha sido ali colocado e
três meses depois, casa recuperada, chão encerado (ainda me lembro do lindo soalho) a família estava reunida.E ele orgulhoso.

Vivi lá até aos vinte e um. Muitas memórias boas, algumas mágoas, momentos especiais. Era o meu mundo.
Os Invernos eram muito frios e traziam-me inevitavelmente uma tortura anual: as frieiras. Tortura mesmo.
Mas as manhãs do primeiro de Dezembro eram especiais.
Quase de madrugada a banda filarmónica reunia, atravessava nos seus fatos de cotim as ruas da vila e parava em locais públicos respeitáveis. Um deles, imagine-se, à porta de minha casa.

Alinhavam-se e respeitosamente cantavam o Hino da Restauração olhando a bandeira içada junto à nossa janela. Não, nunca foi içada ao contrário.
No canteiro, debaixo da janela as plantas gemiam cobertas de geada.
E eu, a mais velha, contava orgulhosa aos irmãos, a razão da música, a coragem daqueles portugueses, o motivo de estarmos ali,ao nascer do dia, embrulhados no cobertor, narizes esborrachados na janela.
E eles ouviam-me com respeito. Pelo menos nesse dia.

Ontem ao serão, o meu marido e eu, tentámos recordar o Hino e entre os dois lá conseguimos. A letra não...já lá vão una anos. Fomos à Net. Nem assim.

Não sei se é saudosismo. Se for, assumo. É oficial: tenho saudades de algumas certezas e rituais do passado. Cada vez mais. Sem perder a noção do que nos aconteceu entretanto de bom, lamentando o que nos trouxe até aqui,mais ainda a imbecilidade de quem parecia ter solução para tudo e só mete os pés pelas mãos.

Diante do que estamos a viver, que adianta três ou quatro feriados a mais ou a menos???

Pelo menos as referências, a certeza de que podemos sempre sobreviver, inverter os ciclos, não seria importante?
Eu acho que sim. Festejar este dia, divulgar como conseguimos, estimulava a auto-estima.
Não pode ser só a selecção. E eu sou doida por ela. Cabeça de fora do carro, cachecol ao vento, hino em lágrimas, ai não...Não faço por menos.

Bem Jeitinho entusiasmei-me.
Quando nos tiram qualquer coisa, ficamos um pouco de luto. Nostalgias.

Um dia vou contar esta história às minhas netas. Pelo menos elas vão saber o que se passou no primeiro de Dezembro de 1640. Bem feita!!!

GL disse...

Que belo passeio, mau grado o frio e o vento. E que belos encontros.
Há lá animal mais bonito que o felino, desde o amoroso gato à magnífica chita!

Obrigada pela partilha.

Beijinho, boa semana.

P.S. Tem razão. O outro comentário "evaporou-se". Que coisa aborrecida.

Anónimo disse...

Deve ser bem verdade que:

"Angels whisper to those who walk"

pois hoje a Jeitinho estava inspiradíssima, e eu senti mesmo que estava a caminhar a seu lado.

O Gatinho '3 cores' já faz parte da minha galeria!

Jeitinho, veja a página 12 da revista LER, com uma deslumbrante Sophia na capa, e depois diga-me o que pensa da sugestão da tété.

Se me der licença, gostaria de dizer à tété que 'roubei' a foto da Riscas, e também que adorei o post sobre as idas ao cinema com a avó.

Um beijinho, Jeitinho, e uma boa semana!

Antonieta

Tété disse...

E agora, mesmo sem autorização oficial, agradeço à Antonieta o comentário e acho muito bem que tenha a foto da Riscas. É sinal que gostou dela. Mas pode sempre aparecer por lá. É muito bem vinda.
Abraço

Um Jeito Manso disse...

Olá Lia,

Fico tão contente por saber que o que escrevo, com as minhas fotografias, fica agradável de ver. A minha vida não tem nada de muito emocionante, não sou dada a crises existencialistas, nada de nunca visto, pelo que fico sempre a pensar que as pessoas não hão-de ter já paciência para estes meus passeios à beira Tejo ou para os meus encantamentos à beira da lareira.

mas, enfim, escrevo por prazer, fotografo por prazer e, sobretudo, partilho com todo o gosto. Por isso, fico contente e agradeço muito as suas palavras.

Uma bela semana para si, Lia!

Um Jeito Manso disse...

Olá Teté,

Há muitos anos, eu lia o Jornal. Penso que não estou a fazer confusão se disser que era lá que Romeu Correia escrevia. Eu gostava de ler as suas crónicas. Uma vez ele escreveu uma dedicada ao Ginjal e disse que era dos sítios mais lindos do mundo e o lugar de onde melhor se via Lisboa.

Mas, quando os meus filhos ainda viviam lá em casa, eu pouco tempo tinha para passeios. Só mais recentemente adquirimos os gosto pelas caminhadas e, só nesta altura, descobrimos que Romeu Correia tinha toda a razão. de cada vez que eu lá ia tirava muitas fotografias. E foi-se tornando uma paixão.

Também gosto muito de passear em Belém e faço-o com frequência. Ou à beira da praia. Mas é ali, no Ginjal, que eu gosto mais de andar.

E não há mais nenhuma razão para além destas.

Quanto ao gatinho... é uma tentação. Mas, ao mesmo tempo, acho que era uma maldade ir retirar a liberdade a um gatinho tão livre, que por ali anda sem portas nem fronteiras.

O que se calhar vou fazer é, quando lá for passear, é levar-lhes comida. Mas se calhar também não precisam porque têm todos ar de andar bem alimentados.

Um beijinho para si, Teresa-Teté, e uma festinha ao Riscas!

E uma boa semana com saúde e alegria também para si!

Um Jeito Manso disse...

Olá Joaquim Castilho,

Como eu gostei de ler o que escreveu. Concordo tanto consigo. Quando vejo tanta gente a debater-se para tentar encontrar a felicidade ou tentar descrevê-la eu penso que a felicidade é apenas um somatório de pequenas coisas, coisas insignificantes, bons momentos.

Hoje de tarde fui fechar uma janela e vi que lá fora estava um sol já muito baixo que passava pelo meio das árvores e tornava o ambiente velado, dourado. Fui a correr buscar a máquina com medo que o sol se pusesse. Quando cheguei à janela e o sol ainda lá estava fiquei toda contente, tirei fotografias e senti-me tão feliz, tudo aquilo era tão tranquilo, tão bom.

Isto contado pode parecer uma parvoíce mas a verdade é que, depois disso, já pensei várias vezes naquela imagem do sol dourado no meio das árvores e, de cada vez que pensei, senti-me apaziguada, feliz.

Também me senti feliz quando há bocado estive em casa dos meus pais e a minha mãe tinha castanhas assadas, estaladiças, quentinhas. Comi-as de gosto, tão boas e os meus pais ficam contentes por me proporcionarem uma coisa de que gosto e eu fico também contente por os ver contentes.

Coisas assim, não mais que isto.

Obrigada pela sua compreensão.

Um abraço Joaquim Castilho.

Isabel disse...

As fotos estão lindas. Hoje têm uma luz especial, todas elas.
Os gatos são lindos e deve dar vontade de levar um para casa.
Mas eles são livres!

Um beijinho e uma boa semana

Um Jeito Manso disse...

Olá Erinha,

Li as suas palavras como quem lê um conto. Não é só poesia que escreve primorosamente, Erinha. Na prosa, as palavras também fluem com harmonia.

Gostei de ler e percebo muito bem o que diz.

Eu também sinto o mesmo. Não sou nada conservadora, nem saudosista. Mas tenho um grande respeito pela nossa história, pelas nossas memórias enquanto povo. Temos que saber preservar e honrar as nossas raízes.

Desprezá-las é uma coisa torpe. nas mãos desta gente desqualificada nada vale, nada.

Temos que ser nós a bater-nos pela defesa dos nossos valores.

Por Azeitão, tenho que dizer que é uma terra linda. Tinha uma colega de liceu de quem gostava muito, era a Ana Teresa, não sei se era da família Gama. Durante muito tempo, íamos passear à Arrábida e passávamos no cego para comer tortas de Azeitão. Oh meu Deus, as saudades que eu tenho daquelas maravilhosas tortas comidas ali, fresquinhas, molinhas, a rebentar de doce de ovos.

Um beijinho, Erinha e muito obrigada por ter partilhado a sua memória.


PS: O Manel, ontem, como sobrinho da Maximiana, estava extraordinário, de morrer a rir. E hoje como Cavaco viciado em facebook idem. Igual, a voz, a postura, o que nos rimos. Que orgulho para si, imagino.

Um Jeito Manso disse...

Olá GL,

Eu que antes nunca ligava muito a gatos, desconfiava deles, temia que se assanhassem, agora ando apaixonada por eles. Estes ali, da beira do rio, são lindos, saltam de rocha em rocha, trepam às árvores, escondem-se debaixo de pedras e arbustos, enfiam-se nas casas arruinadas. São livres e muito bonitos.

Mas o frio que ontem lá estava, sabe lá...

Um beijinho, GL, e desejo-lhe uma boa semana.

Maria Eduardo disse...

Andei a seu lado a passear pelo Ginjal, senti o frio e o vento, vi os gatos, o cão, o ganso e a gaivota e regressei ao seu in heaven sempre a seu lado tal a sua tão grande sensibilidade como descreve o que vê, transmite o que sente e regista o que fotografa. Tem o olhar no coração e o coração na ponta dos dedos, como costumo dizer.
Obrigada por esta partilha pois é muito bom caminhar a seu lado e acompanhar os seus passos como se fossem os meus próprios passos.
Um beijinho grande,
ME

Um Jeito Manso disse...

Olá, antonieta,

no outro dia nem respondi ao que disse sobre eu colher informação durante as minhas caminhadas. Não sei se sou tão inspirada assim mas uma coisa é certa. Caminhar é para mim das coisas boas que gosto muito de fazer. Agora pouco o posso fazer, apenas umas 3 vezes por semana. Mas o que eu aproveito... Adoro. Tudo me encanta. Não me apenas me sinto bem do ponto de vista físico, como me areja a cabeça, gosto de observar tudo, gosto de ver as pessoas, a natureza, tudo. E gosto de conversar. Geralmente caminho acompanhada e vamos conversando. Excepto quando paro para fotografar, uma e outra e outra vez, e, aí, a minha companhia segue e, passado um bocado, volta atrás para me arrastar e para protestar. Mas, como protesta com meiguice, não me importo...

O lado multicor é lindo, lindo. Fiquei apaixonada por aquele gatinho tão lindo.

Não vi ainda essa revista Ler que diz, deve ser a de Dezembro. eu a última que tenho é a de Novembro. Amanhã já vou à procura.

Obrigada!

Um beijinho, Antonieta, e uma bela semana para si!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Ontem o dia tinha uma luminosidade fantástica. Estava um frio antárctico mas, talvez por isso, a luz banhava tudo de uma forma especial. Ontem tirei tantas, tantas fotografias.

Fascinam-me os gatos e aquele às riscas amarelas, cinzentas e pretas sobre pelo branco é uma ternura, lindo, lindo. Mas tem razão, é livre e assim deve continuar.

Um beijinho, Isabel.

Uma boa semana para si!

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

Quando penso que estou já a maçar as pessoas com estes meus passeios já tão falados e refalados aqui, lembro-me que talvez quem não tenha possibilidade de passear goste de ler e ver para imaginar como é.

Quando, no verão, estive doente e fui operada e fiquei impossibilitada de andar, sentia tanta falta dos meus passeios. Eu, habituada a andar ao ar livre, ver-me fechada em casa. A custo lá ia até à janela ou o meu marido lá me levava de carro até aos sítios de que tanto gosto... mas não era a mesma coisa, não é?

Por isso, descrevo os meus passeios não apenas porque gosto de partilhar mas também na tentativa de transmitir um pouco das minhas impressões a quem aqui apenas pode conhecer estes lugares através do que vê na internet.

Agradeço muito as suas palavras. São um incentivo, pode crer.

Um beijinho, Maria Eduardo, e um bela semana para si!

ERA UMA VEZ disse...

A Ana Teresa devia ter dez anos. A professora primária adoeceu gravemente e faltavam poucos meses para fazer a quarta classe e admissão ao Liceu.
A mãe, Maria Teresa, veio falar comigo. Era preciso "agarrar na Ana teresa, na prima e ainda noutro menino e levá-los a exame...

E ali estava a sua amiga diante de uma grande e inesperada realidade. A Ana Teresa espigadota, morena, curiosa, inteligente, de repente com uma "professora novinha e brincalhona" estava radiante.

Conseguimos. A escrita não correu muito bem mas a oral foi um sucesso.
Nas férias escrevi um guião, juntámos montes de miúdos e levámos à cena o nosso trabalho na velha Casa do Povo.

A avó Maria Albina era a detentora da receita das tortas e dona da casa Cego, onde eu namorava aos Domingos.

A Ana Teresa casou, teve dois filhos e ambos colaboraram no primeiro trabalho da m/Ana em Rádio.
A Ana Teresa esteve sempre ligada a projectos como comunicadora, sobretudo com crianças.
Há uns anos passou por uma fase difícil de saude que julgo está ultrapassada.
Sei que frequenta a Universidade Sénior com a dinâmica de sempre.

Quando a Maria Teresa já tinha duas raparigas e dois rapazes crescidos ficou grávida. Vinha a caminho o talentoso Nuno Gama.

Maria Teresa faleceu há semanas e eu perdi o nº de telefone da Ana Teresa. Mas um dia vou até à sua simpática moradia a caminho de Palmela dar-lhe um abraço de amiga de muitos anos e jovem professora.

Sim, ambas adoramos a Arrábida, o mar, as tortas e a vida.

O mundo é mesmo PEQUENO!!!
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(Também adorei o sobrinho da Maximiana e o casal presidencial)

Um Jeito Manso disse...

Querida Erinha,

Até me arrepiei ao ler o que escreveu. É uma coisa extraordinária. Que mundo pequeno, este.

Sim, a Ana Teresa era alta, morena, mais alta que nós, eu parecia uma pequenota ao lado dela. Mas era tão simpática, tão boa pessoa, tão doce.

Perdi-lhe o rasto, nunca mais a vi. Se a visse agora não a reconheceria.

Se a for visitar diga-lhe que eu lhe mando um beijinho. Não sei se ela se lembra de mim. Eu era muito boa aluna a matemática. Aliás era a melhor da turma. Até participei num programa de televisão quando anadava no último ano do liceu. Mas provavelmente lembra-se lá ela de quem era a melhor aluna da turma, que interesse tinha isso...?

Mas isto há coisas...

Um beijinho, Erinha.