Para quem trabalhe em grandes empresas, o que vou dizer não é novidade nenhuma.
É frequente (desde há uns anos a esta parte) que, sempre que se quer fazer uma reestruturação ou preparar um plano de sucessão ou, até, um plano de formação, ou qualquer outra coisa do género, se contratem consultores e que estes, para a prossecução do seu trabalho, usem várias metodologias.
Uma das que costumam ser usadas é a de se levar a cabo aquilo a que vulgarmente se chama assessment. Geralmente há equipas de psicólogos que sujeitam os visados a baterias de testes de personalidade e de comportamento. Mas não são apenas os próprios que respondem a estes testes sobre si próprios. As chefias e os subordinados (quando os há) também preenchem questionários sobre as pessoas visadas.
Depois, não apenas o próprio é confrontado com a sua análise feita por um psicólogo - e trata-se de uma conversa a sós - como com a opinião que os subordinados ou a chefia têm de si.
A seguir, há uma conversa do psicólogo com a chefia da pessoa em que analisam a maneira de ser e de agir dele, enquanto subordinado, e em que se conversa sobre o que se poderá fazer para que a dita pessoa melhore ou progrida.
Pela natureza destes testes e pelas entrevistas que têm lugar, poder-se-ia dizer que este é um processo desagradável. As pessoas desnudam-se perante terceiros e, a seguir, são confrontadas com a sua imagem escalpelizada e com a imagem que os outros têm de si - e isto sem saberem exactamente que destino vai ter a análise feita.
Sei de casos, noutras empresas, em que, com base nestes assessments, algumas pessoas foram afastadas das suas funções. Não tinham perfil, disse-se. Nessas alturas pode até ser humilhante: a pessoa é emprateleirada ou convidada a sair porque a sua análise psicológica revela que não tem os traços de personalidade ou não tem a atitude que se julga conveniente ou, ainda, porque foi constatado que não é capaz de trabalhar em equipa ou de acompanhar a mudança que se pretende imprimir. A pessoa despiu-se e, depois, vê-se confrontada com a sua imperfeição apontada como um defeito incontornável.
No entanto, muitas vezes não se passa isso. Muitas vezes identificam-se pontos fracos que vão ser melhorados ou identificam-se funções nas quais as próprias pessoas se vão sentir melhor enquadradas.
Poder-se-ia pensar que as pessoas reagiriam com relutância a um processo deste tipo. Mas não. Curiosamente as pessoas respondem a estes testes e participam nas entrevistas com os psicólogos com grande adesão e, até, com motivação.
Estive a falar com um dos psicólogos que conduzem um processo deste tipo e contei-lhe que as pessoas gostam muito, saem das sessões e contam-me o que foi identificado como pontos dominantes ou como aspectos a melhorar. Não se sentem invadidas, não se sentem ameaçadas. Gostam. Estão nestas sessões individuais durante cerca de uma hora e vêm de lá todas contentes.
Eu também gosto. Poderia pensar que um testes destes pode demonstrar que afinal tenho jeito é para coser meias ou, numa destas reuniões, pode ser-me transmitido que as pessoas que chefio me detestam e que acham que não sou uma boa líder ou que não as motivo. Há sempre esse risco. Mas, apesar do risco, ou até talvez por esse risco, estas coisas, para mim, são um desafio que encaro com expectativa positiva.
Curiosamente acho que são ferramentas tão bem aferidas que acertam bastante razoavelmente. O que é preciso é que sejam usadas para bons fins e não para dar cobertura a intenções menos meritórias.
Cada empresa que faça este tipo de trabalhos usa as suas ferramentas.
Como não é a minha área de especialidade não me lembro agora do nome daquela que tenho usado quando sou avaliada ou quando avalio.
Mas não é muito diferente de outras que tenho de memória e que são conhecidas pelos nomes dos que lhes deram origem. Carl Gustav Jung, Katharine Cook Briggs e a filha, Isabel Briggs Myers são dos mais conhecidos.
Jung, Myers, Briggs |
Para quem não esteja familiarizado com estes testes, indico mais abaixo um site onde pode encontrar vários.
Aqui, neste site, pode ver logo as conclusões. Nas empresas geralmente ao fazer os vários testes não recebe logo a conclusão nem é uma conclusão tão simplista como a que aqui vos mostro. Sabê-lo-á na referida reunião de uma hora com o psicólogo, onde irão conversar sobre os resultados, sobre apetências, frustrações, ambições.
Aqui, neste site, pode ver logo as conclusões. Nas empresas geralmente ao fazer os vários testes não recebe logo a conclusão nem é uma conclusão tão simplista como a que aqui vos mostro. Sabê-lo-á na referida reunião de uma hora com o psicólogo, onde irão conversar sobre os resultados, sobre apetências, frustrações, ambições.
Os indicadores Myers-Briggs |
Claro que ninguém é 100% uma única coisa. Por isso o que os resultados dirão, se forem estes os testes, é, para cada um destes indicadores, qual a percentagem observável, ficando-se, pois, a saber quais as características dominantes.
Não porque me considere criatura psicologicamente digna de interesse mas para que tenham uma ideia do tipo de resultados que se pode obter com um teste desta natureza, fiz agora um, aqui muito à pressa, sem me deter a pensar nem por segundos (o que, de resto, é o melhor pois as respostas mais espontâneas são as mais verdadeiras).
Experimentei com um dos testes mais rápidos, um de 50 perguntas e, claro, este forçosamente teria que ser um dos que produz resultados menos detalhados e menos 'trabalhados'. Mostro-vos, pois, o que obtive sobre mim própria, e é algo que corresponde genericamente ao que, de facto, acho que sou.
Extroversion |||||||||||||| 56%
Orderliness |||||||||||||| 54%
Emotional Stability |||||||||||||||| 70%
Accommodation |||||||||||| 48%
Inquisitiveness |||||||||||| 50%
Extroversion results were moderately high which suggests you are, at times, overly talkative, outgoing, sociable and interacting at the expense of developing your own individual interests and internally based identity.
Orderliness results were medium which suggests you are moderately organized, structured, and self controlled while still remaining flexible, varied, and fun.
Emotional Stability results were high which suggests you are very relaxed, calm, secure, and optimistic.
Accommodation results were medium which suggests you are moderately kind natured, trusting, and helpful while still maintaining your own interests.
Inquisitiveness results were medium which suggests you are moderately intellectual, curious, and imaginative.
Assim sou eu, segundo o teste rápido que acabei de fazer.
Caso nunca tenham feito nenhum destes testes, sugiro que aproveitem para o fazerem. Tem graça. Conhecermo-nos um pouco melhor não faz mal nenhum. Tem até uma certa graça.
Cliquem aqui, se aceitarem a minha sugestão. Divirtam-se.
***
A música é 'era um redondo vocábulo' de José Afonso, aqui interpretada por Sofia Ribeiro e Gui Duvignau.
***
Permitam ainda que vos convide a visitarem-me também na minha outra casa, o Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas mãos aproxima-se das vossas, as minhas palavras são vossas, e deslizam junto às palavras de Jorge de Sena. A música é o Te Deum de Henry Purcell.
***
Tenham, meus Caros, um belo dia!
10 comentários:
Hi Jeitinho!
Sorry but I can't agree with Inquisitiveness results!
Moderately intellectual, curious and imaginative?
They must be crazy!
At least 95%!
Kisses and hugs,
Antonieta
Estima UJM,
Tenho tendência a concordar com Antonieta.
São, digamos, umas “americanices” (refiro-me a este tipo de testes/avaliações que nos EUA e outros países anglo-saxónicos - e nem só hoje em dia – são usuais) que não relevo por aí além.
É razoavelmente “accurate” avaliar alguém pelo trabalho que faz, pelo seu desempenho e comportamento profissional, ao fim de algum tempo, que não precisa de ser muito e daí retirar resultados pretendidos.
Quanto a nós próprios, bom, julgo que nos conhecemos, ou vamo-nos conhecendo bem, ao longo da vida. Um teste pode revelar talvez mais uns “parâmetros”, mas pouco mais.
Quando olho para mim e para trás, reconheço que hoje poderia fazer diferente, que poderia ter reagido de outra forma – em certas situações – e, com isso, talvez conseguisse outro tipo de resultados. Talvez.
Enfim, não quero, nem pretendo retirar qualquer eventual mérito ao que aqui nos diz. Longe disso. E, quem sabe, se calhar estou eu errado. Mas, é o que penso.
Não deixa, todavia, de ser interessante este seu Post. Como sempre! E vou fazer o teste, por curiosidade.
Para além de ser “Carneiro” (julgo, ao que percebi, ser “Caranguejo”) e com os defeitos e algumas qualidadezitas intrínsecas aos nativos deste signo, quem sabe se ainda virei a descobrir outras virtudes e coisas afins, através do teste?
Cordialidade,
P.Rufino
Faz tempo, muito, propuseram-me fazer um teste, avaliado numa escala de zero a dez, em que o dez equivalia ao "génio" e o zero ao "idiota".
Fui informado que se tratava de um teste de grande rigor científico.
Aceitei participar e fui o único que alcancei o "impossível" dez.
Quando me felicitaram, efusivamente, limitei-me a responder com um sorriso irónico, que o teste tinha de ser uma mentira...
É óbvio que este comentário não significa que eu recuse dar crédito a todos os testes.
Abraço
Os testes, enfim, podem dar uma "ajudinha", não mais do que isso, isto na minha modestissima opinião.
Os psicólogos? Perdoar-me-á mas tenho-lhes um certo (pequenino, juro!) "ódio" de estimação. É que por vezes corremos - principalmente no que toca a avaliação de crianças - riscos muito sérios.
Olá Antonieta,
Um único e pequeno questionário não tem que acertar logo na mouche. Mas eu até sou levada a concordar um pouco com o que aquilo deu.
Não sou intelectual pura, não me deleito com o estudo em si. Sou de aprender e fazer. Sou de aprender e partilhar, não de ficar a mastigar. Não investigo coisas abstractas, não tenho esse prazer.
Também não sou curiosa no sentido de saber tudo sobre o quem é quem, quem se casou com quem, de que família vem este e o outro, por onde esta ou a outra, ou qual a loja que abriu ou qual a marca que está a 'bombar'. Não sei nada disso. Junto-me, às vezes, com amigas ou familiares e não sou capaz de fazer conversa sobre nada disso, não sei de nada e, mais, não tenho a mínima curiosidade.
E imaginativa no sentido de viver no mundo da lua, imaginar cenários, ficcionar, etc, também não.
Por isso talvez o teste não ande muito longe da verdade.
Sou, isso sim, criativa e sou de ir à descoberta, sou de querer mudar e, também, de adorar o risco. Isso é o que também dá noutras análises.
Mas a gente, queira ou não, fica sempre a pensar um pouco com estas coisas. Não nos conhecemos muito bem, essa é que é essa.
Um beijinho, Antonieta!
Olá,
Lembro-me destes testes de personalidade nalgumas das Empresas por onde passei mas nunca fui convidada a fazer nenhum.
Há uns tempos atrás recebi por email um teste deste tipo, já não me lembro a origem, e por curiosidade fi-lo e fiquei satisfeita com o resultado.
Vou também fazer este para que me conhecer melhor.
Obrigada pelos seus posts tão variados e sempre tão eruditos.
Um beijinho
ME
Olá P. Rufino,
Por princípio e, tenho que admitir, por preconceito eu era muito avessa a estes assessments. Também tendo a achar que são tretas que viram moda e que só servem para nos fazer perder tempo e maçar.
Mas, com o tempo e a experiência, mudei de ideias.
Nas organizações grandes por vezes perde-se um pouco o rasto às ambições ou 'feitio' das pessoas. Podemos ter uma pessoa que é um medíocre funcionário administrativo e, conhecendo-se bem essa pessoa, virmos a perceber que é um criativo, um irreverente, alguém que vive frustrado e que não encaixa naquele lugar mas que, por exemplo, pode estar muito bem num marketing.
Ou pode ser uma pessoa insegura que, se frequentar acções de formação comportamental adequada, se torne mais confiante e que passe a desempenhar as suas funções com outra convicção e eficácia.
Ou pode ser uma pessoa que, sem se dar conta, use um tom agressivo que pareça hostilizar os outros, criando anti-corpos em relação a si próprio.
Ou seja, do que tenho visto, é útil e, além disso, é agradável pois as pessoas, em regra, gostam de falar sobre as suas características e estão abertas a saber onde podem melhorar.
Muitas vezes temos uma ideia a respeito de nós próprios que não coincide com a forma como os outros nos vêem. E é também interessante sabermos isso e reflectirmos.
Eu, por exemplo, tenho-me por uma pessoa muito calma. de vez em quando 'passo-me' e reajo logo (sou razoavelmente extrovertida). Mas uma psicóloga disse que eu era razoavelmente impaciente. Eu achei que ela estava enganada.
Ela então pôs-me de frente para um grupo de pessoas que estavam numa sala e a reunião continuou com o tema e a troca de opiniões que estava a decorrer - e eu ali em exposição. Achava eu que estava tão calma nessa altura como estava antes.
No entanto, passado um bocado ela perguntou aos outros o que achavam de mim e todos disseram que eu estava impaciente. E porquê? Porque, sem parar, abanava a ponta do pé (tinha a perna cruzada) e tamborilava as pontas dos dedos da mão. Só então reparei nisso. E ela perguntou porque é que eu estava impaciente. E eu pensei e disse que achava que aquela conversa que estava a decorrer não tinha interesse e que já se arrastava há tempo demais. Mas antes de eu dizer isso eu achava que aquilo era uma estopada mas que eu esperava calmamente que aquilo chegasse ao fim.
E agora passo a vida a reparar que mexo a ponta do pé ou tamborilo os dedos - e contenho-me para os outros não perceberem que estou farta e impaciente e tento, de facto, ter paciência.
Enfim, pode não ser a solução para os males do mundo mas é o que eu disse, mal também não faz.
Saudações cordiais, P. Rufino!
Olá jrd,
Se quer que lhe diga e sem ter que o sujeitar a nenhum teste, também o acho bastante inteligente (aliás já o disse muitas vezes). Por isso, não me parece que o teste fosse tão disparatado assim.
Mas os testes de que falo são mais do que isso. Definem também por exemplo se somos mais do género 'fazer' ou 'julgar' ou 'pensar'. Lembra-se do Passos Coelho ter dito que o Relvas é um 'do-er' (leia-se: um tipo que faz, de 'to do')? Pois, é isso. O Relvas também foi submetido a um assessment, com certeza.
Uma pessoa que seja essencialmente um 'doer', pode ter jeito para ser um técnico, um executante. Se os outros parâmetros não forem significativos, poderemos estar perante uma pessoa que não reflecte, não avalia, não ajuiza: que, em suma, se limita a desenrascar.
Não sendo eu psicóloga, apenas posso falar pelo que tenho presenciado. E não apenas me têm parecido ajustados como tenho constatado que as pessoas gostam bastante (ao contrário do que se poderia pensar, não é?).
Um abraço, jrd.
Olá GL,
Em todas as profissões há bons e maus profissionais. eu, em relação àqueles com que tenho tido a sorte de lidar, tenho ficado com a melhor das boas impressões.
Aliás, das inúmeras acções de formação que eu e os meus colegas temos frequentado, aquelas de que guardamos melhor recordação foram justamente as acções de formação comportamental. Lembro-me, por exemplo, de uma psicóloga fantástica, de nome talvez Aldina, que era também psicóloga na TAP. Passados muitos anos ainda falamos muitas vezes dessa acção de formação. E vários outros.
Interessante e útil. Temos é que estar abertos para apreender porque, frequentemente, achamos que aquilo não tem muito que ver connosco.
Dou-lhe um exemplo. Eu sou quase 100% assertiva. Depois sou também ligeiramente agressiva, muito ligeiramnete manipuladora e nada passiva.
Agora ponha-me pela frente, a argumentar comigo ou a negociar comigo, um passivo. Sabe o que acontece? Ao fim de pouco tempo, passo-me, irrito-me, impaciento-me, um passivo é um fulano que não se define, não se decide, não argumenta. Ou seja, tenho a maior dificuldade. E isto nós treinamos, aprendemos a lidar com estas situações e fazemos situações práticas.
Nas empresas, é útil.
nas escolas, se os psicólogos forem bons profissionais também me parece que pode ser útil. Agora, se forem maus profissionais, há-de ser pior a emenda que o soneto.
Espero tê-la convencido a adoptar um psicólogo para a sua sala de aula (se for professora)... é que, não sei se sabe, as minhas características apontam para que posso ser muito convincente e, logo, uma hábil negociadora...
:)
Um bom dia para si, GL!
Olá Maria Eduardo,
Experimente, sim, a ver o que lhe dá. E é interessante depois trocar opiniões sobre isso com alguém que a conheça bem.
Mas quero dizer-lhe uma coisa: não pense que sou erudita. Não sou. Gosto de partilhar o que sei mesmo que não seja muito. Por exemplo, sobre este assunto, pouco mais sei do que o que disse e da experiência que tenho tido.
Mas, seja como for, agradeço a gentileza das suas palavras. E espero que se divirta a fazer os seus testes.
Um beijinho, Maria Eduardo!
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